O Garoto dos Olhos Castanhos escrita por Alison


Capítulo 10
Capítulo X - Ajuda.


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal, como vocês estão?

Bom, eu venho aqui com mais um capítulo e esse com toda certeza vou o mais doloroso de se escrever, gente eu quase não estava suportando descrever tudo isso. Foi difícil mas eu consegui.



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Dia 31 de outubro, o famoso dia das bruxas e consequentemente a famosa festa de Halloween da Etec, pensei eu que seria um dia bom, mas não, esse dia foi diferente e tão doloroso quanto o meu Halloween passado. Foi nesse dia que novamente meu mundo caiu.

Naquela noite, depois do acontecimento com o Rafael eu prometi que iria pra casa, que iria dormir e tudo isso iria passar, porém meus instintos agiram diferente e por culpa deles eu estou aqui. No hospital.

31 de Outubro.

Olhei pra Lua, notei que somos tão parecidos, não pela grandeza ou por sua beleza, mas sim que tanto eu quanto ela precisamos de um sol, precisamos de alguém que nos de brilho, alguém que nos faça sentir radiante. E esse sol, o meu sol era ele. Rafael.

Olhei pra ela e fiz uma promessa, prometi a ela que eu seria diferente, eu teria meu próprio brilho e não iria correr atrás mais, eu iria superar e nessa noite eu superaria.

Meus sentimentos estavam todos destruídos, não que antes eles estivessem em pé, mas eu tinha algo que todos nós temos um dia, a famosa esperança! Sim, eu tinha muitas esperanças de que tudo isso iria passar, de que voltaria tudo como era antes, mas hoje,  hoje essa esperança foi esmagada, ela foi jogada fora, foi triturada!

Meu coração não tinha desacelerado desde o momento em que Rafael cuspiu na minha cara, ele não parava assim com minha mente. Pensamentos, ideias,  possibilidades e tudo o que você possa imaginar estava ocorrendo dentro da minha cabeça, demorou pra eu perceber o que tinha acontecido, demorou pra acreditar que ele foi capaz daquilo, aquela atitude... aquela atitude mostrou que eu sou um simples lixo pra ele.

Eu estava exatamente no meio da rua, andando pra qualquer lugar. Não estava indo na direção de minha casa, eu estava apenas seguindo meus próprios passos. Meus olhos estavam ardendo, eles ardiam na mesma proporção quando você mergulha no mar com os olhos abertos, mas no meu caso a água do mar era minhas lágrimas. Eu já não aguentava mais chorar, porém não consiga parar mais.

Por que ele fez isso? Depois de tudo o que passamos, podiam ter uma amizade feliz pelo menos! Talvez a culpa realmente seja minha, eu o beijei, eu o tentei beijar hoje. Talvez tudo isso que está acontecendo agora é justo.

As ruas estavam desertas, já era muito tarde, nenhum carro passava mais, porém eu continuava andando, andando no meio da rua como se eu não tivesse mais destino. Na verdade eu não tenho, eu estava anestesiado, eu não conseguia seguir nenhuma lógica.

Avistei de longe um beco, pequeno. Tinha pessoas lá, algumas sentadas e outras em pé. Pareciam fumar alguma coisa e tinha muitas bebidas por ali, meu corpo foi indo em direção a eles. Eu cheguei e todos me encararam de forma estranha, mas eu apenas entrei no beco e me sentei ao lado de uma garota, uma garota de longos cabelos negros, algumas tatuagens, uma maquiagem pesada, olhos negros e um sorriso escondido.

— Então, veio aqui pra que? – Ela me olhou enquanto soltava a fumaça de seu cigarro na minha cara.

— Só quero esquecer.

A garota deu uma risada e disse que estava ali pelo mesmo motivo. Eu soltei um leve sorriso, um sorriso que foi difícil de sair, minha boca só queria ficar na expressão de choro.

— Toma, isso vai te ajudar.

Ela me entregou uma garrafa, era vodca. Eu nunca fui de beber, eu era bem razoável nisso, mas não consegui recusar, peguei a bebida e tomei um bom gole. Senti meu corpo inteiro estremecer, mas a tristeza continuava ali comigo.

— O que aconteceu? Nunca te vi por essas bandas. Deve ser novo.

— Sou... – Bebi mais um pouco – Eu estava em uma festa... E a pessoa que eu gostava cuspiu na minha cara.

A garota ficou em silêncio, mas deu pra perceber na expressão dela que isso a deixou extremamente irritada, talvez ela saiba o que eu estou passando.

— Ela deve ser uma otaria.

— É ele.

Nesse momento ela estranhou e me olhou com um olhar estranho, como se fosse um olhar de aviso, um olhar que simbolizava pra eu correr. Mas não tive tempo, os garotos que estavam ali e ouviram se aproximaram de mim, não entendi por um tempo mas logo notei. Eles eram homofóbicos.

— Você devia saber que não gostamos de gente como você aqui... Esse lugar é nosso!

— Parem! Vocês não precisam agir assim, ele só veio aqui pra esquecer, assim como todos nós. – A garota disse.

Mas isso não foi o suficiente, um deles me deu um chute, um chute certeiro que atingiu meu rosto já que eu estava sentado, meu corpo inteiro tombou pro lado, um outro se aproximou e chutou meu estômago o que me fez quase vomitar tudo o que tinha bebido, vi a garota levantar e empurrar o que fez isso. Como alguém pode ser assim? Só por ter uma orientação sexual diferente? O que isso muda? O que isso muda na vida deles? O médico que um dia pode salvar sua vida, pode ser gay, mas mesmo assim essas pessoas continuam espalhando ódio e agressão.

Eu não tinha como me defender, na verdade eu nem queria. Eu estava frágil por dentro o que me fazia ficar mais frágil ainda por fora. As dores se misturavam e me torturavam de forma brutal, eu me perguntava como o amor, algo tão puro pudesse doer tanto!

Doía muito. Mas eu levantei devagar, peguei a garrafa que a menina tinha me dado, meio tonto e enjoado e caminhei pra fora do beco, ouvi os meninos me xingando e a menina gritando com eles. Eu tive sorte de não ter apanhando mais. Tive sorte de ter conseguido levar a garrafa também.

Como se algo fosse dar certo na minha vida. Eu já não tinha mais lágrimas pra derramar, doía, doía muito dentro de mim, eu já não suportava mais a dor que fazia, a dor em meio peito, em minha cabeça, era tudo tão insuportável que eu não sabia mais o que fazer.

Eu continuava a caminhar sem rumo, estava cada vez mais longe de casa, na verdade eu se quer sabia onde estava, eu não tinha ideia também pra onde eu estaria indo. Como eu disse, eu estava apenas seguindo meus próprios passos.

Fiquei me lembrando do dia em que conheci Rafael, naquele dia da matrícula. Ele estava sentado, impaciente e ansioso, eu percebi isso quando estava chegando. Depois ele se esbarrou em mim, seu rosto ficou tão vermelho, foi naquele momento em que meu coração bateu mais forte.

Meus dias melhoraram depois daquilo, melhoraram depois que conheci ele. Minha mudança estava sendo terrível, nos mudamos pra fugir do meu pai louco, ficar mais longe dele depois que eu contei a verdade pra minha mãe. Eu estava acabado mesmo por dentro, mas ele me fazia feliz, ele acendia a luz do meu coração. Me fazia acordar e agradecer pelos dias vividos.

Pensei comigo que, depois de anos sofrendo, ele seria minha recompensa ou então a fonte que me faria feliz e me daria forças pra seguir em frente, pra tentar encontrar a felicidade que eu nunca tive, nunca. Ele seria o troféu por aguentar e ser forte por tudo o que eu tinha passado, mas mesmo assim parece que ele foi apenas mais um dia sofrido pra mim, parece que ele não é o troféu que eu tanto esperava.

Cai no chão, a garrafa estourou em vários cacos de vidro. Fiquei olhando para o chão e me lamentando, chorando por tudo o que aconteceu, eu não conseguia mais parar de lembrar, eu queria parar, eu quero uma ajuda! Por que ninguém me ajuda? Por que todos viram as costas pra mim? Eu preciso de ajuda!! Alguém tem que me ajudar, eu estou desesperado, eu estou sem base, estou sem ninguém,  estou sozinho nesse mundo enorme, sozinho sem alguém que me dê força ou carinho. Não aguento mais apanhar, ser usado, humilhado ou simplesmente ignorado. Eu sou uma pessoa boa, eu ajudo todos que precisam, por que ninguém me ajuda? Por que eu sou tão excluído, eu não entendo, de verdade eu não consigo entender onde eu errei, onde eu fiz mal pra alguém, por que tudo isso está caindo em cima de mim??? Eu não aguento essa dor, ela te mata, ela me mata aos poucos me tortura me acaba! Por favor, eu preciso de alguém.

Peguei um dos cacos de vidro no chão, olhei pra eles, levantei as mangas da minha fantasia e olhei para meus pulsos. Nem mesmo Deus esta me ajudando agora, eu fui justo até hoje! Por que não recebo ajuda? Talvez seja esse o destino de todas as pessoas boas, sangrarem. Fiz um primeiro corte leve mas o suficiente pra ficar vermelho e sangrar, minhas lágrimas começaram a ferver e cair mais fortes, elas caiam no meu pulso fazendo arder ainda mais.

Esse mundo é injusto. Enquanto eu tento ser uma boa pessoa e não recebo nada, as pessoas ruins estão em mansões, rindo e se divertindo, assim fiz mais um corte. A dor aumentava e o sangue escorria, eu sabia que não iria morrer, mas já sentia meu corpo inteiro formigar.

Desde quando eu me entendo por gente eu estou nessa, passando por dificuldades e sofrendo nas mãos dos outros. Incrível que nem mesmo base familiar eu tenho, nem mesmo minha mãe me ajuda, e assim eu fiz mais um corte. A cada corte que eu fazia mais lágrimas saiam, mordia meus lábios de forma brutal que conseguia sentir o gosto de sangue em minha boca. A dor física estava quase se igualando a dor que eu sentia por dentro.

Amor não é algo que de certo pra mim, meu último amor e namorado me via apenas como um objeto, e quando eu chorava e implorava por atenção a ele, ele me batia me xingava me chama de inútil, e assim eu fiz o quarto corte. Parece que é errado eu amar, será que é por que eu gosto de meninos? Será que eu e todos os meninos gays são feitos pra sofrer? Apanhar na rua como eu apanhei agora, sofrer preconceito, não poder amar a pessoa em público, se esconder e fugir.

E agora tem o Rafael,  a pessoa que eu pensei que me amava, de todas as coisas, aquela atitude dele foi a que eu menos esperava. Ele cuspiu em mim, como se eu fosse um lixo, um animal! Nunca vou esquecer aquele olhar, aquelas falas. Ele me feriu profundamente, como vou conseguir superar isso? Eu ainda sinto que o amo, meu coração ainda bate por ele. Que merda! Por que eu sou assim!!!!? E assim eu comecei a fazer inúmeros cortes, rápidos, leves e profundos, eu chorava igual uma criança, soltava pequenos gritos de agonia. Incrível,  nem mesmo gritando alguém aparece pra me ajudar. Talvez esse seja meu destino, sofrer até eu não aguentar mais, até eu explodir.

A dor já estava estrema, meu braço já estava cheio de sangue, eu olhei aquela cena, meu estômago embrulhou e eu vomitei, vomitei como nunca tinha vomitado. O ácido em minha garganta fazia eu chorar ainda mais, tossia e chorava, eu já não aguentava mais, meus olhos começaram a querer fechar, eu via tudo embaçado.

O caco de vídeo caiu de minha mão, eu deitei no chão, acabado. Meus olhos começaram a fechar aos poucos, meu coração batia mais forte que antes, queria que ele parasse. Eu queria não existir mais, ninguém iria sentir falta de mim.

Olhei pra Lua acima de mim. Sentia que ela era a minha única amiga, talvez apenas ela me entendesse, afinal ela não é um ser vivo. O mundo, o universo é tão lindo. Mas as pessoas que existem neles acabam com toda essa beleza, fazem a gente ver como se tudo fosse um grande caos.

Fechei meus olhos. Espero nunca mais abrir eles.


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Notas finais do capítulo

Qualquer comentário é bem-vindo. Voltem sempreee! Bjsss ♥