Carta para Remus escrita por Ditto


Capítulo 1
Capítulo Único




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Se tinha uma coisa que Lyall Lupin se arrependia era o dia que resolveu enfrentar Fenrir Greyback. Fora seu maior erro achar que poderia encarar o lobisomem e agora seu filho inocente pagava o preço.

Felizmente sua esposa Hope não o culpava, mas ele sentia o quanto tinha condenado o filho a uma vida miserável. Remus era um garoto calmo que passava a maior parte do dia lendo diversos livros, mas era um garoto sozinho que nunca tinha convivido com outras pessoas além dos pais.

Ele ainda se lembrava a cinco anos atrás, quando Remus tinha feito seis anos e o perguntara porque não podia ir para escola como as outras crianças.

— É para o bem delas, por causa do seu pequeno problema não é seguro ficar andando com outras crianças.

Desde então sempre que algum cidadão da cidade percebia que o filho tinha alguma coisa de errado eles se mudavam. Era cansativo mas necessário. Ele bem sabia o que o Ministério da Magia faria se descobrisse que tinha um lobisomem solto, o filho ficaria trancado no Hospital St. Mungo longe de todos e longe dele. Não, ele não deixaria que esse fosse o destino de Remus. Seu pequeno merecia o mundo, e ele sentia dor toda vez que pensava que tinha privado o filho desse direito.

— Pai – Remus disse interrompendo seus pensamentos – quando eu vou poder comprar minha varinha? Diz aqui que toda criança no Reino Unido quando faz 11 anos ganha uma varinha.

— Em breve filho, em breve... – respondeu evasivo como sempre.

Como Remus nunca poderia frequentar Hogwarts ele tinha se esforçado ao máximo para fazer com que a casa tivesse livros sobre todos os mais variados tipos de assuntos. Como Hope era trouxa nada mais natural do que ela ser a responsável pelas matérias como matemática, biologia e química. Já ele daria toda a grade curricular que Hogwarts oferecia. Assim, Remus seria capaz de sobreviver tanto no mundo trouxa quanto no mundo bruxo.

— Mas e a lição filho? Alguma dúvida sobre o capítulo que pedi para ler?

— Nenhuma. Mas meio difícil entender Feitiços se eu nem tenho uma varinha ainda pra praticar.

— Seu tempo virá filho, um pouco de paciência.

— E por que não posso ir pra Hogwarts mesmo? Todas as crianças bruxas não são matriculadas lá automaticamente?

— Sim, mas já conversamos sobre isso Remus, por causa do seu probleminha não tem como você frequentar Hogwarts. Você sabe muito bem o que aconteceria se o Ministério descobrisse.

— Ok... ok... odeio isso. Você não pode inventar uma cura para isso logo não? É meio chato ficar em casa o dia todo.

— Estou trabalhando nisso, quem sabe no futuro eu ou alguém inventa uma poção para te curar?

Esse era o maior desejo de Lyall, que alguém, qualquer um, fosse capaz de criar alguma poção que aliviasse o sofrimento do filho toda lua cheia. Ele mesmo já tinha passado noites em claro misturando vários ingredientes em um caldeirão, infelizmente até agora não tinha conseguido nenhum resultado.

Enquanto uma poção não existia Lyall fez a única coisa que podia, lotou o porão da casa de feitiços anti-ruído e anti-quebra para que o Remus não saísse descontrolado a noite e mordesse alguém. Porém isso teve uma consequência que ele não esperava, como o lobisomem não conseguia morder ninguém acabava mordendo a si mesmo. Os braços de Remus eram a prova disso, cheios de cicatrizes de mordidas. Mordidas que ele tratava com pomadas todos os meses depois da transformação.

Como ele desejava que Remus pudesse ser uma criança normal... até um bruxo abortado seria melhor que isso. A criança ao menos poderia frequentar uma escola normal, fazer amigos, brincar na rua. Mas não, por seu erro Remus estava condenado a viver preso naquela casa com ele e sua esposa.

Hogwarts... Hogwarts era o sonho de qualquer criança de 11 anos que se descobria bruxa. Ele ainda se lembrava como o tempo que estudara lá fora maravilhoso, o quanto se divertiu nos comodos daquele castelo gigante. Por Merlim, até mesmo de Pirraça ele sentia falta.

Remus receberia a carta, oh sim, o sistema de Hogwarts era infalível para achar os novos alunos, porém ele já sentia a dor de desgosto que sentiria na boca quanto tivesse que recusar a oferta.

***

Era uma quinta feira quente de julho, Lyall estava sentado na sua poltrona preferida, a esposa cozinhando algo que cheirava deliciosamente bem e Remus no quarto lendo a mais nova coleção de gibis que ele deu ao menino.

Uma batida na porta o acordou da soneca e o fez enrugar as sombrancelhas. Eles praticamente nunca tinham visitas. Hope apareceu na sala enxugando as mãos em um pano velho.

— Você está esperando alguém? – ela perguntou confusa.

— Não. Você?

— Deve ser erro então – ela concluiu – acha que devemos atender?

— Seria indelicado não o fazer.

Lyall se levantou, girou a maçaneta e se assustou pelo homem que estava a sua frente. Ele conhecia muito bem aquele bruxo alto de vestes azuis.

— Dumbledore!? – exclamou assustado.

— Olá Lyall, muito tempo que não o vejo. Acho que a última vez foi em Hogwarts não? Se não me engano você chegou a colocar fogo nas vestes de um professor de feitiço no primeiro ano.

Lyall Lupin se recompôs o mais rápido possível e com uma voz neutra virou-se para a mulher.

— Esse é o professor Dumbledore, diretor de Hogwarts, a escola de bruxos que te falei.

— Oh, certamente. Bem vindo a nossa casa professor.

— Muito obrigado. É uma casa adorável essa, muito bonitas as flores do jardim.

— Obrigada, não recebemos muito visitas, mas deseja algo para beber? Um chá talvez?

— Acredito que um chá de camomila seria muito bem vindo, se não for incomodo.

— Certamente que não, irei preparar agora mesmo.

Quando a esposa se afastou em direção a cozinha, Lyall voltou a atenção ao homem a sua frente. Era estranho Dumbledore aparecer assim de repente, e principalmente muito perigoso para o segredo que eles guardavam.

— Se me permite a intromissão professor, não que eu não goste da sua visita, posso lhe perguntar o motivo da visita?

— Certamente – o professor respondeu de bom humor – vim pessoalmente entregar essa carta para o pequeno Remus.

Ao ver o envelope branco com o selo de Hogwarts, Lyall empalideceu, ele sabia exatamente o que era aquilo e que deveria recusar antes que Dumbledore percebesse que tinha algo errado e enviasse o filho para longe.

— Podemos nos sentar ali nos sofás? Creio que será uma conversa longa que sua esposa irá querer estar presente. Obviamente não os obrigarei a nada, a decisão final caberá aos senhores.

Curioso Lyall abriu a porta permitindo que Dumbledore entrasse e ocupasse uma das poltronas. Rezou fortemente que Remus continuasse entretido nos gibis no andar de cima e não descesse para ouvir aquela conversa.

— Muito obrigado – o diretor agradeceu pegando a xícara que era oferecida por Hope.

Sua esposa sentou-se ao seu lado e os dois esperaram que o professor começasse a falar.

— Como bem sabem toda criança bruxa de 11 anos tem a oportunidade de estudar na prestigiada escola de Hogwarts. Remus está na idade escolar exata para ser mais um novo aluno.

— Obrigado pela oportunidade professor, mas minha esposa e eu conversamos e preferimos que Remus tenha uma educação em casa. Hope também quer que ele tenha uma educação trouxa para entender o mundo dela e dos avós – Lyall respondeu a resposta que estava decorada na ponta da lingua.

— Certamente se esse for do interesse dos dois eu não insistirei. Mas, é isso mesmo que vocês querem? – Dumbledore perguntou com os pequenos olhos azuis faiscantes – não há nenhum outro motivo?

— Sim, é o que queremos, é o melhor para Remus.

— E se Hogwarts pudesse garantir que Remus estivesse seguro? Que o pequeno problema dele poderia ser preservado dos demais alunos e que tirando as ocasiões especiais de cada mês ele poderia frequentar as aulas como um aluno qualquer?

— Eu... – Lyall congelou. Dumbledore sabia? Como o diretor poderia saber? Ele tinha guardado aquele segredo por anos – Eu não entendo...

— Oh, mas eu acho que entendem muito bem – o diretor respondeu divertido – Remus merece uma chance de ser uma criança normal, de ter amigos e ser o bruxo que ele tem potencial para ser.

— Não – Hope respondeu categorica – eu amaria que Remus fosse uma criança normal, mas não é como se isso fosse acontecer. E mandá-lo para uma escola longe afetaria a segurança dele e dos demais.

— Eu entendo. Mas se vocês concordarem eu tomarei todas as previdências, há uma casa afastada em Hogsmeade que seria perfeita e que nenhuma outra pessoa chegaria perto. Apenas alguns professores e a enfermeira saberiam sobre Remus. Ele seria só mais um aluno como outro qualquer.

— E St. Mungo? – Lyall perguntou preocupado.

— St. Mungo nunca precisaria saber, nem o Ministério. Sei que Remus não é mal, é só uma criança que merece ter uma oportunidade na vida para mostrar tudo que pode.

Lyall começou a sentir algo que não sentia a muito tempo, esperança. Esperança de que Remus poderia ser alguém normal, que ele não tinha arruinado o destino do filho. Ele poderia ensinar as matérias em casa mas não era a mesma coisa. Ele odiava admitir mas mesmo com todo o amor dele e de Hope ele sentia que Remus precisava de mais, precisava de amigos. Hogwarts foi uma de suas melhores experiencias e ele não podia tirar isso do filho. Não podia tirar ainda mais coisa do filho.

Ele olhou para a esposa e viu que ela pensava o mesmo que ele, que se Dumbledore sabia sobre Remus e não tinha falado nada até hoje, não tinha porque o bruxo começar a falar agora.

— Muito bem Dumbledore, mas o senhor precisa me jurar que irá proteger meu filho. E que não deixará vazar nada sobre a doença de Remus.

Dumbledore concordou com um aceno na cebeça.

— Eu prometo que farei tudo para que Remus fique em segurança e que tenha ótimos momentos em Hogwarts.

— Irei chamar Remus, acho que ele ficará feliz eu ouvir essa notícia – Hope disse com um leve sorriso – eu sei bem como ele queria frequentar Hogwarts.

Hope subiu as escadas e alguns segundos depois desceu acompanhada de um menino de cabelos cor de areia.

— Remus, meu amor, esse é o professor Dumbledore – Hope disse carinhosamente – e ele tem algo para você.

Remus olhou curioso para o homem a sua frente, eles nunca mas nunca tinham visitas.

— Olá Remus, isso aqui é seu – disse o homem lhe entregando um envelope branco.

— Pode abrir filho – Lyall incentivou vendo a indecisão do filho.

Remus abriu a carta com cuidado e a cada linha que lia seus olhos brilhavam. Foi ali que Lyall soube que estava tomando a decisão correta.

— Isso... isso é sério? – o menino perguntou surpreso – mas e meu problema?

— Tudo certo. O professor Dumbledore irá arranjar para que tudo dê certo. Só se preocupe em ser um bom aluno e se dedicar aos estudos.

— Sim! – Remus exclamou feliz – eu prometo. Prometo que estudo todos os dias vinte horas por dia se for preciso!

Lyall riu da empolgação do filho.

— Não é para tanto, mas acho que agora tenho que cumprir a promessa que te fiz antes, acho que agora é hora de comprar sua varinha.

O garoto acenou com a cabeça feliz. Depois de tantos anos Lyall finalmente se sentia leve e com esperanças. Talvez ele não tivesse condenado o filho afinal. Remus Lupin ainda poderia ser um grande bruxo.


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