Ruined Dreams escrita por WeekendWarrior


Capítulo 3
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Lincoln dias atuais.

 

— A última caixa, graças a Deus! – exclamei e sentei cansada no sofá.

Olhei ao meu redor e senti uma pequena alegria interna. Estar de volta a essa casa fazia-me bem, estar de volta a Lincoln fazia-me bem. A cidade que deixei ainda adolescente, parecia não ter mudado muito.

Levantei devagar do sofá por conta do cansaço e subi para meu quarto que antes fora dos meus pais. Vasculhei uma de minhas malas e encontrei minha toalha, meus produtos já estavam no banheiro. Eu necessitava urgentemente de um banho.

Despi-me e entrei no chuveiro. Deixei a água quente acalmar meu corpo, com certeza um sono forte me abateria daqui alguns segundos, mas lembro-me que ainda preciso ir às compras, preciso ir ao mercado.

Mais uma vez deixo a água me entorpecer, deixo-a escorrer pela minha nuca e alcançar todo meu corpo. Logo lembranças boas dessa casa me abatem.

Eu acordando cedo para ir pro colégio, mamãe e papai na cozinha servindo-se do café da manhã. Panquecas e limonada. Quase podia sentir o gosto em minha boca. Calçava meu sapatos brancos, pegava minha mochila e seguia para escola com Mary, minha melhor amiga – até os dias de hoje.

Lembro-me dos dias ensolarados que não duravam muito, das brincadeiras e risadas. Das vezes que burlávamos aula para bebermos com os garotos mais velhos. Aprontávamos e voltávamos pra casa como se nada daquilo houvesse acontecido. Nada de bom dura para sempre… Nada dourada dura eternamente.

E lá estava ele, no meu último dia na cidade; Jake. Por onde anda o garoto que agora, deve ser um homem? Será que ainda mora aqui? Pouco provável, mas não impossível. Somente de pensar em vê-lo novamente, um frio corria meu estômago.

Um último suspiro nostálgico e deixo o banheiro enrolada na toalha. Preciso ir ao mercado, comprar suprimentos e também, amanhã cedo procurarei por um emprego.

Minhas economias não durarão e não quero usar meu cartão de crédito, pode ser digamos, um pouco perigoso contando com a situação que me encontro. Comprimo os olhos e tento não pensar nisso.

Um vestido azul um pouco acima dos joelhos, sapatilhas e estou pronta. Desço as escadas e avisto a bagunça na ampla e branca sala.

Amanhã eu arrumo isso tudo. Penso e saio pela porta da frente rodando as chaves de meu Del Rey bordô nos dedos. Entro no carro e verifico as horas, quinze pras seis. Até que me ajeitei em tempo recorde.

Antes de dar a ré no carro fiquei a encarar a fachada branca e cinza desbotada de minha querida casa. Esse lugar, um dia já foi um lugar de muita paz e muito amor. Mas tudo foi ao chão quando minha mãe pediu divórcio. Tudo virou de cabeça pra baixo, minha mãe me levou as forças para Nova York e meu pai acabou se mudando para o Alabama sete meses depois, onde se casou novamente.

Nenhum dos dois quis vender a casa. Ela ficou aqui, intacta, como se soubesse que um dia eu voltaria. Dei uma imensa geral nela. Cortei o gramado, fiz a faxina, paguei as contas da casa que haviam sido canceladas ou totalmente atrasadas. Amanhã mesmo contrataria alguém para pintá-la, quem sabe uma cor mais viva?

Sorrio e movimento o carro para fora dali. Vida nova, etapa nova… Fuga nova.

 

Saía com tantas sacolas em minhas mãos do mercado que nem ao menos a chave conseguia pegar. Parei ao lado do meu carro no estacionamento e tentei apanhar a chave em meu bolso sem colocar as compras no chão. Eu e minha teimosia.

— Gostaria de ajuda?

Ouço uma voz masculina atrás de mim. Primeiramente me assusto, mas logo me acalmo ao avistar aquele rosto… O conhecia de algum lugar.

— Michael? É você? – dou um sorriso surpreso.

Ele franze o cenho, como se buscasse no fundo de sua mente de onde me conhecia. Logo sua feição se suaviza e um sorriso é aberto.

— Lizzy? Ah, meu Deus! Quanto tempo.

Deixo as sacolas no chão e me aproximo do loiro para um abraço, que por assim dizer, foi bem forte.

Michael era um dos garotos mais velhos, quais sempre estava em busca de confusão e claro, atrás de garotas. Michael já me deu muita diversão, ele foi o grande amorzinho de Mary.

— Pois é – sorri –Voltei.

O rosto dele se iluminou ainda mais.

— Voltou? Sério? Lembro que na época foi embora tão repentinamente.

Assenti de maneira triste.

— Sim, mas o que importa é que voltei.

— Está morando aonde?

— Na minha antiga casa.

Ele sorriu em resposta.

— Mas e aí, já encontrou o pessoal? – perguntou-me enquanto colocávamos minhas compras no carro.

Neguei com a cabeça.

— Não, ainda não. Cheguei de madrugada, mal dormi. Mas amanhã mesmo, procurarei um emprego.

Suas sobrancelhas se juntaram no modo de espanto.

— Caramba! Mulher de aço essa, hein – eu havia o dito sobre ter dado uma geral total na casa – Então isso quer dizer que… Se por acaso eu te convidasse pra jantar hoje, bom, pra rever o pessoal, estaria cansada demais?

Não me aguentando gargalhei. Michael sempre foi um mero conquistador e não o tirava a razão, o rapaz era belo. Sorrindo fechei o porta-malas de meu carro.

— Tudo bem, eu aceito. Mas só porque quero reencontrar o pessoal.

Os lábios do loiro se esticaram num sorriso.

— Às oito e meia, pode ser?

Assenti caminhando em direção a porta do automóvel.

— Eu te encontro lá, tudo bem?

— Se quiser eu passo na sua casa te pegar…

Eu não queria que isso soasse como um encontro, não mesmo. Não quero envolver-me com alguém no momento, isso é a última coisa no mundo que estou almejando.

— Não precisa. Eu o encontro… Aonde mesmo?

— No Old Paul's.

Por um momento um choque percorreu meu corpo por apenas ouvir o nome desse bar. Meus lábios se abriram num sorriso nostálgico.

— Mas o Old Paul's não é um bar? – indaguei confusa.

— Sim, ainda é. Mas ocorreram mudanças, agora a entrada é livre. Está sob nova direção a alguns anos, um amigo meu.

Ergui as sobrancelhas num ato de entendimento. Lembro que anos atrás era um bar para maiores de dezoito anos, apenas abria à noite.

— Entendi, tudo bem então. Old Paul's às oito e meia.

O loiro sorriu.

— Mas e Mary? Como anda a ruiva sapeca?

Virei os olhos e sorri torto para ele, estava demorando em perguntar sobre minha amiga.

— Ela está ótima, está em Nova Jersey com o marido.

— Marido?

Dei de ombros.

— Sim. Mas preciso ir, até mais, Mike.

Entrei no carro e acenei para o rapaz, qual sorriu acenando de volta. Logo eu me afastava dali. Sorri meneando a cabeça, era bom rever os antigos amigos. Michael me parecia o mesmo em personalidade, claro que havia amadurecido, mas a essência ainda a mesma.

Como estariam os outros? Lembro-me que não possuía inimizades, eu apenas queria me divertir. Mas o que lhe parece divertido às vezes, pode não ser tanto assim. Nunca imaginei que o que me pegaria, estaria bem ali, embaixo do meu nariz.

 

Logo eu chegava em casa. Guardei os suprimentos depois comecei a tirar os objetos que trouxe nas caixas, quais não eram muitas. Uma preguiça me abateu, melhor deixar para amanhã.

Verifiquei a hora em meu relógio de pulso, ainda tinha algum tempo até a ida ao bar. Então comecei a mentalizar algumas coisas que teria de comprar para equipar a casa. Teria de fazer uma pequena lista, tudo parecia um tanto antiquado e antigo, não que isso fosse ruim, apenas precisava modernizar os eletrodomésticos e afins.

Também havia outra coisa, não tinha televisão, quando minha mãe partiu levou algumas coisas, logo em seguida meu pai também levou consigo outros ítens. Aos poucos eu me estabilizaria. Dei um suspiro e deixei um pouco de medo me abater. Nem eu mesma sabia como havia tido forças para estar aqui.

 

A noite já havia caído e o céu limpo do verão era visto, as estrelas brilhavam. Tudo nessa cidade parecia o mesmo, mas de um modo diferente, talvez porque nove anos se passaram desde a última vez que estive aqui. Muito tempo mesmo.

Estacionei o Del Rey e desci dele ajeitando meu vestido lilás. Um pouco de maquiagem no rosto para passar uma boa impressão.

Caminhei até a porta de madeira rústica do bar. Soltei um suspiro de olhos fechados, o som que vinha lá de dentro, era como se aquela noite estivesse se reavivando em minha mente. Era uma sensação boa.

Empurrei a porta vai-e-vem e adentrei o recinto. Deus do céu, é perfeitamente a mesma coisa. Um pouco mais moderno, mas a mesma coisa. Rústico e aconchegante. No andar de baixo as mesas distribuídas de maneira aleatória, algumas encostadas a parede, mais a frente duas mesas de sinucas e à esquerda o bar. Lá em cima, no segundo andar, para os mais reservados, assentos de couro vermelho no estilo anos 60.

Não segurei o sorriso, eu parecia uma panaca parada ali na entrada.

— Lizzy! – segui o som da voz com o rosto.

Avistei um afobado Michael. Caminhou até mim e me puxou pela mão.

— Ainda é a mesma coisa de anos atrás – balbuciei, mas o loiro ouviu.

— Sim, Jake dá um trabalho danado pra manter tudo perfeito – falou o loiro enquanto ainda me guiava.

Jake?

Mal tive tempo de pensar pois Mike guiou-me até uma mesa, qual continha três seres, dos três, dois eu reconhecia. Duas moças e um rapaz. Não lembrava muito bem do nome deles, mas sabia que eles estavam conosco em nossas escapas adolescentes.

Cumprimentei a todos simpaticamente, Michael pareceu fazer um circo por eu estar aqui.

— Lizzy Grant? – virei-me para encarar a voz doce que me chamava.

— Wendy?

A baixinha sorriu-me e veio ao meu encontro para me abraçar. Wendy, digamos que fazia parte de meu grupinho feminino na época do colegial. Todos estavam diferentes…

— Oh, como você está linda, bem que Michael disse!

Olhei de relance para Michael, que virava os olhos, dei um riso.

— Obrigada – agradeci – Fico feliz em revê-la. Voltei de vez agora.

— Sério? Que ótimo! Sentimos a sua falta e a de Mary também.

Pra falar a verdade eu também sentia falta de minha amiga…

— Espere aqui, Lizzy. Já venho – disse Michael rapidamente.

Fiquei ali a conversar com Wendy, mas logo a garota teve de ir, pois trabalhava de garçonete no bar/lanchonete. Logo ouço a voz de Michael atrás de mim.

— Ei, Jake! – ouvi o loiro gritar, no exato momento arregalei meus olhos, algo estranho se apossou de meu corpo, eu ainda estava de costas para Mike – Conhece minha amiga Lizzy? – o rapaz me virou, fazendo-me encarar o homem ao lado dele, segurei para que minha boca não fosse ao chão. Michael passou um dos braços por sobre meu ombro, eu estava inerte – Ela voltou hoje para Lincoln. Não se conhecem, não é?

Eu abri a boca pra falar, mas não consegui emitir som algum. Que Deus me acuda nesse exato momento, ali estavam aqueles olhos azuis de nove atrás. Era Jake.

Ele estava tão diferente, tão lindo.

Suas sobrancelhas grossas estavam juntas, a feição franzida. Me encarava de modo fervoroso, um olhar analisador, qual eu retribuía.

Logo sua face se transformou, se suavizou. Com certeza ele havia me reconhecido, eu tinha total certeza disso. Ele não poderia ter se esquecido daquela noite, pensei nele por mais de dois anos enquanto ainda era uma jovem sonhadora e apaixonada.

Então sua voz, que agora era mais madura soou:

— Não, não conhecemos.


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