— CORTA! – Ouvimos quando o diretor geral gritou, finalizando a atuação de Jin em uma cena para o nosso novo MV.

         Eu estava sentado em uma bancada, imaginando como seria a minha cena com a nova atriz. Jungkook e Taehyung estavam ao meu lado, debatendo assuntos que eu nem mesmo prestava atenção.

         Encarei o roteiro em minhas mãos. Suspirei.

         A minha cena estava em torno de uma amor perdido pelo tempo. Um amor antigo, que se reencontrava sob um céu escuro e chuvoso. Era para representar a minha nova música sobre Amor Unilateral.

         Enquanto repassava o roteiro, as lembranças de uma adolescência vagavam em minha mente.

Flashback on

— (...) Deveria se confessar logo, Jimin-ah! Estamos na última semana de aula! – Jung San, meu melhor amigo na época, deu um leve empurrão em meu ombro, me incentivando a confessar para Kim Soo-Hi, os meus sentimentos.

         Soo-Hi estava em um banco, isolada, no pátio leste do colégio. Era primavera, e as folhas rosas caiam graciosas próximo a garota, distraída com seu livro. A morena sempre estava lendo ou ouvindo música. Sempre sozinha, e sempre delicada em cada um de seus movimentos.

         Para mim, Soo-Hi era como uma estrela, inalcançável. Desde a primeira vez que tivemos uma aula de inglês juntos. Nosso primeiro contato, foi quando precisei de um mero lápis, e ela, muito gentil, me emprestou, sem nem mesmo eu ter pedido. Era quase como se ela já estivesse prestando atenção em mim. Desde então, eu não conseguia, se quer, tirar os olhos dela.

         Não sei quando me vi apaixonado por alguém que nem mesmo chegara a trocar uma palavra.

— Ela nem deve lembrar de mim. – Lamentei. Tivemos apenas um semestre juntos, até Soo-Hi ser transferida para um turma avançada pelo seu desempenho.

— Não seja bobo. – San bagunçou eu cabelo, me deixando impaciente. – O máximo que pode receber, é um NÃO. – Brincou. Olhei feio para ele.

— Exatamente o meu medo. – Revirei o olhos. Ele riu, e em seguida, foi chamado a atenção pelo timo de basquete do colégio. San ainda precisava participar dos treinos se quisesse uma vaga de prestígio.

         Ao se despedir, deixou um último incentivo. Um pequeno papel e uma caneta. Eu tinha a oportunidade de escrever alguma coisa e entregar para ela.

         Suspirei.

         Por fim, decidi que não deveria ser tão ruim assim.

         Comecei a escrever um verso simples. Acreditava que Soo-Hi não era o tipo de garota que se apegava a coisas muito caprichadas. Ela me parecia simples, apesar da áurea angelical e quase sagrada.

         Sorrindo como um bobo, ouvi o sinal tocar.

         Ao perceber que poderia perder a oportunidade de entregar o papel para Soo-Hi, me levante, apressado, apenas para descobrir que estava estava bem a minha frente, com um singelo sorrido e com a mão estendida.

         Eu não sabia o que dizer, e nem como agir. Simplesmente travei, apenas por sentir meu coração agitado. Aquecido.

         Seu olhos pousaram em sua mão esticada, e por fim, olhei para o papel que ela mesmo me entregava. O que era irônico, pois eu é quem deveria está fazendo isso. No entanto, eu não consegui. Apenas peguei o papel para mim, e ela fez uma leve reverência antes de sair apressada para longo. Eu nem mesmo consegui dizer uma palavra.

         Me achando um completo idiota, olhei novamente para o papel antes de decidir abrir. Fiquei surpreso com o que estava escrito.

“Meu coração palpita sempre que estou perto de você, Park Jimin, mas me preocupa saber que o destino não queira colaborar com nós dois... Colaborar comigo.

Eu amo você. Não esqueça de mim!”

— Sua Soo-Hi

         Eu não conseguia ouvir mais nada ao redor, a não ser o som do meu próprio coração. Aquele simples e significativo verso declarado, era quase uma música. Eu quase podia ouví-la falar, apesar de nunca ter escutado de fato. Soo-Hi era tão quieta...

         Procurei ao redor, vestígio da pequena morena. Eu precisava dizer a ela que a amava e que queria que fosse minha namorada. No entanto, voltando a ler o pequeno papel roseado, percebi que ela parecia está se despedindo, de alguma maneira.

         Depois daquele dia, descobri que Soo-Hi havia sido transferida para Seoul. Eu havia perdido a única oportunidade que a vida havia me dado.

Flashback off

— (...) Jimin-Ah! – Me assustei com a voz de Taehyung tão próxima. Jungkook ria.

— Aish... – Afastei suas mãos que estralavam a minha frente. – O que foi? – perguntei, notando que havia ficado a um bom tempo disperso.

— Estávamos falando em como Yoongi ficou mais bem humorado depois que começou a namorar a Noona July. – Jungkook repetiu, esperando algum comentário meu.

— Ah.. – Expressei, desinteressado. – Também acho. – Suspirei.

         Jungkook foi o primeiro, do grupo, a começar um relacionamento com uma garota que conheceu em um parque enquanto cumpria uma aposta. O que era surpreendente, tendo em vista sua absurda timidez. Em seguida, Yoongi confessou seus sentimentos pela própria Staff, embora eu e Jin hyung já soubéssemos que isso aconteceria cedo ou mais tarde. Os dois haviam iniciado um relacionamento oficial, há duas semanas.

— Algum problema, Jimin? – Tae perguntou, preocupado.

— Nenhum. Só estava concentrado no roteiro. – Menti. Os dois pareciam ter acreditado.

         Não demorou muito para o diretor me chamar. Eu, finalmente, conheceria a atriz que iria substituir a garota que havia tido uma reunião comigo na semana passada. Infelizmente, a ruiva havia contraído uma virose forte, e não poderia dar conta do trabalho. Mas recomendou uma amiga de teatro. Obviamente, eu estava curioso para saber com quem eu contracenaria, tendo em vista que não tivemos tempo de ensaiar juntos.

         Me despedi dos rapazes, e me aproximei de toda a equipe de filmagem. Estávamos em uma área reservado do parque. E eu gravaria uma cena a noite.

         Ansioso, andei a passos largos, olhando para baixo. Eu não sentia que estava preparado para encenar. Mas precisava.

         De repente, em um movimento rápido, meus olhos focaram em uma figura baixa, de cabelos curtos e um lindo sorriso. A garota não olhava para mim, mas assentia a cada instrução do nosso diretor.

         Meu coração falhou, assim como as passadas. Estava nervoso, ansioso e confuso. Desorientado. Era quase como ver uma miragem de um verdadeiro amor perdido. Era como reproduzir minhas lembranças.

         Lá estava a Soo-Hi. Lindo e delicada. Um anjo, como sempre achei que fosse. Seus olhos finalmente cruzaram com os meus, e ela, assim como eu, parecia surpresa.

— Jimin! – O diretor Kris chamou minha atenção. – Esta é a Soo-Hi e ela irá substituir a Mee-ha. Foi muito bem recomendada. – Completou, nem bem nos dando tempo para absorver a situação.

         Estávamos, novamente, frente a frente, e nenhuma palavra fora dita. Eu quase podia ouvir os dois corações em um um único compasso.

— Porque foi embora? – Foi a primeira coisa que veio em minha cabeça. Ela parecia confusa. Percebi quando se sentiu triste.

         Querendo ou não, aquela despedida silenciosa havia sido a mais dolorosa para mim. Foram anos me recuperando de um amor frustrado pelo destino. Ela havia sido minha dor, mas também era minha cura.

— Eu precisei... – Pela primeira vez, eu ouvi sua voz. Como imaginado, era doce e suave. Era quase como sentir plumas pelo corpo.

         Seus olhos brilhavam. E eu não sabia dizer se eram por causa dos refletores, ou porque estava feliz em me ver. Desenhou um sorriso no rosto.

— Eu fui sincera. – Confessou por fim.

         Eu não poderia está sonhando. Poderia?

         Em um breve momento, meu olhos focaram em seus lábios rosados. Imaginando se era tão doces quanto a sua personalidade. Eu não poderia perder outra oportunidade.

         Levei a mão direita a sua nuca, entrelaçando nossos lábios em um beijo casto. Ela não recusou e eu não pensei nas consequências.

         O medo de que o destino estivesse me pregando um peça, era maior que o bom senso. E quando ouvi a voz do diretor, ao longe, ralhar sobre cortar a cena, nem eu e nem Soo-Hi, parecíamos dispostos a finalizar aquele momento.

— PARK JIMIN!

         Não poderia ignorar aquela expressão irritada do diretor.

         Nos afastamos, assustados e satisfeitos. Soo-Hi riu, arrancando igual risada de mim. Suas bochechas coradas davam sinal de constrangimento. Mas eu estava feliz demais para realmente ligar para o que poderia acontecer.

         Eu perdi um amor, e o recuperei novamente. Não vou permitir um novo desencontro sem dizer, antes, o que eu precisava dizer. E desta vez, eu não hesitaria.

— Eu também te amo. – Falei, em resposta a sua antiga declaração. – Eu nunca me esqueci de você. – Completei, antes de sermos abordado por uma equipe confusa e agitada que já não sabia o que era real e toda aquela situação. 

Fim.