Ela foi o meu primeiro amor.

Hinata e eu nos conhecemos no ensino médio.  Quero dizer, nos conhecemos de verdade, pois já sabíamos da existência um do outro há muito tempo, pois morávamos no mesmo bairro e sempre estudamos juntos. Só que eu nunca prestei atenção nela, até o ensino médio, onde acabamos na mesma sala, sentamos perto um do outro e nos aproximamos. Me surpreendi em como nos demos bem.

Ela era Inteligente e esperta. Muito dedicada aos estudos. Extremamente linda, mas discreta, tão diferente de todas as outras garotas. E era tão doce. O jeito como corava sempre que me olhava era tão adorável... Que não foi difícil me apaixonar.

Foi no ultimo baile do segundo ano que tomei coragem e me declarei. Ela aceitou meu convite com alegria e fomos como um casal, mesmo sem eu ter dito nada ainda. Sei que ela entendeu que era um encontro.

 Foi à noite mais perfeita da minha vida. Conversamos e dançamos, o tempo todo de mãos dadas. E no final da ultima musica eu a beijei, sem dizer nada, apenas aconteceu. Lembrei-me de uma vez em que, ao ler um livro me deparei com a expressão “beijá-la era como tocar o céu”. Lembro-me de ter rido do exagero da comparação, pois naquela época não fazia o menor sentido pra mim.

Agora eu entendo perfeitamente o que essa expressão quer dizer. Soube naquele primeiro momento que não beijaria mais ninguém além dessa garota.

Fiquei maravilhado ao saber depois que eu não era só correspondido, mas que Hinata sempre gostou de mim. Mesmo antes de eu se quer ter interesse, ela já me via...

Então começamos a namorar.

Foi o melhor ano que eu já tinha vivido até então. Era visível o quanto estávamos apaixonados, e o quanto combinávamos, mesmo com nossas diferenças de personalidades. Eu sempre fui muito barulhento, ativo e enérgico. Hinata era mais tranqüila, introvertida e suave... Ainda assim, nos amávamos muito e nos entendíamos mesmo sem palavras. 

Minhas mãos se encaixavam perfeitamente em todas as suas curvas. Seus beijos me entorpeciam, sua voz me acalmava, seu cheiro me inebriava... Eu não tinha duvidas de que ela havia sido feita para mim. Hinata era a minha melhor parte e eu a amava, simples assim.

Mas percebi que ainda era muito jovem para formar uma relação séria...  Eu tinha 17 anos e estavamos no fim do ensino médio quando terminei com ela. Foi um término difícil para ambos, mas até mesmo enquanto eu a machucava, Hinata era mais madura do que eu jamais fui, em toda a minha existência. Ela chorou, me pediu para pensar melhor, porém eu não tinha o que pensar. Naquela época, eu pensava que estava apenas escolhendo viver a vida e a troquei por festas e amigos.

Depois do fim, vê-la sem poder tocá-la, ou beijá-la se tornou uma tarefa torturante, então eu comecei a sair com mais freqüência. Beber com mais freqüência e a viver, como eu achei que deveria ser.

Eu a evitei tanto que soube apenas que ela havia se mudado, para fazer uma faculdade em outro estado, dias depois de sua partida. Levei dois dias inteiros para processar essa informação.

Eu me arrependi de ter terminado com ela no mesmo dia em que o fiz, mas somente admiti isso para mim mesmo quando percebi que ela não estava mais ao meu alcance.

Nunca mais soube dela.

Hoje, tenho 27 anos e venho bebendo há 6, sem parar. Descobri tarde demais que eu escolhi a vida errada. Eu vivi do jeito que escolhi: festas, faculdade, bebidas e amigos. Nenhum compromisso sério com ninguém. Mas não era como eu queria viver.

 Tenho uma formação, um bom trabalho e um grande vazio.

E eu cheguei a essa conclusão fatídica porque há pouco tempo, nos encontramos em um shopping.

Tremi internamente ao reconhecê-la. Os longos cabelos, sempre tão escuros e bem cuidados, nos quais minha mão se perdia, agora estavam curtos, na altura de seus ombros, mas todo o resto era como eu me lembrava. Não havia mudado nada... Ela ainda era absolutamente linda. Ainda mais do que eu conseguia me lembrar... Mais madura, mais mulher, mais Hinata...

Tive receio de sua reação ao me ver, todavia ela me surpreendeu, como sempre o fazia, e me recebeu com um sorriso, verdadeiramente feliz em me reencontrar. Ela está casada e tem um filho. E está feliz com a vida que ela escolheu viver. A vida que eu abri mão há tantos anos atrás. Passamos 4 horas conversando sobre a vida e sobre o passado.

Sobre o nosso passado.

Eu lhe disse que me arrependia do que tinha feito, de não ter sido forte o bastante para permanecer com ela. Eu sei que não devia, mas já tinha arrependimentos demais para manter mais esse.

Confessei que meus melhores dias, tinham sido com ela. E surpreso, a ouvir dizer que concordava comigo. Ambos aceitamos que foi a melhor época de nossas vidas.

Então, eu a deixei ir mais uma vez... Só que dessa vez eu queria que ela ficasse. Eu a vi ir embora, mais uma vez, desejando que ela ficasse. Ela se foi, dessa vez, por escolha dela.

E uma escolha minha, de anos atrás...

Cheguei em casa e chorei. Chorei amargamente ao perceber que Hinata ainda era a minha melhor parte.

“Quando nos apaixonamos, não devemos desistir. Quando a pessoa amada aparecer, lute por ela porque, se ela for embora, é pouco provável que volte.”