Helium escrita por UchihaTenshi


Capítulo 1
Capítulo Único - Helium




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“I'm trying but I keep falling down
I cry out but nothing comes now
I'm giving my all and I know peace will come
I never wanted to need someone”

“Estou tentando, mas continuo caindo
Eu grito, mas nada vem agora
Estou dando o meu tudo e sei que a paz virá
Eu nunca quis precisar de alguém”

Hinata balançou novamente o copo de vinho em sua mão e a bebida derramou um pouco tingindo brevemente a água antes de dissolver entre os sais, mas ela não se importou, deu um sorriso fraco antes de beber novamente, sentia o corpo já torpe e o sono a invadia em uma mistura de tristeza e mágoa, o vestido branco estava caído no chão do banheiro, sabia que a maquiagem estava borrada, mas também não se importava e a bebida a confundia, mas ainda não era o suficiente pra esquecer-se do quê estava abrindo mão e em pouco tempo sabia que não seria capaz de se levantar mais, era fraca até para o álcool. Olhou para o lado e vislumbrou a seda do vestido branco, a renda que cobria o busto era italiana e havia caído como uma luva para si, havia ficado deslumbrante e sorrira durante toda a recepção de noivado como uma perfeita Hyuuga, seu pai lhe disse que estava orgulhoso de si, ela sorriu se afastando novamente com o noivo para a festa, como o pai reagiria se soubesse que o único momento em que lhe dera orgulho fora com uma mentira? Ela sabia como se sentia. Era tudo vazio, oco. Como se não houvesse mais vida dentro de si, mas não podia culpar Sasuke. Não. Ele a amava e aquela mentira era cruel com ele também. Ela sorriu novamente jogando a taça ainda pela metade no chão, os cacos se espalharam e o vinho tingiu a seda branca.

Como sangue, ela pensou antes de afundar-se na banheira.

Os Hyuuga não possuíam dinheiro, mas tinham mais orgulho do que qualquer fortuna pudesse comprar, Hiashi nunca aceitava menos do que lhe achava certo e dificilmente achava certo receber menos, não importa se fosse no trabalho ou na vida. Não era uma pessoa má, fora criado assim e aprendera a criar suas filhas da mesma maneira, mas o destino muitas vezes nos cobram por onde menos esperamos e Hinata foi a penitência do Hyuuga. A filha mais velha era linda, deixava as filhas de qualquer magnata com inveja pela delicadeza, doçura, beleza e educação. A maldição que um dia os fizera serem rejeitados na sociedade era exótica no rosto de Hinata, os olhos acinzentados lembravam a cor de pérolas e a Hyuuga fizera a característica da família se tornar algo belo e invejável, mas Hinata não se importava. A filha era indiferente a qualquer status ou orgulho que o pai tanto prezava, para Hinata bastava ser feliz, mas isso nunca fora o suficiente. Primeiro o pai havia deixado que o filho de um empresário estrangeiro a cortejasse e por mais que Gaara fosse um perfeito cavalheiro e fosse de fato muito belo, não resultou em nada e o galante estrangeiro voltou para sua terra com uma sólida amizade com Hinata, nada mais que isso.

Porém vieram os Uchihas.

Tal família se assemelhava e muito com os Hyuuga, os olhos peculiares que eram o extremo oposto dos perolados, os Uchihas possuíam olhos escuros como ônix e o orgulho da família era tamanho como o de Hiashi e para completar o extremo oposto entre Hyuugas e Uchihas, ao invés de ter duas filhas como Hiashi, Fugaku Uchiha havia tido dois homens. O mais velho, Itachi, já estava casado com uma moça de lindos cabelos violetas, sendo assim Hinata viu seu pai conceder deliberadamente as frequentes visitas de Sasuke Uchiha a si, o moreno era lindo e isso era inegável a qualquer um, várias meninas da cidade matariam para ter o moreno para si e Hinata logo estaria nessa vasta lista se não fosse a factício dia.

Sasuke a visitara todos os dias durante a semana que se passara, o Uchiha apesar de extremamente fechado a tratava com carinho e lhe dava total atenção, não tentava forçar um relacionamento que não existia, Sasuke respeitava a pessoa que era e foi uma das poucas pessoas em sua vida a lhe dar um livro de presente, ainda que soubesse que seu pai deveria ter comentado sobre a paixão que tinha por livros, o Uchiha ganhou muitos pontos e chegou inclusive a considerar tentar se apaixonar pelo moreno, mas ela soube que a paixão tal como o amor, nunca poderiam ser forçados.

Não depois de conhecer Uzumaki Naruto.

“Yeah, I wanted to play tough
Thought I could do all just on my own
But even Superwoman
Sometimes needed Superman's soul”

“É, eu quis jogar duro

Considerei que poderia fazer tudo eu mesma
Mas mesmo uma Super-Mulher
Às vezes precisou da alma do Super-Homem”

Sasuke chegou um pouco atrasado naquele dia, Hinata estava sentada na varanda de sua casa, Konoha era uma cidadezinha muito tradicional e por mais que não fossem abastados em dinheiro, tinham mais que o necessário para viver bem, dado os lucros que seu pai conseguia com o pequeno comércio de sementes de girassol, a Hyuuga lia o livro que fora presente do Uchiha, um romance muito bonito por sinal, quando o carro parou em sua porta. Sasuke parecia nervoso, pois tinha o semblante fechado e Hinata logo fechou o livro e se colocou de pé para receber o então pretendente, tal foi sua surpresa quando a porta do carona do carro se abriu no mesmo momento em que o moreno descera do carro e de lá saíra um rapaz que parecia ter a mesma idade de Sasuke, porém esse tinha os cabelos amarelos como as pétalas das flores que Hinata crescera admirando, o loiro veio atrás de Sasuke que parou a frente da Hyuuga lhe chamando a atenção.

— Desculpe Hinata. – A voz era rouca e calma. – Tive que buscar alguém na estação. À propósito esse é Uzumaki Naruto, filho de um grande amigo da família.

Hinata que até então mantinha um pequeno sorriso nos lábios sentiu o rosto corar assim que encarou os olhos azuis e profundos do rapaz que possuía o sorriso mais aberto e verdadeiro que a morena fora capaz de se lembrar.

— É um prazer conhecer a moça que roubou o coração desse rabujento. – O loiro tinha a voz grossa, porém era tão alegre e natural. – Confesso que cheguei a pensar que ele sequer possuísse um.

Hinata então deu uma pequena risada e Sasuke revirou os olhos para o amigo que continuava a olhar para a morena.

— Ouso dizer que não sou merecedora de tal título. – Hinata falou baixo e Sasuke a encarou. – Não roubei coração nenhum.

Naruto fingiu indignação e logo Sasuke já discutia com o amigo causando a risada de Hinata, naquela tarde Naruto falou sobre como era o sul da Noruega e contou sobre os campos verdes que ficavam nos fundos de sua casa, Hinata escutava tudo com atenção e entusiasmo, Sasuke logo se queixou do quão chato o assunto estava e foi conversar com o senhor Hiashi.

— Você iria gostar. – Naruto falou sorrindo e Hinata assentiu com um pequeno sorriso.

— A vida no campo parece calma. – Falou baixo. – Mas imagino o quanto deve ser difícil cuidar de tudo.

— É um pouco. – Naruto respirou fundo – Mas nada se compara a ver o sol se pondo no horizonte em meio aos campos.

Hinata sorriu deslumbrada, o loiro falava sobre seu país com um amor puro e completo, sorria falando dos animais da propriedade de seus pais e pareceu um pouco assustado ao contar sobre como sua mãe havia descoberto quando saíra com alguns amigos para beber.

— Sério, ela é assustadora quando quer.

— Não acredito. – Hinata sorria enquanto o loiro buscava uma foto da família na carteira, era engraçado como o Uzumaki parecia ser aberto às pessoas e comunicativo, a morena pegou a foto que lhe foi estendida e o sorriso em seu rosto se abriu involuntariamente. Naruto estava entre duas pessoas e parecia a mistura perfeita dos pais, os traços lembravam muito os de sua mãe, porém os cabelos e olhos haviam puxado de seu pai. – Eles são lindos. Você se parece com eles.

— Então me acha lindo hein? – A voz era divertida e Hinata sentiu o rosto queimar automaticamente.

— Eu não disse isso. – Falou apressada com a cabeça baixa e logo escutou a risada do loiro.

— Não vou contar para Sasuke. – O loiro continuou rindo mesmo quando a morena elogiou os cabelos vermelhos da mãe do Uzumaki.

Depois daquele dia as coisas passaram a desandar, no começo eles se davam tão bem, riam de tudo e mesmo quando Sasuke não podia visitar a Hyuuga, o Uzumaki ia vê-la para passearem pela cidade dado que o loiro não conhecia praticamente nada do lugar, estava ali temporariamente para realizar alguns negócios do pai com Fugaku, não demoraria mais que um mês. Mas quando o primeiro mês se foi o loiro continuou na cidade e os dois continuaram próximos, Hinata ansiava pela visita de Sasuke, pois sabia que o loiro o acompanharia e depois de um tempo o moreno passou a vir sozinho, foi aí que a Hyuuga percebeu que os sorrisos não aconteciam com Sasuke, a conversa não era calma e tranquila, apenas a saudade ficava quando o via chegar sozinho.

E Naruto não apareceu mais, não veio com os seus sorrisos, não falava baixo quando o pai de Hinata passava pelo corredor fazendo a morena rir, não trazia mais aquelas folhas coloridas que encontrava pela cidade apostando com a Hyuuga para que ela adivinhasse de que árvore eram e Hinata chegou a conclusão de que o loiro havia sido um castigo. Não havia outra explicação, todo o desgosto que dera para seu pai agora voltava para si, a amargura que sentia ia além da falta que o Uzumaki deixava nos dias em que deixou de vê-la, sabia que ele ainda estava na cidade, pois Hanabi o vira no centro e disse que o loiro estava cabisbaixo e passara rápido em direção a casa dos Uchiha, também ficara sabendo que algumas meninas na cidade já haviam se interessado e mesmo chamado o loiro para sair, mas de acordo com a caçula dos Hyuuga, ele havia recusado os convites, mas Hinata não lhe dera ouvidos e em sua mente ele havia arrumado outra companhia melhor que a sua, afinal o que ela poderia ter de diferente? Ino ou Tenten, suas amigas, eram bem mais atraentes e interessantes que si mesma, não havia motivos para que Naruto se interessasse por si e no mesmo dia em que soubera da notícia, dera seu primeiro beijo em Sasuke.

Seria hipócrita em dizer que foi ruim, pois não fora. O Uchiha parecia frio, mas com os próximos a si era calmo e atencioso e não tardou a pedi-la em casamento e mais uma vez seria hipócrita e aceitaria jurando a si mesma que poderia se apaixonar por ele, que poderia se casar e dar orgulho a seu pai. Vira Naruto na festa, afinal fora no jardim dos Uchiha, mas em momento nenhum o loiro falara consigo e Hinata entendera o castigo que recebia, o merecia. Sasuke e sua família acreditavam nela, era uma cobra mentirosa, mas estava pagando o preço.

Sentia como se seu coração esmagasse um pouco a cada dia.

“Help me out of this hell

Your love lifts me up like helium

Your love lifts me up

When I'm down down down

When I've hit the ground

You're all I need”

“Ajude-me a sair deste inferno

Seu amor me levanta como o hélio

Seu amor me levanta

Quando estou para baixo, baixo, baixo

Quando eu cair no chão

Você é tudo que eu preciso”

Hinata saiu da banheira sem pressa, toalha felpuda percorreu seu corpo enxugando o excesso de água, a morena colocou um vestido leve e alaranjado, sentia raiva quando tudo o que precisava era de alguma coisa que lembrasse ele, a porta de seu quarto se abriu e Hikari, sua mãe, entrou em silêncio e se sentou na cama de Hinata a encarando.

— Laranja lhe cai bem. – Falou suave a Hyuuga a encarou com pesar, passara tanto tempo na água fria que não lhe restava sequer o álcool no sangue de consolo, Hikari estendeu a mão para a filha que suspirou antes de sentar-se ao seu lado deitando a cabeça em seu colo. As lágrimas vieram fáceis e silenciosas, o coração parecia tão pequeno e apertado que lhe doía, uma dor física que não saberia dizer onde começava e até onde ia. – Uma noiva não deveria sofrer assim no dia do almoço de noivado.

Hinata não abria a boca, sabia que se começasse a falar choraria ainda mais e não queria isso. Não queria demonstrar toda a dor que estava sentindo, queria apenas sumir, queria poder sentir o cheiro de Naruto como quando iam a algum evento pela cidade e ele tinha que se curvar em sua direção para que ela o escutasse deixando assim que seu cheiro a acertasse em cheio. A morena se encolheu no colo da mãe ao escutar a voz do pai vinda do corredor da casa e Hikari suspirou pesadamente.

— Seu pai irá organizar algumas coisas na loja e preciso que você vá a fazenda buscar uma coisa com seu avô. – Hinata levantou o olhar a encarando, pensar nos girassóis lhe deixava triste – Não fique assim minha pequena. – A mulher passou os dedos pelo rosto fino e branco tirando um muxoxo de Hinata. – Assim que seu pai e eu sairmos pode pegar o carro e ir.

O caminho até a fazenda Hyuuga era calmo e rápido, a propriedade não era longe da cidade e não demorava mais que vinte minutos para passar pela porteira de madeira onde o sobrenome da família estava talhado, a primeira coisa que se via era a casa em modelo rústico e simples, ao seu redor haviam algumas galinhas que a avó insistia em criar e mais abaixo um rio passava onde o avô pescava vez ou outra, mas a parte que Hinata mais gostava era com certeza da vista que se tinha ao fundo, o campo coberto por girassóis se estendia por mais de um quilometro e Hinata sempre ficara deslumbrada com aquela vista.

— Mas quem é vivo sempre aparece. – A voz do homem a fez sorrir assim que saiu do carro e o bolo em sua garganta pareceu prender toda sua respiração fazendo com que um soluço rasgasse sua garganta, o avô sem entender se apressou em abraçar a neta afagando-lhe as costas. – Minha menina.

Foram necessários mais minutos do que o velho Hyuuga achara capaz, mas quando Hinata finalmente se acalmou não falou sobre o que lhe afligia não importava o quanto o senhor perguntasse com a voz mansa e calma, coisa que sua mãe herdara dos pais.

— Está chorando por que não fomos ao seu almoço de noivado? – O senhor perguntou e ela negou com a cabeça ainda olhando para o chão. – Brigou com seu noivo? – Hinata novamente negou e o velho sorriu pegando as mãos da neta. – Você não é obrigada a fazer nada para provar ao seu pai o quanto vale. – A morena o encarou, os olhos ainda vermelhos e cheios de lágrimas.

— Estou noiva vovô. – Ela falou baixo. – Todos estão tão felizes com nosso casamento. – Novamente o choro veio. – Sasuke não merece isso.

— As pessoas não farão parte de seu relacionamento e elas logo ficarão felizes novamente, pare com isso. – O velho respondeu e logo sua expressão ficou séria. – Quanto ao menino Uchiha você está certa, ele não merece isso e você foi irresponsável em levar essa historia a frente sendo que não o ama.

— Mas eu...

— Não minha filha. – O avô respondeu sério e a olhou de maneira branda sendo que Hinata já sentia as finas lágrimas descendo por seu rosto. – Existe apenas uma escolha e você é a única pessoa capaz de tomá-la. Lembre-se que é melhor um minuto antes que um depois.

Hinata assentiu vendo o avô se afastar, respirou fundo e saiu da casa observando o campo florido a sua frente, os girassóis estariam maduros em dois ou três dias, mas já estavam radiantes. Seus pais eram primos de terceiro grau e por isso possuíam o mesmo sobrenome, mas era dos avós maternos que haviam herdado o negócio. Por mais que seu pai fosse orgulhoso e cabeça dura ela bem sabia que era sua mãe com aquele jeito calmo e tranquilo que tomava as rédeas das situações em sua casa e Hinata se preocupou tanto em receber o reconhecimento de seu pai, em ser motivo de orgulho para ele que acabou por se esquecer de quem ela realmente era e foi necessário um estrangeiro para que ela se lembrasse, Naruto com sua risada fácil, com o sorriso aberto e a fala alta e escandalosa lhe lembrou de que o quê ela mais prezava era sua liberdade, ser quem era e não ter medo ou vergonha de sê-lo. A Hyuuga sorriu enquanto os girassóis no campo seguiam Sol que descia pelo céu marcando o fim do dia e como se tudo ao seu redor começasse a fazer sentido a morena abriu um grande sorriso, ainda que as lágrimas continuassem a descer por seu rosto.

Hinata chegou a cidade e passou direto por sua casa, parou o carro em frente a casa dos Uchihas e ajeitou o cabelo antes de alinhar o vestido da melhor maneira que conseguia, respirou fundo entrando pelo portão assim que Itachi o abriu com um sorriso, tinha muita estima pela família Uchiha e queria tê-los próximo a si, mas sabia que não poderia ser como eles e seu pai desejavam, Itachi sorriu olhando para a Hyuuga e lhe acompanhou em silêncio até os fundos da casa.

— É melhor evitar ver a família completa ou você perderá a coragem. – O Uchiha falou assim que chegaram na parte de trás da casa e ainda assustada pela tenacidade de Itachi, Hinata sorriu assentindo e terminou a caminhada sozinha até onde Sasuke estava, parou repentinamente reparando na cabeleira loira que estava a frente do moreno.

— Hinata. – Sasuke falou assim que notou sua presença, mas a Hyuuga olhava agora para o par de olhos azuis que a encaravam, Naruto parecia surpreso, mas tão logo se endireitou olhando para Sasuke que o encarava.

— Vou deixar os noivos. – A voz do Uzumaki era grave e séria e ele olhou para Hinata. – Com licença.

A morena anuiu e encarou o moreno, seu noivo, o homem que demorava a sorrir, mas que quando o fazia parecia iluminar o lugar inteiro. Sasuke era um homem bom, ousava dizer um dos melhores que já conheceu, mas não era o dono de seu coração e ela seria egoísta em escolher escutar seus próprios sentimentos.

— Não sabia que viria. – Ele falou baixo ainda a encarando, os olhos negros pareciam estudá-la e então ela percebeu que ele sabia.

— Você sabia. – Ela respondeu baixo e o semblante de Sasuke pareceu se fechar.

— Pensei que depois do noivado não teria coragem de voltar atrás. – Ele respondeu e soltou o ar. – Mas como sempre você me surpreende.

— Eu sinto muito. – Ela falou baixo retirando o anel de seu dedo anelar, caminhou até o moreno estendendo-o e Sasuke o pegou colocando-o no bolso em seguida. – Não deveria ter deixado as coisas chegarem a esse ponto Sasuke e eu realmente sinto muito. Não poderei te fazer feliz, não poderei te amar como você merece.

— Porque você já ama outro. – Ele falou de forma seca e direta e a morena abaixou a cabeça olhando para o chão, sentia-se a pior pessoa do mundo, mas era o certo, não era?

— Eu sinto muito. – Ela falou novamente como se a culpa que sentia pudesse de alguma forma ser perdoada.

— Eu também. – Sasuke respondeu saindo em seguida e deixando a morena sozinha, as lágrimas teimosas por fim saíram silenciosas enquanto a Hyuuga caminhava novamente para o carro de seus pais, enfrentaria o pai agora e se fosse ontem e ele a mandasse retornar e pedir perdão a Sasuke, ela o faria, mas hoje não, hoje Hinata havia tomado uma decisão e mesmo agora que o sol havia se posto no horizonte se sentia firme.

— VOCÊ SÓ PODE ESTAR LOUCA. – A voz de Hiashi parecia um trovão, era alta e grossa e mesmo Hanabi que sempre tinha uma resposta ou não abaixava a cabeça para seu pai estava acuada atrás do patriarca.

— Já falei com Sasuke. – Hinata falou o olhando, sentia as pernas tremerem e o corpo esquentava, mas não voltaria atrás. – Vou pra fazenda.

— NÃO VAI A LUGAR ALGUM SEM SEU NOIVO. – Hiashi novamente falou. – Vamos à casa dos Uchiha e você dirá que estava nervosa pelo noivado, que não pensava direito e pedirá perdão.

— Não tenho mais um noivo e não irei. – Hinata falou perguntando de onde havia tirado tamanha coragem e seu pai então rumou com raiva em sua direção, as mãos do patriarca apertavam seu antebraço com força enquanto sentia o corpo ser sacudido com raiva.

— Você pode ter tudo. SUA INGRATA! Você tem a chance de ter tudo. – Ele falava baixo e então gritava e então um soluço gutural saiu da garganta de Hinata, o medo e dor que carregavam não era nada comparada aquela sensação, achava que iria morrer ou preferiria morrer a sentir tudo o que estava sentindo, não merecia ser feliz realmente.

— Solta a minha filha agora mesmo ou será a última vez que terá mãos. – A voz era séria e foi dita alto, mas Hinata não saberia dizer se foi um grito.

As mãos já não estavam mais em seus braços e ela apenas olhava o pai, sentia um misto de medo, raiva e felicidade, poderia morrer sendo ela mesma.

— Vai ficar do lado dela? – A voz de seu pai era raivosa e Hinata agora encarava sua mãe que estava à sua frente, como uma muralha pronta a barrar o próprio marido.

— Olhe só para você Hiashi. – A mãe falava baixo e o Hyuuga a olhava em silêncio. – Quando foi que decidiu com quem Hinata se casaria? Ela escolhe com quem se casar, ela escolhe se quer ou não se casar.

— Eles são os Uchiha. – O pai falou baixo.

— E nós somos os Hyuuga. – A mãe falou firme o encarando e Hinata nunca sentiu tanto orgulho de ser comparada a sua mãe como agora. – O nome é importante Hiashi, mas a família é mais.

Hiashi então as encarou e ainda que seu olhar tivesse raiva, ele se virou e saiu da casa batendo a porta, só então Hikari se voltou para as filhas, Hanabi estava ao lado da mais velha e ambas a encaravam, Hinata chorava em silêncio e a mãe lhe sorriu.

— Pegue algumas roupas e vá ficar com seus avós por esses dias. – Hanabi olhou para mãe pedindo em silêncio para ir junto e Hikari sorriu. – Nem pense, você e eu ficaremos para lidar com seu pai e essa cidade fofoqueira.

Hinata então sorriu praticamente pulando sobre a mãe para abraçar a matriarca, Hanabi riu baixo ainda que sentisse o corpo tremendo, mas as três sabiam o que aquilo significava. Hiashi teria de lidar com Hikari enquanto a filha mais velha teria de lidar com a cidade inteira que não perderia tempo em falar da “Hyuuga rejeitada”, afinal o que as pessoas acreditariam? Sasuke, o homem perfeito e desejado havia sido deixado? Difícil. A morena separou poucas mudas de roupa e algum dinheiro, não queria dar mais motivos para que seu pai a odiasse então preferiu que Hikari a deixasse na fazenda ao invés de ir no carro da família, após uma breve explicação ao avô sua mãe partiu e Hinata ficara na fazenda já bem a noite, tudo em si estava confuso e doía, mas havia uma parte em si que sorria e parecia brilhar.

“And if you let go

I'll float towards the sun

I'm stronger 'cause you fill me up

But when the fear comes

And I drift towards the ground

I am lucky that you're around”

“E se você me deixar ir

Eu vou flutuar até o Sol

Eu sou mais forte porque você me enche

Mas quando o medo vem

E eu fico à deriva do chão

Tenho a sorte de ter você por perto”

Os dias foram lentos para Hinata, não que a fazenda fosse monótona, pelo contrário acordava cedo para ajudar nos afazeres, cuidar do sistema de irrigação, verificar as sementes, cuidar das criações que a avó mantinha na propriedade, Hanabi fora dois dias depois que ela e acabara voltando para cidade pela manhã, Hinata sabia que Sasuke havia viajado e que a cidade comentava que possivelmente ele teria se interessado por uma atriz de outra cidade abandonado a Hyuuga, tudo bem. Soube também que Hikari não estava conversando direito com Hiashi e que a mãe confidenciara a Hanabi que assim ele aprenderia a valorizar a família que tinha e a felicidade acima de qualquer outra coisa, Hiashi podia ser duro e ter todos os defeitos do mundo, mas quem não os tinha? Hinata tentava entender a postura de seu pai, queria que ela e a irmã não tivessem que trabalhar no campo para viver, como sempre fora de sua família e sabia também que além das filhas, Hikari era o ponto fraco do pai, sua mãe sempre dava um jeito de fazê-lo enxergar a verdade.

Hinata riu sozinha, já era tarde e seu avô a havia mandado verificar as sementes dos girassóis, já haviam se passado quatro dias desde chegara ali, as flores estavam em seu auge, completamente abertas e amarelas. A Hyuuga pegou uma semente da flor próxima a si colocando na boca e mordendo de modo a semente se abrir entre seus dentes, a morena franziu o cenho entrando em meio a plantação, sentia as folhas mais baixas baterem em suas pernas arranhando a pele exposta, ainda era verão e ali não havia porque se privar de nada por isso usava shorts jeans, feitos de uma antiga calça que havia rasgado e uma regata violeta. As flores tocavam-lhe o rosto e os ombros e ela sorria, ainda que seu próprio mundo não tivesse voltado ao normal havia tanta beleza no mundo e em si própria que tudo bem, havia seu coração que havia escolhido a quem amar no momento em que vira aquele loiro. Hinata sorriu, algum dia voltaria a vê-lo ou esqueceria? As pessoas estavam certas ao dizer que o primeiro amor era aquele que ficava para sempre? Mordeu o lábio fechando os olhos e respirando fundo.

“Your love lifts me up like helium

Your love lifts me up

When I'm down down down

When I've hit the ground

You're all I need”

“Seu amor me levanta como o hélio

Seu amor me levanta

Quando estou para baixo, baixo, baixo

Quando eu cair no chão

Você é tudo que eu preciso”

— Hinata.

A voz grave e rouca a fez sorrir, o primeiro amor fazia realmente isso?

— Hinata?

A morena abriu os olhos assustada, os girassóis amarelos confundiam sua visão de inicio, mas bastou fixar o olhar e lá estava o par de olhos com os quais sonhara nas últimas noites. O silêncio que se seguiu pareceu devorar o tempo e levar consigo a lógica do mundo, mas ela permaneceu o encarando, os cabelos espetados estavam maiores e havia um hematoma abaixo do maxilar parecia ter o tom escuro, provavelmente já estivera pior, os olhos azuis pareciam preocupados, mas a encaravam sem desviar o olhar, ele vestia uma camisa laranja que ela já conhecia.

— Naruto. – A voz saíra baixa, mas ele a escutara, deu um pequeno sorriso e olhou para um girassol próximo de si. – O que... tá fazendo aqui?

— Sempre achei a lógica dos girassóis confusa. – Ele falou sorrindo – Por mais que as plantas precisem do sol e tudo mais, como ele poderia ser tão dependente assim?

Hinata olhou para a flor que ele acariciava, sentia o coração acelerado, voltou a olhar para o rosto do loiro e ele a encarou ainda sorrindo.

— Acho bonita a forma como as flores reagem ao sol. – Hinata falou o encarando.

— Como um balão que depende do Hélio para subir. – Naruto deu de ombros. – Como se não pudesse ser feliz ou completo, como se o chão não fosse o suficiente.

— Como se precisasse voar. – Hinata completou baixo e ele abriu um sorriso ainda maior – Por que você sumiu? – Ela perguntou sentindo a mágoa vir à tona e o sorriso no rosto do Uzumaki desapareceu.

— Não dava certo Hinata. – Ele respondeu com pesar. – Por que terminou seu noivado?

— Não importa agora. – Ela respondeu e mordeu o lábio em seguida, nervosa e magoada demais.

— É claro que importa tebayo! – Ele falou dando um passo em sua direção. – Você sentiu isso? – Ele perguntou pegando a mão da morena e levando a seu peito, o coração do loiro batia rápido e descompassado, mas para a Hyuuga parecia uma sinfonia perfeita, ele fechou os olhos e a morena levou a outra mão ao hematoma no rosto do loiro que apenas soltou o ar.

— Em que briga se meteu? – Ela perguntou baixo e ele sorriu de lado abrindo os olhos e a encarando.

— Acabei me apaixonando pela noiva do meu melhor amigo. – Ele falou sem se dar conta da batedeira que o pequeno coração da Hyuuga começara a fazer. – Ele não gostou muito.

— Por que você me deixou então? – Ela perguntou novamente, os olhos marejados.

— Como eu poderia estar no mesmo lugar que você sem poder te chamar de minha? – Ele respondia baixo, a mão agora contornava o pequeno rosto limpando as lágrimas que ela não sentia cair. – Como eu poderia falar com você sem dizer que te amo? Você sente o mesmo? Por que seus olhos me confundem Hinata e eu não consigo mais ficar nessa maldita cidade sem saber se você me quer também.

Hinata sentia as pernas fraquejarem, sentia o coração tamborilar em uma toada nova e ritmada como se acompanhasse o coração do Uzumaki, sentia que tudo bem seu mundo nunca voltar ao normal porque ele estava no eixo certo, tudo fazia sentido como estava e tudo estava como devia ser, Naruto a olhava com olhos que poderiam despir sua alma e ela sabia que permitiria que ele a despisse conforme sua vontade, pois ela sentia o mesmo.

— Receio que eu deva falar todos os dias até que consiga ver em meus olhos então. – Falou com um pequeno sorriso e o loiro a encarava, um vento calmo e leve balançou as flores fazendo com que a Hyuuga sorrisse. – Eu amo você Naruto.

Hinata entendia que o coração não poderia ser moldado conforme seus gostos, quando os dedos de Naruto desceram por seu pescoço fazendo com que a pele se arrepiasse, quando os lábios tocaram os seus fazendo com que todo o corpo entrasse em combustão, quando se separaram e ele ainda sorria antes de beijar-lhe novamente e erguê-la em meio às flores amarelas ela soube que ainda que passasse mil anos apenas ele causaria aquilo em si, apenas seu sorriso lhe iluminaria e a faria ser exatamente quem ela era.

“'Cause your love lifts me up like helium”

“Pois o seu amor me levanta como o hélio”


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Notas finais do capítulo

Pessoas como estão? Espero que bem.
Sei que tenho demorado a postar, mas estou com muita coisa pra fazer no trabalho. Prometo tentar postar sempre.
Essa one veio inteira quando a linda da Thais (@~Srta_Thais) me enviou a música no face pedindo pra escrever baseada nela e a música realmente me fez escrever, rs.
Só tenho a agradecer pela indicação e pela paciência pra que essa one saísse.
No mais, espero que gostem. ♥

A música é da Sia e além da inspiração, deu nome a história, Helium.



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