Estúpida festa escrita por bersange


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, um ou outro palavrão, mas eis uma história da qual fiquei extremamente orgulhosa.



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A festa de final de ano se aproximava e, sem ninguém perceber, ela logo dominou os pensamentos e as conversas de todos no colégio. Todos estavam animados e ansiosos com a festa, uma chance de ver seus amigos de forma mais solta. Kaminari brincava dizendo que iria batizar o ponche para deixar todo mundo bêbado, porque “era isso que faziam nos filmes”, o loiro dizia. Mineta falava para quem quisesse ouvir sobre a oportunidade de ver as meninas de vestido, mas geralmente ninguém queria ouvi-lo. Aoyama dizia que seria a primeira oportunidade de alguém da escola demonstrar classe que chegasse aos seus pés, e de fato ele era uma pessoa que sabia como se vestir. Shouji dizia que embora festas fossem coisas fúteis, ele estava animado com a chance de interagir com os amigos em um ambiente longe das “normas opressoras e estressantes da escola”.

Mas o que realmente todos acabavam falando era quem iria com quem.

Não que fosse obrigatório ir em pares. Dada a proporção de meninos e meninas, seria algo realmente improvável de acontecer. Somando as turmas 1-A e 1-B, haviam apenas treze meninas dentre quarenta estudantes. A única chance era levar alguém das outras turmas, mas Midoriya e os outros interagiam poucos com elas. Uma das desvantagens de ser da turma avançada, talvez.

O primeiro a expressar a vontade de ir acompanhado de alguém foi Mineta. Se Midoriya achava o comportamento pervertido do amigo exagerado e geralmente incômodo, ele ao menos admirava sua audácia. Mineta, no meio da escola, na frente de todos os estudantes e professores, chamou ninguém menos que Yaoyorozu para acompanha-lo na festa. O fascínio de Mineta pela garota era muito bem documentado ao longo dos anos. Embora Yaoyorozu ficasse extremamente incomodada por Mineta quando ele frequentemente passava da linha, ela foi gentil em recusá-lo. O próprio Mineta admitiu para Midoriya, Iida e Shouji depois que esperava levar um ‘não’ em forma de um tapa.

Quando Midoriya perguntou por que ele a chamou se achava que seria rejeitado, Mineta deu com os ombros: “Eu precisava ao menos saber”.

Mesmo rejeitado, foi Mineta quem abriu as portas para os meninos falarem de quem seria o par de quem abertamente. Bem, talvez não abertamente. Talvez apenas entre si. Em sussurros e voz baixa.

O primeiro a ter sucesso em convidar uma garota, pelo que Midoriya soube, foi Yo Shindo. Ele era um rapaz de jeito arrogante, mulherengo e superficial. Ao menos, era o que Midoriya achava antes de conhecê-lo. Mesmo Shindo sendo muito mais popular do que Midoriya jamais poderia ser, ele nunca o tratou como se fosse de uma casta diferente. Pelo contrário, Shindo acabou se tornando um bom amigo de Midoriya.

Ele acabou convidando Tatami Nakagame para ser seu par. Foi até engraçado. Ele teve o tato de ser mais discreto que Mineta. Midoriya soube apenas por Shikkui Makabe, quando percebeu que ele estava sem as suas companhias de sempre.

“Você quer dizer Shindo e Nakagame?”, ele explicou. “Ah, Shindo a levou para um encontro. Acontece que ele a chamou para ir à festa do final do ano e ela aceitou”.

Midoriya se lembra bem do momento. Ele estava junto com Iida, Todoroki, Kaminari e Kirishima. Todoroki permaneceu indiferente, mas Kirishima e Kaminari não esconderam a surpresa.

“Shindo e Nakagame? Isso é sério?”, Kirishima indagou.

“Como ele conseguiu isso? Qual foi a técnica que ele usou?”, Kaminari parecia interessado.

Mesmo Iida pareceu surpreso e interessado. Midoriya, por sua vez, estava legitimamente chocado. Não por Shindo chamar alguém para sair – ele teve suas namoradas antes. Não por ele chamar sua amiga, Nakagame – eles tinham boa sintonia, afinal. Mas, com aquilo, Midoriya percebeu que era inevitável que ele também fosse envolvido nessa coisa de chamar alguma garota para sair. Fazia parte do crescimento que todos passavam.

“Ele apenas criou coragem e a chamou, foi basicamente isso”, Makabe riu. “Ele havia me avisado que ia fazer antes, então pude observar a reação dela. Droga, eu deveria ter filmado”.

“É tão simples assim?”, Kaminari disse, mas Midoriya não sabia se ele estava perguntando a Makabe ou a si mesmo.

“E vocês, planejam chamar alguém?”, Makabe disse. Ele observou que ao mesmo tempo os cinco pareceram ficar encabulados. Mesmo Todoroki, sempre tão composto. “Acho que isso responde. Vocês deveriam se apressar, talvez a garota que vocês gostam logo fique indisponível. Não deixem para a última hora, eu aconselho”.

Falar era fácil, porém. Midoriya não precisava pensar muito para concluir quem ele queria levar, mas como criar coragem? Como se aproximar? E se ela recusasse? E se a amizade fosse completamente destruída depois daquilo?

Maldita e estúpida festa, fazendo Midoriya ter que se preocupar com aquele tipo de coisa.

Após algum tempo, Kaminari anunciou sua intenção de convidar Jiro. Ele a convidou durante uma aula de química, na frente de toda a turma, depois de dissecar um sapo. Ganhou uma detenção do professor Ectoplasma (esse é seu apelido, embora ninguém soubesse a origem dele), mas ele disse que valeu a pena porque Jiro aceitou. A reação dos colegas de classe que foi engraçada e memorável. Começou quando Kirishima e Seto viram os dois de mãos dadas e brincaram dizendo como os meninos deles estavam crescidos. Mina Ashido fingia sempre surpresa quando via os dois, como se houvesse acabado de perceber que eles eram um casal. Hagakure sempre assobiava quando os dois passavam. E Kaminari, sempre tão confiante, ficava extremamente corado. Jiro, por sua vez, outrora tão tímida, parecia ligar muito menos. Era curioso como uma relação transformava as pessoas.

Depois, teve a questão da Kendo.

Itsuka Kendo era a presidente de classe da turma 1-B e uma pessoa extremamente divertida e simpática. De muitos modos, ela era quase uma irmã mais velha de todos. Tokoyami certa vez observou: “Se Iida age como um pai na nossa turma, Kendo certamente é a mãe da 1-B”.

“Ela está mais como uma irmã mais velha”, Asui discordou.

Acontece que mais de uma pessoa chamou Kendo para sair ao mesmo tempo. Tetsutetsu, Monoma, Tsubara e Fukidashi. Aparentemente, tudo se iniciou com uma discussão entre os quatro, quando Tetsutetsu disse que iria convidar Kendo para o baile. Monoma debochou e avisou que Kendo iria com ninguém menos do que ele. De algum modo, Tsubara e Fukidashi foram envolvidos depois.

“Você tem que decidir qual de nós você quer ir junto, Kendo”, afirmou Tsubara.

“Tente não ser cruel com os outros três quando você disser que vai comigo”, Monomo falou arrogantemente.

“Monoma, eu vou quebrar o seu nariz, seu maldito”, Tetsutetsu esbravejou.

“Ciúmes não é saudável, Tetsutetsu”, Monoma retorquiu.

“Deixem de palhaçada, idiotas”, Manga Fukidashi interrompeu. “Kendo ainda nem respondeu que vai comigo, né?”

“Na verdade”, ela deu um sorriso desconfortável, “eu não vou com nenhum de vocês. Eu fico lisonjeada, mas vocês não têm nenhum tato, nenhuma noção de como falar com uma garota? Quer dizer, chamar alguém para sair aos berros, enquanto briga com outros três garotos? Não é exatamente como eu imaginei que meu par fosse me chamar”.

A lição que Midoriya retirou daquela história era que havia um jeito certo de chamar uma garota para sair, então. Nem todos poderiam ser como Shindo, portanto.

Midoriya ficou criando cenários na sua cabeça, tentando decidir qual seria a melhor forma de convidar alguém. Mesmo em sua imaginação, porém, as coisas davam errado.

.

Lentamente, outros pares começaram a ser formados. Uraraka havia lhe contado como Hagakure estava sorridente por Ojiro ter a convidado. Midoriya ficou feliz pelos amigos, mas sentiu uma pressão absurda em seu peito, como se ele estivesse estragando tudo de algum modo. Depois, Midoriya descobriu que Ibara Shiozaki e Juzo Honenuki haviam concordado em ir juntos. Midoriya não os conhecia tão bem, mas sabia que os dois eram pessoas anormalmente sérias para adolescente e, que de algum modo, formavam um casal bacana.

Todos foram surpreendidos quando Tokoyami convidou Asui. E mais surpreendidos foram quando Asui aceitou.

“Tokoyami, eu achava que você não gostava dessas coisas festivas”, Uraraka brincou.

“De fato, eu não sou o tipo de pessoa que geralmente se pensa em um ambiente como uma festa escolar, mas decidi que quero aproveitar do melhor modo possível e não apenas fazer o que se espera de mim. E o que eu queria era ir para a festa com Tsuyu e ela foi gentil suficiente para aceitar este que vos fala como companhia”.

Ambos Midoriya e Uraraka perceberam que Asui corou ligeiramente. Quem não a conhecia, certamente não perceberia, mas mesmo a tão séria amiga era capaz de se sentir tímida com aquele tipo de coisa.

“Bem, parabéns para vocês dois, Tokoyami e Asui”, Midoriya disse.

“Obrigado, Midoriya. Mas me chame de Tsuyu”.

Kirishima convidou Ashido um pouco depois. Midoriya então soube que todas as meninas da classe 1-B já tinham um par, até mesmo Kendo: ela acabou aceitando ir com Yosetsu Awase no final das contas. A tímida Yui Kodai aceitou o convite de Togaru Kamakiri, um rapaz com um jeito levemente rebelde. Sen Kaibara foi quem se tornou o par da aluna estrangeira Pony Tsunotori. Setsuna Tokage acabou ficando com Monoma, e de algum modo os dois combinavam bem. Reiko Yanagi aceitou o convite de Hiryu Rin, enquanto Kinoko Komori se tornou o par do tímido Kojiro Bondo.

Faltando um mês para a festa, Todoroki revelou para Midoriya e Iida que iria chamar Yaoyorozu para o baile. Era estranho ver o amigo se importando com aquele tipo de coisa. Geralmente Todoroki era tão focado nos estudos que ignorava todo o resto. Midoriya se lembrava de ouvir Mina Ashido dizendo que ele poderia ter sucesso entre as garotas se ao menos tentasse.

“Eu acho uma excelente ideia, Todoroki”, Iida falou solenemente. “E acho que Yaoyorozu definitivamente vai aceitar seu convite”.

“Obrigado, Iida”.

“E se ela não aceitar?”, Midoriya perguntou antes que ele pudesse se conter.

“Você acha que ela vai recusar Todoroki?”, Iida pareceu surpreso.

“Eu... Eu não sei”, Midoriya disse, sentindo-se estranhamente aflito. “Vocês são amigos, não são? E se ela só te ver como um amigo? Você não tem medo disso? Todoroki, você pode acabar perdendo a amizade dela, não acha?”

Todoroki fitou Midoriya por alguns instantes e disse em tom surpreendentemente compreensivo: “Vale a pena arriscar”.

“Por quê?”

“Porque eu não quero ser só amigo dela”, Todoroki admitiu. “Vale a pena porque eu não quero viver com o peso de... De nunca ter tentado, Midoriya”.

Midoriya ficou sem palavras por alguns instantes, completamente envolvido pela lógica do amigo. Iida, porém, prosseguiu. “E como você vai convidá-la?”

“Eu acho que vou chama-la para conversar depois da aula do professor Aizawa. Eu odeio admitir, mas eu meio que tenho um discurso pronto”.

“Ao menos não faça na frente de todo mundo, como Mineta fez”, Iida disse.

“Você realmente está me comparando com Mineta?”

Iida riu. “Não, não... É que eu ouvi Tsuyu dizendo isso a Uraraka. O pior modo de convidar uma garota para sair, segundo Tsuyu, é a pressionando como se você deixasse que o ‘sim’ fosse a única resposta possível. Foi onde Mineta errou e onde o pessoal da 1-B meteu os pés pelas mãos com Kendo, ela garante”.

“Eu pensei nisso, na verdade”.

“O que você vai dizer, exatamente?”, Iida perguntou.

“Querendo algumas dicas, não é?”, Todoroki se permitiu sorrir ligeiramente. “Bem, eu vou falar para ela como gosto da companhia dela e que, se ela quisesse, eu gostaria de aproveitar a companhia dela durante a festa também. Basicamente”.

“Um bom discurso”, Iida colocou a mão no queixo, pensativamente. “Posso, hã, pegar algumas partes emprestadas?”

“Então você tem alguém em mente para convidar?”

“Sim”, Iida admitiu. “Talvez isso venha a surpreender vocês dois, mas eu queria convidar... Mei Hatsume”.

“Hatsume?”, Todoroki perguntou, confuso.

“Hatsume!”,Midoriya exclamou, admirado.

“Hatsume”, confirmou Iida, absoluto.

Midoriya, que estava se sentido péssimo naquela conversa inteira, deixou seus sentimentos de lado para saber mais do amigo: “Como você... Como você... Hatsume?”

“Eu admito que eu não gostava muito dela no começo”, Iida disse. “De fato, acho que ela sequer se importava muito comigo também. Até que eu precisei de ajuda com aquele projeto de ciências e ela foi quem me ajudou e... Desde então eu percebi que gosto dela. Eu acho”.

“Quem é Hatsume?”, Todoroki indagou.

“Aquela garota de cabelo rosa e jeito meio... Excêntrico”, Midoriya explicou. “Uau, Iida. Boa sorte, cara!”.

“Agradeço, Midoriya. Mas e você?”

Midoriya se sentiu subitamente nervoso. Ele sabia que a conversa chegaria naquele instante, mas ele realmente não estava preparado. “Eu?”

“É, você. Quem você planeja convidar?”

 “Eu, hã...”, Midoriya gaguejou. “Tem uma garota, mas... Eu não sei... como”.

“Seria a Uraraka, por acaso?”, Todoroki perguntou.

O queixo de Midoriya caiu. “Como você sabe?”

“Eu usei minhas excelentes técnicas de observação. Além disso, eu não sou um idiota. Qualquer um com olhos consegue perceber que você gosta dela”.

“Eu... Eu... Eu...”, Midoriya olhou para Iida, como se procurasse algum tipo de ajuda.

“Não olhe para mim”, Iida disse. “Todoroki está certo, embora ele tenha colocado de forma mais dura do que eu teria dito. Você gosta da Uraraka, não gosta?”

“Eu... Eu gosto”, Midoriya disse e ele sentiu um alívio, como se tivesse respirado depois de alguns minutos sem ar. “Eu gosto dela. Mais do que como amigo, quero dizer”.

“Eu sei”, Todoroki disse. “Você deveria dizer isso para ela, porém”.

“Eu não sei como, Todoroki. Eu não sei como. E se eu arruinar tudo? Eu sou um covarde, no final das contas”.

“Você não é covarde, Midoriya, na verdade você é uma das pessoas mais corajosas que eu já conheci. Você é apenas humano”, Todoroki disse. “Sentir incerteza é normal. Mas eu não ficaria tão nervoso se fosse você”.

“Por quê?”

“Ela gosta de você também, cara”.

Pela segunda vez naquela conversa, o queixo de Midoriya caiu. Ele olhou para Iida, quase involuntariamente. “Eu também acho”, ele confirmou.

Midoriya demorou alguns segundos para recuperar as palavras. “E se vocês estiverem errados?”

“Então, paciência”, Todoroki deu com os ombros. “Mas, diga-me, você está feliz com sua situação com ela? Você está feliz sendo apenas amigo dela?”

“Não”, Midoriya teve que admitir.

“Então é isso”.

“Além disso”, Iida se intrometeu, “eu tenho bastante confiança que ela realmente gosta de você”.

“Como alguém gostaria de mim, Iida?”, Midoriya disse automaticamente. Era algo que ele não sabia que estava dentro dele, mas que no momento que ele disse, Midoriya percebeu que era a verdade absoluta. Nenhuma garota iria gostar dele. Especialmente alguém como Uraraka. Ele deveria se dar como satisfeito por ser amigo dela, aquilo era o máximo que ele poderia sonhar.

“Midoriya, não se venda tão barato”, Iida afirmou, com um tom entre o compreensivo e triste. “Várias garotas gostam de vocês. Além de Uraraka, eu digo”.

“Quem?”

“Himiko Toga, por exemplo. E ela é bonita e popular, embora seja literalmente maluca”, Iida falou calmamente.

“Camie”, Todoroki disse em seguida. “Ela também é um tanto maluca, mas é outra que gosta de você”.

“Ótimo, duas loucas”, Midoriya resmungou, lutando contra a vontade de sorrir.

“Bem, Mei Hatsume disse que estava interessada em você quando te conheceu, mas ela achou que você namorava Uraraka e deixou para lá”, Iida disse. “É sério, não estou inventando”.

Ok, Midoriya teve que sorrir antes de brincar. “Agora são três loucas”, disse. Iida deu um empurrão brincalhão no amigo.

“Eu acidentalmente ouvi Tsuyu falando uma vez com Ashido e Jiro sobre isso”, Todoroki prosseguiu. “Elas me fizeram prometer que eu jamais diria isso para ninguém, especialmente para você, mas dadas as circunstâncias... Tsuyu apontou que você era certamente o que elas se referiram como material para ser namorado. Ashido e Jiro concordaram”.

“Ok, ok”, Midoriya concedeu. “Mas isso não significa que Uraraka goste de mim desse jeito”.

“Talvez não, mas significa que não é uma possibilidade tão absurda”, Todoroki disse e Iida balançou a cabeça afirmativamente. Depois, ele seguiu: “Mas eu me apressaria, se fosse você. Uraraka é uma menina, ahem, atraente. Você deveria convidá-la antes que alguém a chamasse e ela desista de te esperar”.

.

Midoriya finalmente decidiu que convidaria, sim, Uraraka. Especialmente depois que Iida e Todoroki tiveram sucesso com Hatsume e Yaoyorozu. O problema era a situação. Midoriya queria que tudo estivesse perfeito, para não dar chance para o azar.

Midoriya poderia tê-la convidado quando iam juntos para casa, mas Midoriya nunca encontrava as palavras ou o clima ideal. Ele iniciava a conversa, mas gaguejava e desistia, mudando de assunto rapidamente. Na escola, ele gostaria de poder falar com ela sozinho, mas era raro que os dois estivessem sozinhos e faltava a Midoriya a coragem de chama-la para conversar em particular.

E assim o tempo foi passando.

Midoriya sentia que a cada segundo que ele não convidasse Uraraka para a festa, sua missão ficava exponencialmente mais difícil. Ele tentou fazer a única coisa que sabia fazer: observar quem poderia lhe ensinar algo. Observou Kaminari, Shindo e Kirishima. E mesmo Bakugo, um notório mulherengo no antigo colégio de Midoriya, onde os dois estudaram juntos até entrarem na Yuuei.

Mas não conseguia agir.

Pediu ajuda a Mirio Togata, um dos veteranos que Midoriya geralmente procurava em busca de auxílio. “Izuku”, ele disse, “fale com seu coração e isso será o suficiente”.

Ok, foi poético o bastante, mas em nada ajudou. Seu coração, Midoriya concluiu, não sabia formar as palavras mais exatas para convidar a garota mais incrível que ele já havia conhecido para ser sua namo... Par.

Midoriya decidiu recorrer para sua cartada final. All Might, seu professor favorito. O professor Toshinori Yagi era um dos professores mais populares de toda a escola – e também um dos mais sábios. Midoriya o considerava um verdadeiro amigo. Não apenas como um aluno normal considera um professor, mas um amigo de verdade. Como Iida, Todoroki e, bem, Uraraka, enquanto ele não criasse coragem com ela.

“Jovem Midoriya, algum problema?”, ele perguntou quando o aluno entrou na sua sala, timidamente.

“Na verdade, sim”.

“Sente-se. Diga-me, o que lhe aflige?”

“Você sabe como o baile de final de ano será daqui duas semanas, não sabe?”

“Oho, então é um problema com garotas, não é?”, All Might sorriu. “Ah, a adolescência. Que fase, que fase”.

“Bem, é sim. Uma garota, especificamente”.

“Ochako Uraraka, não é?”

“Como você sabe?”, Midoriya perguntou, chocado.

“Adolescentes não são exatamente sutis, garoto. Para ser franco, nós sabemos exatamente quem gosta de quem neste colégio inteiro”, All Might mantinha seu sorriso largo. “Além disso, de todo mundo, você e a jovem Uraraka foram um dos mais evidentes, sim”.

“Eu...”, Midoriya ficou sem palavras. Para ser franco, ele estava cansado daquilo, de não ter palavras, de não saber o que fazer.

“Escute, jovem Midoriya. Você é um bom rapaz e sei que Uraraka também é. Para ser franco, eu não consigo imaginar um casal que combina mais do que vocês dois nesta escola inteira, com exceção do seu professor Aizawa e a professora Emi”. All Might deu uma grande gargalhada. “Não diga a ele que eu disse isso, porém”, ele adicionou rapidamente.

“E-eu não vou dizer nada”, o garoto jurou.

“Enfim, se lhe falta confiança, nada tema. Qualquer garota deveria se sentir honrada por alguém como você gostar dela, e sei que Uraraka se sentirá assim. E vice-versa: ela também é espetacular. Você precisa apenas colocar para for o que sente e você vai se sentir chocado do quão fácil as coisas vão ficar depois disse. Confie em mim, jovem Midoriya”.

E em All Might Midoriya confiava.

Com o peso daquelas palavras, Midoriya andou... Não, marchou em direção a Uraraka. Ela estava no refeitório, conversando com Tsuyu e Hagakure. Por um instante, Midoriya se sentiu envolvido pela beleza dela. Não só a beleza física, mas sua personalidade também. Uraraka era o tipo de pessoa cujo sorriso contagiava todos ao redor. Ela deixava qualquer ambiente mais feliz, mais belo. No fundo, no fundo, Midoriya sabia disso desde o primeiro instante que a viu, lá no primeiro dia de aula. Já naquele tempo, ele estava apaixonado. Midoriya, enquanto dava seus últimos passos para chegar até ela, ligeiramente se perguntava por que demorou tanto para dizer alguma coisa. Midoriya abriu a boca para chamá-la.

“Ei, cara de anjo, você quer ir na festa comigo?”, Bakugo falou em voz alta.

Midoriya congelou.

Ele se lembrou de quando era criança. De como apanhou para Bakugo, de como foi zoado e humilhado por aquele rapaz, que de algum modo Midoriya ainda considerava seu primeiro amigo. Todas aquelas memórias, todo aquele sentimento de inferioridade e incapacidade, tudo aquilo. Tudo voltou em um único instante.

Midoriya subitamente se lembrou do quão patético ele era.

Midoriya quase tropeçou ao se virar, de tão depressa que queria sair por ali. Ele tentou não correr enquanto saía dali, daquele inferno. Tentou não chorar. Para ser honesto, ele não conseguia discernir se estava tendo sucesso ou não. Esbarrou em Kendo e Awase no caminho e uma parte feia de sua alma se sentiu enojada pelo casal. Não pediu desculpas, sequer ouviu o que eles disseram.

“Midoriya!”, alguém chamou. Kirishima?

Quando Midoriya saiu do refeitório, ele correu. Deu por si chegando em casa, ignorando as perguntas de sua mãe e se trancando no seu quarto. Ele não pegou sua mochila, seu material, nada. Um canto de sua mente, sempre diligente, notou que ele estava tecnicamente matando aula, o que lhe renderia uma suspensão. Ele não se importava, porém.

Midoriya se surpreendeu quando notou que não havia chorado ainda. Pensou então em Kacchan. Até naquilo ele iria perder? Até com a Uraraka? Algumas pessoas, Midoriya pensou, nasceram para serem fracassadas. Midoriya era um conto de cautela. “Não nasça assim, pessoal. Não nasça como um maldito perdedor, igual o Midoriya. Nasça como Kacchan. Seja Kacchan, não seja Midoriya”.

Midoriya tentou fechar os olhos, enfurecido com a injustiça do mundo. Uma imagem terrível preencheu sua mente. Uraraka aceitando o convite de Kacchan. E então, ela se inclina em direção a ele e...

Midoriya finalmente chorou.

.

Inko estava quase morrendo de preocupação. Com Hisashi trabalhando no exterior, ela tinha que lidar com aquele tipo de situação sozinha. Seu filho não estava comendo direito e estava se recusando a ir para escola. Izuku estava se recusando a falar com ela, tanto sobre seja lá qual fosse o problema como quanto qualquer coisa. Ele mal saía do quarto.

Inko ligou para a escola, mas o diretor Nedzu não soube lhe informar se havia acontecido algo com seu filho. Às vezes, Inko temia, seu filho parecia invisível para o resto do mundo – e aquilo a matava por dentro. Ela decidiu fazer algo que jurou nunca fazer antes, mesmo sendo uma mãe super protetora: espiar o celular dele.

Havia diversas mensagens que seu filho não havia lido. Aquilo surpreendeu Inko mais do que ela gostaria. Alguém além dela se importava com Izuku. Mas também encheu seu coração de felicidade, mesmo naquela situação.

Diversos amigos perguntavam por Izuku. Kirishima, Kaminari, Asui, Ojiro, Tokoyami, Shouji... Muitos se importavam com o filho dela. O que aconteceu, alguns perguntaram. Você está doente? Midoriya, você quer falar sobre alguma coisa? Midoriya, por favor, responda as mensagens. Midoriya, Midoriya, Midoriya?

Inko conhecia alguns apenas pelo nome, outros ela conseguia ligar o nome ao rosto. Os três mais insistentes, porém, Inko conhecia muito bem. Tenya Iida, Shouto Todoroki e Ochako Uraraka. Ela se lembrava de quando os três foram fazer um trabalho de escola junto com Izuku. Iida era um rapaz diligente e extremamente educado. Inko sabia que, enquanto Izuku estivesse com ele, seu filho não faria nada de errado. Shouto Todoroki parecia ser mais fechado e tímido, com um ar levemente melancólico. Já Ochako Uraraka parecia ser tímida, mas era extremamente encantadora. Inko ficou satisfeita que aqueles três realmente se preocupassem com seu filho.

Decidiu ligar primeiro para Iida.

“MIDORIYA!?”, uma voz chocada no outro lado da linha gritou. “VOCÊ ESTÁ BEM? EU ESTOU MORRENDO DE PREOCUPAÇÃO, TODO MUNDO ESTÁ, NINGUÉM SABE EXATAMENTE O QUE DEU EM VOCÊ...”

“Iida?”, ela disse timidamente. “Aqui é Inko, mãe do Izuku”.

“Senhora Midoriya?”, ele se acalmou. “Eu, hã... Como está o Midoriya? Erm, seu filho?”

“Eu não sei. Ele parece chateado, não quer falar comigo e se recusa a ir para escola. E não está comendo direito”, Inko sentiu as lágrimas se formando. “Ele simplesmente chegou aqui, no meio do horário escolar sem mochila e se trancou no quarto. V-você sabe o que aconteceu com meu filho, Iida?”

“N-não”, ele falou timidamente. “O material dele está comigo, senhora Midoriya. Mas eu não estava na hora... Eu só soube depois”.

“Soube do que?”

“O Midoriya simplesmente saiu correndo da escola, aparentemente. Eu ouvi um monte de histórias, mas eu queria saber o que aconteceu por ele, mas ele não vem respondendo minhas mensagens. E nem de ninguém”.

“Que história você ouviu?”

“E-eu n-não s-sei”, Iida falou nervosamente.

“Tenya Iida, por favor, se você sabe de algo que possa ajudar meu filho, por favor, me diga”.

“E-eu...”, ele ficou em silêncio por alguns instantes, “Ok. Eu não estava lá, mas Todoroki estava. O Midoriya deve ter o telefone dele, mas se a senhora quiser, eu posso passar e...”

“Todoroki? Tem certeza?”

“T-tenho”.

“Então eu vou falar com ele”, Inko disse e desligou, um pouco frustrada com a pouca ajuda que Iida lhe deu.

“Alô?”, disse uma voz feminina quando ela ligou para a casa do rapaz Todoroki.

“Boa tarde, eu poderia falar com Todoroki. Aqui é mãe do Izuku”.

“Qual Todoroki?”

“Hã, Shouto?”

“Só um momento”.

Depois de alguns instante, uma voz pacata surgiu no telefone. “Alô”.

“Todoroki, aqui é mãe do Izuku...”

“Izuku...? Oh, Midoriya? Ele está bem?”

“Não”, ela disse, e explicou a mesma coisa que havia explicado para Iida, praticamente implorando para que o rapaz lhe oferecesse alguma informação. “Você sabe exatamente o que aconteceu?”

“Não”, ele disse, e o coração de Inko afundou. “Mas eu vi bastante coisa e tenho uma ideia”.

“Certo”, Inko disse impacientemente.

“Ele estava perto de Bakugo na hora. Eu não sei se você sabe, mas os dois possuem uma relação muito ruim. Bakugo... Bem, ele é uma pessoa difícil, mas ele é especialmente difícil com Midoriya”.

“Bakugo?”, Inko estava surpresa. No entendimento dela, os dois eram amigos de infância. O que mais ela não sabia sobre seu próprio filho? “M-mas o que Bakugo poderia ter dito para deixar meu filho assim? O que ele poderia ter feito?”

“Quem também estava perto na hora era Uraraka”. Todoroki hesitou bastante antes de prosseguir: “Talvez tenha algo a ver com ela”.

Inko decidiu ligar para Bakugo na sequência.

“Inko?”, a mãe do rapaz disse ao atender. “Tudo bem?”

“Mitsuki, eu preciso falar com Katsuki. É sobre meu filho”.

“Sobre Izuku? Katsuki não fez alguma coisa, fez?”

“Eu sinceramente não sei”, Inko disse, exausta.

“Ok, Inko, vou chamar o pestinha”. Então, Inko pode a ouvir gritando: “KATSUKI BAKUGOU! TRAGA SUA BUNDA PREGUIÇOSA ATÉ AQUI!”

“O QUE FOI, MULHER?”, Inko ouviu e, apesar da situação, ela não pode deixar de se sentir completamente surpresa com a interação entre os dois.

“INKO MIDORIYA QUER FALAR COM VOCÊ. SOBRE O IZUKU?”

“A MÃE DO DEKU? O QUE ELA QUER?”

“VEM AQUI DESCOBRIR, SEU ANIMAL. E EU JURO POR DEUS, SE VOCÊ FEZ ALGUMA MERDA, EU VOU VIRAR SUA CARA DO AVESSO”.

“EU NÃO FIZ NADA DEMAIS, PARA DE SER MALUCA”, ele berrou. “Alô?”, ele disse, subitamente calmo e educado.

Inko então explicou rapidamente o que havia descoberto com Iida e Todoroki e perguntou a Katsuki, sem esconder a raiva em sua voz: “O que aconteceu?”

Katsuki ficou em silêncio por um longo tempo antes de falar. “Ochako Uraraka. Você deveria falar com ela”.

“Vocês vão ficar me empurrando até quando de um para o outro?”, Inko explodiu. “Desembucha, moleque”.

“Eu, hã...”, Katsuki pareceu surpreso. “Ok. Deku... Quer dizer, Midoriya gosta dessa garota, Uraraka. Eles sempre andam juntos, qualquer idiota consegue perceber. Enfim, tem essa festa no final do ano e, bem, eu decidi chamá-la para ir comigo e o Deku... Digo, Midoriya, acabou ouvindo e acho que ficou um pouco abalado”.

Algo na presunção da voz dele fez Inko se enfurecer. Pela primeira vez na vida, ela teve vontade de agredir alguém. E esse alguém era uma criança. “E você não fez isso para irritar meu Izuku? Pois saiba que eu sei como você tem agido com ele. Talvez eu devesse falar com sua mãe sobre isso”.

“O Deku aguenta!”, Katsuki protestou. “Além disso, o idiota está agindo como uma rainha do drama atoa. Ela nem se deu o trabalho de me responder, ela estava apenas com os olhos focados no Deku! Além disso, ela está preocupada! Se ele se desse ao trabalho de respondê-la, ele saberia disso tudo. Não é minha culpa!”

Inko ponderou suas opções por alguns instantes. “Ok, Katsuki. Obrigado por ser tão honesto. Mas saiba que se eu souber que você anda mexendo com meu filho novamente...”

“Você vai me cagoetar para minha mãe?”, ele perguntou baixinho, mas com bastante atrevimento em sua voz.

“Não”, Inko sorriu maldosamente. “Mas eu tenho uma foto de você quando era criança, sabia? Na banheira? Você devia ter uns quatro ou cinco anos. Seria uma pena se isso chegasse até seus colegas de escola. Imagina, eu posso acidentalmente imprimir mil panfletos e espalhar na sua escola. Seria terrível, não?”

Katsuki ficou em silêncio por alguns instantes. “Você faria isso mesmo, senhora Midoriya?”

“Pelo meu filho, eu faria muito pior. Entendido?”

“Entendido”, ele respondeu, desligando o telefone. Inko se surpreendeu consigo mesma. Por um instante, ela precisou parar, respirar e organizar seus pensamentos.

“Uraraka. Preciso ligar para Uraraka”, Inko disse, decidida. Ela ia resolver a situação de seu filho, mesmo se Izuku não quisesse.

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Midoriya não sabia exatamente quanto tempo havia se passado. Quando se entrava numa espiral de pensamentos ruins, perdia-se a noção de tempo. Em alguns momentos, todo o seu ódio era direcionado a Kacchan. Havia algum ser mais filho da puta que Kacchan na Terra? Midoriya sinceramente acreditava que não. Kacchan era o demônio. Kacchan era o anticristo. Kacchan foi a pior coisa que havia acontecido desde, sei lá, a bomba atômica.

Algumas pouquíssimas vezes – e Midoriya se envergonhava disso – seu ódio era direcionado a Uraraka. Como ela pode? Kacchan, de todas as pessoas no mundo? Talvez ela devesse namorar Shigaraki também, e depois ir dançar no túmulo de Midoriya. No fundo, no fundo, Midoriya sabia que não podia culpá-la. Ela não tinha obrigação de gostar dele e desgostar do Kacchan. Porém... Midoriya não podia mentir que às vezes sentia que, sim, ela tinha essa obrigação. Eram pensamentos passageiros e feios, mas Midoriya simplesmente não podia mentir para si mesmo e dizer que eles não passaram na sua cabeça.

Porém, se o ódio contra Kacchan era constante e contra Uraraka era raro... A maior vítima de seu ódio era ele mesmo. Um maldito idiota, que veio ao mundo apenas para atrasar todos em sua volta. Midoriya pensava nas palavras de Iida, Todoroki e All Might, dizendo que Uraraka gostava dele, sim. Foi algum tipo de piada cruel dos dois? Uma pegadinha que todos estavam cientes, exceto ele? Certamente, Midoriya caiu facilmente. Ele era um idiota, afinal.

Mas às vezes, Midoriya acreditava na palavra dos três. E chegava na conclusão: “Eu esperei tempo demais. Eu deveria ter falado algo. Antes”. E então, se perguntava porque Uraraka não o esperou mais um pouquinho. “Porque ela não ia te esperar para sempre, seu idiota do caralho. Você chegou atrasado, você chegou atrasado. A culpa é sua, sua, SUA!”. O problema é que Midoriya achava que não havia um tempo limite. Preocupou-se demais com o quando e onde, e pouco com o quando. Ele errou ao não perceber qual era o jogo.

“Eu não sabia que era uma corrida”, disse baixinho, para as paredes.

Algum tempo depois (quanto?), sua mãe bateu na sua porta. Midoriya não fez sequer o esforço de perguntar o que ela queria. “Midoriya”, ele a ouviu dizer. “Eu pedi para seu colega vir aqui mais tarde trazer seu material e te passar os deveres que você perdeu. Você deveria ao menos se arrumar, lavar o rosto, tomar um banho. Não acha?”

Sua mãe tinha vergonha de sua forma patética. É claro.

“Izuku”, ela disse ligeiramente mais firme, “se você não vir pegar seu dever, eu mesma vou te arrastar para escola amanhã em vez de ser tão compreensiva, entendeu?”

Midoriya se surpreendeu com as palavras da sua mãe e o choque delas o fez acordar um pouco de seu estupor. “É só isso que importa, né? Meu dever...”, ele resmungou.

Midoriya se viu tomando um banho e se arrumando para ficar minimamente apresentável. Até aceitou comer alguns biscoitos que sua mãe havia feito, finalmente sendo vencido pela fome. Aguardou na sala enquanto Iida não chegava com sua mochila e seus deveres. Perguntou-se se o amigo iria querer saber o que aconteceu. Midoriya não aguentaria falar no nome de Uraraka sem entrar num patético estado digno de pena. A verdade é que Midoriya a amava. E ele estragou tudo. Mas não conseguiria admitir isso para ninguém no mundo. Ele simplesmente não era forte o suficiente.

A campainha tocou, alarmando ambos Midoriya e sua mãe. “Filho, eu vou ter que sair um pouco, então vou deixar vocês dois a vontade. Comportem-se, viu?”, ela disse. Sua mãe tinha um estranhíssimo olhar ao se aproximar da porta. Ela sorria e Midoriya entrou em pânico por um segundo. Até sua mãe estava rindo dele?

Então, a porta se abriu e por ela entrou Ochako Uraraka.

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Alguns momentos parecem que duram uma eternidade. O tempo era realmente relativo, Midoriya percebeu. Nos poucos segundos em que Uraraka levou para entrar em seu apartamento e sua mãe sair, milhões de pensamentos passaram na cabeça dele. Midoriya chegou a considerar fugir pela janela. Trancar-se no quarto. Esconder-se embaixo do sofá. Ficar completamente parado, na esperança que ela não tivesse lhe avistado.

“Deku?”, ela chamou, com preocupação em sua voz. “Como você está?”

“B-bem”.

Ela se sentou na mesa, de frente para ele. “Eu trouxe sua mochila”, ela disse timidamente.

“Obrigado”, ele disse lentamente. Ele pegou a mochila e jogou em direção ao sofá. A mochila quicou na almofada e caiu no chão. Uraraka, porém, não tirou os olhos dele.

“O que aconteceu?”

“Quando?”

“Quando você correu da escola. O que aconteceu?”

“E-eu...”, Midoriya tentou pensar numa desculpa. Tudo menos a verdade. “Eu passei mal. Hã, enjoo. Náusea. Mal estar. É, passei mal”.

“Por que você não respondeu minhas mensagens? Ou as mensagens de Iida? De Todoroki? Mineta? Kirishima? Tsuyu? Kaminari? Todo mundo? Por que você não me respondeu? Por que você não respondeu todo mundo?”

“E-eu estava doente”, ele disse, sentindo-se subitamente envergonhado. “Eu nem sabia que vocês falaram algo comigo”.

“A senhora Midoriya disse que nem com ela você tem falado”.

“Como eu disse, eu estou passando mal”.

“Passando mal, né? Você está melhor, agora?”

“M-mais ou menos”.

“Então você vai ao colégio amanhã?”

“Não sei”.

Uraraka o fitou por um instante. Em seu olhar, uma variedade de sentimentos. Preocupação. Pena. Raiva. Tristeza. “Deku, você não acha que eu mereço a verdade?”

Midoriya gaguejou incoerências por um instante. “Que verdade?”, ele finalmente conseguiu dizer.

“Eu sei que você não estava doente”, ela franziu as sobrancelhas. “O que você tinha?”

“Eu já disse. Náusea. Enjoo. Etc”, ele disse, sem se lembrar de quais outros sintomas havia inventado.

“Então é isso? Você ficou doente e perdeu dois dias e meio de aula?”, ela disse, subindo ligeiramente a voz. “Eu não acredito”.

“Mas é a verdade, Ura... Uraraka”, falou aumentando a voz. Até dizer o nome dela era doloroso.

“Não é a verdade! Vamos lá, eu mereço saber a verdade. Eu, de todas as pessoas, Deku”.

“Eu estou dizendo a verdade!”

“Diga”.

“N-não”.

“Diga!”

“Não!”

“DIGA!”

“NÃO, DROGA”, ele berrou, irritado. “Eu já disse a maldita verdade. E-eu passei mal e... Fui embora”.

“Eu não acredito que você vai continuar mentindo”, Uraraka falou controladamente.

“Eu...”

“Você vai mentir para sua mãe?”

“Eu...”

“Para seus amigos?”

“Eu...”

“Para seus professores?”

“Eu...”

“Para mim...?”, Midoriya percebeu então que ela estava chorando. E então percebeu que haviam lágrimas em seus olhos também. E então, tudo que ele passou por causa daquele estúpido baile veio até sua cabeça. Tudo. E, fatalmente, ele não foi mais capaz de resistir.

“OK, EU DIGO”, Midoriya quase cuspiu as palavras. “EU TE AMO, OK? NÃO COMO AMIGO, NÃO COMO COLEGA! E-EU AMO VOCÊ. EU. AMO. VOCÊ. MAS EU CHEGUEI TARDE DEMAIS, KACCHAN...”, a dor em seu coração foi tão grande que Midoriya fechou os olhos antes de prosseguir. “DE TODAS AS PESSOAS DO MUNDO, VER VOCÊ COM O KACCHAN! EU NÃO POSSO VER! ATÉ ESSE MALDITO BAILE PASSAR, EU NÃO CONSIGO COLOCAR OS PÉS NA ESCOLA!”

Uraraka ficou em silêncio por alguns segundos. Midoriya seguiu com os olhos fechados. “Deku, abra os olhos”, ela disse calmamente. Ele obedeceu. Ela estava muito mais perto agora e o coração de Midoriya disparou. “O que te faz pensar que eu sairia com alguém como Bakugo?”

“E-eu...? Ele te chamou e...”, Midoriya parou por um instante. Espera aí? Uraraka não havia dado sua resposta ainda, né? Uma pequena ponta de seu coração sentiu esperança. “V-você não vai à festa com Kacchan?”

“Não”, ela disse. “Nem com ele, nem com outra pessoa qualquer. Eu estava esperando alguém especial me chamar. Alguém que eu sei que é muito tímido, mas gentil”.

“Quem?”

“Você, bobinho”, ela sorriu. “Eu estava esperando você”.

Midoriya a abraçou rapidamente e começou a chorar de verdade. Ela também. Os dois ficaram assim por algum tempo, chorando e abraçados. “Uraraka, eu... Eu...”

“Desculpa”, ela disse.

“Pelo quê?”, ele perguntou, se afastando um pouco para olhar em seu rosto. Seus braços continuaram no ombro dela, porém.

“Por ter esperado. Olhando em retrospecto, eu deveria ter falado alguma coisa antes e...”

“Não”, Midoriya interrompeu. Lembrou-se da conversa que teve com o professor All Might e tentou emular aquela confiança que sentiu. “Eu que fui o idiota aqui. Fui eu quem ficou se acovardando e deixando para depois. Eu que tirei conclusões, erm, precipitadas. Desculpa. Quando se trata de Kacchan, eu...”

“O que foi?”

“Eu sempre perco para ele. Eu sei disso, ele sabe disso. As coisas melhoraram desde que entramos para Yuuei, mas quando ele te chamou para sair, eu senti... Todos aqueles sentimentos voltaram. Eu não consegui lidar”, Midoriya disse. Desviou o olhar de Uraraka: “Deus, eu sou patético”.

“Não”, Uraraka disse. Ela colocou as duas mãos no rosto de Midoriya, obrigando a olhar para ela. “Você está apenas exposto. Todo mundo tem seus problemas, suas fraquezas. Você ajudou Todoroki e Iida a encarar as deles, lembra? Todos eles têm, até mesmo Bakugo. Eu também. Você sabe que eu sou de uma família pobre, não sabe?”

Midoriya balançou a cabeça lentamente, confirmando.

“Eu s-sempre tenho medo que as pessoas caçoem de mim por isso”, ela disse e, pela primeira vez na sua vida, Midoriya contemplou que outras pessoas também tinham suas inseguranças. Não só ele. Até mesmo Uraraka. “N-não só isso. Eu não tenho vergonha dos meus pais, mas... Às vezes tenho medo que... As pessoas... E até você... Um dia achem que eu estou por perto... P-para ser uma a-aproveitadora”, ela disse. As lágrimas dela escorriam mais forte.

“Uraraka...”, Midoriya disse. Seu coração havia se partido. “Isso não é verdade, você sabe. Que alguém ache que você é...”, Midoriya nem sequer conseguia repetir o que ela havia dito. “Você é a pessoa mais genuína, honesta, gentil e caridosa que eu conheço”.

“O-obrigada”, ela conseguiu sorrir. “E ninguém acha que você é patético. Nem que você é inferior ao Bakugo. Para ser verdade, nem mesmo o próprio Bakugo acha isso. Os problemas que ele tem, que ele enxerga em si mesmo... Muito tem haver com você”.

Midoriya sorriu. “Obrigado”, ele disse.

Os dois se encararam por um instante. Havia tanta coisa ainda para ser dita... Mas a mente dos dois passou por um branco súbito. Midoriya então percebeu como os lábios de Uraraka eram atraentes. Sentiu-se tentado a beijá-la, mas antes se lembrou de como essa história toda havia começado.

“Uraraka”.

“Sim, Deku?”

“Você quer ir à festa de fim do ano comigo?”

Ela o observou por um instante e então abriu o mais belo sorriso, mesmo com os olhos vermelhos das lágrimas que os dois derramaram. “Eu adoraria, Deku”.

“E você quer namorar comigo?”, Midoriya perguntou, sentindo-se subitamente ousado.

“Quero”, ela não hesitou. Os dois aproximaram um pouco o rosto. “Deku?”

“Sim?”

“Eu te amo também”.

Eles finalmente se beijaram. Finalmente.

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No dia seguinte, Kirishima viu quando Uraraka e Midoriya chegaram de mãos dadas na escola. Não era necessário dizer mais nada além do sorriso de orelha a orelha que os dois vestiam. Kirishima conhecia os dois fazia pouco tempo, mas sentia que não havia casal mais perfeito.

“Hunf”, ouviu Bakugo resmugando. “Idiota”, ele disse, mas Kirishima poderia jurar que ele tinha um pequeno sorriso. Aproveitando que Sero e Kaminari foram em direção ao novíssimo casal, Kirishima aproveitou para falar com Bakugo.

“Com ciúmes?”

“De quem?”

“Midoriya e Uraraka. Você pediu para sair com Uraraka, não? E você não tem essa intensa rivalidade com o Midoriya? Você deve estar se sentindo muito mal com isso, não?”

Bakugo se virou para responder, mas então percebeu o sorriso malicioso de Kirishima. “Aonde você quer chegar?”

“Eu acho que você não queria ir à festa com Uraraka, queria?”

“Eu não sei do que caralhos você está falando, cagão”.

“E você quis dar um empurrãozinho no Midoriya, não é?”

“Cala a boca, seu animal”.

“Acontece que você acabou errando a mão, não foi? Mas, no fundo, você está feliz que tudo deu certo, não está?”

“Cala a boca!”, Bakugo falou raivosamente. Kirishima apenas o fitou, mantendo seu sorriso enigmático. “Se você disser alguma coisa dessas ao filho da puta do Deku, eu te quebro todos os seus dentes”.

“Pode deixar, Bakugo”, Kirishima disse tristemente. “Eu não direi ao Midoriya o que você tem de melhor”.


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Notas finais do capítulo

É isso. BTW, eu talvez venha fazer mais one-shots baseada nesse universo. Eu tenho uma ideia bacana de KiriBaku para essa história, mesmo com Kirishima indo para a festa com Mina.

Ainda, eu meio que estou traduzindo essa fic pro inglês, então se vocês virem isso no archiveofourown, já sabem que é meu.

Deixem um comentário se curtiram, eu particularmente estou bem orgulhosa dessa história.



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