Take me To Church escrita por Charles Gabriel


Capítulo 19
Capítulo Dezenove


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Alexander Ludwig é como imagino Ayvaz.



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Os dias se passavam em um completo marasmo. Quase não me alimentava direito e, quase sempre, tinha crises de choro pela madrugada. Estava sendo cada vez mais difícil esconder de meu pai o que estava acontecendo, já que ele estava percebendo minha perda de peso e as olheiras abaixo dos olhos inchados pelo constante pranto.

― Está tudo bem, Sevilin? ― Meu pai perguntava todos os dias pela manhã.

― Sim, papai, está tudo bem ― Sorria ao responder.

Meu pai sabia quando eu mentia, mas mesmo assim, ele preferia preservar meu espaço, deixando claro que estaria ali, sempre que precisasse. Eu só não queria preocupa-lo. Meu pai não tem culpa dos meus erros e seria egoísmo de minha parte envolve-lo nisso tudo. Eu que comecei, agora, tenho de lidar com as consequências.

Ayvaz me visitava e, sempre que podia, trazia Ruzgar. Era uma sensação tão gostosa ter meu namorado por perto, mesmo que fosse por poucos minutos. Um segundo ao lado dele, fazia meu dia melhorar cem por cento.

Já fazia muito tempo que eu não saía, meu melhor amigo e meu namorado estavam receosos, já que ambos garantiram que ouviram fofocas sobre mim no vilarejo.

― Como sabe que era de mim que estavam falando, Ayvaz? ― Perguntei, sentindo o grandioso aperto em meu peito voltar novamente.

― Quem é conhecido por ser o belo filho de Alp? ― O loiro dramatizou ― Óbvio que é você, quem mais poderia ser?

― Você está sendo execrado pelas pessoas do vilarejo ― Ruzgar me segurou pelos ombros, parecendo desesperado ― Eles acreditam que foi você que me levou para o caminho do inferno.

― Quem poderia ter dito coisas tão horríveis assim? ― Indaguei em completo choque.

― Foi a minha mãe, Sevilin ― Ruzgar me olhou com dor ― Eu sinto muito. A culpa é toda minha...

― Não é culpa sua, Ruzgar... ― Ayvaz sussurrou.

― Não importa ― Soltou com rispidez ― Eu tenho uma parcela de culpa nisso tudo.

― Deveria parar de se culpar ― A voz aveludada e calma de meu melhor amigo, fez meu namorado soltar lágrimas.

― Apenas me prometa, não importa o que acontecer, você ficará em casa ― Ruzgar apertou meus ombros.

― M-Mas e se papai precisar que eu faça alguma entrega para ele?

― Ayvaz sempre estará por perto, pode fazer isso por você ― Apertou meus ombros com mais força ― Você tem que esperar o vilarejo se acalmar.

― E se demorar? ― Insisti.

― Não importa, meu amor, você tem que se manter seguro ― Franziu a sobrancelha num claro gesto de desespero ― Se eu perder você, perco tudo.

― O vilarejo vem rezando fortemente para que você se cure do homossexualismo ― Ayvaz exclamou.

Me curar? ― Chiei, soltando-me bruscamente de Ruzgar.

― Se acalme, meu amor ― Ruzgar passou a mão delicadamente pelo meu rosto.

― As pessoas sabem que sou um doente e você quer que eu fique calmo? ― Comecei a chorar.

― Pequeno... ― Ayvaz tentou se aproximar.

― Sai de perto de mim! ― Gritei em meio a um choro intenso que me apunhalava as entranhas e não me dava espaço nem mesmo para respirar.

― Sevilin! ― Ruzgar me olhou em completo choque.

― Eu quero ficar sozinho ― Coloquei as mãos no rosto, chorando ainda mais.

― Pequeno... ― Ayvaz passou a mão em meu ombro, num claro gesto de tentar me confortar.

― Saiam daqui! ― Gritei, em meio a soluços.

Ouvi um longo suspiro de Ruzgar e um engolir em seco de Ayvaz.

Sabia que aquilo estava os machucando.

Mas estava doendo ainda mais em mim.

Saber que as pessoas falam de mim pelo vilarejo com nojo, me deixa angustiado. Ainda mais que eles acham que irei me curar dessa doença.

Nunca irei me curar.

Esse é o problema.

Estou fadado a viver doente, como um leproso.

Eu quero morrer.

Virar pó.

Ser levado pelo vento.

Desaparecer.

Ouvi os passos lentos de meu melhor amigo e meu namorado se afastarem aos poucos.

― Caso queira conversar, estaremos lá fora, Sevilin ― A voz calma de Ruzgar ecoou no pequeno cômodo e logo saiu.

Queria correr, pedir perdão para os dois, já a outra, aquela bem mais imbecil, queria que eu me fechasse completamente. Estava doendo tanto, que minha vontade era de ir diminuindo até desaparecer completamente sem deixar qualquer rastro.

Pensamentos distorcidos giram em minha cabeça. O meu mundo está se transformando em um completo breu e o meu brilho, vem sendo fraco demais pra sobrepor toda essa escuridão.

Bem, Jesus Cristo, eu estou sozinho.

Então, o que acontecerá de agora em diante?

Você virá me salvar?

Provavelmente não.

Então me guie para o inferno. Eu lhe imploro, já que nunca irei me curar.

Agora, eu realmente entendo o motivo de minha mãe ter tirado sua própria vida.

Viver é doloroso, sendo capaz de doer até os ossos.

E eu não sei se conseguirei aguentar.

Oh, Deus, por que tudo tem de ser assim?

Por que?

Eu me afundava cada vez mais em lágrimas e em perguntas que eu nunca teria respostas.

A vida não há sentido.

Muito menos eu.

Tudo estava me sufocando.

Tudo.

Eu não sabia o que fazer.

O choro me apunhalava com tanta força.

E minha garganta ficava cada vez mais seca.

Se meu coração houvesse voz, todos estariam surdos com a dor que eu sentia.

O choro foi diminuindo, sobrando apenas os soluços altos.

Mas a dor... Ah, ela ainda continuava.

Me sentei na cadeira de madeira, encostando minha cabeça na mesa.

Por que doía tanto?

Levantei meu rosto, observando o jarro de barro, que papai sempre deixava cheio de água que buscava do rio.

Lembro-me vagamente das poucas vezes em que vira papai chorar quando era criança.

Mamãe sempre lhe dava água fresca e dizia: ― Beba, Alp! A água é capaz de retirar todas as impurezas de nosso coração.

E ela tinha razão.

Os tormentos de meu pai sempre passavam.

Talvez um pouco de água pudesse me dar calma.

Levantei com as pernas bambas, indo até a janela, encontrando os dois copos de barro que papai fizera há alguns anos atrás. Minhas mãos estavam trêmulas, por isso, tomei todo cuidado para não o derrubar.

Voltei a mesa, pegando o jarro com água e despejando no copo, levando até os meus lábios.

Tomei o líquido fresco aos poucos e logo pude ver uma melhora.

Deixei o jarro e o copo na mesa mesmo, não iria fazer diferença.

Respirei fundo, sentindo meu peito mais leve.

Era hora de eu pedir desculpas para os dois homens da minha vida.

Passei a mão no rosto, levemente, a fim de espantar as marcas de choro e abri a porta, sentindo a leve brisa acariciar meu corpo quente, me causando um leve calafrio.

Olhei ao redor de meu quintal, e os vi em pé abaixo de uma árvore, quase não daria para vê-los se eu não estivesse próximo. Estavam conversando, calmamente, sutilmente. Talvez estivessem preocupados comigo.

Não os culpo.

Também me preocuparia se fosse com algum deles.

Ayvaz levantou seus olhos e me viu dando um largo sorriso. Isso chamou atenção de Ruzgar, que olhou na direção em que eu estava. Não sorriu, mas seu olhar estava cheio de carinho e isso aqueceu meu coração.

― Que bom que está melhor, Pequeno!

― Entendo que vem sendo difícil para você, mas não se feche para mim. Para Ayvaz. Por favor. ― Ruzgar disse com a voz carinhosa.

Me aproximei, lentamente.

― Me perdoem... ― Sussurrei.

― Você não tem culpa, pequeno ― Meu melhor amigo diminuiu a pequena distância, passando a mão por meu ombro, numa clara maneira de tentar me reconfortar ― E não há nada que perdoar.

― Ayvaz tem razão, meu amor. Nada disso é culpa sua ― Passou as mãos por seus cabelos compridos.

Aquela dor dilacerante dentro do peito voltou novamente.

Não resisti e me joguei nos braços de meu namorado e chorei ainda mais, como há tempos não fazia. Eu vou morrer e já terei passagem direta para o inferno. Que desgosto eu darei ao meu pai e a minha mãe, que com certeza, deve estar me odiando no Paraíso.

― Eu quero morrer ― Exclamei.

― Não, amor, você não quer ― Sussurrou.

Chorei ainda mais contra seu peito, enquanto ele dizia palavras reconfortantes e passava a mão em meu cabelo, juntamente com Ayvaz que, vez ou outra, passava a mão por meu rosto, numa maneira de enxugar minhas lágrimas.

― Por favor, não fique assim, como irei embora sabendo que está tão vulnerável? ― Sua voz estava cheia de dor.

― Me desculpe... ― Sussurrei olhando em seus olhos.

Deu um sorriso.

― Você não tem culpa ― Me deu um leve beijo ― Converse com Ayvaz, lhe fará bem. Adoraria ficar mais tempo, mas tenho que ir.

― Por que?

― Está tarde, logo meus pais irão voltar da igreja e com certeza quero estar por lá, para não levantar suspeitas.

― Eu te amo.

Ruzgar deu um beijo em minha testa.

― Tente ficar bem, por favor. Por mim. ― Beijou meus lábios suavemente antes de sair ― Também te amo e muito.

Deu um longo abraço em Ayvaz e logo saiu.

A maldita vontade de morrer, volta com ainda mais força.

Eu me odeio.

E odeio ainda mais o fato de sentir tanto assim.

Eu quero chorar.

Eu quero morrer.

Meu melhor amigo percebendo meu silêncio, me abraçou, com uma força exagerada.

― Vai ficar tudo bem, eu prometo ― Passou a mão por meus cabelos.

― Não prometa algo que não pode cumprir... ― Sussurrei.

― Isso é verdade, não posso fazer com que as pessoas do vilarejo parem de falar sobre você, mas posso estar aqui, te apoiando.

― Você é incrível ― Levantei meu rosto para olhar seus olhos claros, que pareciam estar tão brilhantes quanto as estrelas ― Obrigado por estar comigo.

― Sempre estarei... ― Sussurrou ― Eu amo você.

― Eu também te amo, Ayvaz ― Dei um sorriso. Considerava-o como meu irmão. Um irmão mais velho que sempre me protegia, e que apesar de minhas crises, minhas tristezas, sempre estava ali para oferecer seu ombro. Poderiam se passar anos, mas eu ainda me lembraria de seu rosto e de suas brincadeiras, que sempre me faziam rir.

Ayvaz também deu um sorriso, puro e genuíno.

Daqueles que uma criança dá quando recebe carinho dos pais.

Algo extremamente belo para alguém que está tão quebrado por dentro.

Ele aproximou seu rosto do meu, passando a mão por meus cabelos desarrumados.

Ele estava perto, muito perto, dava pra sentir sua respiração.

― Você é um amor. Agradeço todos os dias por te ter por perto.

― Ah, não diga isso ― Senti minhas bochechas esquentarem ― Eu é que agradeço, você proporciona muita alegria em minha vida.

Ele riu, me dando um beijo na bochecha.

― Eu amo muito você e prometo sempre estar ao seu lado ― Exclamou sorrindo.

― Sempre é tempo demais, não acha? ― Levantei as sobrancelhas.

Ayvaz riu, me fazendo rir também.

E assim, passamos o resto da noite.

Rindo.

Como se o mundo lá fora, não existisse.


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Notas finais do capítulo

Até breve!