Wrestling & Romance escrita por MrSancini


Capítulo 4
Capítulo 4: O Primeiro Dia




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Após mais algum tempo de viagem, o nosso ônibus finalmente chegou ao terminal rodoviário de Rio Azul. Para uma cidade com menos de 10 anos de existência, ela provavelmente possui o melhor índice de desenvolvimento humano do Estado do Rio de Janeiro. Certamente porque o fundador dela, e prefeito pelo segundo mandato consecutivo é um bilionário radicado no Brasil que preferiu evitar a politicagem na hora de comandar a cidade, então os recursos vão para os locais certos e passam pelas pessoas certas na hora de fazer as coisas.

Claro, ela não tinha o porte da capital ou mesmo Niterói, mas certamente seria um bom lugar para se viver, caso a pessoa escolhesse. O terminal era um lugar simples, com guichês e plataformas de partida e chegada de ônibus, alguns quiosques de fast food, papelaria, enfim, pacote completo de terminal, mas extremamente limpo. Nós pegamos nossas mochilas no compartimento de cima e descemos do ônibus.

—Caramba, parece que mudei de país – Erick exclama, maravilhado com os arredores e não era a toa.

—Verdade... - Lara abre um sorriso ao ver a cidade, que é tem uma mistura de interior, com casas simples e cidade de litoral, com algumas casas mais extravagantes. - Definitivamente a escolha da cidade foi correta.

—Pelo menos alguma coisa boa eu fiz nessa merda de ano – Ainda toco na minha própria ferida sobre a mancada que eu dera com meus amigos.

—O bom é que o terminal é um bom ponto de referência, dá pra ver o farol na direção da praia – Nicole aponta para um lado – E lá do outro lado temos o shopping center, claramente a maior construção daqui.

—E parece que a prefeitura não é longe – Brenda indica um prédio a uns duzentos metros do terminal.

—Mas bem, teremos ainda mais ou menos meia hora de caminhada até a casa que ficaremos hospedados, não? - Beatriz pergunta, ainda que de maneira retórica.

—Isso mesmo... - Afirmo, abrindo o Google Maps no meu celular e conferindo o mapa. Não era necessariamente um local longe, o aplicativo indicou meia hora de caminhada, mas provavelmente seriam vinte ou vinte e cinco minutos. Até menos, se formos rápidos.

—Não sei vocês, mas eu prefiro bancar a turista DEPOIS que nos hospedarmos – Nicole indica que estamos perdendo tempo ali.

E claro, partimos na caminhada pelas ruas de Rio Azul. Para vermos como era a parte ligada ao mar da cidade, decidimos ir pela orla, descendo uma longa avenida e depois virando a direita numa parte onde não havia praia, apenas barcos de pesca e passeio, ligados a uma doca. Felizmente o trânsito de Rio Azul não era intenso, haviam alguns ônibus circulando, mas como ainda estávamos em horário comercial, não haviam tantas pessoas.

A brisa marítima sempre reanimava meus ânimos, e não pude deixar de sorrir enquanto via ao longe a praia, os barcos e mais longe ainda, o farol. Enquanto caminhávamos, reparei que meus amigos TAMBÉM sorriam.

—Essa cidade parece ser tão bonita... - Erick comenta – Por quê não vejo mais gente a visitando? E nem leio sobre ela em guias de viagens...

—Sobre as visitas... Bem, é uma cidade recente – Tento encontrar uma explicação – O prefeito ainda está trabalhando em muita coisa pra torná-la um polo turístico ativo, ao menos foi o que li em algumas reportagens na internet. E é difícil competir quando se tem cidades como Búzios, Cabo Frio e Arraial do Cabo por perto chamando muito mais atenção.

—É uma pena... - Erick dá de ombros

—Ou nem tanto – Nicole apresenta um outro ponto de vista – Já que imagina se nós quiséssemos relaxar com a cidade cheia de gente e barulho... Insuportável!

—Pensando pelo lado da Nicole... - Lara diz, afirmando positivamente – É bom que a cidade ainda não seja tão grande.

Decidimos evitar mais conversas, pois claramente estávamos exaustos da viagem. E nossas roupas não eram necessariamente as melhores para o calor, eu, Nicole e Erick por exemplo estávamos de calças compridas e o tecido de nossas roupas não era necessariamente leve. Sem contar a dor nos pés por causa dos tênis e a vontade de beber algum líquido, apesar de fazer pouco menos de uma hora que paramos pra comer algo.

Algum tempo depois, finalmente chegamos no nosso destino, uma casa relativamente grande, com dois quartos, cozinha, copa, sala e banheiro, localizada a provavelmente dez minutos de caminhada da praia. Lá nos esperava uma mulher, que pela aparência devia ter uns vinte e seis anos, cabelos e olhos escuros, e uma pele clara bem cuidada.

—Pela descrição, você deve ser o Diego Alves, não? - Ela se adianta e me cumprimenta – Sou Ana Esteves, a proprietária do local.

—Sim, sou eu – Sorrio amistosamente, tentando não parecer um maluco – A casa nos parece boa e tem um tamanho que comporta nós seis sem problemas.

—Eu não a uso, com exceção de aluguéis, mas peço para alguém cuidar semanalmente dela, então está impecável.

—Acho que mesmo que não estivesse... Um pouco de trabalho braçal não iria nos matar, mas de qualquer jeito, muito obrigado.

—Se vocês não a bagunçarem muito, provavelmente terão uma boa semana...

Os olhos de Brenda se dirigem a Erick no mesmo momento. Acho que as lembranças da virada de 2014 pra 2015 ainda ecoam na mente dela, porque a seguinte frase sai da boca dela.

—Ouviu isso, traste?

—Por quê você olhou diretamente pra mim? - Erick soou genuinamente ofendido

—Porque de nós seis você é o único que bebe – Brenda manda na lata – E não pense que esqueci aquele vexame que você deu no Reveillon lá em Angra dos Reis.

—Caraca, mas isso vai fazer dois anos!

—Não importa!

Ana espertamente me entrega as chaves e vai embora, se despedindo de nós.

—Cuidem-se, crianças! - Pelo ritmo dos passos dela, ela não queria ouvir a discussão entre Brenda e Erick.

—Erick, Brenda... Acho que vocês assustaram a dona da casa – Lara também reparou nesse detalhe – E creio que ela ficará genuinamente preocupada com um de nós explodindo a casa.

—Enfim, vamos entrar e colocar roupas mais condizentes com a estação do ano? - Sugiro, para alívio de Nicole e Beatriz.

Coloco a chave no portão e a giro, abrindo e levando a um pequeno quintal, com uma garagem para apenas um carro. E com a outra chave, que tinha um adesivo no chaveiro indicando que era a da porta da casa, abro a porta principal que leva a sala.

A sala não era necessariamente suntuosa, possuía uma TV de vinte e nove polegadas, um aparelho de DVD e um receptor de TV por assinatura. Nela, também havia um sofá de três lugares e um de dois, uma mesa de jantar para seis pessoas e um rack onde estava a TV, o DVD e o receptor.

Na parede da sala havia uma pequena placa indicando o nome da rede e a senha do Wi-Fi, uma das razões pelas quais resolvemos alugar a casa. Depois de deixar minha mochila na sala, como a de meus amigos, dou uma olhada na cozinha (que dava acesso a copa também, onde poderíamos lavar nossas roupas), vejo que ela é igualmente simples, com um fogão de quatro bocas, um forno de micro-ondas, uma geladeira relativamente simples (e com apenas água ali), além da pia de lavar louças. Não era muito diferente da cozinha do meu apartamento, com exceção do micro-ondas, que eu não possuía.

De volta a sala, encontro apenas Erick, e as meninas estão aparentemente nos quartos trocando de roupa, e Erick faz o mesmo, só que ali.

—Amanhã teremos que fazer compras! - Aviso, enquanto tiro a blusa, procurando por uma sem mangas na minha mochila.

—O que tem na dispensa? - Erick me pergunta, calçando uma bermuda vermelha, ele já estava com uma camisa verde

—Seria perfeita se você começasse hoje uma dieta baseada em água – Coloco minha bermuda azul, que estranhamente é da mesma cor da minha camisa. Raramente eu coloco camisa e calça/bermuda da mesma cor. Vai saber.

—Mas enfim, que tal irmos pra praia, só pra conhecer o lugar?

—Seria uma boa ideia – Ouço a voz de Nicole, vinda de um dos quartos. Ela está com uma blusa sem mangas vermelha e uma saia rosada com alguns babados brancos.

Nicole e Lara saem de um quarto, enquanto Brenda e Beatriz do outro, elas parecem animadas com a semana que está por vir. Lara usa um biquini laranja e um shortinho jeans até próximo dos joelhos. Beatriz usa um maiô azul com uma saia verde, enquanto que Brenda usa um vestido fino rosa claro.

—Vamos nessa, então? - Digo, enquanto meus amigos deixam as mochilas na sala e vão saindo de casa, comigo seguindo eles. Tranco a porta, e o portão logo depois. Tenho que tomar um cuidado extra com a chave, mas por sorte, Nicole traz uma bolsa a tira colo, então entrego a chave a ela.

A caminhada até a praia é bem curta, cerca de cinco a sete minutos, já que a casa fica numa rua que dá direto na orla, e logo chegamos a praia.

Areia fofa (e quente), céu, mar, palmeiras e principalmente... Pouquíssima gente ali, pois era começo de semana e as férias na maioria dos colégios ainda não tinham começado. O mar estava tranquilo e a brisa marítima me animava.

—Olha, quaisquer dúvidas que ainda restassem sobre essa viagem – Digo, indo até onde as ondas batiam, molhando os pés com chinelo e tudo – Elas acabaram de ir embora com esse cenário aqui.

—Tem razão... - Beatriz passa a mão em meu braço – Essa praia é linda!

—E sabe o que isso significa, Bia? - Brenda diz, chegando ao lado dela.

Com uma agilidade que eu achava que elas não teriam, as duas tiram as roupas, ficando apenas com os trajes de banho. Sinceramente, a rapidez assustou até a mim.

—BANHO DE MAR! - As duas jogam as roupas na areia, tiram os chinelos e vão correndo até a água.

—Peraí, não vão se molhar agora, nós mal chegamos! - Erick tenta argumentar, em vão porque as duas caçulas já estão mergulhando e tudo... - Ah, quer saber! Vou pra água também!

Erick tira a camisa, chuta os chinelos em nossa direção e corre até o mar, se juntando a sua irmã e a melhor amiga dela. Não só se junta, mas como puxa as duas pra baixo da água, transformando aquilo em uma guerra entre os três.

Aliás, por mais que Erick e Brenda se bicassem, no fim das contas, eles se davam bem, além de na minha ausência, Brenda e Beatriz controlarem a personalidade Don Juanística (nem sei se essa expressão existe) de Erick.

Eu, Nicole e Lara não estamos em um humor para banho de mar, então pegamos as roupas de Beatriz, Brenda e Erick e nos sentamos a sombra de umas palmeiras ali.

—Francamente – Nicole dá uma risada – Não sei de onde eles tiram tanta energia assim...

—Acho... - Dou um bocejo longo – Que se a gente não tivesse ficado acordado até aquela hora ontem a noite, nós teríamos pique pra dar um mergulho.

—Ahan, sei... - A voz de Lara goteja sarcasmo – Não fui dormir tarde que nem vocês dois, mas não estou com saco pra pular na água.

—Me pegou nessa! - Dou o braço a torcer – Talvez eles... Ah, não consigo arranjar uma desculpa pra eles terem tanta energia... Foi mal, Nicole!

—Tudo bem... - Agora Nicole ri de verdade – É bom ver esse Diego mais brincalhão de volta!

—Como assim?

—Conto eu, ou você, Lara?

—Você conhece ele melhor, apesar de eu conhecer esse cabeçudo faz mais tempo – Lara me dá um leve empurrão

—Tuuuuudo bem – Nicole dá de ombros – Esse ano parecia que você estava mais adulto, brincando menos, rindo menos, parecia um daqueles executivos genéricos da empresa do meu pai.

A declaração de Nicole me pegou um pouco de surpresa. Eu realmente não tinha reparado naquelas coisas, eu tava tão focado em fazer a grana da viagem com meus amigos, que esqueci DOS MEUS AMIGOS.

Claro, até um cara distraído como eu tinha percebido que o ano havia sido um porre por conta da rotina imutável, mas não havia percebido o quanto isso havia afetado os meus amigos. Realmente eu tava falhando feio naquele departamento chamado "Amizade",

—O Diego pode até estar chato feito um executivo genérico – Lara sai em minha "defesa" - Mas pelo menos ele ainda não sai cantando qualquer garota com um par de peitos.

—Valeu, Lara... - Agradeço, com um meio sorriso – Apesar de que a Nicole ter razão no fato de eu ter esquecido de vocês por conta de uma viagem sugerida justamente porque eu tinha ficado um mês fora. Se vocês tivessem me abandonado, eu não culparia nenhum de vocês.

—Amigos de verdade não fazem esse tipo de coisa... - Nicole conclui, passando um braço ao redor do meu ombro – Se nós tivéssemos feito isso, seria bem cruel de nossa parte.

—Obrigado... - Sorrio, com um pouco mais de convicção – Eu devia me preocupar menos com esse tipo de coisa, e aproveitar a semana aqui pra relaxar. Caramba, esse foi nosso último ano no colégio e eu nem sei se vamos nos ver com tanta frequência depois!

—Entendo esse medo – Lara diz, fechando os olhos, pensativa – Mesmo que nós façamos quaisquer promessas, a vida vai acabar nos separando.

—Porém aqui – Nicole contrapõe Lara – Devíamos focar apenas no que temos aqui e não reclamar, mas relaxar.

—É uma boa ideia... - Concordo, ainda que com uma hesitação interna – Essa semana vou apenas deixar as coisas rolarem, quem sabe algo não acontece?

Claro, não contei a elas meus planos de ir pro Canadá, pra não me preocupar e as preocupar. Mas se esse plano desse certo e eu conseguisse a vaga, era provável que eu não fosse ver meus amigos por um longo tempo, então secretamente torci para que esses planos fracasassem. Ao menos naquele dia.

—Vamos falar de outras coisas mais importantes... Nesse domingo agora tem o Roadblock: End of the Line, não é? - Nicole me lembrou do Pay Per View do RAW que ocorreria naquele domingo.

—Vou contar, que se não fosse pelo Chris Jericho e sua lista, eu nem me daria ao trabalho de assistir ao RAW – Desabafo, um pouco revoltado pela falta de criatividade dos bookers da WWE, principalmente em relação ao Smackdown Live, que fazia jus ao título informal de Terra das Oportunidades.

—Somos dois... - Lara concorda comigo – E estou ansiosa pra ver na quarta-feira, quem vai pro Roadblock com a chance de quebrar o recorde do New Day como Campeões de dupla do RAW.

—Sinceramente, acho que o momento está com o Cesaro e o Sheamus – Nicole comenta, dando seu parecer – Os dois conseguiram superar as diferenças e a transformação do Sheamus em face foi bem feita, sem parecer forçada ou idiota. Como aconteceu com certos lutadores que apareceram em Sharknado.

—Uma coisa, que apesar de ter gerado boas lutas, tem me dado no saco, é essa brincadeira de batata quente entre a Charlotte e a Sasha Banks pelo Women's Championship – Desabafo, e caramba, desse jeito eu pareço um reclamão sobre wrestling – Claro que tem gente lesionada, mas seria legal ver outras pessoas lutando pelo título.

E assim, o papo sobre luta livre continuou pelo dia, intercalando com videogames e heavy metal. A Nicole não era tão fanática por luta livre quanto eu e a Lara, mas ela gostava bastante, como eu já deixei claro em outras ocasiões. Ela só não chegou ao ponto de querer treinar.

O tempo passa até que o sol finalmente se põe e era hora de voltarmos para casa, já que precisávamos de fato arrumar as coisas para curtir aquela semana sem preocupações extras. A caminhada foi cansativa, ao menos pra Erick, Brenda e Beatriz que realmente extravasaram todo o estresse das provas finais.

De volta a casa, nós alternadamente tomamos um banho pra tirar a sujeira da praia, e apesar de eu, Nicole e Lara só tivéssemos conversado, estávamos exaustos, isso porque não falamos de Erick, Brenda e Beatriz que praticamente se jogaram no chão após o banho.

—Cadê minha mãe com a janta? - Erick pergunta, com a voz arrastada de cansaço

—Velho, a gente está por conta própria, esqueceu? - Eu tento apelar pra lógica, mas a fome faz isso com as pessoas.

—Então, o que vamos fazer? - Brenda pergunta, deitando no sofá e ligando a TV em qualquer canal.

—Se eu não estivesse tão cansada, eu poderia fazer alguma coisa... - Nicole diz, enfadada.

—Verdade, mas também precisaríamos de coisas na dispensa pra você poder fazer algo, Nicole – Lara intervém – E a não ser que você tivesse alguma receita baseada em água, é uma impossible situation.

—Estamos na estaca zero e precisamos de uma solução imediata... - Beatriz diz, sentando no outro sofá.

—Pelo visto teremos que apelar pro clássico... - Digo, pegando meu celular – Vou pedir pizzas!

O rosto de meus amigos se ilumina, e pelo visto a fome estava afetando a capacidade dedutiva deles.

—É uma boa ideia – Beatriz sorri, se levantando... Para sentar de novo, desanimada – Mas você tem o telefone de alguma pizzaria da região?

—Telefone? - Tento evitar o cinismo na minha voz – Isso não será necessário, pelo menos não quando se pode pedir pizzas via aplicativo do smartphone. Somos seis pessoas, acho que... - Começo a mexer no aplicativo – Duas super famílias devem ser o suficientes, mais dois refrigerantes de dois litros. Alguma preferência por sabor, ou vamos de muçarela?

—Acho que muçarela tá de boa... - Erick assente, juntamente com os outros – Aliás, sempre tive dúvidas quanto a gramática da palavra muçarela, me acostumei a escrever com cê cedilha, mas já vi gente escrevendo com dois s...

—... - Nicole coloca a mão direita na própria cara, em um perfeito facepalm – Sério cara, que você quer, depois do final do ano leitivo, você quer discutir GRAMÁTICA?

—Mas é uma dúvida legítima!

—É uma dúvida idiota, isso sim.

—Não vão se exasperar no primeiro dia de férias, né gente? - Brenda interfere antes que aquilo escale pra algo maior, por causa da grafia de uma palavra.

Enquanto isso, peço os refrigerantes e as pizzas pelo aplicativo e meus olhos esbugalham ao ver o preço da compra. Eu havia esquecido os preços da Pizza Hut. Mas, a vida é assim. A previsão de entrega é entre 15 e 30 minutos, acrescentando pelo menos seis do preparo da pizza.

—Bem... - Me dirijo aos meus amigos – Agora só nos resta esperar pelo entregador, daqui a mais ou menos meia hora ele chega. Mas amanhã precisamos ir as compras.

—Eu e a Brenda podemos fazer isso – Beatriz levanta a mão – Vamos sair cedo e pegar o mercado vazio. Como é dezembro, eles abrem antes do horário padrão.

—Tudo bem, podem usar meu cartão, vou deixar em cima da mesa quando for dormir – Eu não tenho problemas em emprestar o cartão pra meus amigos, em especial a Beatriz, que sempre paga quando usa o cartão. - Lara, Nicole, que tal vocês pegarem copos, pratos e talheres na cozinha pra não termos esse problema quando as pizzas chegarem?

—Beleza... - Lara se levanta e vai até a cozinha

—Desde quando você virou nosso chefe? - Nicole pergunta pra mim em um tom gozador, enquanto segue Lara.

Vinte minutos depois, a campainha da casa toca e vou atender, preparado para a facada do entregador. O pago com dor no coração e um minuto depois, estou de volta a sala com duas pizzas e dois refrigerantes. A mesa está preparada com três pratos de cada lado, alguns talheres e copos.

Nos dividimos em dois grupos de três, com eu, Nicole e Lara de um lado, e Erick, Brenda e Beatriz do outro. No momento em que começo a comer a pizza, sei que o alto preço dela valeu a pena, pois a massa no ponto certo, a borda recheada, o queijo bem derretido definitivamente atestam a qualidade das pizzas da franquia.

Inclusive depois de terminar a primeira, me pondero se pedir apenas duas pizzas foi o correto, mas lembro que dinheiro não cai do céu. E essa se provou uma decisão correta, pois após terminarmos de comer as pizzas, me sinto saciado.

Lara, Nicole e eu tomamos apenas metade de nossa garrafa de refrigerante, Lara e eu porque regulamos nossa dieta por conta de nosso treino como wrestlers (ainda que eu não seja federado) e a Nicole... Certamente por estar acompanhando a gente. Sabe, aquela coisa que sempre dá quando você acompanha alguém, e não quer parecer mais glutão do que é.

Já do outro lado, Erick, Brenda e Beatriz terminaram o refrigerante deles, fazendo o racionamento de gente normal, com 2 copos de 330 ml pra cada um e pelo canto do olho, percebo que Erick está de olho na nossa garrafa. Esse cara tem uma alma de gordo, vou te contar, hein...

—Tá bom, Erick... Pode pegar o nosso refrigerante – Eu digo, para risadas de nossos amigos.

—Ei, hipoteticamente eu não estava de olho no refrigerante de vocês, mas já que você me ofereceu de bom grado... Obrigado. – Erick 'agradece', pegando a garrafa que estava no nosso lado da mesa.

Eu me levanto, bocejando e olho para o relógio... Oito e meia da noite. Caramba, o cansaço me atingiu feito um RKO do Randy Orton. E provavelmente ficamos na praia mais tempo do que pensamos.

—Pessoal, desculpa aí, mas o sono tá forte pro meu lado – Aviso aos meus amigos – Vou dormir, pra pelo menos compensar pelo tempo que não dormi ontem.

Meus amigos me dão um boa noite, com exceção do Erick que só acena enquanto bebe o refrigerante. E pra mim, definitivamente não daria pra ver o RAW, pois com o horário de inverno americano e verão brasileiro combinados, ele começaria as 11 da noite e iria até as duas.

Pego a minha mochila e vou ao quarto onde eu, Nicole e Lara ficaremos, felizmente ele possui uma cama simples e um beliche. Jogo minha mochila num canto e caio numa das camas, o sono me dominando facilmente.

Nicole

O dia havia sido bastante proveitoso desde o princípio. Apesar do fato que o Diego meio que havia deixado o grupo na mão naquele ano, ele parecia disposto a consertar o erro e eu senti aquela sensação de antes, em que eu podia confiar completamente nele para qualquer coisa.

Ainda que não tenhamos feito praticamente nada, só aquela conversa básica entre eu, ele e a Lara foi o suficiente pra saber que aquele elo que criamos desde que nos tornamos amigos, não é algo que coisas como a vida adulta vai desfazer.

Claro, tem toda a questão do que eu sinto por ele, eu não quero estragar a nossa amizade colocando o amor no meio. Mas enfim, chega de ficar focando exatamente nele. Porque outra coisa anda me incomodando, porque... O ano acabou e meus estudos acabaram, mas ainda não tenho ideia do que diabos vou fazer com minha vida. Eu sei que nessa idade ninguém realmente SABE o que quer da vida, mas ao menos as pessoas já almejam alguma coisa, e eu simplesmente não sei o que eu vou fazer.

E minhas irmãs, mesmo mais novas que eu, tem algo em mente para o futuro, sendo que a Karen quer mesmo se tornar uma jogadora profissional, mesmo com todos os percalços e preconceitos que isso gera nas pessoas, e a Alice REALMENTE quer seguir os passos de papai na empresa, ela é ótima com isso.

Mas enfim, eu preciso pensar um pouco, então me levanto e vou sair um pouco de casa, ir até a praia que é bem próxima, só pra clarear a mente.

—Nicole, onde é que você vai? - Lara me pergunta, enquanto abro a porta.

—Vou até a praia caminhar um pouco... - Respondo, sorrindo – Preciso pensar um pouco, pode não parecer por fora, mas estou bem estressada aqui – Indico minha própria cabeça.

—Só não vá longe porque a gente não conhece a cidade.

—Tudo bem, não devo demorar.

Abro o portão e caminho até a praia. Essa cidade é pequena e definitivamente o clima dela não lembra em nada uma cidade tipicamente brasileira, talvez pelo fato do prefeito e fundador da cidade não ser nascido aqui e ter trazido um pouco de sua herança pra cá. Na orla da praia, algumas pessoas caminham, temos alguns quiosques a cada trezentos ou quatrocentos metros, e ao longe, o farol da praia.

Caminho até um dos quiosques, que vendia basicamente sorvetes e gelados e sentei numa das cadeiras. Admito que estava um pouco intrigada com o quiosque aberto a tal hora em uma cidade pequena, onde geralmente o dia acabaria as sete da noite. E então me dirijo ao atendente do mesmo.

—Boa noite, que milk shake você me recomendaria? - Pergunto, com a desculpa de consumir algo e de fato irei consumir.

—Boa noite – O rapaz é simpático comigo, e não deixo de notar que ele dirige os olhos ao meu decote, ainda que de maneira rapida – Os que saem mais são o de Ovomaltine e de Nutella, mas eu particularmente recomendo os de Morango com Leite Condensado, Kiwi ou Doce de Leite.

—Então vou querer um de Kiwi, do maior, por favor... - Abafo um sorriso ao ver ele arregalar os olhos com a minha escolha de tamanho – Mas então, não tem perigo uma loja a beira mar numa cidade pequena ficar aberta até tão tarde?

—Que nada... - Ele responde, enquanto faço o pagamento – O policiamento aqui é bom e a cidade é segura, tanto que rotacionando os funcionários, ficamos abertos até uma da manhã.

Após receber meu milk shake, saio do quiosque e começo a andar pela orla pensando no que eu poderia fazer da minha vida... Mas aparentemente esse tipo de clarão só acontece em livros, ou mangás ou videogames, porque vinte minutos se passam de caminhada, meu milk shake há muito já era e nada veio a minha mente. Então, deixei isso tudo pra lá e simplesmente voltei para casa. Aquele dia eu já podia dar por encerrado, mas com uma semana inteira pela frente, talvez algo de novo pudesse acontecer... Ao menos espero.


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