Entre feitiços, uma negra e um gordinho excitado escrita por Lucas Stumpf


Capítulo 5
O encantamento da língua d'ouro.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/742505/chapter/5

— Isso é coisa sua, não é, seu doente? - perguntou Madame Pomfrey a Lucas, assim que conseguiu estabilizar Igor e Ysadora nas camas. 

Alexia nunca havia visto um adulto de Hogwarts agir com tamanho desrespeito a um aluno, mas considerando o histórico de Lucas, fazia sentido. 

Igor e Ysa estavam adormecidos um ao lado do outro, rodeados pelos amigos, Madame Pomfrey, e professor Flitwick, que recebera alta naquele dia e quisera ver o que estava acontecendo. 

— Com certeza foi. - disse Flitwick, os olhinhos de azeitona fustigando Lucas com a fúria contida de alguém que não pode libera-la por motivos éticos. - A decisão do professor Dumbledore em mantê-lo nessa escola, é deveras questionável.

— Ei! - protestou Lucas, alternando o olhar entre o professor anão e a velha da enfermaria. - Fui eu quem resolveu o caso do Gabi, lembram-se? Eu salvei a escola.

— No final do ano! - respondeu Flitwick. - E ainda pretendia armar para cima de mim!

Alexia bem lembrava-se dessa história. Gabriel a fizera parecer um conto cômico, mas vendo o tom dos professores, talvez tivesse sido ainda pior. 

Lucas revirou os olhos.

— Isso tem importância? A questão é se esse esses colossos ficarão bem.

Pomfrey desviou o olhar para o casal acamado. Seu longo suspiro convencido já continha as respostas, mas ainda assim, ela acrescentou:

— Vão, sim, com certeza. Mas vão perder o primeiro dia de aula. - e soltou outro longo suspiro. - Não vejo um caso com Vomitilhas assim há anos. - E tornou a olhar para Lucas muito mais severa que antes, fazendo o pequeno vândalo dar um salto para trás. - O que foi que você colocou naquelas coisas?

— Ai, por que assumem logo que fui eu?!

— Porque você é mau caráter. - responderam Pedro, Gabriel e Alexia, em uníssono. 

— O dia em que eu precisar de apoio num tribunal, mando chamar vocês, hein. - comentou Lucas, enfiando as mãos nos bolsos. 

Flitwick aproximou-se de Igor, cujos roncos eram mais altos que os pássaros que cantavam no parapeito. 

— Pobre garoto. - comentou ele. - Provavelmente acordará faminto. Ele deve ter vomitado a comida de um ano inteiro!

— Olha, acho que dado os acontecimentos do ano passado, o senhor devia bem saber o que acontece com a comida depois de certo tempo... - disse Lucas, em tom inocente, mas foi censurado por Pedro, que estava ficando escarlate com a situação. 

O professor de Feitiços voltou sua atenção para Lucas, desta vez, com o peito enfunado e os olhos cheios de autoridade. 

— Escute aqui, seu moleque do dedo cheio de João...

— Como é que todo mundo já sabe disso? - interrompeu Lucas, indignado.

Não dando atenção para o vândalo, Flitwick continuou:

—... está na hora de alguém lhe ensinar bons modos. Já que claramente não recebe isso em casa, você precisa de uma autoridade forte na sua vida!

— Ótimo. - disse Lucas, agachando-se para ficar no nível de Flitwick. - Quando encontrar alguém, chame-o.

O professor ruborizou na hora. Ele puxou a varinha das vestes e apontou-a para Lucas.

— Ora, moleque mi...

Mas a frase foi interrompida.

Alexia sequer vira o que acontecera, pois o tempo de um piscar de olhos foi o suficiente para tudo ocorrer. Tudo o que viu fora Flitwick rodopiando no ar, embalado por um raio de vômito que irrompera de um inconsciente Igor.

— GELATINA EMANCIPADA! - berrou ele, as perninhas deploráveis se agitando no ar, sem rumo. 

— Aresto Momentum! - emanou Pomfrey, retardando a queda de Flitwick, e fazendo com que, pela primeira vez em um ano, ele saísse ileso após um choque desses.

— Oh, muito obrigado Papoula! - disse ele, levantando-se ofegante, a varinha junto ao peito que arfava.

— Não seja por isso. - e a enfermeira guardou a varinha nas vestes brancas. - Não aguento mais ter você aqui comigo. Você peida dormindo. Tive de fazer quinze desintoxicações desde que começou a ficar aqui. 

Alexia teve a impressão de que Flitwick tentara esconder o rosto nas vestes, mas não tinha certeza. 

— Bom, de qualquer forma - começou Pomfrey, enquanto, com um fugaz aceno de mão, fez os esfregões, esponjas e baldes da Ala Hospitalar limparem o vômito de Igor -, ele ficará bem. Acredito que já possam ir.

— Ué, a senhora não vai interrogar o Lucas sobre isso? - perguntou Pedro, que parecia levemente animado com a ideia.

— Não é para mim que ele deve satisfação. - retrucou Pomfrey, mirando Lucas por cima do ombro. - Mas com certeza a verdade virá à tona. 

Os amigos desciam as escadas quando Gabriel perguntou:

— Acham que os professores vão expulsar você se descobrirem que causou isso?

— Acho que se quiserem me expulsar, já teriam feito isso. - respondeu Lucas.

— Você ajudou a salvar a escola do Gabi. - lembrou Alexia. - Mas não acho que isso atenua o que fará daqui pra frente.

— Que espécie de garota de onze anos fala "atenua"? - perguntou Pedro.

— Você com essa mesma idade já estava enfiando essa hérnia rosada no cu de um travesti. - salientou Lucas.

— Xeque-mate. - pontuou Gabriel. 

Os quatro chegaram à porta do Grande Salão, onde deviam se separar de Alexia e seguir para suas respectivas aulas. 

— Então... acho que ficamos por aqui... - disse Gabriel, o ânimo claramente podado por ter de se despedir de Alexia. 

Alexia não queria ir. Estava carregando tudo numa boa, até aquele momento. O nervosismo estava berrando dentro dela, se pudesse, gostaria de transfigurar-se em uma joaninha e se esconder até as aulas acabarem. 

— Mas que p... - ouviu-se a voz de Lucas.

Surgira como mágica.

Alexia vira inúmeros cartazes colados nas paredes, ostentando a figura inconfundível de Borela, segurando em frente a seu peito, um manuscrito intitulado "Ishiro, as aventuras dos parênteses".

— Esse é o livro que o Borela escreveu? - perguntou Gabriel, que aproximou-se com Alexia.

— É sim. - respondeu um Lucas incrédulo. - Ele está divulgando. Ele realmente vai comercializar isso. 

Pedro riu, mais pareceu um soluço do que uma risada.

— Mas e qual o problema? Pelo menos está fazendo uma atividade mais saudável que comer o Gabi.

Lucas olhou para Pedro com um olhar escaldante de alguém que lera uma obra terrivelmente mal-escrita e mal estruturada. 

— Ele coloca o nome dos personagens dentro de parênteses na hora dos diálogos.

Gabriel e Pedro soltaram gritos esganiçados enquanto levavam as mãos a boca. 

— E começa o livro com - e soltou uma voz estridente que só ele consegue produzir: - "NYAAAAAAHHHHH". 

Naquele mesmo instante, Gabriel desmaiou.

Alexia correu para acudi-lo, mas teve te dar sete tapas em seu rosto para que acordasse. 

— É MAIS DIFÍCIL ASSIM! - Ele acordou gritando. 

— Temos que impedir isso. - disse Pedro. - Hogwarts já tem a maldição de Gabi, não precisa de mais uma...

Lucas olhou novamente para os cartazes.

— Aqui diz que ele os está os comercializando perto do campo de Quadribol.

— Durante o horário de aulas? - questionou Pedro. - Como os professores deixaram uma coisa dessas?

— Acho que qualquer professor gostaria da ideia de se ver livre do Borela. - palpitou Lucas, ainda de olho nos cartazes.

— Mas o Borela precisa ser muito burro para aceitar isso. - disse Gabriel, sensatamente. - Quem cargas d'água esse pau-pequeno acha que vai comprar o livro dele, se todos estão em sala de aula?

— É o Borela. - respondeu Lucas. - Qualquer dúvida referente a isso pode ser respondida com essa palavra. 

— Então vocês querem ir falar com ele? - perguntou Alexia, sentindo-se mais tranquila com a perspectiva de não precisar ir na aula, estando sob o pretexto de impedir uma catástrofe literária. 

— Acho que devemos. - disse Lucas, voltando para junto do grupo. - Ao menos na literatura eu ainda tenho esperança...

E os quatro saíram do castelo o mais rápido que puderam. Correram sob o sol dourado em direção ao campo de Quadribol enquanto uma forte dor no lado incomodava Alexia; ela decididamente não estava acostumada a praticar exercícios. 

— Calma. - pediu um avermelhado e empapado de suor, Pedro. - Preciso descansar. 

E, sem esperar resposta, largou a bunda gorda no chão. 

— Fala sério. - disse Lucas, também suado e ofegante. - Temos que impedir isso.

Pedro tirou os óculos e começou a limpar as lentes embaçadas com a aba das vestes.

— O Gabriel mesmo disse que não vai sequer haver público para comprar, não precisamos correr. Além disso - e colocou os óculos novamente, o suor pingando dos cabelos de nerd. -, foi você quem disse que o livro dele era ótimo. Se estamos nisso, é culpa sua. Eu só queria que continuássemos com... bem, você sabe o que. Mas pelo visto vai atrasar um pouco, não é?

— É verdade, vocês não contaram para que deram as Vomitilhas para o Igor. - disse Gabriel, muito interessado.

— Isso não é da sua conta. - respondeu Lucas.

Gabriel franziu o cenho e disse em tom de desafio:

—Escuta aqui, seu psicopata dotado de seríssimos problemas de discernimento, eu aturei um ano inteiro de cocô do seu primo que já passou da idade de frequentar um ótimo psiquiatra. TEM NOÇÃO DE QUANTO MILHO EU FUI OBRIGADO A VER?! Eu fui obrigado a ver o Borela encochando o Gabi; Hogwarts ser devastada por monstros de cocô; lutar contra um monstro de cocô do Gabi por conta da maluca da Adelia; ver o Fliwtick recebendo uma chupadela do Snape... e agora ver a literatura destroçada por causa do livro de um cara que, é incrível como não consegue ser sequer razoável em NADA! E sabe do que mais, tudo por culpa SUA! HAHAHAHAHA. E agora você vem me dizer que não é da minha conta?

O grupo permaneceu em silêncio por alguns segundos. Alexia dificilmente via Gabriel se expressar daquela maneira, mas conseguiu notar que um peso pareceu ser retirado de suas costas.

— É que se você ouvir falar do plano, vai tentar interferir. - explicou Lucas.

— E por que acha que eu faria isso?

— Porque dessa vez vamos quebrar regras sérias. - disse Lucas.

— Você quebrando as regras? Ora, nada novo sob o sol. 

 - Você ainda não entendeu... - disse Lucas.

— Então não vão me contar? - perguntou Gabriel, taxativo.

— Acho melhor não. - respondeu Lucas.

Gabriel apertou os lábios e balançou a cabeça indignado.

— Muito bem - disse ele, pegando a mão de Alexia. -, nesse caso, vamos agora contar ao professor Snape tudo que andam fazendo.

Lucas arregalou os olhos.

— Você não faria isso.

Gabriel soltou um sorriso irônico. 

— Acha mesmo que não? Apesar de ser seu amigo, eu não gosto da ideia de ser expulso de Hogwarts. Te entregar me daria uma certa imunidade. Agora, se me contar... Aí posso ajudar a não ser pego. 

— Por que todo mundo ameaça contar ao Snape? - perguntou Lucas, revirando os olhos.

— Simplesmente porque ele quer muito se ver livre de você. - respondeu Pedro. - Ele acreditaria nisso muito fácil. 

Lucas cruzou os braços e ficou encarando Gabriel durante alguns segundos até que cedeu.

Por fim, ele contou toda a história para Gabriel e Alexia, que não conseguiram conter as gargalhadas ao ouvirem sobre o interesse de Pedro em encontrar uma nova égua para meter.

— Calem a boca. - mandou o leitão. - Lucas, talvez fosse melhor que você não tivesse contado.

— Pelo menos assim não serei só eu a saber dessa história. - disse Lucas, otimista. 

— Muito bem, muito bem... - disse Gabriel, satisfeito. - Não gosto da ideia de explorar uma lenda da escola. Não pelos riscos, mas porque com certeza é mentira. Mas pode ser divertido.

Lucas levantou a sobrancelha.

— Faria mesmo isso só pela diversão? - ele quis saber.

— Por que não? Pago pra ver se há realmente algo mais feio que a Inês.

Pedro ergueu-se vermelho e irado feito um touro, apontou a varinha para o amigo nanico.

— AGJBKHGBUKDBDJBD - ganiu ele.

Um raio de luz disforme saiu da varinha de Pedro. 

Alexia sabia que não era um feitiço, mas com certeza Pedro executara alguma coisa.

— Protego! - Gabriel disse instintivamente. 

O raio ricocheteou no escudo de ar de Gabriel, e acertou Pedro, fazendo suas banhas balançarem como as águas de um lago. 

— Você está bem? - perguntou Lucas, aproximando-se cauteloso do amigo Gordura Saturada. - O que foi aquilo que você disparou?

Pedro levou a mão direita à cabeça e massageou.

— Minha pessoa estar gozando de um pleno estado físico e psíquico. - respondeu Pedro, espantando até a si mesmo.

— Mas o que foi isso? - perguntou Alexia, a boca se desenhando em um sorriso.

— Acredito ter acertado-me com uma descarga elétrica atmosférica de encantamentos língua d'ouro. - disse Pedro, ruborizando.

— Não acredito, Pedro, que vergonha. - riu Lucas.

— Mas o que é um "encantamento língua d'ouro"? - perguntou Alexia.

— É como se fossem as rodinhas da bicicleta de um trouxa. - respondeu Lucas, secando as lágrimas de riso. - Os pais encantam as varinhas dos filhos para se, caso eles proferirem algum feitiço errado, o encantamento produzido fará com que o atingido fale tudo no português mais polido. 

— Mas isso não denota qualquer coerência. - disse Pedro.

— É verdade. - concordou Gabriel. - Se o intuito dos pais era fazer com que seus filhos pronunciassem o feitiço corretamente, porque não, sei lá, programar para o feitiço se voltar contra o usuário?

— Mas ele faz isso. - esclareceu Lucas. - Não foi seu "protego" que fez o feitiço ricochetear. Ele ia voltar para o Pedro de qualquer jeito.

— Droga. - disse Gabriel, deprimido. - E eu achando que tinha executado um escudo perfeito...

— Mas de que maneira, por céus, minha pessoa livra-se desta maldição oriunda dos mais profundos infernos? - perguntou Pedro.

Lucas respondeu displecentemente:

— Ah, ela passa em meia hora. Se não quer ser alvo de mais piadas do que já é, sugiro que simplesmente não abra a boca.

— Ah, que benção! - exclamou Alexia.

— Sugiro que engula estas palavras, microbiano ser humano do gênero feminino portadora de potente magia! - ameaçou Pedro.

— Ou o que? - desafiou Alexia. - Vai me chamar de "quenga"? 

— Se tal afronta demonstrar-se necessária na situação em questão. - respondeu Pedro. 

— Bom, acho que já podemos ir. - disse Lucas, que parecia estar se deliciando com a situação. - Mas antes, Pedro, fale "Que berro foi esse que eu dei?", por favor?

— "Que som demasiado alto foi este que emiti?" - disse Pedro.

E todos gargalharam. 

Seguindo mais adiante, se depararam com três bruxos da Grifinória, sentados na sombra de uma árvore, tocando violão e cantando com as vozes mais feias e esganiçadas que Alexia já ouvira. 

Eram dois garotos e uma garota, e pareciam ter pelo menos quinze anos. Ela tinha cabelos presos em uma trança, o garoto mais à frente tinha uma franja de tigela, e o mais atrás, cuja pele era escura, tinha dentes de coelho.

— EI! - chamou o garoto mais da frente. 

— Desculpe, estamos ocupados. - respondeu Gabriel.

— Por favor. - disse a menina. - Não vai demorar nada. 

— Somos a banda The Kira Justice, já ouviram falar de nós? - perguntou o de pele escura.

— Graças a Deus, não. - respondeu Lucas.

E o trio riu, obviamente pensando que se tratava de uma piada.

— Algum de vocês sabe cantar? - perguntou o garoto de cabelo de tigela. - Precisamos de uma outra voz.

— Com certeza precisam. - murmurou Gabriel.

— O Pedro sabe. - respondeu Lucas.

Pedro o golpeou com tanta força que o vândalo quase caiu no chão.

— Ótimo, então poderia cantar um trechinho de nossa música? Queremos ver como fica na voz de outras pessoas. Achamos que uma boa música só é realmente boa quando seus covers são tão bons quanto

Pedro, obviamente, balançou a cabeça em negação, mas o argumento de Gabriel o convenceu:

 — Se não for, vamos espalhar que quer dar um fatality na xana do monstro da Câmara Secreta. 

No instante seguinte, Pedro já estava entre os péssimos músicos, o rosto mais vermelho que uma Golles, e o suor empapando as bochechas gordas.

— Você só precisa cantar "Me diga então, diga então, como fiquei assim? Se há um outro alguém, preso dentro de mim..." consegue fazer isso? 

Com certeza Pedro não poderia soar mais desafinado que eles, então Alexia sequer se preocupava. 

E então, Pedro soltou a voz:

— "Diga-me por fim, diga-me por fim, de que maneira me tornei isto? Se por obséquio existe um outro indivíduo, encarcerado dentro de minha pessoa..."...

Lucas, Gabriel e Alexia não contiveram o riso, e então Pedro saiu dali mais envergonhado do que nunca, puxando os amigos para o caminho à diante.

— OBRIGADO! - ouviu-se as vozes esganiçadas de The Kira Justice às suas costas. 

Não demoraram muito para chegar no campo de Quadribol. 

As bandeirolas tremulavam nos mastros de bronze, a grama aparada brilhava por causa do banho de sol, e o céu azul e límpido mais parecia um oceano a ser desbravado. 

Ao se aproximarem mais, viram, no meio do campo, um palanque de madeira com pilhas e mais pilhas de livros compondo uma réplica fiel do castelo, e à sua frente, Borela estava escorado no próprio ombro, nitidamente chateado por ninguém ter aparecido.

— Pelo menos vocês vieram! - disse ele, abrindo um sorriso enfeiado pelos dentes tortos. - Sabia que viriam.

Todos os demais colocaram pressão em Lucas para que ele tomasse à frente, uma vez que a culpa de tudo isso fora dele...

— Bem... sobre isso... - começou Lucas, sem jeito. - A verdade é que seu livro... ele....

— Eu sei. - respondeu Borela, compreensível. 

— Ah, que bom. - disse Lucas, aliviado.

— Ele é tão bem escrito que você veio comprar pra todo mundo, não é?

E o sorriso de Lucas despencou como o pau do Pedro perante uma mulher bonita.

— Ah, a verdade é que essa merda não pode ser tão ruim assim. - disse Gabriel, se aproximando do palanque. - Me dê um, quero dar uma lida.

E Borela, prontamente, alcançou o exemplar ao nanico.

Bastaram cinco páginas para que Gabriel arremessasse o livro através do gramado com uma careta digna que quem come sushi estragado. 

— EM NOME DE TUDO QUE É CONSUMÍVEL NESTA PORCARIA DE MUNDO, MAS QUE BUNDA DE LIVRO É ESSA? ISSO NÃO SERVE NEM PARA LIMPAR O COCÔ DO GABI!!

Pedro então correu para apanhar o livro e tirar suas próprias conclusões. 

Com o exato mesmo número de páginas lidas, ele puxou a varinha e ateou fogo no exemplar, que espiralou em faíscas cintilantes até a grama imaculada.

— PELAS BARBAS DO PROFETA! - Exclamou ele. - MAS QUE ASNEIROLA FORA ESSA QUE ACABEI DE PÔR OS OLHOS? ESTE TEXTO REDIGIDO EM FORMA PROSAICA É PURAMENTE CHULICE, PACHOUCHADA, PACOTILHA, XILA!

Uma lágrima escorreu pelo rosto de Borela.

— Mas eu pensei que... - e virou-se para Lucas. - Meu amigo... você gostou, não?

Lucas soltou um longo suspiro.

— Lamento Borela... Isso não serve nem como moeda de troca no Congo...

E Borela disparou chorando pelo gramado.

— No final senti pena. - disse Alexia.

— Fizemos uma boa ação. - tranquilizou Gabriel. - Mas você - e apontou determinante para Lucas. - nunca mais invente de encorajar uma abominação como essa. - E Gabriel desviou o olhar para a sombra de Borela correndo ao longe. - Para onde acham que ele vai?

— Praticar o coito severo com Gabi. - palpitou Pedro, que recuperava-se de seu chilique.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre feitiços, uma negra e um gordinho excitado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.