Ao escutar a porta de seu quarto fechar Fernanda se permite gemer de dor, prometeu a si mesma que nunca ia dar-lhe o prazer de vela chorando, porém hoje ultrapassou seu limite, sente lágrimas brotarem em seus olhos, ele a machucou mais que o normal, tanto fisicamente quanto emocionalmente.

Fernanda olha para o lado e encara Sora que está alguns metros afastada, ao ver a expressão de horror mesclado com pena, lágrimas escorrem por seu rosto, ninguém nunca soube o que acontece com ela, mas hoje alguém viu o que ela vive diariamente.    

Sempre aguentou, sempre segurou as lágrimas, nunca deixou transparecer o medo e horror para ele, porém quando Sora apareceu ao seu lado o medo se apoderou de Fernanda. Não queria que ela a visse passando por isso, estava com vergonha de Sora.

E ele percebeu que Fernanda estava mais vulnerável que o normal e se aproveitou disso. Disse coisas horríveis sobre sua mãe, coisas que Fernanda tenta ao máximo acreditar que é não são reais. Ela sente algo escorrendo entre suas pernas e passa a mão, algo quente pegajoso, leva sua mão até seu campo de visão e vê sangue escorre por seus dedos.

Fernanda fixa seu olhar em uma das paredes do quarto na tentativa de evitar o olhar de Sora, mais lágrimas escorrerem pelo seu rosto.

“Eu só queria que isso acabasse... Eu queria poder escapar disso tudo... Eu queria morrer”

***

Sora olha horrorizada para toda a cena, não acredita que aquilo é real, não pode ser real. Sempre soube que isso existia, lia sobre isso, mas não entendia completamente, porém agora está vendo isso acontecer com Fernanda, está sentindo acontecer com ela.

O homem soca o rosto de Fernanda e solta uma risada cruel e pavorosa, aquilo o excita. Sora cai para trás com o tamanho da dor que sente em seu rosto, sabe que isso não aconteceu com ela, mas consegue sentir tudo o que Fernanda está sentindo, medo, dor, ódio, pavor.

Depois que o Homem sai do quarto Sora tenta sentir um alivio, porém uma sensação pior se apodera dela, uma sensação vazia, pior que o ódio e o medo. Sora entende o que Fernanda está pensando e estende a mão para ela.

“Você não está sozinha”

***

Fernanda olha para a Sora, sabe que ela não está presente ali, mas mesmo consegue sentir sua pele ao tocar sua mão, consegue sentir o calor de seu corpo, de imediato uma sensação boa e agradável toma conta de Fernanda e uma voz ressoa fracamente em sua cabeça “Você não está sozinha”.

“Eu não estou sozinha”