Funk-se Telma! escrita por ArnaldoBBMarques


Capítulo 28
Muita areia para o caminhão




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Informada da visita de Ronaldo, Telma sentiu-se de imediato envergonhada por estar ali passando roupas, pés no chão e vestidinho surrado. Não queria que ele a visse assim, mas Ronaldo foi entrando e saudou-a com naturalidade, trazendo um presentinho para ela. Era uma caixa com frutas cristalizadas. Telma abriu o pacote, e sorriu acanhada, sem saber o que dizer.

— Já que você não pode sair, eu vim aqui te fazer companhia!

Naquele instante Telma teve a impressão de que encontrara alguém que nutria por ela um sentimento sincero. Experimentou uma alegria muito grande, mas ao mesmo tempo achou-se indigna de tanta deferência. Ronaldo sentou-se e ficaram batendo papo enquanto ela terminava seus serviços, foi uma conversa bem agradável, e Telma já não sentia vergonha por ele vê-la ali trabalhando. Afinal, ele sabia muito bem o motivo que a levara à casa da tia, e se estava ali com ela, era porque queria conforta-la.

Depois de muito conversarem, Ronaldo despediu-se e saiu prometendo retornar. Telma tinha a impressão de estar vivendo um momento único, algo que nunca antes experimentara em sua vida: então podiam existir pessoas que não eram falsas, que não pensavam só no corpo e que eram fiéis? A felicidade misturava-se a uma enorme vergonha por todo o seu comportamento anterior.

No dia seguinte, na escola, Telma estava muito aérea, ainda pensando em Ronaldo, mas não deixou de perceber qualquer coisa no ar. As colegas pareciam estar com inveja dela. Em determinado momento escutou alguém cochichar:

— O Ronaldo é muita areia para o caminhão da Telma!

Afastou-se em silêncio, para não dar a entender que havia escutado, e foi para um canto. Na verdade, era esse mesmo o pensamento que a preocupava: achava que Ronaldo era mais do que ela merecia. As colegas continuaram com insinuações. Suzana, sobretudo, estava especialmente irônica e a toda hora comentava algum mico que ela havia passado só para deixa-la embaraçada. Todas lá sabiam que ela estava de castigo na casa da tia.

Ronaldo apareceu no fim de semana seguinte, conforme prometido, e ficou ali fazendo-lhe companhia. Não esqueceu de fazer o pedido a tia Justina:

— Sábado que vem, quando acaba o castigo da Telma, a senhora deixa a gente sair?

Naquele instante Telma ficou sabendo que pela primeira vez em sua vida, tinha um namorado. Os que tivera antes não mereciam essa denominação.

Sábado seguinte, o sorriso da tia mostrava como ela estava satisfeita. Ronaldo chegou pontualmente, cavalheiro e bem vestido, e a tia liberou um belo vestido para Telma usar. Passearam pelo shopping, foram ao cinema e depois sentaram-se para comer e conversar. Trocaram longos beijos, mas a inquietação de Telma crescia. Criando coragem, ela perguntou:

— Você gosta de mim?

— Claro! Está duvidando?

— É que...

— Vai, fala!

— Eu fico com vergonha... eu já fiz tanta merda no passado...

— Eu também! Mas eu mudei.

— Você já fez merda?

— Eu era muito galinha! Podia ter sido muito feliz com muitas pessoas, mas estraguei tudo por minha culpa. Hoje eu vejo. Não posso voltar o tempo atrás, mas posso mudar o futuro!

— Ahhh então aprendeu!

— Aprendi e assumo! Mas olha, eu acho que o seu problema é que você sente muita vergonha porque está sendo castigada lá na casa da sua tia!

Telma enrubesceu. Subitamente surpreendida em seu segredo, descobriu que não se pode abrir o coração a um amado sem a contrapartida de expor sua intimidade.

— Ah, mas dá vergonha mesmo. Todo o mundo podendo sair para onde quiser, vestir o que quiser em casa ou na rua, abrir a geladeira sem pedir licença, e eu...

— E você acha que só você no mundo fica de castigo?

Telma ficou pensativa. Não disse mais nada, mas abraçou bem forte Ronaldo, sentindo o calor de se corpo fundindo-se com o dele.


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