Before The Sunrise escrita por Ágatha Rivera


Capítulo 27
O Amor e suas Faces


Notas iniciais do capítulo

MEU POVO! EU TO DE VOLTA! *-----------* Ok, antes que vocês me truicidem, posso dizer uma coisa? >< kkk Eu amo vocês! Sério, eu amo muito vocês. Não sabem o quanto eu tenho andado ocupada esse ano, estudando pra faculdade e pra uma porcaria de cursinho, sem tempo nenhum pra escrever e inspiração zero, a culpa aos poucos me remoendo por eu ter que deixar vocês na mão... Então, o que eu vejo no fim do túnel? UMA LUZ! Uma luz no fim do túnel, que tem o nome de todos vocês que deixam reviews na BTS. Uma luz maravilhosa, cheia de reviews emocionantes, recomendações incríveis, fãs fiéis. Uma luz da qual Mariajulia_09 faz parte, com seus reviews irônicos e únicos. Jacki, com seus surtos, não fica atrás. LuLerman, curta, direta e dramática, sempre. DaahC, que não se cansa de me elogiar e é muito fofa. Daay, com sua taradice pelos nossos personagens gatos e totosos, e suas sempre constates broncas em mim pelos meus finais... KKKK! Quando falta a inspiração, são vocês que me fazem continuar ♥ E É POR TODO MUNDO QUE POSTA REVIEWS QUE A BTS AINDA VIVE!! Agora... APROVEITEM PRA MATAR A SAUDADES!!!! *--*



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27. O Amor e suas Faces


Catherine


Eu não tinha parado de bocejar desde que chegara ao colégio.

Bocejei outra vez, enquanto tentava empurrar mais fundo meu livro de matemática na prateleira do armário, sem sucesso. Eu precisaria de mais força para isso, porque ele estava totalmente imprensado entre um livro e outro na prateleira (sendo que no espaço onde ele estava só cabia ele e mais nada, não caberia nem um livro mais grosso que ele, nem um livro fino a mais depois dele). E todos os outros livros estavam na linha, menos ele.

Mas o sono que eu estava sentindo era tamanho que meu corpo inteiro se encontrava incrivelmente mole e fraco.

Desisti de tentar colocar o livro de matemática no lugar e fechei meu armário. Eu estava no meio do corredor. Os outros alunos passavam por mim despreocupados e rindo, a caminho de suas aulas. Encostei as costas na parede. Sentia-me até uma alienígena ali. Era como se tivessem sugado todas as minhas energias e, no entanto, não tinha acontecido o mesmo com mais ninguém à minha volta.

Bocejei de novo. Eu tinha passado a madrugada inteira acordada com Glynda e Mack, tentando ensinar-lhes algo de útil para sobreviver no “mundo humano”. E preocupada com Lizzie, é claro.

Apesar de tudo, sorri. Eu devia estar certa de que minha melhor amiga estaria bem com Aiden, afinal. E depois, Mack e Glynda eram hilários aprendizes de humanos.

Ensinar esses dois... Ai, Deus. Passei a mão pelos cabelos, pensando no quanto eles eram inacreditáveis.

Logo que cheguei à minha casa, depois de ter deixado Aiden no hospital com Lizzie, e destranquei a porta de entrada, tive de me segurar para não ter um AVC. Encontrei Mack rasgando um pedaço de cortina, para poder “estudar melhor o tecido”, e Glynda tocando rapidamente numa lâmpada acesa. Ok, de novo, para frisar bem: LÂMPADA ACESA. Mack pediu desculpas depois que dei uma bronca nele e Glynda queimou os seus lindos dedinhos delicados graças à imprudência. Só que, quase instantaneamente, o dom da sombria começou a curar as queimaduras, então foi o mesmo que nada. MAS, NÃO PARECE O CÚMULO DA IDIOTICE?! (Sem falar que a cortina que Mack arrancou era linda e cara. Definitivamente, a minha mãe vai me matar.)

Penei muito para instruir meus novos amigos. Eles não sabiam o que era um chuveiro, uma televisão, um aparelho de DVD, um micro-ondas, e muito menos qual a utilidade de um controle remoto. Deixar um garfo perto do Mack, então... descobri tarde demais que podia ser suicídio!

Eu nem acreditava que não tinha se passado nem um dia desde nosso regresso de Orazón. Eles – Mack e Glynda – tinham progredido bastante no mundo humano desde que chegaram.

Consegui enfim ensiná-los a usar talheres (graças a Deus!), a assistir TV zapeando pelos canais, a usar a lava-louças e até a esquentar comida congelada. No começo, pensei que seria difícil, visto que eles ficavam excessivamente impressionados com todos os aparelhos eletrodomésticos e nunca tinham visto nada parecido em Orazón... Mas, mesmo assim, eu só tinha precisado explicar uma vez como cada “coisa humana” funcionava. Eles captavam a mensagem rapidamente e se adaptavam como se tivessem sido feitos para viver entre nós. Incrível.

Tudo isso numa madrugada! Na verdade, eu tinha de admitir que sombrios aprendem muito rápido.

De repente me ocorreu que eu devia procurar Lizzie, e depois me lembrei que eu me esquecera de tirar do armário as coisas para a próxima aula – biologia –, graças ao sono. Comecei a estender a mão para o armário e ia abrir o segredo novamente, mas...

– Ei, Catherine!

A voz conhecida me fez parar por um momento e girar o corpo para encarar a garota.

Kayla. Eu já sabia antes mesmo de encontrar seus olhos quase pretos, seus cabelos castanho-escuros e o cacheado leve inconfundível de seu cabelo. Por algum motivo, isso parecia estranhamente bizarro. Que loucura, Catherine!, pensei. Bizarro reconhecer a voz de Kayla? Ela era minha amiga. Eu já a conhecia há quase dois anos.

Mesmo assim, não consegui afastar a sensação de certa falta de intimidade. Como se, de repente, Kayla e eu não fôssemos mais tão próximas quanto como éramos há alguns dias – antes dessa coisa toda de Orazón acontecer.

Afinal, era como se ela não soubesse mais nada da minha vida agora.

Sorri sem vontade.

– Oi, Kayla. – Cumprimentei. – E aí? Como vão as coisas?

– Estranhas – ela pareceu assustada com meu tom de voz despreocupado. – Posso saber o que aconteceu com você e com a Lizzie? Já faz séculos que não almoçam com a gente! Isso sem falar que andam distantes de modo geral, completamente sumidas e... PELO AMOR DE DEUS! – surtou. – Por que vocês têm passado tanto tempo com o Aiden? O que foi aquilo no corredor com o Jake e a Stella?! – Kayla tinha começado a falar tão rápido que quase tropeçava nas palavras. – VOCÊ NÃO TEM IDEIA DO QUANTO A NICOLE ESTÁ NOS TORTURANDO! Sabe como ela é, adora uma fofoca e fica maluca quando não sabe de nada! E o pior é que a fofoca boa envolve duas das MELHORES AMIGAS DELA e, mesmo assim, ela não sabe de nada, porque vocês não deram nenhum detalhe e...

Ela continuou a tagarelar, de modo que fiquei surpresa.

Percebi que tinha me esquecido completamente de que Kayla era daquele jeito. Tão... adolescente, jovial, elétrica. Espirituosa, de certa maneira. E fútil. Principalmente fútil, mas não de um jeito ruim.

Percebi... que sentia falta daquilo. Falta de me preocupar com superficialidades, paquerar, com as minhas amigas, garotos que nunca gostariam de nós, discutir sobre as fofocas mais quentes que circulavam pelo colégio. E ter isso como única preocupação.

– E então? – Pisquei ao perceber que ela tinha finalmente terminado seu discurso, e esperava por uma resposta minha com as mãos na cintura. – Qual é a sua explicação para isso tudo?

Fiquei muda enquanto a encarava, sem conseguir responder.

Muita calma nessa hora, Catherine Marie Reynolds! Então, eu só precisava inventar uma história muito boa e longa que, de algum jeito, englobasse todos os fatos pelos quais eu havia passado na escola e fora dela, narrando-a de um jeito estupidamente convincente (ah, e isso sem falar de ter o cuidado de não me transformar na vilã!) para conseguir persuadir Kayla e as garotas de que eu estava falando a verdade.

Ok. Definitivamente, eu não ia conseguir realizar tal proeza tão rápido, ali e naquela hora, frente a frente com Kayla!

Abri a boca e gaguejei ao tentar começar.

– E-escuta, Kayla... É que e-eu...

Felizmente o sinal tocou, anunciando que ia livrar a minha cara. Fiquei tão feliz que soltei o ar preso em meus pulmões, e quase sorri diante da careta contrariada de Kayla.

– Droga! – ela exclamou. – Hora da aula e não posso me atrasar pra química, já que o Sr. Wilson me odeia. – Kayla ajeitou a alça da mochila por sobre o ombro e sorriu duro para mim. – Parece que vamos ter que nos falar no almoço, Catherine, mas de lá você não me escapa. Ouviu?

– Relaxa, Kayla – revirei os olhos e sorri, dessa vez mais sinceramente, para ela. – Eu vou me sentar com vocês hoje. Eu prometo!

Foi outro alívio quando Kayla me retribuiu o sorriso, pois desta vez ela radiava autenticidade. Isso me fez sentir um pouco melhor. Parecia que estávamos caminhando para um entendimento, e, no meu caso, caminhando de volta para me tornar amiga dela outra vez. A antiga Catherine Reynolds que eu costumava ser.

– Tudo bem, Cathy. – Não tive como deixar de alargar o sorriso ao som do meu apelido. – A gente se vê lá, então.

***

Erik Daniels se sentou ao meu lado. De novo.

Tudo bem que ele sempre fazia isso, mas me vi completamente nervosa e cheia de expectativa quando ele puxou o assento à minha direita dessa vez. O motivo? Bom, acho que todos nós sabemos. Da última vez em que o vi, acabamos nos pegando pra valer na festa de Stella D’Amore.

Com essa lembrança, meus pensamentos infelizmente desviaram para como ele beijava bem, o que, além de me deixar boba – e fascinada e repassando nossos momentos juntos em minha mente –, conseguiu incrivelmente me deixar ainda mais nervosa.

Será que ele não queria mais nada? Que já tinha conseguido o que queria e pararia de falar comigo agora? Ou será que ele ainda gostava de mim e queria tentar algo mais?

Usando meu cabelo para criar uma cortina improvisada entre mim e ele, arrisquei olhá-lo de relance por entre meus fios.

Erik parecia meio nervoso. Ele estava ligeiramente corado e fingia prestar atenção à explicação da Sra. Benson, mas eu soube que não estava prestando porque, quando comecei a olhar mais longamente para ele (certa de que minha cortina era segura), notei que vez ou outra desviava seus olhos para mim, como se esperasse que eu também estivesse olhando para ele.

Em todas as vezes que seu olhar tentava encontrar o meu, percebi que ele resmungava de frustração ao notar a cortina de cabelo ali, como se ele quisesse que ela desaparecesse para poder ver meus olhos. Ri sem som comigo mesma quando percebi que ele estava esperançoso de que eu fizesse isso – removesse o obstáculo “cabelo” do caminho dele.

Depois de passados os trinta primeiros minutos de aula, finalmente cedi e joguei o cabelo para trás quando ele não estava olhando. Por um lado, estava temerosa de qual seria sua reação, mas por outro, também estava curiosa.

Erik deve ter passado um ou dois minutos ainda encarando a professora, para finalmente desviar o olhar para mim outra vez e sorrir ao fazê-lo.

Foi um sorriso definitivamente nervoso, o que me divertiu. Não tive como deixar de sorrir discretamente de volta, cheia de humor. Como não soubesse mais o que fazer, Erik simplesmente mordeu o lábio para não deixar escapar uma gargalhada por causa daquela nossa situação e voltou a olhar para frente, satisfeito.

As bochechas dele ficaram vermelhinhas de um jeito fofo e meu coração foi a mil. Talvez eu tenha finalmente encontrado meu próximo namorado, pensei, sorrindo maliciosamente comigo mesma. Erik realmente era um cara legal e, além disso, ele gostava mesmo de mim.

Mas e você, Catherine Reynolds, gosta mesmo dele?

O pensamento me pegou desprevenida. O mais incrível foi que tão rápido quanto surgiu a pergunta, veio a resposta.

Não.

Uma simples palavra de três letras que fez meu mais recente plano desmoronar.

Como assim “não”, Catherine Marie Reynolds? Perguntei a mim mesma, em vão. Era uma luta perdida, e minha mente já sabia a resposta. Não, Catherine. Simplesmente não. Você gosta de beijá-lo, mas não gosta dele, você sabe disso. Tentei não discutir infantilmente com a voz da minha consciência. Qual foi a última vez que gostou realmente de um cara? Você sabe que foi o James Cameron, há quase dois anos. Você não se apaixona fácil, Catherine. Você se deixa levar fácil. É diferente.

Cravei as unhas na mesa com o pensamento, subitamente me perguntando por que eu era assim. Por que eu não gostava de compromisso? Por que eu parecia ver os caras apenas como um pedaço de carne, e não como gente? Por que quando eu embarcava num relacionamento, na esperança de aos poucos me apaixonar por quem gostava tanto de mim, eu só conseguia partir corações, tornando um cara legal infeliz? E mesmo assim eu me recuperava surpreendentemente rápido.

Por quê?

Você é naturalmente uma caçadora, Catherine. Uma voz maliciosa em minha mente sussurrou, e eu tive quase certeza que sorriria para mim, se todas as vozes tivessem boca.

Enfezando-me comigo mesma, bati com a testa na banca, pensando no quanto eu queria pensar em outra coisa que não fosse aquilo.

No fim das contas, tive que erguer a cabeça. Assisti ao restante das aulas como um robô, sem mais retribuir os olhares desesperados que Erik me lançava da carteira ao lado.

***

– Não vai querer batata frita, Cathy? Mas você ama!

– Não, obrigada, Lucy. Só isso mesmo.

Deixei a fila da cantina com a bandeja quase vazia.

O colégio estava uma barulheira só na hora do almoço, pior do que antes do início das aulas. Novamente, me senti uma alienígena naquela atmosfera agitada e turbulenta. Conversando, rindo e totalmente alheias ao mundo, pessoas conhecidas e desconhecidas trombavam em mim a todo o momento. Segui meu caminho, ainda tentando encontrar a mesa em que Kayla, Whitney, Nicole e Sophie estavam sentadas.

A bandeja que eu segurava quase voou para fora de minhas mãos quando um sujeito deu, acidentalmente, uma cotovelada nela.

“Ei!”, era o que eu ia dizer. Mas ao olhar para ele, meu mundo parou.

Patrick Smith me encarava de volta, os olhos azuis de um inacreditável céu paradisíaco devorando-me o juízo como as labaredas de uma chama ardente.

Droga, pensei. Por que será que eu tenho o azar de trombar nos meus paquerinhas logo nas horas mais impróprias?

– Patrick – ouvi uma voz feminina, tão enjoada que deu vontade de tapar os ouvidos –, você quer fazer o favor de andar?! Vamos pra nossa mesa!

Olivia Dickens apareceu não-sei-de-onde, surgindo por trás de Patrick enquanto apoiava a mão com unhas longas e vermelhas no ombro dele, e lançava um meio-sorriso cheio de escárnio e ódio para mim.

Abri a boca, esperando que eu fosse dizer qualquer coisa inteligente. Quando o fiz, porém, tomei consciência de que o colégio inteiro havia ficado em silêncio. Voltei a fechar a boca e engoli em seco, olhando para os lados. Aonde quer que meus olhos fossem, deparavam-se com outros olhos curiosos.

Os alunos nos assistiam agora, ansiosos pelo desenrolar do caso.

Fiquei sem reação. Lentamente, ergui o olhar outra vez para encontrar novamente o de Patrick. Nosso contato visual levou um milésimo de segundo dessa vez. Olivia retorceu-se – de ciúme, percebi – durante todo ele.

Mas tão rápido quanto aquele momento embaraçoso começou, ele teve fim.

Patrick desviou os olhos dos meus, e de repente seguiu seu caminho como se eu não existisse, arrastando Olivia atrás de si. Como se aquele momento entre nós nunca tivesse ocorrido. Como se nunca tivesse acontecido nada entre nós.

Como se eu fosse lixo.

E devo ser mesmo, percebi, chocada. Fiquei parada no meio do corredor, ainda segurando minha bandeja, a boca entreaberta.

Afinal, o que eu estava pensando? Que, depois da noite em que nós tínhamos ficado na festa da Stella, ele ia se apaixonar perdidamente por mim, que nem fez o Erik? Ah, francamente, Catherine. Ele era um popular, eu era uma ninguém. Ponto, fim da história. Ele nem mesmo deve ter contado para os amigos que me pegou. Afinal, que glória havia nisso?

Claro que, para alguns meninos nesse colégio, era uma proeza e tanto, um sonho ainda não realizado. Mas para ele, não significava nada.

Felizmente, ninguém da cantina prestava atenção em mim. A preocupação de todos com a minha vida tinha acabado exatamente no segundo em que Patrick me deu as costas. Alarme falso, eu podia senti-los pensando enquanto voltavam a atenção para a comida e retomavam suas conversas. Para eles, eu era um grande nada. Um nada que só ficava interessante quando agraciada pela presença dos populares.

Chateada e triste, procurei um lugar para me sentar sozinha naquela lanchonete e caminhei até ele de cabeça baixa. Não estava nem um pouco a fim de falar com Kayla e as outras agora.

O ocorrido pelo menos tinha retirado um pouco da dor que eu sentia comigo mesma e me fez parar de me chamar mentalmente de “partidora de corações”, como eu havia feito desde que descobrira não amar Erik.

Enquanto mordia meu hambúrguer, olhei para longe e avistei uma cena peculiar... Não, espere aí! Uma cena impossível...

Mas o quê?! HÃ?

POR QUÊ? DESDE QUANDO? COMO?

Esfreguei os olhos e pisquei forte algumas vezes, mas a imagem diante de mim não mudou.

Riley Mitchell (mais conhecida como Blair, argh, mesmo esse não sendo nome dela) e o meu quase-ex-melhor-amigo, Freddie Gilbert, estavam sentados à mesma mesa, rindo enquanto ela tentava enfiar um garfo com presunto na boca dele e ele, por algum motivo, resistia. Ao lado dos dois estava o Trevor, melhor amigo do Freddie, também parecendo achar graça de tudo aquilo e fazendo comentários para mim ininteligíveis, mas que pareciam ser desagradavelmente amigáveis, como se os três fossem amigos há muito tempo.

Meu queixo caiu.

Eles pararam de brincar, comeram, riram mais e conversaram, mas a alegria parecia não acabar nunca. Inclinei o pescoço para o lado, e de repente notei Brian sentando à mesma mesa, parecendo deslocado. Mas, mesmo assim, ele não deixava de sorrir fracamente quando os outros dirigiam a palavra a ele.

Então, afinal Brian devia ter uma explicação ou, pelo menos, meia-explicação para tudo aquilo.

Larguei a minha bandeja no banco em que eu me sentara e marchei em direção àquela gente.

Várias pessoas trombaram em mim durante o caminho. Mas, dessa vez, nem liguei.

– Olá – sibilei enquanto apoiava as mãos na mesa –, Brian.

A conversa animada instantaneamente cessou. Os quatro pararam para me olhar, silenciosos demais para o meu gosto.

Brian arregalou os olhos em minha direção e pareceu pedir, silenciosamente, para que eu acabasse com aquela postura agressiva. Desviei as pupilas para Freddie e este me encarou com o olhar vazio. Ele parecia simplesmente não saber o que fazer comigo.

– Catherine. – Murmurou depois de alguns segundos, devagar.

Hesitei antes de responder.

– Freddie. – Arqueei por um breve momento as sobrancelhas.

Outra vez, houve um longo silêncio.

– Escuta, obrigado por aquele dia. – Ele prosseguiu. Falava muito, mais muito vagarosamente, como se estivesse tomando o máximo de cuidado para não me irritar. – Quando você me encontrou.

No meio da rua, fedendo a cachaça, completamente bêbado e levei você para casa? Ah, que é isso... Não precisa me agradecer! Pensei, com raiva.

Freddie baixou os olhos e percebi o quanto estava envergonhado. Depois, ele tornou a erguê-los e pude ver o pedido de desculpa estampado neles. Aquilo me abalou. Mas ainda me restava raiva de sobra por não entender a mais recente situação do meu amigo.

Sorri ironicamente.

– Por nada. – Respondi. Contudo, tentei parecer mais simpática do que no meu “olá” frio e intimidador.

Freddie me encarou por um segundo e então correu os olhos para o lado.

– Er... Você conhece a Riley Mitchell, certo? – apontou para a garota perto dele.

Por dentro, eu estava indecisa se ficava surpresa ou mais confusa ainda com aquilo. Com aquela familiaridade com que ele a tratava, com o fato de ele tê-la chamado pelo nome certo, com o fato de Riley estar mesmo com ele e não com os populares, com o fato de ele estar apresentando-a a mim.

Apenas olhei para Riley, incapaz de esboçar qualquer sentimento específico. De modo que fui neutra, pois meu olhar era tão vazio quanto o de Freddie anteriormente.

– Oi – ela se levantou, me lançando um projeto de sorriso, e aquela reação me fez decidir que emoção demonstrar: espanto. Arregalei drasticamente os olhos e, como se já esperasse isso, Riley ignorou e me estendeu a mão. – Sou Riley Mitchell.

Não contive o impulso de pegar a mão dela e apertar num cumprimento, automaticamente. Mas, quando eu me dei conta do que estava fazendo, recolhi rapidamente a mão, assustada, como se a garota tivesse me dado um choque elétrico.

Cara! E-ela disse mesmo Riley...? Em vez de Blair? E tentou ser simpática comigo?

Olho aberto, Catherine, deve ser um truque!

– Eu sei quem você é – falei, segurando o braço que tinha acabado de estender para ela, como se fosse uma bocó.

Riley sorriu numa mistura entre tristeza e ironia, e acenou com a cabeça.

– Infelizmente você não conhece o meu melhor lado, não é, Catherine Reynolds?

– Por que não está com Jake, Stella e os outros?

– Se quer mesmo saber, nós brigamos.

– E por que está com Freddie e...? – ela não me deixou terminar.

– Ele é meu amigo agora.

– Ah, fala sério!

– Estou falando.

– Vai dizer que o Brian e o Trevor também?

– Eles têm sido muito gentis comigo desde que me cansei da Stella.

– O quê, mas você se cansou da Stella?

– Ela nunca me tratou exatamente bem.

– E agora resolveu se revoltar?

– Pois é.

– Mas por que está com meus amigos?

Ela demorou um pouco pra responder.

Freddie, Brian e Trevor estavam calados, prestando máxima atenção ao meu interrogatório com Riley. Freddie encarava fixamente nós duas, o olhar indecifrável. Brian fitava a mesa e tinha começado a torcer a barra da camisa, como se estivesse nervoso. Trevor tinha aberto a boca desde a minha segunda pergunta, impressionado com a velocidade da nossa conversa.

– Catherine... – Riley hesitou e olhou para mim com receio. – Olha, eu não sei como dizer isso de um jeito que você entenda, mas... Por favor, só estou querendo ser uma garota normal agora. – Ela respirou fundo. – Sei que não nos dávamos bem, mas você precisa acreditar que eu só te tratava mal por causa da Stella... Eu nunca odiei você. Nem mesmo a Lizzie. Então, será que nós não podíamos, sei lá, fingir que essa coisa toda de “inimigas” nunca aconteceu e começarmos de novo?

As caras de todo mundo tinham mudado significativamente. Riley estava apreensiva e ansiosa; Freddie e Brian me encaravam como se quisessem que eu a perdoasse; eu, com cara de quem não sabia o que fazer; e Trevor tinha a mão no queixo e os olhos arregalados em nossa direção, como se estivesse vendo um filme muito empolgante e essa fosse a parte de suspense, onde ninguém sabia o que ia acontecer a seguir, quando o som da tela retornasse com tudo depois do silêncio prolongado e onde todos, provavelmente, tomariam um susto.

Hesitei. Molhei os lábios, abri a boca, depois tornei a fechá-la, molhei os lábios e abri a boca de novo.

– Riley – comecei finalmente, num murmúrio. O rancor transbordava em minha voz. – Não espere desfazer 13 anos de ódio com uma desculpa.

Ela baixou a cabeça.

Freddie e Trevor não tiraram os olhos de mim, os dois agora com uma expressão quase vazia, como se tivessem perdido a esperança. Mas Brian olhou para o outro lado, como se não quisesse ver minha próxima reação.

Ah, ele tinha muito que me explicar.

– Eu entendo, Catherine – Riley murmurou por entre os lábios suavemente, ainda com a cabeça baixa.

– Então também entende que estou dizendo isso só porque preciso de mais tempo.

Ela ergueu a cabeça rapidamente. Deu pra notar os garotos, à minha volta, esticando o pescoço para olhar para mim em sinal de surpresa, mas desta vez eu estava tão completamente centrada em Riley que quase não percebi.

– O quê?!

– A minha resposta é sim – murmurei, olhando para ela, minha voz sumindo em meio à confusão que estava sentindo por dentro. Eu nunca estive tão em dúvida se estava fazendo o correto. – Vou atender ao seu pedido de começarmos tudo de novo. A partir de hoje, está perdoada por mim, Riley Mitchell.

Virei as costas e comecei a flutuar – por que não estava sentindo minhas pernas direito – para longe daquela mesa. Eu podia sentir o silêncio de estupefação que estava deixando para trás. Então, senti também que alguém se levantou de lá e começou a correr em minha direção, seguindo-me.

A algazarra do almoço não passava mais de um simples barulho de fundo agora. Meu foco estava totalmente centrado nas grandes passadas de quem me seguia, na minha respiração difícil, nas batidas do meu coração. Em coisas infinitamente... sutis, silenciosas e imperceptíveis, se comparadas ao alvoroço do lugar.

Brian me alcançou e me girou pelo braço.

– Catherine! – gritou, começando a ofegar.

De repente, tudo voltou. O barulho insuportável do refeitório com conversas paralelas, altos berros e gritos sem motivo. Tapei os ouvidos momentaneamente e olhei para Brian em seguida, que erguia o indicador para pedir tempo, as mãos nos joelhos, recuperando o fôlego.

– Só... um... segundo. Cara, não fui feito para correr, isso me mata!

Ignorei-o e o puxei pela gola da camisa, trazendo Brian à força para perto de mim. Fuzilei-o com os olhos.

– Tá legal. Essa história do Freddie com a Riley... você não me contou antes e... bem, seja lá o que você sabe, desembucha! – falei antes de soltá-lo.

– E-ela vem... almoçando com a gente há um tempo. – Ele engoliu em seco, obviamente assustado comigo. Mas ainda assim, cauteloso.

– O quê? – rosnei. – Há quanto tempo?

– Alguns dias – ele admitiu, suspirando. – Um pouco antes de irmos para Orazón pela segunda vez. Acho que tem um lance entre ela e o Freddie.

Arqueei as sobrancelhas, espantada. E ESSA AGORA?!

– Como assim um lance?

– Um lance, Catherine... Desde que eles ficaram na festa da Stella.

PARA O MUNDO QUE EU QUERO DESCER.

Me afastei de Brian, fazendo uma cara de total, estúpida e completa idiota. E era assim que me sentia mesmo. Que é isso, minha vida social andava tão perturbada assim?! Como é que não fiquei sabendo? Isso devia ter sido a maior fofoca do colégio nos últimos dias!

– Freddie Gilbert. Ficou. Com. Riley Mitchell. Na festa. Da. Stella. E eu. Não. Sabia?

– O colégio inteiro não fala em outra coisa desde aquela festa – Brian confirmou meus pensamentos, olhando para os lados e depois para mim novamente. – Mas como nós, bem, andamos ocupados e dispersos nos últimos dias... – molhou os lábios. – Só fiquei sabendo mesmo porque o Freddie me contou acidentalmente. Hoje, na verdade, um pouco depois que eu cheguei. Ele queria se explicar porque achava que eu já sabia, e acabou revelando tudo.

Levei as mãos à cabeça, enterrando-as em meus cabelos, e fechei os olhos com um profundo suspiro.

– Calma, Catherine – murmurei para mim mesma.

Brian esperou e abri os olhos devagar.

– Escute – ele soltou ar pela boca, como se tivesse prendido a respiração. – Desculpe. Sei que você merecia saber essa notícia de um jeito melhor.

Levei a mão ao peito, sentindo meus batimentos cardíacos voltarem ao normal. Eu estava finalmente me acalmando.

– E o Aiden, já sabe? – Ergui o olhar para encontrar o de Brian.

– É provável que não. – Ele suspirou.

De repente, ouvi alguma coisa que tirou meu foco da conversa.

Levantei a cabeça, à procura de onde tinha saído aquele som... desconhecido. Era uma risada, para ser mais exata. Uma risada feminina. Ok, sei o que estão pensando. Por que motivo eu me espantaria com uma risada desconhecida no meio de um colégio? Não que eu esperasse reconhecer a risada de todos ali, alguns que eu nem ao menos sabia quem eram, mas... aquela risada era diferente. Especial. Quer dizer, eu me lembraria dela se a tivesse ouvido antes. Porque era tão... tão delicada, contagiante na medida certa e leve como uma pluma... Era como a risada de minha mãe.

O tipo de risada que eu sempre quis ter.

O tipo de risada que pertencia a gente perfeita, como uma super modelo ou sei lá. Deus! Tinha que ser uma super modelo.

Ah, eu quero essa risada para mim.

Novamente, a melodia daquela doce gargalhada tornou a afagar meus ouvidos, mas dessa vez pensei que fosse uma ilusão. Porque, estranhamente, era como se eu tivesse ouvido um eco. Podiam jurar que duas risadas iguais soaram ao mesmo tempo em minha mente, mesmo que aquilo fosse impossível. Localizei o som. Girei devagar minha cabeça na direção da mesa onde estavam Trevor, Freddie e Riley, segundos atrás deixados por mim e Brian.

Havia duas garotas desconhecidas entre eles agora, ambas loiras e bonitas – e espantosamente iguais! Meu queixo despencou. Gêmeas, percebi.

As bonitonas recém-chegadas estavam de pé ao lado da mesa, sorrindo simpaticamente depois de terem rido de uma piada qualquer que Freddie havia contado. Elas ecoaram um “oi” afinado e amigável para o Trevor, que desmoronou na cadeira na mesma hora, babando completamente. Tá, elas eram mesmo impressionantes, eu tinha de admitir. As garotas se entreolharam, sorrindo, e depois começaram a conversar com Riley.

– Quem são elas? – apontei para as loiras. [N/A: GRAVEM BEM ESSAS GÊMEAS!]

Brian acompanhou meu dedo e, ao avistá-las, seus olhos se arregalaram. É... aparentemente, ele também não conhecia as gêmeas até agora.

– Devem ser as garotas novas de que Freddie falou. Acho que são... – ele coçou a cabeça – Meryl e Sheryl Hudson. Elas foram transferidas do colégio da Mandy há pouco tempo. Riley fez amizade com elas, e Freddie me disse que ia nos apresentá-las hoje – Brian acrescentou, pondo uma mão no queixo. – Nossa, não pensei que fossem tão gatas.

Revirei os olhos e belisquei uma orelha dele.

– Ai! – reclamou.

– Está bem, Sr. Recentemente Heterossexual, vamos parar com o comportamento de homem descobrindo-que-canalhice-é-a-sua-natureza, ok?! – Apliquei mais força no beliscão e fiz cara de má. – Espero que não já esteja pensando em trair a Glynda! – bronqueei.

– AAAAAAAAAAAAAAAAAAH! Calma! Foi só um comentário! – Brian defendeu-se, tentando se livrar do aperto e pondo os braços na frente do rosto para se proteger.

– Acho bom mesmo! – ri, largando a orelha dele.

– Caramba, Catherine... – ele comentou enquanto massageava a orelha dolorida. – Você podia ser menos... você?

Sorri com todos os dentes. Não, era óbvio que eu não podia.

Ficamos um tempinho em silêncio, encarando um ao outro. Aos poucos, nossos olhos foram se arregalando, pelo mesmo motivo.

– Aiden! – berramos em coro.

– Droga! Eu ainda não o vi hoje, você viu? – perguntei.

– Não! – surtou Brian. – Ah, mas que droga! Onde será que estão ele e a Lizzie agora?!

– Aaaaaaaaai, a Lizzie, meu bebê! – delirei. – Eu também não a vi! Deus, será que ela está bem?! Será que eles não vieram pro colégio hoje? – meus olhos saltavam para fora das órbitas, agora de pavor. – Ah, mas por quê?! Será que aconteceu alguma coisa?

– Não diz isso, Catherine, pelo amor de Deus... – Brian murmurou, estremecendo.

– Espera aí, tá, calma! Vamos com calma! – respirei fundo. – Isso é loucura. Não precisamos nos preocupar. Até parece que todos os sombrios resolveriam nos seguir para fora do mundo deles e capturar Aiden e Lizzie – ri nervosamente com a possibilidade. – Não, por favor... Não deve ter acontecido nada demais. A Lizzie provavelmente estava se sentindo mal para vir ao colégio hoje, por causa do desmaio dela, então o Aiden ficou cuidando dela como eu pedi.

Brian me encarou por um longo segundo.

– É... Provavelmente você tem razão. – Ele respirou fundo, tentando acalmar-se.

– Quer saber? Vamos ligar para eles.

O sinal, anunciando o fim do almoço, tocou.

– Er... – Hesitei, enquanto todos os alunos à minha volta se levantavam para seguir para suas salas. – Ok, a gente faz isso na hora da saída, então. Me encontre perto daquele carvalho no pátio.

***

Disquei o número de Lizzie no meu celular – vermelho e touch screen – apressadamente e cruzei os dedos, torcendo para ela atender.

Eu e Brian estávamos na sombra, debaixo dos galhos do grande e velho carvalho que ficava bem no meio do pátio da escola. A grama era verde, e a atmosfera entre nós estava anormalmente silenciosa, graças ao fato do colégio estar quase vazio, já que o sinal de saída soara há alguns minutos. Eu tinha perdido o ônibus Escolar, mas Brian assegurou que seu pai me daria uma carona para casa.

Eu fiquei feliz por o pai dele estar de volta à cidade e indo buscar o filho no colégio. Os dois quase nunca se viam, já que Robert Harris vivia sempre viajando, graças ao trabalho.

Coloquei o celular no meio entre mim e Brian, e nós dois aproximamos o ouvido da minha mão estendida no ar para escutar. Ele grunhia cada vez que o aparelho chamava, ansioso.

Então, no terceiro toque, Lizzie finalmente atendeu.

– Alô, Catherine?

A voz dela soou tão normal e saudável que eu e Brian respiramos fundo de alívio. Um sorriso se espalhou automaticamente por ambos os nossos rostos, e eu, não podendo evitar o impulso do momento, tomei o celular só para mim, de modo que Brian bufou. Ele teve que se aproximar ainda mais para poder colar o ouvido às costas do aparelho e escutar de algum jeito a conversa.

– Até que enfim consegui falar com você! Lizzie, você pensa que pode sumir do mapa assim depois de desmaiar e me dar um baita susto desses? Eu aqui toda preocupada com o seu bem-estar! – vociferei, e vi, por minha visão periférica, Brian revirar os olhos. – Não foi assim que eu te eduquei, sabia?!

– Sim, mamãe. – Lizzie ironizou, e eu quase podia adivinhar que ela estava revirando os olhos tal como Brian.

Eu gargalhei, junto com minha melhor amiga do outro lado da linha.

– Ai, ai... Então, está tudo bem com você? – sorri involuntariamente.

– Ficamos preocupados com você, Bela Adormecida! – Brian gritou ao meu lado, para se fazer ser ouvido do outro lado da linha.

– Sim, está tudo ótimo comigo, gente. – Eu imaginei um doce sorriso também nos lábios de Lizzie, onde quer que ela estivesse. – Já saí do hospital. Estou aqui tomando sorvete, ou melhor, acabei de tomar sorvete e estou indo para casa com o...

– Onde? – embasbaquei. – Tomando sorvete em vez de vir para a aula? Ah, tá, desculpa se nós somos jovens responsáveis, que vêm pro colégio mesmo depois de uma noite estressante e fisicamente desgastante, ao contrário de você, que vai se divertir aí...

– EU NÃO ESPERAVA ISSO DE VOCÊ, LIZZIE! – Brian dramatizou ao meu lado, e eu arrastei meu telefone celular momentaneamente para longe dele. Ele abafou uma risadinha, enquanto eu tornava a pôr o fone na orelha.

– Ah, qual é, vocês dois! – Lizzie estava revirando os olhos de novo, com certeza. – Não é nada disso. Acontece que eu só fui acordar 10h45 da manhã, estava muito atrasada para ir para a aula, e o porteiro Watkins não ia me deixar entrar, por isso que nós fomos...!

– Opa, opa, opa. – Brian interveio, repetindo “opa” sem parar até que Lizzie se calasse.

Ela obedeceu, emitindo antes um som confuso. Mas eu bem tinha entendido aonde Brian queria chegar.

– “Nós”? – indaguei.

– Ah... É. Eu e Aiden.

O silêncio tomou conta da linha.

Ok, foi muito estranho como Lizzie hesitou antes de falar “Aiden”, o mesmo jeito com que ela geralmente costumava a hesitar antes de ficar corada.

– Ele ainda está com você? – balancei a cabeça, fitando a grama a meus pés e recostando-me melhor no grande carvalho. Resolvi ignorar a reação estranha de Lizzie, aliás, talvez aquilo tivesse sido coisa da minha cabeça.

– Sim, ele tem estado comigo desde que acordei. – Agora ela estava sorrindo, constatei, minha mente conhecedora de Lizzie demonstrando seus talentos. Sorri também. – Cuidou muito bem de mim. Passei o dia inteiro com ele.

– Awn, ele não é um fofo? – Fiz vozinha de bebê. – Fez direitinho o que eu mandei! Tem como passar para ele?

Ouvi um ruído através do telefone e, de repente, uma voz sexy me dizia:

– Alô?

– Lindo! Tesão! Bonito e gostosão! – Cantarolei, sem fazer questão de esconder a minha alegria ao telefone. Depois gargalhei. – Ok, brincadeira, corinho errado! Au, au, au, Aiden é sensacional! – Sorri e fiz barulhinho de beijo. – Obrigada, lindo, por ter cuidado da minha flor, está bem? Você merece um beijo. Tá, agora chega de palhaçada... Sério, valeu. – Alarguei meu sorriso, muito orgulhosa dele.

– Disponha. – Imaginei que ele retribuía o sorriso, daquele jeito matador que só ele sabia fazer.

Tá, eu não conheço Aiden tão bem quanto Lizzie, então não podia ter certeza de que ele estava mesmo sorrindo. Mas deixa eu pensar que sim.

– Fofo – elogiei.

– Gostosa – ele devolveu, brincalhão.

– UI, GATO, VEM CÁ.

– OPA! SENTI O CLIMA! – Brian aproveitou a deixa, rindo.

Todos gargalhamos.

Ouvi um ruído do outro lado da linha de novo, e logo a voz de Lizzie estava de volta:

– Vocês, hein... – ela nos repreendeu.

– Ah, qual é, Lizzie, foi só brincadeira! – expliquei, ainda sorrindo boba.

Eu e Aiden tínhamos nos tornado amigos, e, graças a Orazón, muito íntimos. Nós tínhamos liberdade para falar nesse tipo de coisa, não tínhamos?! Ele até já me viu de sutiã! Fato que, felizmente, eu tinha superado milagrosamente desde que ele me chamou de gostosa. Não me perguntem por quê.

E eu não sou vadia!

Brian tomou o telefone da minha mão sem dar muita atenção ao “ei!” exclamado por mim quando o fez. Então, assim que ele levou o celular ao ouvido, dessa vez fui eu quem tive de me encostar nele e aproximar o ouvido do telefone para ouvir a resposta de Lizzie.

– E aí, Lizzie, mais alguma coisa que queira nos contar antes do meu pai aparecer pra buscar a gente? – ele questionou.

Houve um esquisito e demorado silêncio do outro lado da linha.

– Ahn, nada – Lizzie balbuciou, hesitante. – Bom, eu surtei quando acordei... uma enfermeira linda e gostosona deu em cima do Aiden, mas... foi tudo bem, ele me explicou o que tinha acontecido noite passada, falou que tinha deixado todos vocês em casa, e... – ouvi-a engolir em seco. Depois, acrescentou apressadamente: – viemos tomar o sorvete e foi só. Não aconteceu mais nada interessante.

Fiquei com uma pulga atrás da orelha. Por que será que Lizzie parecia estar escondendo coisas de mim?

Ah, não importa, pensei. Talvez fosse só por causa de Aiden estar ali do lado. Bom, quando nos encontrarmos, eu vou fazê-la desembuchar tudinho.

– Tudo bem, então! – Falei, um pouco alto demais pelo fato de estar relativamente longe do telefone.

Mal eu tinha terminado a frase quando um Honda Civic preto encostou à calçada, perto do colégio, e buzinou ao mesmo tempo em que o vidro escurecido descia e a imagem do pai de Brian se revelava.

Observei o cara por um segundo.

Robert Harris era um quarentão atraente, eu não podia negar. Os cabelos castanhos, que ele possuía em abundância, formavam um redemoinho no alto da cabeça e eram meio espichados para cima, dando um ar bagunçado que lembrava o próprio Jake Hanson. Robert tinha o corpo em forma, lotado de músculos, e a pele era de um bronzeado invejável. Ele também tinha um ar jovial, fato esse reforçado no momento pelos óculos escuros e o chiclete que mascava como se fosse um adolescente, ou como se ainda estivesse na casa dos vinte.

Para completar, tio Rob ou tio Robbie, como eu o chamava, era suuuuper charmoso. Difícil acreditar que Brian – bonitinho, mas sem graça – era filho dele.

Tio Rob buzinou mais uma vez.

– Ih, meu pai, tenho que desligar. – Brian falou apressadamente para Lizzie, acrescentando antes de desligar meu telefone: – Vocês dois se cuidem, hein?

Ele me entregou o aparelho e nós dois apanhamos nosso material, caminhando rapidamente até o veículo preto.

Brian abriu a porta do banco traseiro para mim e agradeci, lisonjeada com o cavalheirismo, antes de enfiar meus livros lá dentro e entrar em seguida. Ele entrou pelo do passageiro e fechamos nossas portas quase ao mesmo tempo.

– Oi, tio Robbie! – cumprimentei animada, acenando.

– Ei, Catherine – ele retribuiu o cumprimento, girando a cabeça para trás no banco e sorrindo para mim com seus dentes perfeitos.

– Ela vai com a gente hoje, pai – anunciou Brian. – Não se importa de deixá-la em casa, não é?

– O quê?! Não, mas claro que não! – o Sr. Harris vociferou como se tivesse sido uma ofensa, e deu a partida no carro, voltando a conversar comigo: – Nossa, Catherine, já não a via há um tempo, não é mesmo? Como tem passado? – perguntou, simpático.

– Muito bem. – Respondi sorrindo.

– E seus pais?

– Também estão ótimos!

– Ah, isso é bom, muito bom. Estou com saudade deles, aquelas almas boas são companhia muito agradável numa festa – ele gargalhou. – Susan e William Reynolds, ah, quanto tempo! Quem sabe qualquer dia ainda ligo pra eles enquanto estiver na cidade, para sairmos.

– Ah, sinto muito, tio, eles estão viajando... – falei com um ar melancólico.

– Santo Deus, que pena! – Rob parecia mesmo chateado. – Quer dizer que você já está sozinha em casa de novo, Catherine? – observou. – Minha nossa, não sei como aguenta.

– Não é tão ruim, tio Robbie – sorri de novo, sapeca. – Depois, você sabe que eu sou muuuito independente.

– Certo, certo. Tem razão, nisso não há dúvida – ele tornou a girar a cabeça para trás por um milésimo de segundo para sorrir para mim. E então exclamou, já com o olhar voltado para o trânsito, enquanto dirigia: – Nossa, a cada vez que vejo você, está mais bonita!

Corei com o elogio.

– Obrigada, tio.

– Devem chover caras atrás de você, não é mesmo, Catherine? – Tio Robbie comentou com outro sorriso, que dessa vez acompanhei pelo espelho do carro. – Quer dizer, menos o meu filho, é claro, porque ele é muito respeitador.

E olhou maliciosamente para o garoto sentado a seu lado.

Brian revirou os olhos e fingiu que não era com ele, o que fez os três cairmos na gargalhada.

– Ah, isso é verdade! Seu filho é muito respeitador. – Fui séria, enquanto meu amigo girava o pescoço no banco do passageiro para me encarar e me dava língua.

Nós rimos de novo.

– E as namoradas, hein, filhote?

O filho em questão corou enquanto o pai bagunçava seus cabelos rapidamente, logo pondo outra vez as mãos no volante.

– Nenhuma por enquanto...

Fingi engasgar, o que fez Brian se encolher no banco e pôr as mãos no rosto. Eu sabia que ele queria me matar e, ao mesmo tempo, estava torcendo para que o pai não prolongasse o assunto e não me percebesse dedurando a verdade, dizendo com a minha tosse: “Ele tem sim! ELE TEM UMA NAMORADA, SIM! É mentira dele!”

Infelizmente, para minha decepção e sorte de Brian, tio Rob não disse mais nada.

E eu então me vi confusa quando me pus a pensar.

Eu sabia que o pai de Brian pensava que ele era gay. Então, o que será que Robert tinha achado da minha tosse? Será que prestou atenção nela? Será que não percebera seu significado? Ou será que pensou que eu estava querendo dizer que Brian tinha um namorado?

E por que será que ele não falou mais nada até agora? Está digerindo a idéia? Se remoendo por dentro para aceitar a “natureza” do filho? (Que nem era gay, afinal.) Ou apenas estava prestando atenção no trânsito, como parecia?

Minha alegria passou com todas essas perguntas, e também enquanto as palavras de tio Robbie retornavam-me à mente. “Devem chover caras atrás de você, não é mesmo, Catherine?”

Sim. Mais ou menos. Bom, o problema era que... eu não me apaixonava por nenhum deles.

***

– Aqui, Glee. – Passei uma toalha para Glynda, depois de explicar cuidadosamente e em detalhes a maneira correta de se tomar banho no mundo humano. “Glee” era o mais novo apelido que eu tinha inventado para ela.

Estranhei o fato da sombria não ter tido vergonha de ficar sem roupa na minha frente... Afinal, a garota era uma princesa.

– Obrigada – ela sorriu de dentro do box. Apenas sua cabeça e seu braço com a toalha estavam para fora; os cabelos castanho-avermelhados já molhados colavam-se ao rosto bonito.

Retribuí o sorriso.

– Ah, não precisa agradecer. Pode pendurar a tolha aí em cima, ou ali... bem, em qualquer lugar – instruí. – Acho que vou checar se o Mack já terminou de tomar banho, tem quase 3 minutos que o deixei no banheiro do outro quarto... e tenho certeza de que ele é bem rápido. – Observei, quase brincalhona, enquanto dava as costas para Glynda e seguia em direção à porta.

Eu nem acreditava no meu descuido como anfitriã. Os coitados não tinham tomado banho até agora, desde que chegaram de Orazón! Ah, santo Deus, eles deviam estar ansiosos por tirar toda aquela sujeira de terra do corpo e relaxar como só a água corrente nos permitia, às vezes. Sem falar nas saudades da agradável sensação que é estar limpo.

– Espere! – Ela exclamou, me fazendo parar de andar. Girei o corpo e fiquei de frente para a princesa outra vez.

– O que é?

– Quando eu disse “obrigada”, não era só por isso – explicou-se. – Mas por tudo. Obrigada por nos ajudar, por nos deixar ficar em sua casa... Devemos muito a você, Catherine.

– Você sabe que o que está falando é ridículo, não sabe? – Respirei fundo e obriguei meus olhos a secarem antes de continuar. – Sou eu quem devo a você e ao Mack. Mais do que um dia poderei recompensar. – Sorri, sem graça. – Vocês salvaram a minha vida. Eu estou apenas retribuindo o favor como posso.

Ela ficou sem palavras.

Glynda sorriu, mas eu pude ver em seus olhos que ela ia contestar. Então me virei rapidamente outra vez e fechei a porta atrás de mim, saindo do primeiro quarto de hóspedes antes que ela dissesse mais alguma coisa.

Caminhei pelos corredores da minha casa a passos firmes e decididos, em direção ao segundo quarto de hóspedes, mais precisamente onde Mack estava. Eu ia abrir a porta de vez, mas hesitei ao aproximar minha mão da maçaneta. Refletindo por um momento sobre a minha falta de costume em bater nas portas da minha própria casa, suspirei e usei as costas das mãos para dar três pancadas suaves na madeira.

– Entre. – A voz de Mack soou rouca e despreocupada do outro lado da porta.

Respirei fundo e adentrei o cômodo ao mesmo tempo em que falava.

– Já terminou? Que bom, porque eu estava lá no banheiro com a Glynda e não pude deixar de pensar se você ia fazer certo, afinal só te ensinei com palavras e... – Meus olhos se arregalaram quando encontraram Mack. – AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! – gritei com toda a força que tinha, assustando-o. – VOCÊ FICOU MALUCO?! – berrei, fechando os olhos com força e tapando a cara com os braços.

Senti meu rosto esquentar, ficando completamente corado. Eu mal acreditava que tinha acabado de ver o sombrio nu bem na frente. NU, CARA! PELADÉRRIMO!

Minha força de vontade começou a brigar com meu bom senso, porque eu estava louca da vida para dar mais uma olhadinha.

– Mas do que é que você está falando?! – A voz de Mack soou alta e revoltada demais, apesar de inocente. Gemi de frustração, e apertei meus braços contra os lábios. – Quer me matar do coração, Catherine?! Deuses! Por que você gritou?

– E AINDA PERGUNTA? – Revoltei-me. – COMO É QUE VOCÊ DIZ “ENTRE”, NA MAIOR CARA-DE-PAU PRA UMA GAROTA, QUANDO AINDA ESTÁ COMPLETAMENTE PELADO NO QUARTO?

– O que é que tem isso? – Mack espantou-se. Senti vontade de pegar aquela cabeça grande, burra e linda e encher de pancada.

Tremendo por todos os lados, baixei os braços. Dei de cara com um sombrio confuso, mas mesmo assim demasiadamente despreocupado enquanto secava os cabelos com a toalha, deixando as outras partes do corpo à mostra. Meus olhos se voltaram involuntariamente justo para o lugar que eu menos devia olhar, e, notando que até ali ele era perfeito, fiquei mais vermelha ainda e desviei rapidamente minhas pupilas.

– Caramba... – Fitando a parede, suspirei e esfreguei a testa. – Não acredito que vou dizer isso, porque deveria ser tão óbvio, mas vamos lá... – Fiz uma pausa e voltei a olhar para Mack. Dessa vez nos olhos dele. – Mackembethor, você não pode sair por aí achando que é normal as pessoas te verem como veio ao mundo! Entendeu? Principalmente as garotas! – expliquei, fazendo sinal para que ele colocasse a tolha nas partes baixas. – Ai, por favor, cobre isso aí, pelo amor de Deus!

Acho que eu não esperava que ele captasse, pois me surpreendi quando Mack, ainda que hesitante, enrolou a toalha em volta de sua cintura e a prendeu ali – deixando-me aliviada.

– Não posso? – Ele repetiu, como se digerisse a idéia.

Voltei a me irritar rapidamente e, fechando os olhos de raiva, botei a mão na testa.

– Ah-meu-Deus, o que deu em você, hein?! Porque eu me lembro que em Orazón você andava com uma bermuda de mato por aí, mas não ficava pelado!

– Acontece que em Orazón é frio – ele me explicou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. – Mas aqui faz muito calor. E, sei lá, eu não sabia dessa regra de não poder ficar pelado! Na verdade, não sei como vocês conseguem andar de roupa por aqui.

– Espera aí. – Embasbaquei. – Você só precisa de uma bermuda de mato para se sentir mais protegido do frio em Orazón? – Mack confirmou com a cabeça. – E, se lá não fosse frio como é, todos os sombrios andariam pelados por aí achando a coisa mais normal do mundo?

Ele fez que sim outra vez. Chocada, passei as mãos pelo rosto de olhos arregalados. Tentei imaginar pessoas lindas e maravilhosas, que mais pareciam semideuses, como Mack e Norwick andando pelados pela terra o tempo todo... Er, ok, Catherine, chega. Se controla!

– Isso é muito doido pra mim, cara.

Ele gargalhou diante da minha estupefação.

– Sabe, Catherine, você e seus amigos têm um vocabulário engraçado. – Mack sorriu.

Retribuí quase involuntariamente o sorriso. Ah, mas que droga, que Deus me ajude... Ele podia ser burrinho, mas ainda era um fofo.

– Er... Então, ham-ham – pigarreei. – Mas temos que dar um jeito nesse problema... arrumar roupas novas pra você.

Pensei por um instante.

Logo me mexi, atravessando o quarto em direção ao armário que lá havia. Abri-o e comecei a revirar as roupas de lá; a maioria velhas, tanto minhas quanto dos meus pais. Fucei as gavetas e pilhas de camisas de William à procura das roupas mais “apresentáveis” dele, jovialmente falando.

Não encontrei nada espetacular para um cara adolescente, mas sem dúvida tinham coisas até usáveis. Vibrei ao achar aquela calça jeans que meu pai tinha ganhado de presente da minha tia dois anos atrás – mas que ele nunca usou por não ser o número dele e, além disso, ser “jovem” demais. Ia ficar perfeita em Mack.

Acabei escolhendo ela e uma blusa branca com listras azul-bebê muito finas, e entreguei a meu convidado.

– Toma, vai vestir isso – pedi. – Droga, temos que te arrumar uma cueca! – A expressão de Mack encheu-se de humor e ele espremeu os lábios. – Que foi?

– Achei engraçada essa palavra. “Cueca”. – O otário prendeu o riso.

Revirei os olhos e abri outra das gavetas de meu pai.

Como se a sorte estivesse conspirando a meu favor, encontrei uma embalagem ainda fechada de uma cueca que, pelo visto, ele nunca havia usado. Na verdade, havia 7 embalagens, dispostas em fileiras no fim da gaveta das cuecas velhas, e isso era estranho... Por que meu pai as jogaria no armário de roupas que nunca mais ia usar, se ainda nem estavam sem elástico ou furadas, como todas as outras ali? Bom, quem se importa, afinal eu achei uma cueca para Mack...

Vibrei novamente por dentro e peguei uma das embalagens, analisando-a.

– Azul, daqueles modelos que parecem um short e 100% algodão! Olha só, hoje deve ser nosso dia de sorte! – Abri a embalagem e entreguei a roupa íntima a Mack. Eu estava meio vermelha outra vez, mas ele não pareceu perceber. Ainda bem!

Eu até pensei em entregar a cueca para Mack ainda embalada, mas, fala sério, ele não devia fazer a menor idéia de como abrir a embalagem. Aliás! Eu apostava que ele não fazia nem mesmo a menor idéia de como colocar a c...

– Como é que se veste isso?! – indagou, fitando a cueca com espanto.

Suspirei e dei um rápido tapinha na testa.

– Aqui – entreguei a caixa rasgada para ele. – Olha como esse cara da embalagem vestiu, e tenta usar o bom senso... Vai logo! Anda, anda!

Empurrei-o em direção ao banheiro. Depois, joguei as calças e a blusa em cima dele e fechei a porta.

Mack reapareceu 30 segundos depois, completamente vestido da cabeça aos pés.

– Ah, fala sério, que vontade de arrancar tudo isso! – falou, puxando a gola da camisa (que, infelizmente, era de manga). – Que calor... Catherine? Ei, Catherine! Que aconteceu com você?

Eu estava paralisada. Completamente alheia a tudo, exceto ao ser maravilhoso à minha frente.

Ai, meus deuses!, como dizem os sombrios. Mack estava tão lindo que dava vontade de morder.

A calça lhe caíra muito bem. A blusa sofisticada lhe dava um ar importante e sensual que estava me tirando o fôlego. E a cueca... bom, eu não sabia se ele a tinha vestido certa, mas eu é que não ia baixar as calças do cara para conferir, né!

Ou talvez eu baixasse. Só pra checar. Afinal, eu tinha certeza que ele não ia se importar... Ai, mas que droga, Catherine! Foco! Concentração!

– Nossa, é que... você ficou incrível. – Sorri.

Mack me retribuiu o sorriso. Intensamente, embora meio... vermelho.

– Obrigado.

– Não há de quê.

Ele me virou as costas. Eu pus a mão na cabeça.

– Ahn... Escuta. – Franzi os lábios, esfregando a testa e fazendo ele se virar para mim de novo. – Obrigada mais uma vez. – Ele me encarou com curiosidade. – Pelo que você fez por mim em Orazón... por ter tirado aquela flecha do meu corpo. Enfim, por tudo.

– Está brincando? – Ele voltou a sorrir. – Você nos ensinou como viver no seu mundo a madrugada inteira, nos ofereceu sua casa para ficar, seu lar. Eu também tenho muito a agradecer a você.

– Ah – devolvi o sorriso dele com vontade.

Ficamos nos encarando por um longo tempo, sem desviar o olhar.

– Mack – falei, passando a encarar o chão e os lados, pensativa. – Temos de pensar no que vamos fazer com vocês quando meus pais voltarem...

– Quanto tempo até lá? – perguntou.

– Uma semana.

Outra vez ficamos nos olhando.

– Hum... – Mack desviou o olhar do meu e olhou para o lado, como se refletisse. Ainda bem que eu tinha lhe explicado sobre as semanas e outras coisas humanas óbvias. – Talvez tenhamos que ir embora.

Arregalei os olhos de imediato.

– O. Quê?

Ele e Glynda... irem embora? Saírem permanentemente da minha vida, quer dizer, para nunca mais voltar?

Mack hesitou por um momento antes de voltar a me encarar. Ah, Deus, eles irem embora parecia tão... triste.

– É. Ir embora. Para algum lugar longe de Steklyn, eu acho.

Não. Eles não podiam fazer isso, não.

– Mas por quê?

– Esta é uma cidade litorânea – Mack começou. – A praia é um risco constante para nós, toda a noite o portal que existe nela vai tentar atrair eu e Glynda para voltar a Orazón...

– Só se vocês ficaram perto da praia. – Interrompi.

Ele me olhou nos olhos com uma expressão cautelosa.

– Não, Catherine. Somos sombrios. A atração é muito mais forte, não funciona com a gente do mesmo jeito que é com vocês...

– Mas ontem, vocês dois passaram a noite inteira aqui e não aconteceu nada! – rebati.

– Claro que aconteceu – ele balançou a cabeça para os lados, negando. – Não reparou que, às vezes, tanto os meus olhos quanto os de Glynda perdiam o foco na madrugada? – indagou.

Hesitei. Sim, eu me lembrava. Às vezes, estava no meio de uma explicação para eles de como funcionava o micro-ondas e, de repente, deixavam de me dar atenção, fitando o nada... E eu tinha que gritar para chamar a atenção deles de volta.

– Era isso?

Mack confirmou lentamente com a cabeça.

– Sim.

– Mas... mas... – Eu estava começando a ficar nervosa. Molhei os lábios. – Vocês não foram até o portal!

– Porque a porta de sua casa estava trancada. – Ele justificou tranquilamente. – E, também, porque você nos chamava rapidamente a atenção de volta, antes que pudéssemos começar a andar pela casa feito zumbis... Até a porta de entrada, e além.

Levei uma mão trêmula à cabeça, de repente muito ciente de como o perigo havia estado próximo.

– Mas vocês não podem ir embora.

Mack pareceu intrigado.

– Por quê?

– Eu não quero que vocês vão! – admiti. – E como ficam Glynda e Brian? Eles são almas gêmeas!

Mack assentiu devagar.

– Sim, mas muitas almas gêmeas que já se encontraram um dia foram forçadas a viver separadas por conta de implicações do destino – ele disse. – E sobreviveram até hoje.

Balancei a cabeça. Não queria aceitar aquela idéia. Não queria acreditar que eles iam embora mesmo, eu precisava que eles ficassem.

Não! Pensei. Eles não iam embora! Eles são meus amigos. Eu os amo!

Meu estômago embrulhou.

Caminhei até a cama de casal revestida em lençóis brancos, com delicados desenhos dourados no edredom que a cobria, e sentei-me nela.

– Não, não, não, não e não! – comecei a espernear e deitei-me feito criança birrenta, socando os travesseiros. – Vocês não vão embora. Eu NÃO vou deixar!

Fiquei maltratando o colchão por uma meia hora, ou o tempo que gastou para evaporarem minhas energias. Depois, deixei-me cair de bruços e bufei contra o tecido macio.

Senti Mack se aproximando. A cama baixou devagar quando ele se sentou do outro lado, e, de repente, ele afastava meus cabelos do pescoço, começando afagá-los com carinho.

Estremeci quando o indicador do sombrio roçou em minha pele. Fiquei toda arrepiada.

– Também não quero ir embora. – Ele admitiu, com a voz rouca num volume baixo e suave. Estremeci novamente, dessa vez por inteiro, tomada por uma onda de calor e adorando aquele som aveludado da voz de Mack, os dedos dele em meus cabelos e o fato de nossos corpos estarem tão próximos.

Nada na situação me incomodava. Eu sentia por ele um carinho que até parecia ser antigo, em vez de recente, pois eu apreciava até mesmo nada mais do que a sua companhia. Mais ou menos como eu gostava de estar com Lizzie, mesmo quando nós duas não tínhamos nada para conversar. Só pelo fato de ela ser especial para mim. Como Mack havia se tornado.

Ficamos em silêncio outra vez. O que não pareceu incomodar nenhum de nós dois.

Mack continuava a acariciar meus cabelos, tomando o cuidado de não tocar novamente em minha pele, percebi. Mas por quê?

– Se você não quer ir, então não vá embora – murmurei finalmente, minha voz abafada pela cama.

Ele suspirou.

– Não é tão simples assim.

Então, ele pegou meu cabelo por inteiro com uma só mão e o colocou para o lado. Mack descuidou-se por um segundo, no qual dessa vez todos os seus dedos – as costas dos dedos – encostaram na base do meu pescoço, macios como veludo, sólidos como pedra.

Dessa vez, algo rugiu dentro de mim.

A onda de calor que eu sentira ao seu primeiro toque não foi nada comparado à forma como que meu corpo inteiro acendeu dessa vez, incendiando. Isso é loucura, loucura, delírio da minha cabeça! Ainda tentei me conter, negando minha reação. Afinal, ela não fazia sentido. Ele já tinha me tocado antes! Mas nunca no pescoço, percebi, minha área mais sensível a...

Grunhi de frustração comigo mesma, e apertei o rosto contra o colchão o máximo que pude. Não, pensei. Por favor, Mack não. Vai embora, sua atração dos diabos!

Mas ela não foi embora.

Gemi assustada.

Cuidadosamente, com medo de mim mesma, ergui-me devagar e comecei a sentar novamente na cama. Hesitei por um segundo, com os olhos no colchão, e depois olhei para Mack.

Ele me encarou de volta, os olhos negros tristes e alheios, sem a menor idéia das coisas sujas que passavam por minha cabeça. Mack não queria ir embora da minha vida, dava pra ver. Mas desesperei-me ao observar outra coisa em seu olhar, uma espécie de “mas não podemos fazer nada”.

Fitei-o longamente por três segundos.

Depois o toquei, pondo o indicador em sua têmpora e, em seguida, descendo pela linha da mandíbula, percorrendo aquele rosto perfeito.

Eu, definitivamente, nunca conhecera um cara mais bonito do que Mack. Ele tinha o corpo maravilhoso, composto por músculos fortes e definidos, e aquela cor rara, prateadamente pálida de tom de pele. Agora, tão perto que eu podia sentir sua respiração no meu rosto, constatava que seu hálito tinha cheiro de canela, como Glynda dissera. Não poderia ser melhor para mim. Eu sempre adorei canela, e estava na cara que esse era o seu “hálito sombrio”, como o de Glynda cheirava a morango e a flores do campo. Os traços de Mack eram harmônicos e celestiais, do rosto aos pés. Ele era lindo, e eu tinha aprendido a apreciar tudo nele. Perfeitamente. Completamente. Dolorosamente.

Doía tanto a vontade dele que estava sentindo naquele minuto.

– Eu quero você.

Parei, com o dedo no queixo dele, mal acreditando que eu tinha dito aquelas palavras.

Fiquei olhando para meu dedo, incapaz de erguer o olhar para encarar Mack agora. Comecei a tremer. Mas alguma coisa no jeito que ele arfou a seguir fez minha coragem restaurar-se e voltei a olhá-lo nos olhos.

– Por quê? – Ele arrastou as palavras.

Deixei minha mão cair de seu rosto.

– Como assim por quê? – quis saber, analisando sua expressão.

Mack me encarou por um longo segundo.

– O que eu sou para você, Catherine? – ele indagou por fim, os olhos se desviando para meus lábios. – Se eu a beijasse agora, seria seu brinquedinho pela manhã?

Hesitei, insegura.

Pelo menos 1 milhão de respostas passaram por minha cabeça. “Provavelmente”, “talvez”, “sim” e “é, tem algum problema com isso?” estavam entram elas. Eu precisava, eu tinha que ser sincera com Mack. Eu não queria iludi-lo, e nem ia, como tinha feito com Erik. E, por mais que me doesse, essa era a verdade. Não era? Eu não podia gostar de Mack. Eu não gostava verdadeiramente de garoto nenhum há muito tempo.

Então, eu ia dizer “sim” a ele, e acabar logo com essa palhaçada. Nós nunca daríamos um beijo, eu não ia nem começar o que podia ser um passo para um relacionamento destruído. Nós nunca seríamos mais que amigos se dependesse de mim. Era de súbita importância que Mack permanecesse em minha vida agora, eu o amava, e não ia destruir nossa amizade com um beijo.

Mas, de súbito, eu me vi respondendo justa e inesperadamente o oposto do “sim” que deveria:

– Não.

E falei bem devagar.

Quis bater em mim mesma.

Porém, no momento em que terminei de pronunciar a palavra, eu senti toda verdade incrustada nela. Não. Não, ele não ia ser meu brinquedinho, essa era a resposta certa. Mas como?... Quando eu percebi isso? Como meus lábios puderam pronunciar um “não” tão determinado e sólido, tão cheio de convicção, quando na verdade eu abrira a boca para dizer um fraco e humilhante “sim”?

Eu fitei os olhos negros outra vez, e o rosto de Mack estava a milímetros do meu. Os cabelos loiros, lisos e beirando à perfeição emolduravam graciosamente a cabeça que mais parecia uma obra de arte. O nariz era tão delicado e de um tamanho tão proporcional ao rosto que nem parecia ser de homem – quase todos os caras que eu conhecia tinham o nariz enorme. Os lábios estavam logo abaixo, bem delineados, rosados, e mais finos que os de Aiden. A respiração de canela do sombrio soprava em meu rosto.

É tentação demais, pensei. E, como que para concordar, minha boca se retorceu de desejo.

O movimento atraiu a atenção de Mack, que tocou meus lábios. Eu fechei os olhos e, num impulso incontrolável, beijei de leve os dedos do sombrio, em júbilo.

E então de repente as mãos dele estavam em minha nuca, enterradas em meus cabelos, e me puxavam para perto. Desejei ter visto os olhos dele outra vez, mas minhas pálpebras não queriam mais abrir. Quando nossas bocas se encontraram, eu senti o prazer preencher como um líquido todo o meu corpo.

Gemi entre o beijo, incapaz de ficar só naquele selinho insuficiente. Abri a boca bem devagar.

Tudo começou muito lentamente. Não que a tensão angustiada – ansiando por mais – visível nos nossos corpos fosse ilusória, mas ambos estávamos muito cautelosos, inseguros, sabendo o risco que aquele beijo representava. E então não deu mais pra agüentar e eu e Mack deixamos tudo de lado; o que tinha começado lenta e romanticamente – e por isso não me arrependo de toda a nossa hesitação inicial – ficou forte, bruto, avassalador e desesperado.

Apertei-o contra mim enquanto perdíamos todo o equilíbrio e caíamos um por cima do outro na cama.

Emiti um barulho quase obsceno pela forma como a língua dele massageava a minha; tudo estava me matando, da textura à quentura – estranho, já que Mack era geralmente frio. Mesmo assim, deu pra notar um leve nervosismo e atrapalhação às vezes. Ele nunca tinha beijado uma garota antes, ou tinha? Prendi o riso de repente, mas a gargalhada que acabei não soltando era de pura felicidade por eu ser tão única na vida dele. Continuamos de saliência, nos beijando, sugando os lábios um do outro e mordiscando. Eu não queria nunca que aquele momento acabasse.

Catherine?

A voz de Glynda, ainda que abafada pela porta fechada do quarto de hóspedes, sobressaltou Mack e ele descolou a boca da minha, afastando-se.

Ofegando, atônita, fiquei olhando para ele... em cima de mim. Eu estava deitada de costas agora, por cima das cobertas. Mack me encarava de volta, mas nenhum de nós dois se mexeu.

Até que a voz de Glynda soou novamente:

Catherine! – dessa vez, parecia mais próxima e mais urgente.

Bufei. Ela vai mesmo atrapalhar nosso momento mágico?

– Ela está procurando por você. – Mack sussurrou o óbvio.

Confirmei com a cabeça, mas não movimentei um músculo para me levantar.

E então, algo aconteceu.

Mack e eu arfamos. Os nossos olhos se prenderam aonde estavam, olhando um no outro, e a seguir teve início um formigamento em nossos corpos que começava em ambos e se espalhava para além das fronteiras de pele, saindo de Mack e entrando em mim, ou vice-versa.

Havia tudo e havia nada naquela sensação.

Alguma coisa cresceu em meu ser. Do coração, se espalhou para a cabeça e as extremidades do corpo; me inundando com um sentimento incrivelmente angustiante, puro e indescritivelmente belo.

Pela cara de Mack – surpreso e chocado, além de que, aos meus olhos, parecia mais lindo do que nunca –, de repente tive a certeza de que com ele acontecia o mesmo.

E então acabou.

Trêmula, ergui o olhar para encarar Mack. A expressão dele era pasma e de uma quietude contemplativa, acompanhada por uma perturbação interior violenta.

– Catherine – ele arregalou os olhos. – Você... você... você... – ficou repetindo assim como Glynda depois que Brian a salvou de cair no lago de lava. – Quer dizer... Ah, meus Deuses... Você e eu...

E foi aí que eu entendi.

Um sorriso me iluminou o rosto.

Ele estava tentando me dizer naquele momento o mesmo que Glynda havia dito a Brian em Orazón. Ele estava me proclamando, exigindo-me e intimando-me para ser sempre sua. Ah, Deus, ele estava dizendo que...

– Somos almas gêmeas.

Mack sorriu para mim.

E foi o sorriso confirmador mais lindo que eu já vi em toda a minha vida.

– Eu gosto de você – falei em voz alta.

Depois, gargalhei como retardada.

Eu gostava de Mack! Eu gostava de Mack. Ah, Deus, agora tudo fazia sentido... Eu não tinha gostado de muitos caras porque não precisava gostar deles. Eu tinha uma alma gêmea. E era meu destino encontrá-la ainda em vida, quando poucos humanos conseguiam. Por isso também que Brian não se interessava por nenhuma garota e fazia todo mundo pensar que ele era gay! Por isso ele tinha caído em Orazón. Era seu destino encontrar Glynda. Era meu destino encontrar Mack, desde o início. Era por isso que eu sentia atração pelo maldito portal!

Espera aí! Eu não gostava de Mack.

– EU AMO VOCÊ, MACKEMBETHOR! – gargalhei novamente, feliz da vida, antes de ganhar outro beijo apaixonado do meu mais novo candidato a namorado.

De repente, ouvi o som de alguém escancarando a porta.

– Mas o que é que vocês... – Glynda, parada na porta, parou de falar ao nos ver.

Eu e Mack nos afastamos um do outro. Ele foi o primeiro de nós a enfim criar coragem para sair da cama, ficando de pé ao lado desta e encarando cuidadosamente Glynda.

A princesa estava de toalha. Definitivamente, fiquei me sentindo esquisita ao pensar que Mack poderia estar olhando para ela agora de forma imprópria, imaginando o que estaria escondido debaixo dos panos. Trinquei os dentes.

Ainda bem que eu podia ficar meio tranqüila com a certeza de que Mack não era igual aos caras do meu colégio. Bem, um cara normal imaginaria Glynda sem nada, e, se bobear – leia-se: se o cara fosse extremamente sem noção, como era a maioria dos populares –, ainda por cima ficaria de boca aberta enquanto sua imaginação trabalhava, babando sem se preocupar em ser discreto.

– Glynda – ele começou. Não parecia bem um cumprimento, mas uma introdução para uma conversa ou notícia.

Mack não precisou falar nada. Glynda rapidamente entendeu tudo; os olhos da sombria brilharam e os lábios se abriram num sorriso comovido.

– Vocês... são...?

Eu e Mack respondemos sorrindo abertamente. Confirmamos entusiásticos com a cabeça. Finalmente sentei-me na cama.

– Ah, Deuses... Tudo faz agora muito sentido – ela observou.

E eu percebi que o cabelo ruivo estava secando, cacheando com uma perfeição que o meu cabelo nunca tivera. Engoli uma pontadinha de inveja e me levantei rapidamente.

– Vamos, temos que arrumar uma roupa para você – falei, andando em direção a Glynda, enquanto pensava em pegá-la pelos ombros e afastá-la para longe daquele quarto e da vista de Mack.

– Ah, Mack – Glynda virou-se para ele, sua expressão adquirindo subitamente certa tristeza e os lábios tremendo um pouco. – Me desculpe por tudo o que eu disse...

Então parei de andar, já de frente para a sombria. Ela desviou o olhar para mim.

– E desculpe ter julgado mal você, Catherine.

Confusa, arqueei uma sobrancelha.

– Como é que é?

– Eu disse a Mack que você não era o tipo de garota que prezava um compromisso sério. – Ela se explicou, enquanto eu arregalava os olhos. – Desculpe por isso – apressou-se em dizer. – Foi minha intuição, mas é estranho, porque geralmente ela não falha...

Dispensei as desculpas de Glynda com um gesto.

– Não! – gritei, parecendo uma louca. – Tudo bem. – Amenizei o tom de voz. – Quer dizer... você tinha razão. Eu só não pensei que você pudesse ver esse tipo de coisa. – Admiti.

Glynda piscou, surpresa. Eu me virei para Mack.

– Eu realmente não prezava um compromisso sério. Para mim, tanto fazia, eu era capaz de levar um namoro na brincadeira... – confessei, relutante. – Mas, por favor, Mack, me entenda, isso foi só até hoje. Eu não sabia como era gostar de verdade de um cara. Mas, agora, eu sei. – Eu sorri, emotiva. – E eu quero... Agora eu quero fazer isso direito. Vou levar a sério. Juro.

Mack aos poucos abriu um sorriso iluminado para mim, e assentiu com a cabeça.

Caminhei até ele e, ficando na ponta dos pés, beijei rápida e delicadamente seus lábios. Ele me abraçou, e eu estava com cabeça enfiada em seu peito quando ele tornou a falar:

– Você nem sabe se vou ficar aqui.

Grunhi e apertei-o mais contra mim, possessiva, querendo dizer que ele não ia a lugar algum.

– Vamos dar um jeito – falei determinada, minha voz abafada pelas roupas de Mack. – Vocês não vão embora. Eu e os outros descobriremos um lugar pra vocês ficarem.

– Eu acho bom – ouvi a voz de Glynda ecoar do outro lado do quarto.

Soltei Mack e olhei para ela. Ainda estava na porta, de toalha, encostada no batente com as pernas cruzadas.

Ela sorriu.

Sorri de volta para Glynda. Um sorriso sem dentes, mas cheio de significados ocultos, enquanto a puxava para fora do quarto e batia a porta, anunciando a Mack que voltaria logo.

– Vai ser bem mais fácil arrumar roupas pra você – comentei em voz alta para que Mack ouvisse, e dessa vez nós duas sorrimos juntas, como antigas amigas.

Paramos de andar no meio do corredor e nos encaramos com nossa melhor cara cúmplice uma para outra, depois morremos de gargalhar sem som.

– Por favor! – ela balançou a cabeça, cochichando. – Quer fazer o favor de me contar logo tudo?! Como aconteceu?

Abafei uma risadinha.

– Ah, foi tudo perfeito! – sussurrei de volta, abrindo um sorriso. – Mas, escuta... eu queria te perguntar uma coisa. – Abaixei ainda mais a voz. – Não estou conseguindo acreditar muito bem que isso aconteceu... quer dizer, como assim só foi se manifestar agora?!

Glynda sorriu e passou uma mecha de seu cabelo para trás da orelha.

– Ah, Catherine... Os mistérios do amor. – Comprimiu os lábios e fez uma cara maliciosa, com pinta de quem entendia do assunto. – Mas, na verdade, é assim mesmo que acontece com as almas gêmeas... Às vezes, o reconhecimento é retardado por desatenção, falta de intimidade ou falta de maturidade emocional. Claro que entre os sombrios isso não acontece, ou pelo menos não costuma acontecer. – Desviando os olhos dos meus, ela inclinou a cabeça pensativamente para o lado. – Mas, entre humanos e sombrios, parece ser bem comum.

Arqueei uma sobrancelha.

– E como é que sabe de tudo isso?!

– As razões para demora no reconhecimento de almas gêmeas, li num livro uma vez – Glynda explicou, alinhando novamente o queixo e voltando a me fitar. – Mas não achei que fossem verdade, porque todos em meu antigo mundo... Bom, bastava que batessem o olho em suas outras metades, que imediatamente sabiam serem feitos um para o outro. Foi por isso que também fiquei espantada com a demora minha e de Brian para nos reconhecermos.

Sorri diante das palavras.

– Que coisa mais... Ah! – exclamei de repente, pegando a mão dela outra vez. Tinha acabado de me ocorrer uma combinação mental. Nossa, Glynda ia ficar ótima! – Mas agora esquece isso, vem!

– Catherine... – Glynda me chamou enquanto eu a arrastava para meu quarto. Não a dei ouvidos imediatamente. Primeiro puxei-a para dentro do cômodo e abri meu armário, começando a retirar de lá uma regata branca junto com uma blusinha de manga leve, rosa.

– O que foi? – perguntei enquanto colocava as peças, ainda nos cabides, na frente dela, para ter uma idéia de como ficariam.

Glynda demorou um pouco antes de falar.

– Acha mesmo que vamos dar um jeito?

Ergui o olhar para encarar seu rosto. Não precisei pensar para saber que ela estava se referindo a manter Mack e ela mesma em Steklyn.

– Não se preocupe – murmurei. – Vamos conseguir, sim.


BÔNUS: POV AIDEN


Naquela noite, eu tive um sonho.

Eu e Lizzie caminhávamos lado a lado, sorrindo um para o outro, no meio de um labirinto de flores. De repente, ela deu um tapinha ansioso em meu ombro. Eu havia prometido a ela uma surpresa.

– Para onde está me levando? – perguntou, o rosto se iluminando como o sol da manhã, os olhinhos brilhantes.

– Você vai ver. – Respondi, sorrindo com gosto.

Segurei a mão de Lizzie e nossos dedos se entrelaçaram automaticamente, sem nenhuma dificuldade. A mão dela era pequena, quente, e a sensação de agarrá-la era indescritível. Assim como a doçura que o seu toque emanava, bem como eu me lembrava de ter sido no hospital.

Nós fizemos uma curva no labirinto e, então, a rua começou a aparecer. Seguimos caminhando para ela. Quando dei por mim, já andávamos na calçada.

Passamos por algumas casinhas pequenas, porém aconchegantes e de aparência boa, antes de chegar a nosso destino. Toquei a campainha da mansão que parecia deslocada, fria e branca demais, ferindo a atmosfera simples e colorida.

Eu e Lizzie desfizemos as mãos dadas.

– Olá! – Cole cantarolou, abrindo a porta 3 segundos depois. – Visita surpresa, é? – soltou uma gargalhada divertida.

– Vim fazer uma entrega. – Brincalhão, gargalhei com ele e levei uma mão às costas de Lizzie, empurrando-a delicadamente para frente.

O nervosismo, como de costume, rapidamente tomou conta da garota, e ela pareceu não saber o que fazer quando tropeçou para mais perto do meu melhor amigo. Seu olhar denunciava o mais completo pânico.

Mas, não sei como, surpreendentemente, Lizzie recuperou a consciência logo. Ela abriu cuidadosamente um sorriso discreto para Cole, que não se parecia nem um pouco com os sorrisos que ela vinha me dando nas últimas horas, ou com os que eu vinha dando para ela. E, aliás, não era nem um pouco parecido com o meu próprio sorriso do momento: bobo e exageradamente largo, como se eu fosse um boneco com o sorriso pintado na cara. Mas eu não conseguia desfazê-lo. Sem falar que eu estava estupidamente feliz no sonho, por motivos desconhecidos.

Cole rapidamente tratou de desenvergonhar Lizzie com seu habitual comportamento de sempre, e os dois começaram a conversar. Em determinados momentos eles riam, ou meu amigo lançava seu típico sorriso moleque, bem extrovertido. Lizzie parecia gostar, e estava bem mais segura de si agora.

Eu já tinha notado a forma com que Lizzie ficava perto de Cole. Ela se sentia à vontade com ele. O fato de ele demonstrar tão abertamente o que sentia por ela – uma atração evidente e uma igualmente explícita apreciação de sua companhia – fazia-a delirar e se sentir mais confiante. Cole despertava nela uma Lizzie mais desinibida e aberta, tão diferente de como ela costumava a agir perto dos outros... e, bem, de mim.

Os dois gargalharam e percebi que Cole desencadeava, com seu comportamento peculiar, algo que ninguém mais conseguia. Uma sensação – pelo menos foi o que deduzi, graças à cara de Lizzie no sonho, parecida demais com a que ela fez quando os dois se viram pela primeira vez – única e pioneira para Lizzie.

Ela nunca havia se sentido daquele jeito antes. Não tão mulher, disposta a ousar e brincar de joguinhos de sedução; não tão aberta, como um livro escancarado e fácil de ser lido. Não tão... livre de toda a sua timidez e reserva.

Por algum motivo, a constatação me deprimiu.

– Aiden, como posso te agradecer por ter me apresentado a ele?

Pisquei, percebendo que o casalzinho ternura estava abraçado de lado e a pergunta viera de Lizzie, numa voz emocionada.

Num passe de mágica, eu parei de ser um cara pensante que faz reflexões, e o dono do sonho, para ser uma vítima da minha própria imaginação novamente. Com minha estúpida felicidade inabalável e aquele sorriso tenebroso, gigantesco e fixo em meu rosto.

– É, Aiden, cara! E como eu posso te agradecer? – Cole soava mais retardado do que nunca.

Meu “eu” do sonho alargou o sorriso, o que eu não imaginava ser possível.

– Não precisam agradecer, oras.

Soltei uma gargalhada que ecoou sinistramente por toda a paisagem nuvens-e-margaridas em volta. De repente, o sonho se expandiu, dando-me a chance de visualizar que, um pouco mais além da casa de Cole, estava tudo em branco. O labirinto de flores pelo qual eu e Lizzie viemos tinha desaparecido, assim como metade da estrada.

Aquilo finalmente abalou meu “eu” do sonho, que agora sim olhava em volta meio chocado e confuso, tendo reações mais parecidas com as que eu teria se estivesse ali.

No entanto, Cole e Lizzie não se deixaram afetar. Eles se viraram um para o outro e soltaram um profundo e apaixonado suspiro, e ele rapidamente pegou as mãos dela a seguir.

Mil e uma cenas foram especuladas por mim. Pensei que ele fosse dizer “eu te amo, Lizzie”, ou, de repente, “Lizzie, casa comigo?”. Afinal, aquela droga de sonho estava mais melosa que o normal. Eu não via a hora de Brian e Glynda aparecerem e abrirem seus corações numa demonstração do amor em sua mais pura forma, proveniente das almas gêmeas.

Mas, em vez disso, o que aconteceu não foi nada romântico. Pelo menos não na minha opinião, e também não muito se virmos pelo lado técnico. Acontecia todos os dias, com milhares de pessoas pelo mundo, e não necessariamente envolvia sentimentos...

Então por que, de repente, eu sentia uma agonia imensurável?

Cole e Lizzie se beijaram. Foi ele quem tomou a iniciativa. No começo, ele inclinava vagarosamente a cabeça para o lado, e na hora até me perguntei se ia sonhar que ele ficava com torcicolo. Mas não. Algum tempo depois, Lizzie inclinava a cabeça dela também e, quando vi, os dois já estavam colados.

Depois disso, Cole me sorriu e balbuciou um “obrigado por ter preparado ela para mim”, mas eu já não conseguia reagir a essa altura.

Minhas pernas bambearam e de repente tudo ficou negro e turvo. Eu observei Lizzie e Cole desaparecendo diante de mim, e depois a escuridão engoliu todo o resto ao meu redor. Fui ao chão, já trêmulo e, por alguma razão, morrendo de medo.

Foi aí que o sonho virou pesadelo.

Arfei, sentando-me na cama tão rápido que fez a minha cabeça girar, e abri os olhos, ofegante.

QUE PORRA DE SONHO FOI ESSA?

Passei as mãos pelos cabelos, tenso.

Olhei em volta. Meu quarto não tinha se alterado nem um pouco, e a penumbra que o envolvia graças às altas horas da noite parecia ser bem natural e inofensiva. Mesmo assim, toquei meu rosto, pisquei várias vezes e belisquei meus bíceps, buscando comprovar que estava mesmo acordado.

Aiii. É, pelo visto, eu estava.

Deitei de novo na cama, olhando para o teto e começando a refletir.

O que será que meu sonho maluco queria dizer? Se é que tinha algum significado, talvez eu só estivesse viajando na batatinha. Tudo começava bem, surpreendentemente bem. Cole e Lizzie com caras sorridentes e o visual de felizes para sempre, além de toda aquela felicidade irritante.

Mas então vinha a escuridão, o medo e aquela agonia torturante pelo fato dos dois terem se beijado.

Suspirei, dando-me um tapa na cara que cobriu meus olhos.

Que motivos eu teria para me sentir desconfortável vendo Lizzie e Cole se beijando? Afinal, a idéia de juntá-los tinha sido minha. Era uma ótima idéia, na verdade. Eu tinha ficado com tanta pena de Lizzie quando ela me confessou – ou melhor, eu descobri – que ela nunca tinha beijado um cara, durante a nossa botada-pra-quebrar com Brittany McCarty (vadia!) na sorveteria, que acabei me oferecendo para dar essas tais aulas de beijo a ela. E tudo bem que tinha sido meio que um impulso do momento, mas agora, depois de ter parado para pensar bastante no assunto, eu não achava ruim.

Eu não havia mentido sobre nada. Cole detestava mesmo tirar o BV das garotas. Então, seria melhor que a Senhorita Acanhada aprendesse comigo antes de passar para os braços do seu futuro marido, certo? Ok, menos, Aiden, eles vão ser apenas namorados. A questão era que... tanto fazia. Eu ia ser extremamente profissional com Lizzie, assim como tinha sido quando minha feiosa – porém muito gente boa – prima Michelle pediu-me educadamente que lhe ensinasse o básico sobre beijo, pois ela estava terrivelmente encalhada. Simples assim.

Sem neuras. Fácil. Rápido. E um presente e tanto para os meus dois amigos. Afinal, eu já tinha reparado que Cole fazia Lizzie se sentir bem. E ela também seria boa para ele, eu tinha certeza.

Se fosse metade do que era boa para mim, já seria o suficiente.

Estremeci quando, contra a minha vontade, lembrei-me automaticamente do momento em que beijei Lizzie, naquele dia mais cedo.

Eu já tinha repassado aquele momento várias e várias vezes na minha cabeça. Fiquei imaginando como teria sido aos olhos das pessoas à nossa volta... Nem tanto aos olhos de Brittany, porque ela com certeza não prestou atenção, só meteu a mão na minha cara quando a raiva a inundou, mesmo. Foi muito esquisito? Foi hilário? Foi tão “coisa do momento” quanto pareceu?

Bom, com certeza havia sido muito rápido.

Pisquei, semicerrando os olhos em seguida, e tentando imaginar pela décima quinta vez o que podia ter ocorrido visto de fora. Nada. Suspirei. Droga, mas por que é que fui fechar os olhos tão irresistivelmente na hora, mesmo?!

Eu não me lembrava.

A única coisa que me lembrava era de Lizzie sorrindo angelicalmente para mim com aquele rosto... bem... lindo dela, não consigo pensar em outra palavra para descrevê-lo. E então, de repente, tudo ficou confuso, indistinto. Meu coração pulsava com tanta força em minhas veias que parecia que ia explodir a qualquer minuto; eu podia senti-lo na boca. Demorei a me tocar que não era de mim que vinha tudo aquilo, pois já estava com os lábios nos de Lizzie e era o coração dela que martelava junto ao meu, frenético como um tambor. Lembro, também, de ter pensado em rir; mas de repente eu estava entorpecido demais pela sensação inebriante que, por um momento, devorou o meu juízo como nunca antes permiti que algo o fizesse. Foi como... como... tocar uma nuvem muito alta no céu e sentir, com suas próprias mãos, o quanto é fofa e gostosa de pegar. Como beijar algodão-doce e, no fim das contas, apenas aquele gesto ser capaz de te dar uma idéia do gosto maravilhoso e esplêndido, além de doce, daquele alimento que em breve você irá saborear.

Mas então, tão rápido quanto vieram, aquelas sensações desapareceram. Lembrando-me de que eu era Aiden Hills e quem, afinal de contas, era a garota que eu estava beijando à minha frente.

Cara, eu devia estar mesmo muito carente para delirar tanto com um beijo, ainda mais sem língua, e sendo com Lizzie Johnson! Eu não posso estar gostando dela de uma hora para a outra.

Nossa, sério mesmo que eu tinha pensado isso? Eu, a fim de Lizzie Johnson? Revirei os olhos e tive vontade de rir de mim mesmo com o pensamento.

Mas nada ainda explicava o meu sonho. Eu não tinha nenhuma razão para não querer Lizzie e Cole juntos! Tinha?

A não ser... que eu estivesse com ciúmes.

Engoli em seco.

Pensar em perder meu melhor amigo para uma namorada agora, além da minha recente grande amiga pelo mesmo motivo, parecia tão... horrível! Eu ainda não tinha me recuperado totalmente do trauma Brittany. Talvez eu tivesse superado minha queda por ela, milagrosamente, quando Lizzie me ajudou, mas o fato era que todo mundo começar a namorar, quando no momento eu não queria um relacionamento sério, era simplesmente deprimente! E se Lizzie e Cole se ocupassem um com outro, com quem eu ia desabafar se precisasse? Como ia sobreviver, sem Cole solteiro pra ficar repetindo no meu ouvido que namorar é bobagem (embora ele não ache realmente isso, claro, e seja só pra eu me sentir melhor!)? Como ia suportar ver Lizzie suspirando e saltitando por aí, feliz da vida, completamente apaixonada e me dizendo coisas do tipo “o amor é lindo”?!

Aiden, agora você está sendo completamente egoísta.

Respirei fundo e passei as mãos pelo rosto, derrotado.

Sim, estou sendo egoísta.

Virei de lado na cama e tentei me concentrar no que realmente importava. Não se tratava de mim, obviamente. Mas da felicidade de duas das pessoas que mais eu gostava no mundo.

Sorri, de repente pensando em todo o bem que faria a Cole se lhe arrumasse uma namorada agora. Ele andava muito estressado ultiamente, e Lizzie com certeza era do tipo que tranqüilizava qualquer um. Além disso, já estava mais do que na hora de ele voltar a pegar alguém. E, quanto a Lizzie... bom, a garota fazia o estilo tímida-romântica e nunca tinha tido um namorado. Ou seja, um grande favor eu faria a ela.

Está decidido! Vamos a frente com essa tentativa de relacionamento. Pensei, engenhoso, já bolando mil planos em minha mente pré-adormecida. É... Parece que, no fim das contas, vou mesmo presentear Cole.

Não sem antes instruir Lizzie primeiro.

O pensamento me fez, inesperadamente, contorcer todo o corpo numa risada silenciosa. Ah, Deus!... Isso porque eu, sem querer, imaginei como ia ser dar as tais aulas de beijo à Lizzie. Com certeza, no mínimo, engraçado.

Rolei na cama. Adormeci empolgado, de repente ansioso para fazer a surpresa a Cole.


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Notas finais do capítulo

O QUE ACHARAM?! EI GEMT, VAMOS DAR AS BOAS-VINDAS PRA NOVA BETA DA FIC, DAAHC?! :D kkkkkkkkkkkkkk DAAAAAAAAAAAH! Cara, eu tô tão feliz que a fic agora tenha uma beta e que ela seja você. E olha que mesmo depois de betado, esse capítulo ainda tem uns trechos estranhos e repetitivos, dels, é o tempo que passei sem escrever i_i NÃO SE ESQUEÇAM DE COMENTAR TANTO O POV. CATHERINE COMO O POV. AIDEN, TÁ AMORES?! QUERO COMENTÁRIOS COMPLETOS! *-*