Olhe Para Dentro de Você escrita por Enchantriz


Capítulo 1
Capítulo 1: Olhe Para Dentro de Você


Notas iniciais do capítulo

Como da ultima vez eu postei a do dia dos namorados um mês depois (mentira, foi dois meses), então, a do dia das crianças vai adiantado pra compensar, kk.



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— Ei! Isso não tem graça. Ache logo um jeito de me trazer de volta, sua maga estupida!

Uma criança ordenou mal-humorada com os braços cruzados sob as vestes negras do kimono enquanto em seu rosto pálido e com algumas fracas cicatrizes os seus frios olhos rubis como o sangue encaravam a frente uma jovem alta através das pontas bagunçadas de seu cabelo negro assim como o manto da noite. Confusa pela origem do garoto, a jovem colocou atrás da orelha uma mecha de seu longo e liso cabelo branco como a neve, piscando abaixo dos cílios os olhos prateados tão chamativos quanto a lua, levando os seus dedos a tocar os lábios avermelhados na tentativa de conter o sorriso se formando em uma linha, mas logo se transformando em uma alta gargalhada.

— Ora sua...! – grunhiu Zed, o Mestre das Sombras ainda mais irritado.

— Own, que gracinha... – expressou-se Syndra, a Soberana Sombria encurvando-se apertando a bochecha do pequeno ninja emburrado lhe dando um tapa para afastar a sua mão. – Você não acha que ainda está com um nível de maldade muito alto para o seu tamanho? – provocou em um sorriso malicioso.

— Já chega! – sorriu de canto, nervoso. – Eu vou matar você!!! – berrou agarrando as mãos na blusa preta colada no corpo esbelto da jovem antes dela se erguer o deixando na altura de seu curto short roxo apertado nas coxas quase encobertas pela meia escura.

— Por favor, não me faça rir mais. – pediu sonora afagando os cabelos macios do garoto.

— Dá para parar com isso! – explodiu ele. – Eu não sou uma criança! Syndra! Me traz de volta agora!

— Tá, eu já entendi! – respondeu um tanto impaciente, cruzando os braços. – O que eu não entendi ainda foi como isso aconteceu?

— O livro. – Zed apontou para o objeto de capa vermelha agora em cima da mesa com um mapa de Runeterra espalhado abaixo de algumas armas. – Tem algum tipo de magia nele.

Não passava das dez da manhã quando o ninja resolveu entrar ali naquela grande e espaçosa sala para vasculhar as altas prateleiras enfileiradas daquela antiga biblioteca cheia de livros, pergaminhos e alguns troféus um tanto empoeirados escondendo ao fundo uma estreita sala redonda com uma bancada ao centro contendo uma pequena caixa preta toda detalhada podendo ser vista através da fina fenda da porta entreaberta, a sua madeira envelhecida cheia de arranhões e diversas fitas rasgadas, as manchas amarelas já absorvendo o papel em que outrora havia sido selado por seu antigo mestre, mas tudo aquilo não lhe chamava mais a atenção por já ter o conhecimento da maior partes das informações contidas ali, no entanto, o que realmente o fez se distrair foi um dos livros que estava procurando a um tempo, o encontrando caído no chão junto a outros em frente à ultima prateleira, só não imaginando a confusão que aconteceria ao abrir o livro.

— Esse era o único livro do qual aquele velho idiota não deixávamos ler. – continuou ele. – E mesmo hoje, ele não passa de um monte de papel velho que me colocou de volta nesse corpo inútil.

— Hunm... – franziu os lábios se aproximando da mesa, deslizando a ponta dos dedos pela capa grossa antes de abrir o objeto. – Deixe-me ver. – colocou a mão envolta por sua magia em cima de uma das folhas em branco envelhecidas, a qual rapidamente corroeu sua pele a obrigando a recuar com o susto, dando lugar a expressão séria em seu rosto, sem gostar de ter os seus poderes bloqueados.

Era obvio que o livro tinha sido selado por algum mago muito experiente, aquele tipo de feitiço que afetou Zed servia apenas como um alerta para os curiosos levarem uma bronca, o verdadeiro poder estava ali nas páginas em branco.

— Tenho que admitir, – comentou ela calma olhando a ponta dos dedos avermelhados, quase em carne viva, a pele regenerando-se lentamente. – seu mestre foi bem esperto em selar o livro junto com essa brincadeira de mau gosto.

— O que quer dizer?

— Que o encanto contido nas páginas só pode ser desfeito pelo mago que o conjurou.

— Você sabe quem o fez? Onde ele está?! – perguntou apressado. – Eu mesmo vou atrás dele!

— Esqueça. Ele já está morto... – suspirou desanimada balançando uma das mãos. – Foi o meu mestre quem selou o livro.

Zed não se surpreendeu pelo fato, uma vez tinha escutado de seu antigo parceiro Shen, o Olho do Crepúsculo, que o seu pai era amigo de longa data de um mago poderoso do Conselho. Apesar do poder que já obtinha em mãos, não havia dúvidas de que o livro continha ainda mais segredos e técnicas proibidas, e para ele, todo conhecimento era valido para chegar a grandeza e realizar seus objetivos, porém, naquele momento, ele apenas se deu por vencido trincando os dentes mal-humorado por não conseguir pelo menos uma das soluções de seus problemas.

— Eu posso desfazer o encanto. – a maga voltou falar. – Com certeza se eu quebrar o selo você vai poder voltar mais rápido--

— Não. – o ninja a interrompeu. – Eu já vi o que essa coisa faz com você. – segurou o fino pulso da jovem, lhe mostrando novamente as marcas em seus dedos. – Não pense que vou deixa-la se torturar por um pedaço de papel. Não há porque perder tempo com isso agora. Deve ter outra maneira. Você consegue me trazer de volta sem esse livro ou não? – perguntou impaciente.

— Eu tinha me esquecido o quanto você era arrogante mesmo nessa idade. – cruzou os braços o encarando com desgosto. – Com quem você pensa que está falando? É claro que eu consigo.

— Porque está ai parada então?! O que está esperando?

— Você me dizer porque quis crescer. – respondeu como se fosse obvio. – Esse feitiço ele se mantém como se fosse um desejo do seu subconsciente. – cutucou a testa do garoto. – Se você não souber o motivo pelo qual lhe fez crescer isso vai continuar te mantendo como uma criança porque é o que você vê que é. – explicou colocando uma das mãos na cintura. – Existe um tempo e espaço para as coisas acontecerem e eu não posso quebrar essa linha e desfazer algo no qual você realmente não deseja.

— Mas que idiotice é essa que você está falando?! Você sabe muito bem que eu queria crescer para ficar mais forte e socar logo a cara daquele desgraçado do Shen. – disse convencido. – Agora se mexe e desfaz essa porcaria que você chama de magia.

Em silencio, os dois continuaram se encarando diretamente dentro dos olhos esperando pela resposta um do outro.

— Vai ter que tentar de novo. – avisou Syndra cedendo à teimosia do aliado.

— Você só pode estar brincando! Como pode saber mais que eu!? Está mentindo! – Zed não acreditou. – Você está tentando se vingar de alguma coisa, não é, garota!? Que tipo de maga imprestável que tem poderes e não consegue desfazer uma simples mágica?!

— Como é!? – exclamou alterando o tom de voz. – E que tipo de ninja imbecil sem poderes que tenta quebrar a magia contida em um livro?!

— Eu juro que vou cortar a sua língua. – ameaçou batendo a mão na mesa, pegando uma das facas.

— Vá em frente se alcançar. – virou de lado cruzando os braços lhe mostrando a língua rosada por um instante. – Eu vou te fazer voar longe, pirralho. – sorriu trazendo ao seu redor as suas três esferas junto a ameaçadora cor negra de seus poderes para encobrir os olhos prateados. – Aah!!!

De repente, distraída, um breve grito agudo saiu pela garganta de Syndra quando Zed rapidamente se agachou girando o corpo para passar os pés pelos dela, a fazendo ir ao chão sentada, derrubando as suas esferas que rolaram como vidro pelo piso de madeira ao mesmo tempo em que bateu as costas sendo pressionada pelo adversário em cima de si com uma das mãos em seu pescoço.

— Sua maga idiota...! – disse por entre os dentes tentando acertá-la, o sangue já subindo-lhe a cabeça. – Eu devia tê-la espancado quando te conheci!

— Sai de cima de mim, seu ninja rabugento! – retrucou lhe afastando com uma das mãos esmagando o seu rosto enquanto a outra segurava o pulso com a faca. – É obvio que você nunca conseguiria me vencer! Eu sou muito mais forte que você!

— Conta outra! Deixa eu voltar para o meu tamanho que eu te mostro quem aqui é mais forte, baixinha mimada!

A jovem se contorceu desajeitada flexionando as pernas, as fechando na cintura do garoto antes de lhe jogar para o lado, ficando por cima dele segurando ambos os pulsos ao lado dos ombros.

— Ha! Quem é baixinha mimada agora, seu pirralho encrenqueiro!?

Sem perder tempo, temendo o temperamento da aliada, Zed a afastou chutando o seu rosto de modo a escorregar para trás.

— Eu não acredito que você fez isso! – perplexa, ela colocou as mãos no rosto avermelhado. – Você me chutou!?

— Você quis me matar com esse seu saco de ossos gigante! – defendeu-se.

— Você que quis me matar com esse seu brinquedo! – apontou para a arma no chão.

— Foi você quem começou! – os dois berraram ao mesmo tempo. – Não! Foi você! E quer parar de me copiar! – discutiram irritando-se ainda mais com a sincronia de suas palavras. – Argh! Já chega! Eu não te aguento mais! – Zed cruzou os braços virando o rosto enquanto Syndra dramatizou levantando a cabeça para o teto deslizando as mãos pelo rosto. – Porque você tem que ser sempre tão insuportável!

O ninja e a maga voltaram a se encarar de canto criando uma atmosfera mortífera entre eles. Apesar dos poucos anos de convívio, aquela implicância era algo que nunca saberiam como lidar nas inúmeras brigas.

— Ei, onde você vai?

Foi a vez de Zed quebrar o silêncio ao estranhar Syndra levantar suspirando pesado, entediada, pegou o livro em cima da mesa e em seguida deu as costas massageando as têmporas com uma das mãos, sentindo uma leve dor de cabeça começar a lhe incomodar, prevendo o rumo que daria toda aquela confusão.

— Vou para casa. – disse direta movendo as suas esferas em direção a porta, as girando rapidamente no ar até se expandirem abrindo um portal para uma longa escadaria estreita e escura. – Eu vou procurar por outro meio de quebrar esse feitiço, mas se você conseguir se acalmar e lembrar porque quis tanto se tornar um adulto, vai ser muito mais fácil. Eu vou te trazer de volta. Confie em mim. – garantiu séria. – Só me dê um tempo, está bem? – pediu lhe direcionando a atenção.

Ele permaneceu parado a observando impressionado com tamanha firmeza que aquelas palavras lhe transmitiram. Desde que se conheceram, jamais tinha duvidado de seu potencial, pelo contrário, por sua maturidade e personalidade forte às vezes acabava por esquecer que era tão mais velho do que ela. Extremamente linda e com uma mente brilhante! Era assim como ele descrevia ela, sendo inteligente demais e pouco paciente para futilidades.

— E-espera! – Zed levantou apressado segurando a mão fria, a impedindo de prosseguir, atraindo imediatamente para si o par de olhos negros quase roxos. – Eu posso ir com você?

— Huh? – Syndra estranhou o pedido repentino. – Mas o que deu em você? Sempre está invadindo o templo sem pedir minha permissão. – o lembrou indiferente, soltando-se de seus dedos e virando para atravessar o portal. – Apenas faça como o de costume. Se quiser vir, venha. Não é como se eu fosse expulsá-lo agora só porque está nessa forma ridícula. – riu sonora.

Por um momento, Zed se perguntou o que havia passado em sua cabeça para lhe fazer tal pedido desnecessário, afinal, ela estava certa, desde que recebera uma pedra de teletransporte nunca perguntou se poderia ir até lá, aparecendo sempre de surpresa ou por apenas uma intuição de que Syndra precisava de sua ajuda. Ele abaixou a cabeça a balançando de um lado para o outro e esfregou os dedos no cabelo, confuso, sem gostar daquele corpo estar o fazendo regredir para velhos hábitos infantis.

— Tsc! Mas que merda é essa agora... – murmurou irritado.

E sem perceber, distraído, havia atravessado o portal que se fechou trazendo de volta a forma das esferas da maga, o despertando de seus devaneios ao passarem por cima de seus ombros para seguir de encontro a dona mais à frente descendo a longa escadaria de uma gigantesca biblioteca subterrânea. Não importava quantas vezes entrasse ali, aquele lugar sempre o impressionava com tamanha quantidade de livros nas altas prateleiras coladas na parede daquela cúpula. Ele percorreu os olhos por cada mínimo detalhe em cada canto, descendo um degrau de cada vez enquanto Syndra simplesmente flutuou direto para o piso frio, logo os seus pés encobertos pela meia amaciando o tapete vermelho encobrindo um pequeno espaço perto da poltrona em frente à lareira com o fogo dançando suavemente as suas chamas de um lado para o outro, queimando os blocos de madeira. Como o de Costume, ela sentou no tapete e encostou as costas no sofá deixando ao lado o livro de capa vermelha antes de remexer os dedos no ar para tirar os outros das prateleiras.

— Eu não entendo nada do que está escrito aqui. – iniciou Zed se jogando deitado na poltrona, pegando um dos livros empilhados no chão. – Como consegue ler tantos símbolos e não se confundir?

— Ah, eu já me acostumei. – confessou a jovem. – Depois de tudo, até você aparecer, não tinha muito o que fazer por aqui além de meditar e ler.

— Pelo menos aquele velho lhe ensinou algo útil.

— Eu aprenderia sozinha de qualquer jeito. – respondeu sem se importar. – Acho que você vai gostar mais desse aqui. – lhe entregou um livro de capa preta.

— O que tem nele?

Interessado, folheou as primeiras páginas, percorrendo os olhos concentrado em cada linha, reconhecendo a escrita dos monges, vendo algumas técnicas ninjas da antiguidade usadas para lidar contra os samurais, já imaginando como as aplicaria para irritar ainda mais um certo aliado de cabelos negros que possuía uma longa espada, Yasuo, o Imperdoável.

— Syndra. – a chamou depois de um tempo quando levantou os olhos. – Syndra, está me ouvindo?!

Ela não lhe respondeu estando perdida em algum lugar de sua mente projetando a imagem de uma gruta escondida no meio da vivida floresta verde cheia de belas flores e frutos nas suas altas árvores onde o cantar dos pássaros ecoava naquela tarde de primavera em suas lembranças do passado, mais uma vez fugindo de casa e se escondendo por não conseguir manter o controle dos seus poderes quando criança.

— Vá embora, Zed! – chorosa, sua voz embargada mau saia pela garganta. – Eu não preciso que alguém me veja chorar! – escondeu o rosto nos joelhos.

— Você não deveria se preocupar com isso. – ouviu a mesma voz do garoto lhe confortar.

— E porque não?

— Porque você ainda consegue ser linda até mesmo quando está chorando. – respondeu serio sem desviar a atenção dos olhos cheios de lagrimas o encarando tristonhos. – Syndra, o que está acontecendo? – perguntou preocupado.

— Eu não sei mais o que fazer... Eles devem ter razão. Esse poder está me deixando louca... – murmurou remexendo no cristal branco como as nuvens pendurado em um cordão no seu pescoço.

Zed respirou fundo inclinando-se um pouco para apoiar um dos braços na extremidade da gruta onde Syndra estava encolhida.

— Não. Eles não estão certos. Se você treinar todos os dias vai conseguir controla-lo. – a acalmou. – Syndra, eu a conheço há pouco tempo, mas o suficiente para te dizer que eu sei que você será uma das magas mais poderosas e inteligentes de toda Runeterra. – confessou. – E eu sei, que toda vez que se trata de magia você está certa. – ele levantou o seu rosto com a outra mão, os dedos largos acariciando o seu queixo molhado pelas lágrimas. – Lembre-se disso. Você sempre estará certa.

Naquele momento, ela lembrou da sensação nostálgica da primeira vez que viu a seriedade nos olhos rubis do garoto a incentivando, o brilho igual ao que ele estava há pouco focado no livro. Mesmo antes daquele dia, Zed já havia a ajudado outras vezes a pedindo para projetar algo ou simplesmente tentar expandir uma barreira para sua própria segurança, no entanto, embora carregasse consigo uma pedra para selar toda aquela energia, os seus poderes só passavam a aumentar cada vez mais e o tempo em que passavam juntos não durava mais que alguns minutos por se encontrarem escondidos devido as suas condições naquela época, mas ela sempre manteve em mente o que ele lhe dissera na última vez que conseguiram conversar antes de começar todo o caos em suas vidas: “ – Eu sei que você vai ser uma grande maga um dia.” Ela piscou os olhos lentamente se desfazendo da lembrança do sorriso confiante do garoto que agora tentava chamar a sua atenção.

— Ei, Syndra! – a voz do garoto irritado a fez sair de seus devaneios. – Você está fazendo aquilo de novo. Me olhando daquele jeito. – a repreendeu incomodado pelo sorriso gentil formado em uma linha nos lábios avermelhados.

Não era como se ele não gostasse, por muitas vezes se gabava para si mesmo por somente ela lhe proporcionar aquele sorriso tão contagiante mesmo que para ele tivesse todos os motivos do mundo para ela não o fazer, estava mais acostumado com todos torcendo a feição em desprezo e o amaldiçoando do que lhe transmitindo o estranho sentimento de afeto e calma no qual se perguntava todos os dias como ela conseguia ter tanto efeito sobre si.

— Algum problema? – continuou.

— Não. Nada. – respondeu Syndra virando-se para frente, afundando um pouco o corpo colocando o livro aberto sob o rosto na tentativa inútil de se esconder. – Deixa para lá... – murmurou abaixando os olhos, voltando a atenção para o livro.

Iniciando a busca para desfazer o feitiço, concentrada, analisou todas as possibilidades, hora ou outra, caminhando pelos cantos com o objeto flutuando a sua frente enquanto bebericava uma xicara de chá quente e dançava os dedos a procura de outras opções nas prateleiras, pouco tempo depois deitando de bruços sob o tapete balançando as pernas para frente e para trás, e por fim, voltando a se sentar cruzando as pernas uma por cima da outra quando o entardecer alaranjado encobriu o céu de Ionia trazendo a tranquilidade do fim de tarde para os seus olhos já piscando pesados, lendo as linhas embaralhadas do texto contido no livro repousando em suas cochas.

— Ah, – suspirou impaciente. – porque eu ainda estou perdendo o meu tempo com isso?

Syndra inclinou a cabeça para trás encostando a nuca no acolchoado da poltrona, por um instante, olhando pensativa para o teto escuro antes de virar o rosto para o lado, para o livro de capa vermelha e depois para Zed adormecido atrás de si com o pequeno corpo encaixado perfeitamente no espaço embora estivesse com as pernas flexionas e o cotovelo apoiado na extremidade, apoiando o rosto sereno na palma da mão. Como conseguia ficar tão sério até mesmo dormindo? Se perguntou abafando um riso. Sabia o quanto o ninja queria as informações contidas ali a ponto de ter lhe custado a sua idade. Apesar de cansada, decidida, ela levantou pegando o livro que não exatamente prometera não se envolver.

— Eu consigo terminar isso antes dele acordar. – o folheando devagar à procura de mais alguma coisa que pudesse lhe ajudar a decifra-lo no caminho até a escadaria ao canto. – Isso vai dar um trabalho... – arfou sentando em um dos primeiros degraus tocando na folha em branco, franzindo o cenho pela queimação rapidamente começar a corroer a pele abaixo de seus dedos. – Você não vai me vencer mesmo depois de morto, velho idiota. – murmurou irritada para si mesma, respirando fundo tentando conter a dor sem recuar.

 

No meio da escuridão da noite, o par de olhos rubis se abriram em frente a um corredor escuro que dava visão para o hall de entrada de um espaçoso templo, devagar, o garoto se pôs atrás de uma pilastra vermelha, observando quieto um casal conversarem calmamente com um bando de aldeões enfurecidos. Rapidamente lhe passou a cabeça o quanto a beleza da mulher era parecida com a de Syndra, assim como identificou a grandeza do seu poder no ar egocêntrico em torno do homem que ainda mantinha a postura de outrora ter sido um mago poderoso, porém distraído, após um instante, Zed percebeu que o homem lhe direcionou os olhos surpresos, em seguida, ele abriu a boca separando os lábios, os movendo devagar sem emitir o som de sua voz, mas a mensagem foi clara: - "Proteja minha filha".

— O que...?! – sussurrou o garoto inaudível.

Não houve mais que um piscar de olhos para que ele entendesse do que a mensagem se tratava. Boquiaberto, Zed engoliu em seco prendendo a respiração ao assistir a lamina do facão de um dos aldeões atravessar o peito do homem enquanto uma espada longa passou pelo pescoço da mulher que tentou fugir.

— Mãe? Pai?

Um calafrio percorreu o corpo de Zed ao reconhecer aquela voz, o obrigando virar o rosto lentamente, torcendo para que estivesse errado, mas, havia uma menina imóvel na escada com a roupa clara encoberta por alguns respingos do sangue de seus pais. O terror era claro em meio aqueles olhos prateados que tentavam assimilar o que acontecia.

— Corre!!! – gritou Zed cruzando o salão, despertando a ioniana do transe. – Corre Syndra! – pegou sua mão e a puxou para subir as escadas, a levando para o corredor à direita antes de descerem uma pequena escada estreita, levando-os a uma sala com grandes estantes de livros ao lado de uma pequena porta de vidro onde dava visão para a outra parte da extensa floresta. – Rápido, por aqui! – ele a puxou novamente para a outra porta.

A cada passo sentia seu estomago revirar pela adrenalina, o coração acelerado batendo dolorosamente em meio aos pulmões expandindo o ar frio da noite que gelava sua garganta.

— Encontrei vocês!

Assustou-se com o homem zangado segurando uma tocha na mão e a espada na outra.

— Agora, me devolva a garota, moleque.

— Vai ter que me matar para isso. – disse serio se colocando em frente à menina.

— Como quiser, seu bastardo. – sorriu jogando a tocha na estante, fazendo o fogo se alastrar rápido pelos livros.

— Vai! Corre! – ordenou Zed no momento em que ouviu Syndra gritar ao ser capturada pela cintura pelo outro homem que tinha o facão posicionado em seu pescoço. – Syndra! – virou-se tentando alcança-la.

De repente, sentiu uma forte dor aguda em sua cabeça ao ser atingindo com o cabo da espada, rapidamente caindo de joelhos sem conseguir desviar do calçado que lhe chutou o rosto, o levando ao chão piscando os olhos pesados, vendo embaçado a menina ser levada em meio às lagrimas, estendendo-lhe a mão. Seu nome foi a última coisa que a ouviu gritar antes de perder a consciência naquela bagunça ecoando em sua mente junto com o barulho dos trovões que logo o fizeram abrir novamente os olhos assustados.

— Syndra! – o nome saiu por impulso, abafado pelo som da forte tempestade lá fora.

Estranhando o local, ele coçou os olhos, levando um tempo para realmente acordar e se acostumar com a escuridão nas extremidades da biblioteca a qual o trouxe um frio na barriga por pensar ainda estar vivendo seu pesadelo, porém, aquela sensação de desconforto só passou a aumentar quando reparou que Syndra e o livro de seu mestre não estavam mais ao seu lado. Desconfiando do pior, imediatamente, ele levantou da poltrona em um pulo se pondo a sair correndo desajeitado, os pés descalços deslizando no piso frio, atravessando o salão desesperado por aquele corpo não lembrar como era a energia da maga para lhe guiar. Era só uma coincidência. Só uma coincidência. Repetia para si mesmo no caminho até a escadaria, parando de repente batendo a mão na parede, ofegante, com o coração quase saltando pela boca.

— Ora sua... – apertou os dedos na palma da mão. – Que droga você pensa que está fazendo aqui!? – berrou irritado pelo susto.

Syndra estava sentada de lado em um dos degraus, encurvada, adormecida com a cabeça deitada nos braços apoiados na superfície acima, o longo cabelo branco caindo pelos ombros, cercada por mais uma pilha de livros abertos escorregando por suas cochas. Devagar, Zed se aproximou e retirou o livro que estava debaixo dos dedos da jovem, vendo surpreso as páginas que eram brancas estarem cheias de letras.

— Como isso é possível...? – olhou atentamente, perdendo a atenção em algumas manchas de sangue espalhadas nas figuras.

E só então reparou nos dedos da maga que estavam extremamente avermelhados. Cuidadosamente, analisou sua mão esquerda manchada com o sangue seco acima de vários pequenos cortes e as escuras queimaduras. Ela havia passado a tarde inteira trancafiada naquele lugar só para desfazer o feitiço que seu mestre tinha colocado no livro. Embora irritado pela imprudência e descuido, ele não pode deixar de reconhecer o esforço em querer lhe ajudar.

— Obrigado. – murmurou sincero sentando alguns degraus acima. – Parece que sou eu quem está te dando trabalho agora. – observou o rosto cansado da jovem. – Me desculpe. Eu não pude protege-la naquela época. Se algo como aquilo acontecer de novo... – perdeu a voz trincando os dentes, abaixando os olhos sem gostar de lembrar do passado. – Eu não quero te perder de novo. – confessou para si mesmo. – É por isso que eu preciso que você me traga de volta mas, – estendeu o braço em direção a delicada mão machucada. – eu posso esperar mais um pouco até você acordar.

Sorriu gentil tomando-lhe a mão fria, levando os dedos até seus lábios quentes ao mesmo tempo em que o toque despertou os poderes da maga, imediatamente revelando a cor negra dos olhos que se abriram transformando o corpo do garoto, quase triplicando o seu tamanho.

— Então era isso? – surpreso, viu os dedos da jovem encaixarem-se na palma de sua mão, o pulso coberto pelo comprimento da manga do kimono caindo bem em seu corpo alto com as marcas de suas experiências em batalhas nos músculos escondidos pelo tecido da camisa preta por baixo do tecido grosso, a faixa amarrada sob a calça larga nas pernas. – Ei, Syndra! – desviou a atenção para a aliada, sem se surpreender por seus olhos se tornarem vazios, voltando a se fechar lentamente. – Tsc! Tão descuidada... – resmungou sério sentindo a grandeza do poder de Syndra oscilando. – Quantas vezes eu vou ter que te dizer para não usar magia quando estiver dormindo? Idiota... – arfou.

Zed se encurvou pegando Syndra nos braços e levantou subindo os degraus em direção à porta, em seguida, atravessou os corredores para chegar no quarto bagunçado da jovem, se aproximando da cama apoiando um dos joelhos no colchão enquanto colocou o cotovelo esquerdo acima do travesseiro, cauteloso, deitou o pequeno corpo ouvindo por um instante a respiração cansada chocar-se em seu pescoço quando retirou os braços de seus ombros ao se afastar notando o quão próximo estava do seu rosto por meio dos chamativos par de olhos prateados que se abriram o fitando calmamente dentro da intensidade dos seus olhos rubis, embriagando-se com o fraco cheiro doce vindo dos lábios avermelhados entreabertos a centímetros dos seus lábios pálidos.

— Você cresce e já está dando em cima de mim de novo? – disse convencida, o encarando.

— É, você sempre me faz ter umas ideias bem estúpidas. – concordou rápido fechando os olhos se aproximando ainda mais dos lábios, os pressionado contra os seus ao tocar no rosto gélido, o qual percorreu com a palma a sua pele macia até o queixo de modo a lhe erguer um pouco, afastando com um dos dedos o lábio inferior para que pudesse lhe roubar o ar deslizando a língua quente lentamente pela dela imóvel, sentindo brevemente o gosto de sua boca somente para satisfazer o prazer de querer tê-la, somente para satisfazer a inquietação dentro de si que o obrigava a descobrir através da feição surpresa o quanto ele afetava os seus sentidos, se perdendo no som descompassado das batidas do coração contra os seios expandindo entre as mãos com os dedos grudados na abertura do seu kimono. – Tsc! Não me faça essa cara. – passeou o dedão pela linha do lábio inferior um tanto úmido, vendo os olhos a sua frente logo se enfezarem acima das bochechas coradas.

— Você não presta... – murmurou se virando, escondendo o rosto no travesseiro.

— Ora, vamos! Foi só uma brincadeira. Não foi assim tão ruim. Eu gosto da sua textura. – sorriu malicioso, a sua voz a fazendo encolher os ombros ao se arrepiar sentindo o rosto queimar ainda mais.

— Ah, céus...! Cala a boca! – a maga tateou o colchão pegando um dos travesseiros para jogar no ninja.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham tido uma boa leitura, ♥



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