Purple Light escrita por Isa


Capítulo 34
Capítulo 33


Notas iniciais do capítulo

Amore, amadas, amoras, queridas.......

Eu devo mil perdões a vocês, mas as semanas foram passando em uma loucura e eu nem percebi.

Esse capítulo não saiu exatamente o que eu queria, e bem mais curto também, mas espero que gostem.
Nos vemos lá embaixo.



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POV Harry

 

Então, depois daquele desastre todo as coisas finalmente pareciam começar a se encaixar.

Eu e Nina vivíamos nossas vidas como um perfeito casal e não nos preocupávamos com isso. Talvez porque estivéssemos gostando, ou talvez fosse só o fato dela estar ocupada demais pra se preocupar com aquilo. De qualquer jeito funcionava pra mim. 

Não voltamos a falar sobre aquele dia e a mãe dela não apareceu mais, mas os danos colaterais daquele encontro pareciam pairar sobre a gente. 

Eu me senti uma verdadeira merda, e por alguns segundos fiquei sem reação. Mas percebi que naquela hora Nina precisava de mim, então resolvi que pensaria naquilo depois.

Queria poder dizer que isso não aconteceu, mas meu dia era bem vago, o que me dava muito tempo pra pensar. Então eu pensei muito sobre aquilo e pela primeira vez depois do acidente eu entendi que tinha duas opções: 

 

Ficar sentado o dia todo me lamentando, como nos últimos dois anos, e ser exatamente o que a mãe de Nina tinha dito. 

 

Ou

 

Fazer de tudo para não ser um inútil.

 

Então minha rotina mudou. Eu não dormia mais que o suficiente, não enchia a cara o dia todo, me alimentava direito, agora tinha um personal que ia em casa para que eu me exercitasse, e decidi que ia me virar mais. 

Comecei a me aventurar mais na cozinha e até mesmo sair pela cidade sozinho. Tá, essa última parte foi meio impulsivo.

As duas primeiras vezes me limitei a ir buscar pão na padaria da rua de trás, não foi simples, nunca tinha me preocupado em contar quantos passos levaria até lá. Fiquei confuso em alguns momentos, eram muitas pessoas passando, o barulho dos carros, e eu sem saber pra onde ir. Congelei e pensei mesmo em desistir, mas ainda existem pessoas boas no mundo. Uma senhora perguntou se eu precisava de ajuda, eu disse que estava tentando chegar a padaria um pouco envergonhado, e ela pacientemente me levou até lá e me colocou na fila. 

Enquanto esperava pela minha vez percebi que não importava o quanto eu fosse independente, pra algumas coisas mesmo que simples, sempre precisaria da ajuda de alguém. Senti um nó na garganta e a palavra “inútil” ecoou em minha cabeça. 

De novo, podia me lamentar, ou aceitar que seria isso pro resto da vida e vivê-la mesmo assim.

 

Estava mesmo empenhado na segunda opção. 

 

O segundo dia foi bem mais fácil, consegui repetir o dia anterior sozinho, então resolvi que voaria um pouco mais alto no dia seguinte. Iria até o parque. Era um pouco mais distante, mas perto o suficiente, pelo menos eu pensei que sim. Mas claro, aconteceu o óbvio, acabei me perdendo. 

 

Andei muito e não tinha ideia de onde estava. A temperatura começou a cair e eu percebi que tinham se passado horas. Apertei o relógio.

 

“Seis e trinta e oito” 

 

Ok. Decidi ligar para o Bill, mas ele não atendeu. Tentei Niall e os outros, mas curiosamente nessa noite a única pessoa que me atendeu foi Gemma. 

Ou seja, me fodi!  Ela ficou putassa, ligou pra Nina e as duas fizeram o maior escarcéu. 

Até eu explicar que não queria depender de alguém toda vez que quisesse sair de casa. Já faziam dois anos, e se outros deficientes visuais conseguiam fazer aquilo, eu também conseguiria. Nina concordou comigo sem esconder sua preocupação, mas ela sempre tinha lutado pela minha independência, mesmo quando eu não me importava com isso. Gemma foi mais relutante, mas acabou concordando ainda contrariada. Elas só me fizeram prometer não fazer isso de novo enquanto uma das duas não pudesse me ajudar, e eu concordei. 

 

Mas os meus dias era realmente vagos. Nina e Gemma tinham seus trabalhos, os rapazes tinham seus projetos, e eu só ficava em casa esperando que alguém aparecesse. Antes isso servia, mas eu não estava mais imerso as minhas angústias, então sentia algo faltando. 

 

Andei pelo apartamento tentando entender o que era aquilo. O que tanto fazia falta em mim? Pensei, pensei e pensei. Deslizei as mãos pelas paredes e móveis, não sabia se era algo palpável ou só um sentimento. Precisava achar.

 

Até que então seguindo meu percurso pela segunda vez meus dedos deslizaram pelas teclas do piano que eu tinha ao lado da sala. Eu voltei por um segundo e as toquei de novo. Aquilo me causou algo interessante. 

Sentei na frente dele, deslizei os dedos por todas as teclas e fui tomado pela nostalgia. Como eu amava compor nele. 

 

 

Lembrei de mais uma coisa. Fui até meu quarto e tateei os guarda roupas sem encontrá-lo. 

 

Eu tinha mandado Gemma jogá-lo fora? 

 

 

FLASHBACK ON 

 

—Trouxe uma coisa pra você - A voz dela estava animada demais e só isso foi o suficiente pra me deixar irritado.

 

Gemma colocou algo em meu colo e eu pousei minhas mãos sobre ele sem ânimo algum. O percorri com os dedos sentindo uma coisa horrível em mim.

 

Era meu violão.

 

Empurrei-o do colo para o chão. 

 

—Harry! - ela gritou com o barulho 

 

—Joga fora essa merda

 

—Você ficou louco? 

 

—Não! Fiquei cego! - eu a calei. Eu tinha uma raiva dentro de mim tão grande, a angústia, a sensação de perda. Me sentia humilhado pela vida.

 

Estava em casa a duas semanas. Completamente perdido. Minha mãe e Gemma me levavam da cama para a poltrona da sala e da poltrona de volta pra cama. Eu limitava meus movimentos a isso, passava o dia todo sem nem ao menos tentar me mexer. A escuridão era apavorante. Eu não tinha certeza se algum dia voltaria a ser capaz de dar um passo pra fora de qualquer lugar. E aquilo me corroía por dentro. 

 

A senti pegando o violão dos meus pés e resmungando:

 

—Está cego, não morto 

 

Virei meu rosto pro lado oposto do dela

 

—Preferia estar morto - fechei os olhos desejando que aquilo não fosse real, mas não existia algo mais real que aquele pesadelo. 

 

Ela tocou minha mão e eu quis me afastar no mesmo instante, mas estava mentalmente cansado demais.

 

—Não é o fim do mundo, Harry, vamos lidar com isso aos poucos. - Sua voz calma e compreensiva me dava mais raiva - Você vai poder continuar com a sua vida como antes. 

 

Eu ri seco e senti lágrimas me ameaçarem. 

 

Kendall tinha vindo me ver no dia anterior. Eu sentia tanto sua falta, estava completamente perdido e precisava dela, precisava que ficasse ao meu lado, mas tudo o que ela fez foi ser fria e distante. Queria toca-la, senti-la, meu mundo agora era diferente. Mas ela nem mesmo se aproximou da cama onde eu estava. 

Eu senti a pena em sua voz, talvez até um pouco de culpa, mas nada que fosse o suficiente para impedi-la. Escutei suas meias verdades atônito, sem poder culpá-la por me deixar. Eu sabia o que tinha me tornado, sabia que jamais voltaria a ser o que era. E ‘aquilo’ não era mais suficiente para ela.

 

Eu podia gritar mais uma vez com Gemma e dizer o quanto aquilo estava acabando comigo. O quanto todo mundo dizer que eu poderia voltar a fazer as mesmas coisas, ser aquele Harry... me destruía. 

 

Eram mentiras ilusórias que me faziam ferver de raiva, mas de novo me senti cansado demais para entrar nessa discussão. 

 

—Gem, por favor, joga isso fora - implorei com a voz embargada de um choro que talvez eu não pudesse evitar - Não quero mais uma coisa pra me lembrar do que eu era. 

 

—Harry... - ela se ajoelhou na minha frente com a voz falha, assustada. Sabia que estava prestes a chorar também. 

 

Gemma tinha se acostumado com meus gritos, minha raiva, mas nunca tinha me visto tão frágil quanto eu estava ali. Eu não tinha me permitido chorar até aquele momento, mas minhas forças tinham se esvaído. 

 

FLASHBACK OFF

 

 

Me peguei nostálgico com aquela lembrança. Kendall era minha última esperança de conseguir superar tudo aquilo, e quando ela se foi acabei deixando que levasse tudo com ela.

 

—Harry, querido? - Maria me chamou - Precisa de alguma coisa? 

 

—Maria. - sorri ouvindo seu doce sotaque. Tinha até esquecido que estava lá.

 

Maria era brasileira, a filha a trouxe para Londres pra terem uma vida melhor. Estava comigo desde que me mudei. A dois anos seu inglês era terrível, mas ela sempre cuidou muito bem de mim. E hoje nos entendemos perfeitamente.

 

—Já estou indo, está tudo no lugar. Amanhã venho na Nina, se precisar de mim é só gritar que eu venho correndo - Maria era maravilhosa, então óbvio que Nina deu um jeitinho de tê-la para si também.  - Ela reclamou da blusa de novo - Sua voz ficou tediosa - Coloquei no lugar que ela gosta - elas se davam muito bem. Até demais pro meu gosto. Muitas vezes conversavam em português o que me deixava puto, mas essa é uma das desvantagens de ter uma... amiga? Não sei exatamente o que Nina é. Enfim, de ter alguém que falasse mais de uma língua. E Nina é ótima nisso.

 

Ela e Lay falavam Inglês, português, espanhol e francês. Começaram a fazer chinês, mas ficaram com preguiça. 

 

Elas disseram que gostavam de idiomas, mas eu tinha certeza que era só pra conseguirem conversar sem que ninguém entendesse. Faziam muito isso. 

 

Enfim...

 

—Precisa de alguma coisa querido? - ela provavelmente percebeu minha inquietação. 

 

—Preciso! - respondi animado - Meu violão, sabe onde Gemma guardou? Eu a mandei jogar fora, mas tenho certeza de que não fez isso. 

 

Maria riu.

 

—Claro que não. Venha, vamos até o escritório - esperou que eu pegasse em seu braço e seguiu. Ouvi uma porta abrir e ela tocou meu braço puxando-o até que minha mão tocasse o violão. O segurei e ela o soltou. - Vai voltar a tocar? - Sua voz estava contida, tentando ao máximo esconder as gotas de esperança. 

 

Maria também era a grande confidente da minha mãe, então ela sabia o quanto todos esperavam isso de mim.

 

Passei minhas mãos por ele. Johnny, como eu carinhosamente o chamava, tinha passado por muitos momentos da minha vida. Mas eu o tinha afastado a muito tempo, o que me fez sentir um certo frenesi ao sentir de novo suas cordas. 

 

Eu tinha tudo o que me fazia bem naquele momento, menos ela. 

 

A música.

 

Era isso que faltava, a parte de mim que eu resolvi matar junto com o “antigo Harry”. Sentia falta daquela rotina louca. Sentia falta de ocupar minha mente com a coisa que eu mais amava.

Passei os dedos pelas cordas fazendo com que o som saísse. Eu podia lembrar de tudo perfeitamente como era... 

 

E agora tudo seria diferente. 

 

—Não. - engoli em seco, estendendo a mão até a parede para poder sair de lá.

 

Sentei no sofá ainda tocando Johnny por toda parte. Ouvi os passos de Maria, ela colocou a mão em meu ombro.

 

—Volto semana que vem, querido. - beijou minha testa e saiu. 

 

 

 

***

 

 

 

Ouvi o chuveiro desligar enquanto sentava na cama um pouco cansado.

Senti a cama mexer quando ela se ajoelhou percorrendo as mãos por minhas costas. Me abraçou nua e ainda molhada. Seus mamilos firmes queimaram minha minha pele.

 

—Tem uma coisa diferente no seu quarto - falou ao pé de meu ouvido toda sexy.

 

—Tem? - me fingi de idiota 

 

—Nunca tinha visto aquele violão encostado ali 

 

—Tem um violão no quarto? 

 

—Engraçadinho. - me apertou depositando um beijo rápido em meu pescoço - Eu ouvi você tocando quando cheguei. 

 

Eu ri sabendo que estava blefando. Tinha parado meia hora antes do horário que ela geralmente chega pra justamente não ser pego. Não queria ninguém animado demais.

 

—Mentira.

 

—Talvez - ela riu também - Mas ia adorar ouvir você tocar 

 

Virei meu corpo puxando-a para meu colo. 

 

—Não vai acontecer, meu bem. 

 

—Mas... - a beijei querendo acabar com aquela conversa, mas ela deu um jeito de se esquivar rápido demais. Continuei tentando beija-la e ela fugindo - Harry... Espera...Precisamos conversar...

 

—Você vem me abraçar pelada e diz que quer conversar? Isso não faz sentido. - Nina saiu do meu colo e pude ouvir a cômoda sendo aberta.

 

—Você vai ao desfile, não vai?

 

Mais uma vez não era uma coisa simples. O desfile seria em Nova York, eu não tinha saído do país desde o acidente e por mais que isso me deixasse apreensivo eu faria.

 

—Claro - dei de ombros. 

 

—Vai entrar no tapete vermelho comigo? - ela se jogou na cama outra vez.

 

Engoli em seco. Sabia o quão grandioso seria o desfile de Nina, cheio de famosos, imprensa e tudo que eu sempre fugi nos últimos anos. Eu estaria exposto a mídia e a todos. Aquilo sim me apavorava. Não estava preparado para aquilo.

 

—O tapete vermelho chama muita atenção. - minha voz saiu um pouco baixa - Fariam muitas perguntas.

 

—Hmmm – ela pareceu pensar – Tudo bem, não vou ficar chateada, MAS SÓ... – ela aumentou o tom de voz no “mas” – Se tocar uma música pra mim.

 

Sorri de canto. Chantagista ao extremo.

 

—Não. – respondi firme

 

—Que saco! – ela pulou movimentando o colchão. Além de tudo era mimada. Então vi uma bela oportunidade ali.

 

—Tem uma coisa, que você pode fazer... – joguei no ar

 

—O que?

 

—Semana que vem, quando estivermos em Nova York pode deixar eu te levar a um encontro.

 

—Um encontro? – sua voz saiu extremamente esganiçada – Não seja babaca, nós nunca fizemos isso.

 

—Claro que não fizemos, por isso vamos fazer. – respondi entediado como se isso fosse muito simples e ela não estivesse entendendo.

 

Fez-se silêncio por alguns segundos

 

—Um encontro? – perguntou de novo. Sentia seus olhos em mim.

 

—Um encontro – reforcei

 

—Você vai planejar? 

 

—Claro!

 

—Em Nova York?

 

—Tá duvidando da minha capacidade? – me fingi de ofendido

 

—Claro que não! – ela respondeu prontamente e então pensou por mais alguns segundos – Se eu topar... Vai tocar uma música pra mim?

 

Senti meu estomago revirar, mas era SÓ uma música, não podia ser tão difícil assim.

 

—Toco – respondi completamente inseguro

 

—Jura de dedinho? – ela perguntou super enérgica. Não estava acreditando naquilo. Então estendi meu dedinho e ela entrelaçou o dela com o meu – Mentir de dedinho é pecado – confirmou com o tom mais baixo e ameaçador me fazendo rir.

 

—Torturar pessoas com deficiência também, e nem por isso você deixa de fazer – sorri esperto e ela me empurrou – Vai aceitar ou não? – perguntei ainda rindo, mas sem esconder minha impaciência.

 

—Tudo bem, saco! – ela suspirou – Vamos ter um encontro.


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Notas finais do capítulo

E então, bebês???

Ansiosas pra esse encontro? Eu to!

Preparadas para as emoções desse desfile? Eu não! kkkk

Pra alegria de vcs já comecei o próximo caps e ele ta ficando imenso. Prometi um capítulo por semana e juro que vou me esforçar.
Minha única leitora linda e maravilhosa que comenta todos os capítulos me pediu um dia especifico.
Bom, vamos deixar para as quartas.
Vou me esforçar mesmo, e se der posto antes.

Beijinhoooosss



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