Diário de Uma Vida escrita por naath


Capítulo 4
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16 de maio de 2007

 

 

 

Pode até parecer perseguição, porém, não é. A loira do salto quebrado está entrando no café onde estou sentado. Eu rio relembrando da cena que meu cérebro se recusava a esquecer e não noto que aquele é o último sorriso que darei em meu dia.

Termino meu café e o pago. Aquela mesma rotina monótona.

Chego em casa e encontro a porta destrancada, entro na sala e me deparo com mamãe com uma cara de desgosto sentada ao lado de um homem de cabelos pretos na altura de seu queixo.

Eu choro.

Choro por ter que rever uma pessoa que eu não gostaria de voltar a manter algum contato, mesmo que eu quisesse, mesmo que eu necessitasse disso.

Mamãe se levanta e diz que David chegou a mais ou menos uma hora, ela tentou mandá-lo embora, mas ele se recusou a ir antes de falar comigo.

Ele veio ao meu encontro e me abraçou. Eu tinha nojo dele, nojo. Eu queria aquelas mãos... aquelas mãos brancas, lindas e quentes... aquelas mãos... longe de mim... longe... eu o queria longe de mim, mas eu precisava, precisava dele perto, muito perto. Me pediu para que eu não chorasse, pediu para eu me acalmar, que tudo ficaria bem, que ele estava de volta e que poderíamos recomeçar nossa vida. Mas eu não tinha mais vida e eu disse isso a ele.

Às vezes eu acho que Deus desperdiçou uma vida com a que me deu, poderia ter dado-a para tantas pessoas, por que para mim? Para me fazer sofrer? Eu preferia não ter nascido. 

Empurrei David para longe de mim, e o mandei embora. Ele insistia em dizer que havia voltado por e para mim, que recomeçaríamos nossa vida, que ele me ajudaria a reconstruir a minha, mas eu não aceitei. Sangrando por dentro eu o mandei ir embora e nunca mais voltar. E ele foi.

Caí no sofá exausto, minha mãe me abraçou e me deu colo. Choramos juntos, choramos juntos por mais de uma hora, e ela me contou que ele era o homem que havia me ligado naquele dia.

Subi para o meu quarto e me olhei no espelho. Não aguentava ver minha imagem, fria, triste e tão miserável. Eu queria que tudo voltasse a ser como era antes, porém, era impossível.

Fui até o meu banheiro e peguei minha gilete, não tinha a intenção de me barbear, mas sim, de me torturar. Eu precisava saber que existiam dores piores que a dor que David me passava, então, sem nenhuma coragem dentro de mim lutei contra meus princípios e cortei meu pulso esquerdo.

A dor que me invadiu não chegava nem perto da que eu senti quando olhei para o rosto de David. Eu poderia sentir a dor de me cortar quantas vezes fossem necessárias e não choraria o tanto que chorei quando ele me feriu, a dor de se sentir ferido por dentro é pior da dor de ser ferido por fora.

Era inevitável não querer sentir mais dor, era como um vício, a cada segundo eu me cortava um pouco mais, e a única coisa que eu sentia era o meu sangue quente escorrer pelo braço, chorando junto comigo.

Mamãe chegou no quarto bem nessa hora e me socorreu, fez questão de me levar ao médico, eu havia ido longe demais, foram 7 pontos.

Perto de mim não há mais nada com cortes, as facas da cozinha foram substituídas por facas sem pontas e sem cortes, mamãe jogou tudo fora, com medo de me perder. Mas eu não tenho a intenção de me matar, isso David já fez a muito tempo, eu não posso abandonar mamãe, ela precisa de mim e eu preciso dela, somos uma família juntos.

 

Pierre C. Bouvier
 


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