O Garoto dos Olhos Castanhos escrita por Alison


Capítulo 4
Capítulo IV - A chuva.


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo postado e esse por enquanto é um de meus favoritos se não o mais favorito!

Queria deixar um recadinho, pessoa que está acompanhando e lendo, por favor deixem seus comentários, não sejam tímidos eu amo vocês!



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No dia em que fui na casa de Lucas fazer o convite foi muito estranho, muito estranho depois daquelas trocadas de olhares um silêncio enorme predominou entre nós dois, mesmo na escola a gente se quer trocou uma palavra, eu fiquei pensativo mas logo tudo isso foi embora quando cheguei em casa e deitei na minha cama. Sentimentos são estranhos...

Eu ainda não sei o por que é tão difícil as vezes encarar ele,  olhar bem no fundo dos olhos dele... Talvez seja um pouco de vergonha, mas vergonha de que? Por que vergonha?

Tento entender esse fato mas acabo sempre desistindo. Deve ser bobagem da minha cabeça.

***

Ensino Médio. Pra muitos é um alívio afinal será a última etapa e adeus escola, adeus matérias obrigatórias,  adeus professores chatos que pegam no pé, adeus pra tudo isso. Mas eu fico pensando as vezes que vou sentir falta, sabe o ensino médio ou a escola em geral é onde você mais faz amigos, imagine se não tivesse a escola? Eu mesmo não conheceria o Guilherme e só isso já me deixaria muito triste, então por mais que a escola seja um saco – principalmente o último ano, sério esse é o pior – ela faz coisas boas pra você. Imagine tudo o que você perderia hoje se não tivesse ido a escola. Triste não é mesmo?

Minha escola em si é boa, ela tem excelentes professores, uma diretoria muito boa e rígida mas o que estraga são os alunos, bom pelo menos os alunos do segundo ano e do primeiro, eles são literalmente os diabos da escola enquanto nos do terceiro ano somos uns anjos.

Você deve estar pensando que era pra ser o contrário, mas não. Nos do terceiro estamos tão cansados e acabados da escola que preferimos perder nosso tempo nos concentrando e focando nos estudos pra acabar de uma forma pacífica e boa pra todos, tenho certeza que quando aquele povinho do segundo ou do primeiro chegarem no terceiro vão ver que tudo o que eles estão fazendo agora não vão valer de nada, que toda aquela revolta pra chamar atenção não vai adiantar nada.

Mas é isso aí,  hoje começa o inferno novamente, hoje voltam às aulas do ensino médio. Ânimo Rafa, faltam menos da metade do ano pra você se formar.

Assim que meu despertador tocou exatamente as seis horas da manhã eu abri meus olhos e o único pensamento que veio na minha cabeça foi: “Não acredito.”

Eu nunca acordei tão emburrado assim mas sabia que isso não iria melhorar a situação, então dei um tapa no meu relógio pra ele calar a matraca e me levantei. Na verdade não foi tão fácil assim eu levantar, foi sem brincadeira uns dois minutos pra eu conseguir sentar na cama...

Fui pro banheiro, fiz minhas lindas necessidades e assim que terminei tirei toda minha roupa ficando apenas de cueca. Me olhei no espelho vendo aquela minha cara de morto e taquei um pouco de água na esperança de melhorar. Aí vocês perguntam, melhorou? E eu respondo que definitivamente não,  só fiquei com frio.

Comecei a colocar minha roupa e enfim coloquei minha blusa da escola, passei o desodorante que quase tinha esquecido, coloquei meu colar da Sonserina, passei um pouquinho apenas do meu perfume e pra finalizar escovei meus dentinhos e sai do banheiro e fui direito pra cozinha tomar alguma coisa e por fim partir.

— Bom dia, filho! – Meu pai estava na cozinha tomando café,  que milagre.

— Pai! Finalmente consegui ver o senhor! – falei indo pegar o leite.

— Pois é,  sempre quando eu chego você está dormindo, como andam as aulas?

Vocês não tem noção do quanto eu estava contente que eu finalmente estava conseguindo falar com ele depois de dias praticamente.

— Ah elas estão um pouco difíceis, mas nada que eu não consiga fazer!

— Isso me lembra sua mãe – ele começou a rir – Eu já conhecia ela quando ela começou o curso. Você tinha que ver, tinha dias que ela chegava chorando.

— Aí que horror, isso me deu medo. Logo a mamãe tão inteligente.

— Pra você ver, filho.

Nisso eu tomei meu leite, me despedi dele e sai bem contente. A isso tinha com certeza alegrado meu dia, um pouco da minha saudade tinha passado. Espero que eu consiga ver ele agora com mais frequência graças a escola. Viu? Não te falei que a escola as vezes te trás coisas boas?

Assim que sai de casa coloquei meus fones e comecei a escutar alguma música e caminhar em direção a escola. Essa era um pouco mais longe, eu chegava lá sempre as sete horas em ponto, o que as vezes me dava uma agonia por que o portão está preste a fechar.  No caminho passei na frente da casa do Lucas e isso me fez pensar, qual escola será que ele se matriculou? Acho que ele também está no terceiro ano assim como eu, será que vai ser a mesma que a minha? Confesso que estou torcendo pra que seja. Eu gostei dele, ele é uma pessoa muito legal, apesar daquele dia na casa dele nos sempre temos muitos assuntos e falamos demais...

Foi eu ter pensando nele que vi bem mais a frente no outro quarteirão um menino que aparentemente era ele, estava com uma mochila nas costas e fazia o mesmo caminho que eu faço pra ir pra escola. Deduzi na hora que seria ele mesmo pelo cabelo, então comecei a correr pra alcançar, assim se for ele iríamos juntos até a escola.

Assim que estava quase me aproximando ele se virou provavelmente por causa do barulho da minha corrida e sim, era ele mesmo.

— Rafa?

— Ah, oi Lucas! – estava sem fôlego.

— Oi – ele deu risada – Você parece morto.

— A que isso, estou super em forma!

— Estou vendo!

— Então? Você vai pra que escola?

— Estou indo pra Roberta Leme, é a mesma que a sua?

— Ah que pena... Não é a mesma! – fiquei triste ao saber.

— Poxa, seria legal a gente estudar na mesma escola...

— Também acho, mas nossa! Você vai se atrasar assim, sua escola é mais longe.

— Ah eu sei... Percebi quando acordei que iria me atrasar, mas eles devem dar um desconto  por ser o primeiro dia...

— Também acho, vamos indo então?

Seguimos o caminho conversando de coisas aleatórias lá da Etec, assim que cheguei perto da minha escola ele me parou.

— Será que na hora de ir embora você poderia me esperar? A gente ir junto.

— A tudo bem, só não demore demais ok?

— Certo, obrigado Rafa!

 E assim ele seguiu seu caminho, coitado vai se atrasar feio hoje. Fui correndo pois o portão já estava quase fechando e entrei, e parece que quando você entra na escola é uma nova dimensão, cheia de adolescentes de todos os tipos, tamanhos e jeitos. Olha, é bem diferente do Técnico, muito diferente.  Começar pelo caráter das pessoas...

Segui pelos corredores da escola até chegar na minha sala onde lá estava todos meus colegas de classe conversando mais alto que macacos. Bufei e sentei na minha carteira esperando o professor chegar.

Infelizmente Guilherme não está na minha sala. Bom ele até estava mas depois teve que mudar por uns problemas de briga sabe?

— É aí boy!

Aí deus, deixe que eu apresento essa criatura do capeta. O nome dele é Thiago e ele é digamos o popular aqui da sala, mas ele é muito chato mesmo, ele até tenta ser meu amigo mas né?

— Fala Thiago, como tá?

— Tô tudo na boa, e o viadinho do seu amigo?

É, esqueci de mencionar que ele é o cara que brigou com o Guilherme.

— Deus, não dá pra você trocar a fita?

Ele parece não ter gostado muito do que eu falei, ele iria retrucar mas o professor entrou na sala com tudo mandando todos sentarem em seus lugares, não consigo entender como um professor consegue chegar tão estressado na primeira aula e no primeiro dia ainda. Falta de...

***

As três primeiras aulas foram longas demais, tive a sorte de pegar na segunda duas aulas seguidas de matemática, eu até gosto mas não sei viu, parece que essa matemática da escola eu não consigo aprender é muito broxante!

Thiago veio me atazanar novamente na quinta aula, ele só vem falar comigo pra saber do Guilherme, mas ele só quer saber pra sair falando mal. Sério o santo desses dois se bateram, mas de uma forma agressiva. A briga dos dois foi muita feia, começou com uma simples discussão até lá eu estava deixando tudo de boa, afinal eram só palavras não é? Mas quando Guilherme deu o primeiro soco, esses dois se atarracaram de uma tal forma que no final a sala estava de ponta cabeça e a professora coitada, até passou mal sem saber o que fazer naquela atitude... Bom, eu fiquei na minha, deixei eles se baterem se não ia sobrar pra mim.

Na última aula começou a chover, porém uma chuva bem forte e foi do nada, o dia estava bem limpo e foi dar apenas uma escurecidinha que começou o pé de água, confesso que por mais que eu ame tempo de chuva, fiquei bastante chateado, vou me encharcar demais na hora de ir embora.

Assim que acabou a última aula e o sinal tocou eu peguei minha bolsa e sai, teria que esperar o Lucas, acho que ele ainda quer ir embora junto comigo e claro que eu não vou ser babaca de deixar ele sozinho.

Fiquei no pátio da saída que era coberto e de lá eu tinha visão total do lado de fora, assim se eu visse o Lucas eu corria pra lá, mas uma cena me surpreendeu.

Na outra calçada do outro lado estava aparentemente ele sentando bem encolhido no chão encostado numa parede totalmente ensopado, aquela cena me surpreendeu pois não acredito que ele tenha chegado tão rápido assim, a escola dele é muito longe e outra ele não ficaria ali encolhido...

Confesso que meu coração acelerou, não sei explicar mas eu sentia que algo ruim aconteceu então sem ligar pra chuva sai do pátio e fui correndo até ele.

— Lucas? O que tá fazendo aqui? – Falei um pouco mais alto devido o barulho da chuva que aumentava quando se chocava com os telhados.

— Eu... – Ele olhou pra mim, estava com uma expressão muito triste.

— Ei cara, o que aconteceu? – Perguntei a ele, nisso ele levantou e me abraçou, mas foi um abraço forte.

— Estou aqui desde cedo... – Ele me aperta mais forte, nisso tanto eu quanto ele estava muito mais que ensopados.

— Como assim? Você não foi pra aula? – Eu estava confuso, não entendi o por que dele estar aqui desde cedo.

— Eu fui, mas como você sabe cheguei atrasado... Eles não me deixaram entrar, ainda falaram que é falta de responsabilidade minha ter chegado tão tarde... – A voz dele estava um pouco abafada devido ao nosso abraço, mas eu entendia tudo.

— Não entendo, por que não voltou pra sua casa...? Você ficou aqui tomando sol e agora deve ter pegado essa chuva desde o início dela!

— Você não entende... Se eu voltasse minha mãe iria me matar, ela ficaria do lado da escola e eu talvez além de apanhar muito iria ficar cheio de castigos...

Aquilo me surpreendeu. Ele ficou aqui esse tempo todo com medo... Não consegui acreditar ele falando que apanharia da mãe e do jeito que ele falou, no tom que ele falou seria uma boa surra, mas eu ainda sim não consigo imaginar a mãe dele que foi tão doce comigo ser violenta com ele desse tipo.

— Ela é muito rígida... Nada da certo na minha vida...

E foi aí que ele desabou, ele começou a chorar, eu só percebi isso devido aos soluços dele, afinal eu já estava totalmente molhado. Ele me abraçava tão forte que eu nunca tinha sentido alguém abraçar com tanto sentimento e força desse jeito, meu coração estava muito acelerado, mas estava acelerado de tristeza e preocupação. Fiquei me colocando no lugar dele e isso me deixou muito mal e imagina, ele ficou aqui durando seis horas me esperando, tomou mais de cinquenta minutos de chuva, eu estava muito triste muito mesmo.

— Lucas... Vamos pra casa? – afastei ele do nosso abraço pra olhar nos olhos dele.

— Será que eu poderia ir pra sua? Só até eu recuperar, não quero que minha mãe perceba que chorei...

— Certo, mas mande uma mensagem pra ela. Vamos logo, estou preocupado com você, tomou muita chuva... você pode ter pegado alguma doença, sei lá...

Ele olhou bem nos meus olhos, colocou sua mão direita em meu rosto, nesse momento eu congelei. Senti o poder da fixação daqueles lindos e brilhantes olhos castanhos dele no meu, senti o poder de seu toque em meu rosto, ele acariciava de uma forma tão calma e doce. Eu me perdi naquilo, então ele se aproximou e eu não tive reação. Ele poderia me beijar, mas ao invés disso ele foi até meu ouvido e sussurrou.

— Obrigado... Você é especial.

Depois que ele me disse isso eu fiquei com muita vergonha, eu sentia minha barriga formigar muito, fiquei pensando naquele momento por alguns segundos até ele falar pra sairmos de lá.

Começamos a correr, já tínhamos pegado muita chuva, meu material por exemplo tenho certeza que foi pro saco assim como o dele, eu sentia a roupa colando em meu corpo e meu cabelo já estava todo caído, nunca eu tinha tomado tanta chuva quanto hoje e imagino que Lucas também não.

Assim que chegamos em casa eu peguei minha chave rapidamente no meu bolso e abri, entramos correndo e foi um alívio quando parei de sentir as gotas de chuva contra minha.

— Você precisa de um banho quente, Lucas! – Falei olhando pra ele, estava um pouco pálido, talvez fosse o frio.

Ele apenas concordou com a cabeça e com minha ajuda eu o levei até o banheiro que ficava no andar de cima. Minha mãe não estava em casa nesse momento, talvez tenha ido no mercado ou algo do tipo ela vai ficar furiosa quando ver a molhaceira que fizemos.

— Pronto, vá tomando banho, eu vou pegar algumas roupas minhas, deve servir em você.

— Obrigado... – Ele fecha a porta, peço pra ele não trancar caso ele passe mal eu consigo entrar e o ajudar.

Fui para meu quarto e lá mesmo eu tirei toda aquela roupa molhada, joguei minha bolsa num canto e fui ver se algum caderno estava vivo, e por incrível que pareça alguns sobreviveram. Peguei umas roupas pra ele e pra mim, me enrolei na toalha pra esperar ele sair e então eu entrar. Nossa, estava frio. Como ele conseguiu ficar na chuva.

Sentei na minha cama e fiquei refletindo como seria a mãe dele com ele pra ele demonstrar todo aquele medo. Eu fiquei bastante preocupado e pensativo.

— Rafael? – Escutei a voz fraca dele no banheiro.

Fui rapidamente até a porta e perguntei o que ele queria.

— Entra aqui por favor, não estou me sentindo muito bem...

Abri a porta e vi que ele estava sentado no chão do banheiro em baixo do chuveiro. Estava apenas de cueca, o corpo dele era lindo e...

Não! Eu precisa ajudar ele, desliguei o chuveiro e fiquei do lado dele ajoelhado.

— O que você está sentindo?

— Eu estou meio zonzo... Me sinto muito fraco. Eu tenho um organismo muito fraco...

— Vem, você precisa se vestir, minha mãe deve estar chegando e ela vai poder ajudar.

Com muito esforço consegui levantar ele e levar até meu quarto, lá eu entreguei as roupas pra ele e o ajudei vestir, parece que ele tem realmente o organismo bem fraco, dava pra ver no rosto dele que não estava nada bem, ele se arrumou na cama e eu o cobri.

— Você tem o corpo bonito... – Ele disse sorrindo.

— A obrigado,  preciso me vestir né?

— Acho que não...

Então ele fechou os olhos e adormeceu. Eu fiquei meio preocupado, imaginei que ele tinha morrido mas vi que estava respirando. Ainda bem.

Esperei minha mãe chegar e assim que ela chegou a chamei o mais rápido possível, levei uma bronca por ter molhado tudo mas depois ela se acalmou e deu uma olhada em Lucas. Ela insistiu em ligar pra mãe dele que depois de alguns minutos ela apareceu lá pra levar ele embora.

Espero que fique bem...


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Notas finais do capítulo

E bom... É isso que temos pra hoje galera! Próximo capítulo semana que vem ou quem sabe eu adiante ele também!