Funk-se Telma! escrita por ArnaldoBBMarques
A tarde ia caindo e o mau humor de Telma ia crescendo. Entre dedilhadas no celular, andava de um lado a outro pelo quarto, feito peixe em um aquário. Observava o irmão e a irmã preparando-se para sair, e ela estava de castigo. O pior era saber que em breve estaria sozinha com a mãe.
— Tem uma porção de coisa para você fazer, minha filha!- Avisou dona Nilce, surgindo de repente no quarto - Quero ver você varrer a casa, passar uma água na varanda e tem uma pilha de roupa para passar!
Telma não respondeu. A mãe sempre privilegiava os irmãos mais novos e sobrava tudo para ela, afinal, ela era uma moça, como a mãe dizia, pois sempre tinha justificativa para tudo. Da janela vinha a toada de um funk:
E que se dane eu quero mais é que se f*
porque ninguém vai bagunçar meu dia
E que se dane eu quero mais é que se f*
porque ninguém vai bagunçar meu dia
De repente veio uma vontade danada de dançar funk e botar para fora todo aquele baixo astral. A frase caía como uma luva sobre os sentimentos de Telma: ela queria mais é que se f*. Mas ela estava de castigo. Sem pensar, como se os dedos tivessem vida própria, teclou no zap para Edilene:
Telma: tou pensando naquilo q vc propos. Logo + no baile a gente fala
Logo em seguida se arrependeu. Por que dizia coisas que não tinha coragem de fazer? Isabela, a irmã mais nova, entrou no quarto para buscar qualquer coisa no armário trazendo um sorriso irônico nos lábios.
— Eu vou na festa da Lucinha!
— E eu vou no funk! - Respondeu Telma de bate-pronto, sem pensar, como se a boca tivesse vida própria. Isabela olhou incrédula por um momento, depois replicou:
— A mamãe te botou de castigo!
— Duvida que eu vou?
— HAHA Telma, só não vou contar agora para a mamãe porque sei que você está mentindo!
Telma ficou calada. A irmã continuou:
— Ah, quer saber, Telma? Funk-se! Isso aí! Funk-se!
Finalmente achou o prendedor de cabelo que procurava. Deu as costas e foi para a festa, deixando Telma sozinha no quarto. Paulo, o irmão mais novo já tinha saído. Agora estavam só ela e dona Nilce.
— Por que ainda não começou a fazer as coisas que eu mandei? Anda logo, deixa de preguiça!
Telma olhou para a janela, para o celular e para o armário, que ficara entreaberto. Sentiu um turbilhão de emoções crescendo dentro dela. Olhou de novo para a janela, para o celular e para o armário. Seus olhos pararam no armário. Pegou uma valise e pôs-se a jogar peças de roupa dentro, sem muito critério. As palavras de Isabela ecoavam em seus ouvidos: funk-se, funk-se! Era isso mesmo que ela ia fazer.
Saboreou a expressão de espanto da mãe quando a viu passar com a valise rumo à porta.
— Tchau, dona Nilce!
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