Operação Cinderela escrita por Lily


Capítulo 5
4. Caitlin




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C A I T L I N

 

Caitlin não havia ido trabalhar naquela manhã, tinha acordado com um leve enjôo devido ao excesso de bebida e a falta de comida da festa de aniversário do namorado de Amaya na noite anterior. Nate era um amigo querido, professor de história na universidade local, se conheceram por meio de Amy depois que ela marcou um encontro com ele pelo Tinder, mas como ela sempre foi meio incerta com encontros com desconhecidos, arrastou Caitlin para ir com ela, acabou virando um encontro duplo, Amaya e Nate em uma mesa, Caitlin e seu sundae de chocolate em outra.

Nate e Amaya podia ser o casal perfeito à vista de qualquer um, porém Caitlin sabia muito bem o que eles passaram e passavam para poder ficar juntos. A família dele nunca a aceitou muito bem por conta de sua cor, uma coisa que Caitlin achava ridícula, pois Amaya tinha muito mais classe e educação do que muitas filhinhas de papai por aí.

—Tome água e durma muito. - Amaya disse ao telefone. - Lily disse que não vai voltar comigo porque vai fazer um trabalho na casa de uma amiga.

—É, ela me avisou sobre isso.

—Nate senti muito por ter tacado a jarra de cerveja em sua cabeça.

—Não se preocupe, diga a ele que eu que sinto muito por não ter tacado a jarra na cabeça dele primeiro. - falou fazendo sua amiga rir.

—Foi um acidente.

—Uhum, sei. Agora me deixa que eu quero tirar o resto do dia de folga. - desligou o celular sem esperar uma resposta afirmativa de Amaya. Se jogou de volta na cama se enrolando nas cobertas de algodão, poderia muito bem passar o resto do dia ali sem nenhuma preocupação, porém seu momento de descanso foi interrompido pelo barulho insistente na porta. Se ergueu grunhido de raiva e se arrastou até a porta da frente, a abriu.

—Bom dia. - a mulher que vestia um casaco vermelho e saltos pretos falou, seu sorriso parecia meio forçado pelo jeito como sua boca pintada de carmim se erguia. Caitlin apoiou o cotovelo na lateral da porta e resmungou um bom dia. - Estou procurando Caitlin Snow, ela está?

—Por que você quer falar com Caitlin Snow? - indagou torcendo o nariz ao sentir o perfume forte da mulher, sua cabeça começou a latejar.

—Preciso conversar com ela sobre um assunto importante. - a mulher disse de maneira formal e direta, Caitlin torceu a boca torcendo muito para que sua falta de educação a manda-se embora. - Ela está ou não?

—Depende muito de quem quer falar com ela. - recrutou fazendo a mulher endireitar a postura e se projetar para frente ainda mais, tudo nela tinha uma áurea de poder e determinação, coisa que a própria Caitlin nunca conseguiria ter em mil anos.

—Meu nome é Felicity Smoak e eu trabalho na revista Vênus, quero falar com a senhorita Snow sobre a promoção.

—Operação Cinderela.

—Exatamente.

Cruzou os braços olhando para a ponta dos pés descalços e voltando para encarar a tal Felicity.

—E o que você quer falar com ela?

—É uma assunto que só se refere a ela. - Felicity disse rígida.

—Então acho melhor entrar, assim posso dispensar você mais rápido. - falou abrindo o caminho para ela passar. - Aliás, acho que não me apresentei, prazer Caitlin Snow. - estendeu a mão para ela apertar, pode então ver no rosto de Felicity o desespero e a vergonha ao entender o que estava acontecendo, mas aquela mulher a dura na queda, pois mesmo com aquela enorme gafe, Felicity não baixou a cabeça e começou  a falar.

—Bem senhorita Snow, como você sabe a promoção é para comemorar o décimo aniversário da revista Vênus e o nosso foco principal são as noivas. Dentre todas as histórias que nos mandaram escolhemos apenas quatro, essas quatro noivas vão participar de diversas atividades durante esses próximos dois meses para testar seus  conhecimentos básicos e suas habilidades.

—Pensei que apenas mandava uma carta com sua história e ganhava.

—Bem, este é o conceito inicial e comum.

—Então vai ser como uma competição?

—Sim, as quatro noivas vão competir entre si para saber qual é a melhor, tudo será gravado e postado em todas as mídias visuais vinculadas à revista Vênus. - Felicity explicou. - E no final, a noiva que tiver mais pontos e mais popularidade no meio público, ocorrerá uma votação no final de tudo, ganhará.

—Uhum… e o que exatamente você está fazendo aqui?

—Bem, achei que foi óbvio. - Felicity ergueu o canto dos lábios em um sorriso que Caitlin rotulava como “Como você pode ser tão tola?”. - Cada noiva receberá uma fada madrinha para lhe ajudar durante o processo e, bem, eu sou a sua.

Caitlin entreabriu a boca sem saber o que falar. Aquilo deveria ser um erro, um grande erro, porque analisando os fatos, 1) sua história era muito fraca e simplória demais em meio as maravilhosas, impossíveis e muito provavelmente falsas, histórias de amor, 2) ela não era aquele tipo de mulher que participava de um programa fútil sobre um game entre mulheres por um prêmio bobo e 3) que merda era uma fada madrinha?

—Desculpe, mas eu que ocorreu algum erro. Eu não sirvo para isso.

—Mas você não se inscreveu?

—Sim, porém foi apenas para pressionar meu noivo, minha amiga deu a ideia. - disse se ajeitando no sofá.

—Bem, você tem a opção de negar-se a fazer isso, mas sua história tem muito potencial. - Felicity argumentou, Caitlin negou com a cabeça, não entraria em um jogo sabendo que não conseguiria vencer. - Olha, temos muitas outras opções, porém Mirabella, minha chefe, acha que você é uma das melhores. Então aqui está. - Felicity lhe estendeu um cartão com seu número e outros dados. - Converse com seu noivo e caso mude de ideia você pode me ligar.

—Claro. - pegou o cartão apertando contra a palma de sua mão. - Te acompanho até a porta.

—Por favor Caitlin, pense no assunto. - ela pediu. - Não sou de insistir, mas gostei de você.

—Sério? A maior parte das pessoas me odeia assim que me conhece.

—Então deve por isso que eu gostei de você. - Felicity sorriu para ela, Caitlin retribuiu o sorriso abrindo abrindo a porta.

—Posso te fazer uma pergunta rápida?

—Claro.

—O que chamou a atenção na minha história? - perguntou se apoiando na porta. -Bem, toda a sua história com Ronnie, o jeito como ele te ajudou depois da morte de sua mãe e acolheu Lily como se fosse sua própria filha. - Caitlin franziu a testa enquanto escutava aquilo. - O tempo que ele passava entre o trabalho como bombeiro e como voluntário naquela ONG de animais abandonados. E como vocês se revezam para cuidar das crianças naquele orfanato. Tocou Mirabella no coração.

—Oh, sério?

—Sim, olha Caitlin, quero que pense bem na proposta, essa pode ser uma chance única.

—É, vai ser. - sussurrou acenando com a  cabeça para Felicity e fechando a porta. - Vai ser a chance de eu matar aquela louca. Rapidamente pegou seu celular se preparando para ligar para Amaya, porém parou ao ver o nome de Ronnie brilhar na tela.

—Oi amor. - disse, sua cabeça parecia martelar por causa da conversa com Felicity e toda aquela história. - Por que está me ligando?

—Amaya me mandou uma monte de mensagens sobre uma promoção que você está participando.

—Oh não, ela não devia ter feito isso. Na verdade a não devia ter feito muita coisa. - murmurou passando a mão pelo cabelo, Amaya poderia ser sua amiga, porém às vezes ultrapassava certos limites.

—E o exatamente é essa promoção?

Respirou fundo antes de começar a contar toda a história para Ronnie, falou sobre a ideia fraca de Amaya, sobre a chegada de Felicity e a história falsa.

—Então é isso, Felicity quer que eu aceite o convite e eu tenho quase certeza que Amaya tem um dedo no meio disso. - resmungou. - O que você acha que eu devo fazer?

—Você deve aceitar. - ele disse rapidamente. - Isso trará mais visibilidade ao meu trabalho quando eu aparecer na revista. - Caitlin não se segurou revirou os olhos. - E também vamos ganhar o casamento.

—Eu não quero esse tipo de casamento, Ronnie.

—Mas isso será ótimo para nós,  não precisaríamos pagar nada. Vamos lá Cait, aceite.

Ela suspirou mordiscando o lábio inferior apreensiva.

—Vou pensar. - disse, por fim desligou o celular antes dele falar mais alguma coisa. Aquilo não parecia algo que ela fizesse por livre e espontânea vontade, mas às vezes temos que nos arriscar para descobrirmos o que queremos de verdade.

×××

Havia enviado uma mensagem para Felicity pedindo para que ela a encontrasse por volta das cinco da tarde no Café Royal, tinha tirado o dia para pensar sobre a proposta, havia ligado para Amaya e feito ela lhe falar a verdade sobre a história enviada, seu instinto já estava apitando quando Felicity lhe contou uma trecho que sua história, mas quando Amy lhe contou sobre tudo o que havia inventado, ou “incrementado” como ela gostava de ressaltar apenas para se defender, Caitlin havia percebido o quão idiota uma pessoa podia ser.

Por fim, havia decidido que contaria a verdade a Felicity, explicaria toda a situação e pediria uma chance, embora algo lhe dissesse que não teria a menor chance depois daquilo tudo.

—Bem, achei que tivesse desistido e me deixaria aqui plantada. - e lá estava aquele “bem” de novo, ela deveria ter um problema sério com aquela palavra.

—Eu resolvi aceitar sua proposta. - disse se sentando de frente para ela. - Mas tem um porém.

—Embora você não esteja em posição de pedir alguma coisa, vou deixar você falar, quero ouvir o que você tem a dizer. - Felicity cruzou os braços sobre a mesa e abriu um sorriso cretino, por assim dizer.

—Você sempre tem que ser uma vadia? Ou isso é apenas comigo? - Felicity torceu a boca em descaso. - Ok, olha, a história que vocês receberam não é exatamente a verdade, minha amiga Amaya inventou boa parte daquilo tudo, sinto muito, mas aquela não é a minha verdadeira história.

—Você está de brincadeira, né? - Felicity a olhou abismada. - Diz que está brincando.

—Sinto muito, mas não estou.

—Ronnie não é bombeiro? - negou com a cabeça. - Ele não é voluntário? - repetiu o gesto. - E sua mãe não morreu?

—Não, quer dizer, sim. Minha mãe morreu mesmo há três atrás em um acidente de carro e eu cuido da minha irmã desde então. Ronnie me ajuda quando necessário, mas ele não a adotou como filha. Não somos voluntários em nenhum orfanato e nem em ONG’s. Aquela história pode ser linda, mas não é a minha.

—Oh Deus. - Felicity resmungou passando a mão pelo cabelo.

—Olha Felicity, se você quiser pode me dispensar, não me importo, mas de verdade, queria muito participar disso tudo. A mulher a sua frente bateu os dedos na mesa sem saber como agir.

—Bem, só me resta conversar com a minha chefe e explicar a situação. Não sei como vai ser daqui por diante. Mas você falou a verdade, isso é uma coisa boa.

—Lily briga por às vezes eu ser honesta de demais, mas eu não tenho culpa, é da minha natureza como psicóloga sempre ser sincera com os outros. - disse fazendo Felicity rir.

—Você é bem sincera e direta. Ninguém nunca me chamou de vadia diretamente, só indireta.

—Só me chamaram de vadia uma vez, eu soquei o cara.

Elas riram, Caitlin mordeu o lábio inferior.

—Sabe, você é bem diferente do que eu imaginava, as outras noivas parecem tão frescas. - Felicity disse. - Se Mirabella aceitar você na competição, vou adorar ser sua fada madrinha.

—Eu sei, eu sou uma ótima pessoa.

×××

—Só para deixar claro, eu ainda estou com raiva de você. - disse olhando para Amaya que limpava a colher suja de chocolate com a língua, gesto erótico que ela adorava fazer em frente a uma multidão de pais em sorvete sorveterias,  mas que agora ela fazia em sua sala. Ela havia chamado sua amiga para uma conversa séria, o que resultou em potes de sorvete de menta e chocolate e resmungou sobre relacionamentos. - Felicity vai me ligar amanhã e dizer o que Mirabella resolveu fazer. Isso tudo é culpa sua.

—Sinto muito, pensei que fosse te ajudar.

—Pelo menos eu conheci Felicity, ela é louca, mas gostou de mim, então, pelo menos dela, eu já tenho um voto de confiança.

—Você acredita no destino? - Amaya perguntou.

—Você sabe que não. Essas coisas não me enganam, são apenas para pessoas que cismam em culpar alguém tanto pelos seus erros como seus acertos.

—Diga isso até se convencer, pois o destino é tão humilde quanto encantador, ele sabe o que faz contigo. - Amaya disse piscando para ela. Caitlin revirou os olhos.

Destino...puf! O que o destino havia feito por ela durante todos aqueles anos?


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