A campainha tocou enquanto Nina terminava de arrumar seu armário.

Olhou no relógio que marcava meio-dia e cinquenta e estranhou Layla ter chegado tão cedo. 

 
—Ta querend... - ela abriu a porta toda animada, mas levou um susto ao ver quem realmente era. - Você ta doida? - Nina perguntou olhando por trás da mulher 

 
—Não se preocupe. Eles estão me esperando em um restaurante - Anne respondeu entrando tranquilamente

 
—E o que você quer? - Nina perguntou mau humorada. Já fazia um tempinho que Anne não aparecia, e isso tinha sido bom. 

 
—Vim trazer seu primeiro pagamento - ela estendeu um envelope e Nina o pegou - Não precisa se preocupar com nenhum gasto do apartamento, eu cuido disso. 

 
—Eu sei. - ela respondeu ríspida 

 
Anne parou na frente da grande janela de vidro onde deveria ser a parede da sala observando a vista da cidade 

 
—Como foram as coisas? 

—Tranquilo. - ela deu de ombros. - Pra mim o Harry parece muito bem.  

 
—Não se deixe enganar, ele está animado com você ainda...

 
—Não se preocupe, não vou a lugar algum por um ano - Nina jogou o envelope no balcão da cozinha. Tinha inúmeras dúvidas quanto o plano de Anne, mas precisava do dinheiro e devia muito a ela.

—Já decidiu como quer as coisa?

—Mais ou menos - Nina tinha algumas ideias de como tirar algo bom de toda essa historia

—Bom, faça como quiser. Mas não vá pra cama com ele ainda, Harry nunca gostou de pequenos desafios, vai perder o interesse.

Nina sorriu para ela irônica.

 
—Eu já disse, NÃO vou dormir com o seu filho.

—E eu já disse, é uma escolha sua. - Anne levantou as mãos demonstrando não se importar muito - Contanto que espere até ele se apaixonar.

Nina a olhou com desprezo. Aquilo era de longe a coisa mais terrível que já tinha visto alguém fazer, mas por mais que odiasse tudo não podia se dar o direito de julgar, afinal era a parte principal de toda a mentira.

Flashback - 3 semanas a atrás

Nina entrou no abrigo como um furacão e Anne vinha logo atrás.

—Nina, por favor, estou pedindo como mãe... 

—Isso é o que mais me assusta, Anne! - Nina passou pro outro lado do balcão nervosa - Você como uma mãe vir me "contratar" para quebrar o coração do seu próprio filho. 

—Você não entende. Ele precisa... - Anne balançou a cabeça desistindo de tentar convencê-la dessa forma - Um ano. É a única coisa que eu te peço, e por um bom preço.

Nina debruçou-se no balcão enojada 

—Eu não sou esse tipo de pessoa, Anne. 

—Ah, por favor - Anne riu irônica - Eu tenho observado você a semanas. Todos os homens que pisam nesse lugar saem doidos por você e suas provocações em troca de dinheiro. 

—EU NUNCA FIZ NADA ALÉM DE FLERTAR COM ELES! NÃO SOU UMA PROSTITUTA! - ela se defendeu ofendida - Esses homens querem atenção e eu preciso de dinheiro para cuidar dos 52 cachorros que a gente abriga aqui. Eles acreditam no que querem, mas nenhum nunca encostou um dedo sequer em mim.

—Eu não quis... - Anne tentou concertar a situação, mas Nina foi mais rápida 

—Não importa, eu não quero mais nada que tenha a ver com você. Pode ficar com meus desenhos, com a Vogue, seu dinheiro e, por favor não volte mais. 

—Você tem certeza? - Anne perguntou arqueando a sobrancelha - Você disse 52 cachorros? Vi uma placa de vende-se na porta, o que vai acontecer com eles quando o dono fechar o abrigo? 

Nina sentiu seu estômago se contrair. 

Aquilo a perturbava a semanas. Dom, o dono do abrigo, não estava conseguindo manter o lugar, então decidiu vender o imóvel e desistir do negócio. 

Alguns animais iriam para outros abrigos, mas a maioria teria que voltar para as ruas e Nina não suportava viver com aquilo. 

Anne percebeu uma mudança nas feições da garota e sorriu involuntariamente. Aquele era o ponto fraco.

—Com o dinheiro pode salvar mais do que só os 52 cachorros que estão aqui.

—Vá embora! - Nina respondeu com o maxilar contraído

—Você tem meu telefone. - Anne lhe deu as costas com tranquilidade. Sabia que a tinha conseguido.

Nina nunca foi uma escolha aleatória. Anne pesquisou sua vida inteira. Sabia que ela era uma boa pessoa, cuidava de animais abandonados, sempre estava com um sorriso no rosto, passeava com cachorros, amava crianças e fazia tudo e qualquer coisa pelo irmão. Não se dava muito bem com a mãe, e apesar de flertar com os caras que apareciam do abrigo para vê-la, nunca se envolvia com ninguém.

Alguém em seu passado havia lhe dado um belo de um coração partido, algo difícil de se esquecer, difícil de superar. Desde então Nina não se apaixonava. Nunca seria um problema.

Em um ano Harry se apaixonaria, ela lhe mostraria como a vida ainda é boa, então se mudaria para Nova York por causa do trabalho e o deixaria. Ele teria um coração quebrado, mas saberia como era sentir algo de novo. Ela devolveria sua ânsia pela vida.

Flashback OFF

Um ano.

Ela tinha que ficar ao lado de Harry durante um ano. Apenas um ano.

Tinha que aguentar sentindo-se a pior das pessoas por apenas um ano e depois estaria livre.

Mas não faria do jeito de Anne. Ajudaria Harry como pudesse, mas não fingiria se apaixonar e não deixaria que ele se apaixonasse. Seriam amigos. 

Claro, que tudo ficava mais fácil quando Anne não estava por perto.

—Ok. É melhor você ir. - Nina abriu a porta e Anne achou um pouco de graça na insolência da garota. 

 
—Já tem planos pra hoje? - perguntou antes de sair 

—Tchau, Anne - Nina sorriu sem humor 

—E sobre Nova York? - Anne perguntou antes de sair 

—Semana que vem.

Ligação ON 

—FOI MAL! - Layla gritou do outro lado da linha 

—Não grita comigo - Nina disse ao trancar a porta. Layla era MUITO escandalosa - Sabe o que você é? 

—Uma vaca? 

—Isso mesmo! Você é uma vaca! - Ela andou até o elevador e apertou o botão distraída - Falei para você que se fosse pra ir era para irmos juntas. 

Enquanto Layla dava mais uma desculpa esfarrapada por seu atraso, Nina percebeu Harry parando ao seu lado e sorriu reparando o quanto ele estava bonito. 


—...FICA FAZENDO DRAMA! - Layla berrou de novo fazendo com que Nina só ouvisse a última parte do que tinha dito. 

—Drama? - ela sussurrou querendo gritar e o elevador chegou. Os dois entraram na mesma hora, ela socou o botão com força e respirou fundo - É bom você chegar em 20 minutos no Joe's ou...

—OLHA, NÃO ME APRESSA, NÃO! - Layla berrou ainda mais alto. Nina desencostou o celular da orelha e ainda conseguia ouvir perfeitamente - VOCÊ TEM UM PUTA VIZINHO GOSTOSO AI DO LADO, SE NÃO QUER CHEGAR SOZINHA POR QUE NÃO CHAMA ELE PRA IR COM VOCÊ? - Nina fechou os olhos e mordeu os lábios irritada. 

Não tinha como Harry não ter ouvido aquilo. 

—20 minutos, Layla. 20 MINUTOS! - ela endureceu o maxilar e desligou 

Ligação OFF 

O silêncio pairou no elevador, mas Harry tinha um sorriso irritante no rosto. 

—Considerando que eu sou seu único vizinho... - ele finalmente disse 

—Considerando que você não devia ouvir a conversa dos outros... - ela deu de ombros irritadinha e Harry riu

—Tudo bem, eu faço as honras - ele se virou na direção dela - Já que estamos indo pro mesmo bar, por que não vamos juntos? 

—Não acho uma boa ideia.  

O elevador parou no 5° andar antes de chegar ao térreo e uma senhorinha entrou.

Harry sentiu um cheiro de rosas com canfora.

—Senhora, Mercy - Ele abriu seu sorriso mais lindo  

—Harry, querido. - a senhora segurou na mão de Harry - Está tão bonito hoje.

—Não mais do que a senhora.

—Você é muito gentil - a senhorinha corou

—A senhora conhece minha nova vizinha? - Harry chamou a atenção dela pra Nina e ela tinha certeza de que estava tramando algo - Senhora Mercy, essa é Nina. Nina, essa é a adorável senhora Mercy. - Nina sorriu para ela e ela retribuiu -  Sabe senhora Mercy, Nina é uma mulher cruel - ele cruzou os braços - Pedi que ela me levasse a um lugar, mas ela disse que não acha uma boa ideia.

Nina passou a mão no cabelo loiro escuro e riu nervosa com o olhar da senhora Mercy em cima dela. Não estava acreditando no que Harry estava fazendo.

— Sabe o que é, senhora Mercy, não entendo como ela pode deixar alguém nas minhas condições andar por ai sozinho. Por essas ruas perigosas. 

—Não pode! - A senhora Mercy cobriu a boca preocupadissima.

Era óbvio a apelação de Harry, mas ele tinha o dom para se alto vitimizar.

—Ai, Harry... - ela suspirou com um sorriso extremamente falso para senhora Mercy - Você me entendeu errado - Harry sentiu as mãos dela em seu braço e não estava se aguentando com aquela voz sem graça, ia rir a qualquer instante - Eu disse que não era uma boa ideia você ir sozinho.

—Ah, que coisa. - Harry foi extremamente cínico - Além de cego devo estar ficando surdo.

—Isso mesmo, querida. Cuide dele como se fosse seu - Senhora Mercy ainda fez uma gracinha antes de descer do elevador e Nina viu o quanto tinha sido passada pra trás 

 
Assim que a senhorinha já estava longe Nina puxou Harry para que andasse

—Odeio você! - ela cochichou entre dentes e ele gargalhou. Nina não conseguiu deixar de rir de si mesma. - Vai rindo, vou te deixar no meio da rua. - ela brincou enquanto atravessavam a porta do prédio.

—Você não faria isso - ele sorriu extremamente fofo

—Eu sou cruel! - os dois caíram na risada juntos

—Senhor Styles, sou eu... - um homem chamou da calçada um pouco sem jeito e Nina não o reconheceu -  Bill.

—Olá, Bill. - Harry continuou sorrindo para ele

—Precisa de ajuda?

—Tudo bem, Bill. Nina vai me ajudar, obrigado.

Bill tomou a frente e fez um gesto para que Nina o seguisse. O táxi de Bill estava parado em frente ao prédio esperando. 

Nina abriu a porta e deixou que Harry entrasse primeiro.

—Joe's? - Bill fazia a mesma pergunta todas as noites e Harry sempre tinha a mesma resposta.

—Joe's.

Nina se recostou no banco cruzando as pernas que sem querer encostaram nas de Harry. 
Ele sorriu virando-se para Nina e ela se afastou um pouco. Olhou pela janela pensativa, então voltou-se para ele

— Não precisava vir comigo.

—Não - Harry deu de ombros e os dois riam juntos. 







—Ta bom, vamos achar seus amiguinhos - Nina observou o lugar ao entrar procurando pelos meninos

—Por ali - Harry passou a mão por sua cintura conduzindo-a pelo lugar sabendo exatamente onde ir.



—Não é como se Perrie se esforçasse para se enturmar, ela nem olha direito na minha cara - Sophia explicou  

—Ai, eu não posso falar nada. - Els fez-se de santa

—Ah, larga de ser falsa, mulher - Louis disse para ela que rolou os olhos 

—Louis, você é a cobra dessa relação, esqueceu? 

—Outch! - Liam gargalhou, assim como Sophia e Niall

—Olá, garotas - Harry parou na frente da mesa ainda com a mão na cintura de Nina e acenou com a cabeça - Sophia, Els.

—Wow! - Liam os analisou assim como todos os outros que os olhavam de queixo caído 

—Pode pagar, Liam - Niall bateu na mesa 

—Poxa, Nina, eu pensei que você fosse durona - Liam tirou a carteira do bolso 

—Pode guardar seu dinheiro - Nina se desvencilhou de Harry - Eu só vim entregar ele pra vocês 

—De jeito nenhum! - Harry disse puxando-a para perto - Não vou deixar você sozinha por esse bar, vai ficar com a gente, pelo menos até a Layla chegar. 

Ela franziu a testa olhando pra ele. Aquilo não era um pedido e não tinha discussão. 
Nina não sabia lidar com aquilo, era ela quem sempre estava no comando das coisas e ser encurralada assim estava fora de sua zona de conforto, mas tudo o que tinha a ver com Harry a tirava do conforto. 

—Tá. - ela respondeu sem muita opção

—Ótimo, então essa é Sophia, namorada do Liam - ele apontou pra Niall que empurrou seu braço para direção certa enquanto os outros riam - E essa é a Els, namorada do Louis - Niall empurrou o braço de novo, dessa vez apontando para Els - E essa é a Nina, namorada do Harry. 

Harry apontou pra ela e a mesa toda riu, mas Nina o olhou feio 

—Só pra constar, eu estou fazendo cara feia pra você 

Harry teve que rir assim como os outros. 

Os dois se sentaram e se Harry ainda não estivesse encantado com Nina, agora teria sido o momento. 

Ela não era tímida e nem fresca. Muito pelo contrário, brincava com os meninos com facilidade e bom humor. Era engraçada, esperta e muito divertida. 
A verdade é uma só, não houve uma pessoa naquela mesa que não tenha se encantado com Nina, mesmo os que nunca admitiriam aquilo (Louis).

—Hey, cade você? - ela atendeu o telefone e logo balançou a mão no alto - Ta me vendo? Tá. Beijo beijo 

Nina desligou e em dois minutos Layla apareceu. 

Ela era morena de cabelos compridos, corpo maravilhoso e uma personalidade de assustar. 

Vestia um top branco de crochê que deixava sua barriga lisa a amostra e uma saia preta comprida. 

—Cheguei, amada - Ela disse enquanto Nina se levantava para dar-lhe um beijinho 

—Gente, essa é a Layla. Lay, esses são Els, Louis, Liam, Sophia, Niall e Harry.  

— O vizinho gostoso - Harry levantou a mão como se fosse a chamada na sala de aula e Nina riu

—Senta ai, Layla - Niall disse com um sorriso de orelha a orelha - Quer tomar alguma coisa? 

Layla sorriu esperta, analisando-o de cima a baixo.

—Com você? só se for um banho - Layla soltou uma risadinha 

Todos riram enquanto Niall ficava vermelho.

—Ai, foi brincadeira - Lay sorria pra Niall - Que tal a gente começar com a cerveja? 

E assim foi. Como Nina, Layla também era uma figura. 
Então chegou aquele momento da noite onde todos estão cansados e com excesso de álcool no sangue, afim de um lugar mais reservado. 




Harry e Nina conversavam só entre eles a um tempo sem nem prestar atenção no resto do pessoal. 
As pernas dela sobre as dele enquanto ele acariciava seus joelhos. 

—Ah, meu Deus! - Nina levantou um pouco o corpo - Niall, não deixa! É sério! Layla, chega! - ela disse dura, mas riu quando virou-se para Harry de novo 

—O que ela fez? 

—Tava virando shots feito uma louca, DE NOVO - os dois gargalharam juntos. 

—Acho que é melhor a gente ir 

—"A gente"? - Nina arqueou as sobrancelhas 

—Niall vai dormir lá em casa hoje 

—Eu sei, mas na mesa do lado a Jill está competindo com duas outras garotas pra ver quem consegue chegar aqui primeiro quando eu sair 

—Vou sair daqui com você hoje - ele sorriu e ela o acompanhou por alguns segundos, mas logo caiu em si.

Aquele era o momento de deixar as coisas claras.
Soltou um suspiro pesado o que fez Harry notar que tinha algo errado

—O que? 

—"O que" o que? - Harry pendeu a cabeça levemente para o lado lançando-lhe um sorriso esperto e ela soltou um riso anasalado - Eu não sou como elas. Não sou esse tipo de garota

—Esse tipo de garota? 

—Não sou do tipo que você transa e depois chama um táxi de manhã. - ela explicou - Sou o tipo de garota por quem você se apaixona. E é por isso que vamos ser só amigos. 

Harry pensou por alguns instantes com a feição séria demais. 

—Eu não me apaixono tão fácil. - ele finalmente disse sem virar-se para ela

—Então não se apaixone por mim. - sua voz ficou mais divertida e leve  

—Por que? - Harry perguntou - Tem medo de se apaixonar por mim também? - pegando-a desprevenida. 

Aquela pergunta mexeu com ela de um jeito que provavelmente nunca saberia explicar.

Tinha medo de se apaixonar por ele no meio de toda aquela bagunça?

Nina nunca tinha se preocupado ou se quer pensado nessa possibilidade. Não precisava, há muito não se dava o trabalho de sentir algo.  E no final das contas, esse foi um dos motivos que fez com que Anne a escolhesse.

 

—Eu disse que sou o tipo de garota por quem se apaixonam, e não o tipo que se apaixona.