Nós duas havíamos passado na mesma universidade, ela cursaria Medicina Veterinária e eu História. Dês daquela última conversa, a duas semanas atrás, algumas coisas mudaram.

Alhena e eu estávamos juntas, acho que namoradas não faz jus ao que temos, então preferimos o termo "Estamos juntas". Paguei minha língua ao descobrir por experiência própria que ela pode ser a rainha da birra e, ao mesmo tempo, a pessoa mais calma do planeta.

Combinamos que não moraríamos juntas em Maringá, ela moraria com Mônica, uma amiga sua de infância que cursaria Engenharia Civil, e eu com os meus amigos. Manteriamos nosso relacionamento em total segredo até concluiremos o ensino médio, para que seus pais nao decidissem acabar com a sua vida antes dela se mudar. Hoje contariamos aos meus amigos, e eu estava realmente muito nervosa, afinal, nenhum deles gosta da Alhena.

— Eles não gostam de mim, não adianta o que você diga, isso nunca vai mudar – Alhena andava de um lado para o outro esfregando as mãos, obviamente nervosa.

— Vai dar tudo certo, eles não conhecem a Alhena que eu conheço, mas quando conhecerem vão te adorar – abracei-a, tentando passar toda a confiança naquele aperto.

Estávamos em frente a minha casa, onde estavam todos os meus amigos, esperando Alhena tomar coragem e entrar comigo, o que até o momento estava bastante difícil.

Eu estava começando a ficar preocupada com o fato de estarmos na rua onde facilmente uma pessoa nos veria, isso não seria nada bom a essa altura do campeonato.

Ela pareceu relaxar um pouco ao meu lado e apertou forte a minha mão. Eu nunca me acostumaria com a sensação de choque ao sentia sua mão na minha, mesmo que se passassem mil anos.

— Eu vou primeiro e te chamo, okay?

Ela concordou entrou até o quintal, esperando do lado de fora.

Para a minha sorte Gus estava calmo e não entregou Alhena antes do previsto. Mesmo que por fora eu estivesse calma, por dentro eu estava pirando tanto quanto ela. Essas semanas que passamos juntas foram incríveis e era assim como eu imaginava pelo menos os próximos meses da minha vida.

Brida estava jogada no sofá com a cabeça no colo do Murillo, Matheus e Danillo estava assistindo TV com Marco. Todos olharam para mim quando a porta da sala se bateu. Era agora. Força Terra.

Antes que eu mencionasse qualquer palavra, Brida me lançou um olhar instigante e ergueu a sobrancelha.

— Se você fez todo esse escândalo para contar que esta saindo com a filha do pastor, perdeu seu tempo.

Provavelmente eu estava de cara, porque não consegui dizer uma palavra sequer. Mas que merda?! Como eles já sabiam e não me disseram nada?! Como eles sabiam?

— Eu sou de escorpião – respondeu Brida, dando de ombros. Claro, escorpianos! – Afinal, cadê ela? Se escondendo na cozinha?

Eu ainda estava surpresa, demorei alguns segundos para entender que eles queriam que eu buscasse Alhena.

Ela estava, como sempre, radiante sentada no quintal, brincando com a grama. Algumas estrias despontavam da lateral da sua perna a mostra por conta da saia, e iam subindo até um lugar ainda proibido para mim. Deus, como um ser tão perfeito assim existe?!

— Eles querem te ver, apropósito – falei enquanto a ajudava a levantar. Eu nunca superaria o toque da sua mão na minha, talvez um dia eu aprendesse a disfarçar – eles já sabiam sobre nós.

Eu pensava que Brida ficaria de cara fechada ou algo do tipo, mas tirando sua seriedade rotineira, ela foi até que simpática com Alhena. Matheus, como sempre, sendo Matheus e os gêmeos a enchendo de perguntas sobre tudo. Marco era o único eu parecia cauteloso, ele não maltratara Alhena, muito pelo contrário, mas ele também não parecia à-vontade. Gus já a conhecia e adorava. Por alguns minutos ali, com os meus melhores amigos, Gus e Alhena eu tive certeza que eu tinha tudo para me sentir em uma família, para me sentir acolhida. Sentar-me no sofá com a cabeça de Alhena em meu colo assistindo uma comédia romântica enquanto os gêmeos faziam graça e Brida os mandava calar a boca, aquilo era mágico, era único e era meu.

Dali a um mês, todos nós estariamos em Maringá, livres desse sufoco angustiante que alguns chamam de cidade e nem eu nem Alhena precisaríamos esconder o que sentíamos uma da outra.

— Mônica já encontrou nosso apartamento, ele fica a algumas quadras da casa de vocês – eu e ela agora estávamos secando a loca do café na cozinha. Nunca uma folga foi tão deliciosa quanto aquela.

— Tem certeza que vai conseguir subir as escadas do apartamento todo os dias? – perguntei apenas para provoca-lá, pois a minha felicidade em saber que logo estaríamos tão perto e tão livres era algo surreal.

— Ele tem elevador – ela me respondeu, revirando os olhos – é pequeno e aconchegante, pelo menos parecia pelo Skipe.

Ela ficava simplesmente radiante quando suspirava. O que mais me fazia completa era saber que não só ela, mas eu, Brida, Marco e os outros estávamos caminhando para algo que a alguns meses parecia um paraíso inalcançável, e agora estava tão perto.

— São só mais quatro semanas, quatro semanas – a abracei por trás e encostei meu queixo no seu ombro, aproveitando aquele momento de paz enquanto Brida ralhava com alguém na sala. Como ela consegue ser tão estressada?

— Quatro semanas – ela completou, fechando os olhos e aproveitando meu abraço, deixando uma gargalhada escapar enquanto ouvíamos a discussão da sala.