Wrestling & Romance escrita por MrSancini


Capítulo 22
Capítulo 22: Japão (Parte 2)




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Nicole

Residência de Diego e Nicole, Roppongi, Japão, Dezembro de 2022

Sei que pode parecer que estou diminuindo a mim mesma, mas do meu ponto de vista, era incrível ver o progresso de Diego na luta livre profissional. Talvez pelo fato de eu ter ouvido ele me contar do sonho quando ainda era um menino de dezesseis anos que treinava muitas vezes numa cama elástica com a Lara e em raras ocasiões lutava na FILL.

Depois, pouco a pouco ele foi se moldando e dois anos depois, decidimos juntos correr atrás desse sonho. Claro, eu comecei atrás, mas depois do treinamento, fazer qualquer coisa no ringue passou a ser tão simples quando respirar. Não sei como conseguia fazer aquelas coisas, mas pouco a pouco o medo que eu tinha de fazer merda no ringue foi sumindo e as dores de se lutar nem eram mais tão intensas.

Muitas vezes Diego e eu lutávamos em países diferentes de 2018 até aqui, pois muitas vezes enquanto eu estava nos EUA, ele estava lutando na Inglaterra, e quando EU estava na Inglaterra, ele tinha compromissos na Alemanha.

Por isso, o tempo que passávamos juntos era sempre tão importante, não só porque a gente tinha tempo de... Enfim, mas porque a companhia do outro muitas vezes bastava pra saber que estava tudo bem.

Naquela semana eu não tinha mais nenhum compromisso pela Stardom, eu já tinha feito as fotos do novo Photobook que iria sair em Janeiro do ano que vem. Bom, esse é o lado bom de trabalhar na Stardom... Algumas das coisas não envolvem concussões. E eu podia tirar sarro o quanto quisesse do Diego por isso.

Felizmente, nesse ano nós nos mudamos do apartamento pra uma casa, aqui mesmo em Roppongi, porque francamente, depois de dois anos morando em um hotel no México, era dose ficar confinada em um apartamento. Sem contar que os vizinhos podiam nos ouvir nas nossas noites mais quentes, e isso era constrangedor, mesmo não tendo ouvido reclamações.

Uma das coisas que sentíamos saudades, era dos nossos amigos do Brasil. Claro, nós tínhamos feito amigos por onde passamos, Canadá, Inglaterra, México, EUA e Japão, muitas vezes era bom sair pra desestressar com as amigas de vestiário, mas era diferente de simplesmente ficar conversando e desfrutar a companhia da Lara ou da Beatriz por exemplo.

—Pensativa, você, hein! - Sinto dois braços me envolverem, e de fato, eu estava pensativa, que nem percebi o Diego chegar. Imagina se fosse assaltante.

—Só estava refletindo um pouco sobre a nossa vida... - Respondo, amolecendo nos braços dele.

—Entendi... E você é sortuda, está com a semana de folga.

—O pior é que você deve estar cansado a beça, nem foi pro karaokê com o pessoal... - Digo, enquanto nos sentamos no sofá.

—A verdade é que eu meio que deixei o karaokê de lado essa noite e os rapazes entenderam a razão...

—Você quer dizer que... - O olhar que Diego me dá, causa calafrios... Não necessariamente ruins.

—Exatamente... - O beijo que ele me dá é intenso, o que mina qualquer resistência que eu poderia ter (spoilers: não haviam.)

Wrestle Kingdom 17, Janeiro de 2023, Tokyo Dome

Diego

Esse já era o quarto Wrestle Kingdom que eu lutava, sendo o segundo pela New Japan e o card como sempre estava sensacional, faltavam apenas duas lutas pro fim, a minha e o evento principal, onde Tetsuya Naito defenderia o IWGP Heavyweight Championship contra Juice Robinson.

Mas eu não tinha tempo pra pensar no card ou o quão magnífico o evento era (até porque eu já estava acostumado, morando há quase dois anos no país), porque tinha um cara na minha frente e ele estava querendo muito chutar meu rabo.

O sino do início do combate toca e Hiromu Takahashi corre na minha direção aplicando um Drop Kick em meu peito, se levantando em seguida e aplicando um elbow drop. Era típico dele começar as lutas no 220, com força total.

Uma hora depois

Essa era a luta mais longa de minha vida, mas acho que as coisas estavam indo bem pro meu lado. Naquele momento, cansados, trocávamos chops só pra recuperar o fôlego. O público estava de pé, certo de que via algo especial. Mas claro, as reações eram pontuais porque o público de wrestling do Japão era diferente do ocidental.

A questão é que os oficiais da New Japan nos deram tempo e liberdade pra fazer o que quiséssemos no ringue, então planejamos ter a melhor luta possível, com spots diversos, finais falsos e todo tipo de loucura que conseguíamos pensar.

E naquele momento, depois do que pareceram horas de troca-tapas, um sinal com a cabeça vindo de Hiromu, era o necessário pra saber o que vinha ali.

No que ele tenta dar um chute na minha cabeça pra me derrubar, eu me abaixo e dou um direto no estômago dele, emendando com um WinDDT, derrubando-o. O arrasto para perto das cordas e subo no poste.

—WinDDT! Acho que vimos isso demais pra saber o que vem em seguida! - O narrador diz, achando que vou preparar pro Wind Elblow, mas se surpreende quando eu arrasto Takahashi até próximo das cordas, ele fica tão surpreso quanto a maioria dos que esperavam um Wind Elblow agora. - O que Diego tem em mente?

Viro de costas para o ringue, e dou um salto para trás (encarando o lado de fora do ringue), fazendo um giro completo no ar, mais um quarto de giro, caindo exatamente sobre a área do abdome de Takahashi, mas não emendo com o pin.

—Oooh! Tornado Splash! - O narrador agora percebe o que eu fiz.

Arrasto um pouco o Hiromu e aplico dois standing moonsaults seguidos, mortais para trás no qual terminei batendo com as pernas no ringue e o peito sobre o peito de Takahashi. E somente depois disso, subi no poste novamente.

Dou um salto, descendo com meu cotovelo diretamente no abdômen de Hiromu, emendando com o pin. E o juiz cai logo para fazer a contagem.

—Um! - Não era a minha primeira vitória no Wrestling Kingdom, e nem seria a última, mas até o momento era a minha vitória mais importante... E isso me colocaria com um recorde de 2 vitórias e 2 derrotas no maior evento da New Japan.

—Dois! - Minha finada avó ficaria tão orgulhosa de ver onde cheguei, são raras as vezes que lembro dela, mas a benção dela e o conselho de não olhar pra trás me ajudaram a não hesitar quando passei a encarar o mundo sozinho aos 16 anos.

—Três! - Claro, eu nunca estive realmente sozinho, eu sempre tive meus amigos, e sei que eles estavam me vendo agora, seja a Nicole que nunca saiu do meu lado, ali na torcida, meus amigos da Magic Fires que assistiam de casa, ou meus amigos que estão no Brasil. Me pergunto se a Lara estaria vendo.

—Eis o vencedor! - O anunciante do ringue narra. - E NOVO IWGP INTERCONTINENTAL CHAMPION... Kaze no Diego!

O mundo parou pra mim quando o juiz me entregou o cinturão. Sim, eu sei que a luta livre é combinada, mas esse cinturão não representa uma vitória, mas o resultado de um esforço combinado de várias pessoas, dos fãs que apoiam seu trabalho, dos promotores e bookers que confiaram o suficiente em você pra lhe dar um dos títulos mais prestigiosos da empresa e dos lutadores, que contaram essa história no ringue.

E agora era a minha vez de celebrar. Então, tentando conter as lágrimas, eu corri com o cinturão como se fosse um bebê até o lado da arena, de onde Nicole assistia a luta, e pulando a barricada, a abracei, finalmente chorando.

Dando um tchauzinho pro público, vou dali juntamente com a Nicole até o backstage, onde sou congratulado pelos meus companheiros de empresa. A verdade é que um lado de mim queria dormir profundamente por causa do cansaço, o outro queria assistir ao evento principal.

Mas, justamente a administração da New Japan resolveu me mandar pra casa naquela noite, porque provavelmente eles viram que eu estava acabado.

A Nicole teve um começo de 2023 difícil na Stardom, mas por um bom motivo. Ela, ainda com o High Speed Championship e o SWA Championship, foi desafiar Live Kaneda pelo Wonder of Stardom Championship, porém foi atacada por Sawako e Kawakami, as outras membros da stable de Kaneda e desafiada para uma luta pelos dois títulos.

E ela perdeu num combate triplo com as duas. Mas, ao invés das duas terem uma pinado a outra com facilidade, já que só precisariam afastar a Nicole por tempo suficiente pra conseguirem o feito, elas usaram a vantagem de duas contra uma e alternadamente, conseguirem o pin, com a Sawako tirando o High Speed Championship e a Kawakami tirando o SWA Championship.

Depois disso, a Nicole se envolveu em rivalidades com as duas, mas apesar dos esforços, não conseguiu recuperar os títulos.

Meu ano fora fantástico, com lutas excelentes contra os melhores da New Japan, e tudo culminou no verão daquele ano, com minha vitória sobre ninguém menos que Kazuchika Okada nas finais do G1 Climax, o que ainda de posse do IWGP Intercontinental Championship, me tornava um alvo duplo, pois além de um título, eu tinha a chance pelo mais prestigiado título do Pro Wrestling no Tokyo Dome.

Nicole se recuperou do início difícil, tendo finalmente em Agosto conseguido uma oportunidade pelo Wonder of Stardom Championship, contra Live Kaneda.

Agosto de 2023, Korakuen Hall, Tóquio

Felizmente naquele dia eu estava de folga, então consegui ingressos para até então a luta mais importante da carreira da Nicole. Eu não estava só, pois alguns Young Lions da NJPW estavam me acompanhando, eu os convidei pra remendar um erro, eu acabei pagando por 10 ingressos ao invés de 1 (eu estava com sono), então convidei seis novatos a virem comigo, e os três ingressos restantes foram pra alguns outros lutadores.

—Não esperem uma dessas outra vez, hein... - Falo pros rapazes, em tom brincalhão.

—Sem problemas, senpai... - Um dos rapazes, Makoto Fuji, dá um tapa no meu ombro, rindo.

Isso de ser chamado de senpai (veterano) era esquisito pra mim, porque eu provavelmente tinha menos tempo de casa do que alguns deles. Mas eu não era considerado exatamente um Young Lion pela empresa.

—Sem mais brincadeiras, vamos assistir ao show. - Indico para prestarmos atenção ao evento, que iria começar.

Algum tempo depois...

Finalmente era hora do combate pelo Cinturão Branco (outra definição do Wonder of Stardom Championship), e eu tive uma surpresa quando Live Kaneda entrara pra defender o título... Ela não era japonesa, nem parecia ser filha de japoneses.

Era uma garota com cabelos longos e negros e olhos verdes, com a pele morena. Ela tinha uma aura meio mágica, se eu pudesse definir em uma palavra. Não sei a razão do ring name japonês, talvez ela fosse fã de Akira.

Nicole faz a sua entrada ao som de 'This Ain't the end of me' do White Comic, seu tema desde que começara a lutar, cinco anos atrás. Curioso que enquanto a Nicole não mudou o tema, e eu já mudei pelo menos três vezes, começando com Angels and Demons, do Angra, pra Glorious Agressor, do Galneryus e The Wicked Side of Me, do Cold Driven, além de ter usado Cha-la Head Cha-la quando lutava em duplas.

E a Lara também continuava com o mesmo tema, desde que se mudara pros EUA, até mesmo quando começara a lutar no NXT, seu tema era 'The Awakening', do Onlap. Penso que me tornei uma primadona em relação a temas.

A luta entre Nicole e Live é feroz, Live parecia ter um contra golpe pra qualquer movimento que Nicole fizesse, o que a deixava nervosa e cansada, enquanto que Live continuava com a mesma expressão vazia e quase entediada.

Nicole resolveu depois de quinze minutos sem sequer acertar golpes em Live, mudar o estilo. Ao invés do híbrido de técnico e lucha que ela usava, passou a usar um estilo mais agressivo, com mais velocidade e força.

E devido a mudança de estilo, Live foi pega desprevenida, tendo que atacar novamente e a luta fica mais equilibrada, só que Nicole usa bastante os chutes e consegue colocar Live em um córner, caída. E nisso ela vai até o outro córner, indo pra fora das cordas. Não, ela não faria isso, faria?

Nicole sobe na terceira corda com um salto e usando a mesma como um trampolim, salta de um lado ao outro do ringue, aterrizando com os dois pés no estômago de Live, e ela realmente fez aquilo... Com máscara e tudo, ela aplicou um Coast to Coast, também conhecido como Van Terminator, um dropkick no qual se salta de um lado ao outro do ringue.

O golpe é um pouco perigoso para quem aplica, porque o lutador bate com a cabeça no ringue, mas Nicole não parece ter sentido muito o impacto e se levanta logo, arrastando Live para um ponto mais distante do córner, que ela sobe.

De lá, ela salta na direção de Live, batendo com as palmas das mãos nos joelhos flexionados, depois abrindo o corpo, caindo sobre o peitoral do oponente, emendando com um pin. O juiz cai pra fazer a contagem.

—Um! - A torcida gritava junto, depois de um começo difícil, era a vez de Nicole brilhar em 2023, com o título.

—Dois! - Ela me dava bastante orgulho, porque pra quem há sete anos ficaria satisfeita com um emprego qualquer, resolveu correr atrás dos sonhos e estava se tornando uma das melhores wrestlers do mundo.

—Três! - O público comemora, tanto pela vitória da Pink Jaguar, como pela luta em si.

De todos os presentes no Korakuen Hall, pode ter certeza de que eu era o mais aplaudia e gritava, quando Nicole recebeu o cinturão branco de Wonder of Stardom Champion, e subindo no poste, ergueu o título, tirando a máscara em seguida.

Bem, podemos dizer que a comemoração desse título em casa, teria sido motivo de polícia se ainda morássemos no apartamento onde vivíamos quando chegamos ao Japão.

Na New Japan Pro Wrestling, a tensão pela qual passo é grande, porque existem pessoas querendo a maleta com o contrato do Main Event do próximo Wrestle Kingdom, assim como pessoas que querem meu Intercontinental Championship. Até que chega o fatídico dia do Power Struggle e eu tenho duas lutas ao invés de uma no card.

Na abertura do show, eu tive que defender a minha maleta contra Makoto Fuji, que começava a crescer na empresa. Foi uma luta bastante dura, mas me saí vitorioso com certa facilidade, que era justamente pra mostrar a diferença de experiência entre nós dois.

Já próximo do fechamento do show (onde o atual IWGP Heavyweight Champion Hiromu Takahashi iria defender o título contra Tetsuya Naito numa revanche do Sakura Genesis onde o Hiromu venceu Naito), eu tinha que defender meu título contra ninguém menos que o Rainmaker, Kazuchika Okada, num incomum (pra New Japan) combate de escadas.

A minha relação de combates contra o Okada poderia ser considerada esquisita pra muita gente. Nos shows principais da empresa, onde havia todo o aparato, câmeras e era toda pompa, nós deixávamos o resultado nas mãos dos bookers, já nos shows menores, geralmente partes das turnês, quando não havia defesa de título, eu e ele decidíamos quem ia vencer em partidas de videogame, seja Tekken, Street Fighter, Dead or Alive, o que tivesse na mala, era o que jogávamos e decidia o resultado da luta.

A luta foi intensa, muito mais do que o combate contra Fuji havia sido, porque havia o fator escada na equação, então não era só o Okada me aplicar um Rainmaker e fazer o pin pra vencer.

Se era pra impactar e deixar Naito e Hiromu loucos pra superarem a nossa luta, decidimos pelos spots mais loucos possíveis, incluindo um Wind Elblow meu do alto da escada, que foi de um lado ao outro do ringue, um Rainmaker direto na escada (ao invés de ser no chão), um Tornado Splash da terceira corda pra fora do ringue (que doeu tanto em mim quanto nele) e pra finalizar a luta, com nós dois praticamente no topo da escada, e ele aplicou um perigoso Rainmaker em mim, o que exigiu certo atleticismo da minha parte pra não derrubá-lo ao receber o golpe.

Felizmente, a rotação fez com que eu caísse de costas no ringue e o spot deu certo, com o Okada sendo coroado Intercontinental Champion. Por mais que eu tenha perdido o título, me senti um vencedor, por isso não voltei tão chateado quanto a minha fisionomia deixado transparecer.

Quando voltamos pra detrás das cortinas, recebemos uma salva de palmas dos bookers e lutadores ali presentes, incluindo Naito e Takahashi, surpresos com as loucuras que havíamos feito nos ringues.

—Vocês são malucos... - Foi tudo que Naito dissera, enquanto passávamos.

—Agora é com vocês, caras... - Os cumprimento, me despedindo.

Dezembro chegava e o frio japonês de fim de ano junto, eu e Nicole recebemos uns dias de folga e resolvemos trazer Karen e Lucy pra visitar a gente no Japão. Alice não pôde vir e nossos amigos do Brasil estão ocupados. Num dos primeiros dias, uma situação curiosa aconteceu enquanto almoçávamos em um restaurante em Akihabara.

—Com licença, mas você é o Diego Alves? - Ouvi uma voz, em português, perguntar. Olho e vejo um jovem, mais ou menos da minha idade, eu chutaria um ano mais novo que eu, com a pele negra e o cabelo até a altura do pescoço. Ele estava acompanhado de duas japonesas e uma garota com os cabelos talvez da mesma cor que o meu, com mechas escuras.

—Quem deseja saber? - Pergunto, com Nicole, Lucy e Karen olhando um pouco risonhas.

—Desculpa, é que eu acompanho o seu trabalho desde que venceu o Defiant Championship anos atrás. - Ele responde. - Me chamo Renan Rocha, e francamente, não esperava encontrar você aqui casualmente.

—Ganhei uns dias de folga da New Japan e estou a passeio hoje. - Digo, um pouco mais relaxado.

Nisso, inicia-se uma conversa, e descubro que Renan estava de férias com sua esposa Kasumi, uma belíssima japonesa de olhos castanhos claros, sua cunhada Aya Oyokawa, uma garota com compridos cabelos violetas e a namorada dela, Eliza Ferrares.

Renan e Kasumi ainda moram no Rio, onde ele é Botânico e Kasumi é professora, enquanto que Aya era modelo. Por fim, um elo entre a gente é que Renan estudara no Colégio Alvorada, que durante muito tempo foi rival do Aural na categoria esportiva, com Karen tendo liderado a equipe do Aural no ano em que ganharam o título, passando pelo Alvorada nas semi-finais.

O papo foi tranquilo, mas muito gostoso pelo fato de que era bom encontrar gente que falasse português no Japão. Nos despedimos, prometendo manter o contato casual nas redes sociais.

4 de Janeiro de 2024, Wrestle Kingdom 18

Eu ainda não estava acreditando no que me disseram... E isso porque foi logo depois de eu ter voltado do meu pequeno descanso em dezembro passado (quando Karen e Lucy voltaram pra Flórida), mas era real. Então, no último dia do ano, eu tive uma ideia pra complementar aquele momento, seria tudo perfeito.

Com os primeiros acordes de "The Wicked Side of Me", do Cold Driven, caminho metódicamente até o ringue, usando um robe branco com o Kanji de Kaze no Diego nas costas. Simples e até desnecessário, mas é porque eu escondi algo no robe para o fim da luta.

Quando subo no ringue, ergo os braços e folhas, como se trazidas pelo vento, caem no Tokyo Dome, e escondido pelo robe, pego o objeto e o coloco em um ponto próximo do poste, embaixo do ringue, onde ficaria seguro.

E em seguida, vem o IWGP Heavyweight Champion, Hiromu Takahashi, mais extravagante do que nunca. Vejo ali logo depois da barricada, Nicole e dou um sorriso pra ela, e segurando uma bandeira do Brasil, ao lado dela, estão Renan, Kasumi, Aya e Eliza. Quem diria que eles vieram me ver no Wrestle Kingdom.

Sei que meus amigos ao redor do mundo estariam me vendo, e muitos desconhecidos também. Essa luta está tendo até cobertura da imprensa esportiva brasileira, que há alguns anos, com a ascensão do Cezar Bononi, do Adrian Jaoude e da Taynara Conti no NXT, deixou de se referir a luta livre profissional de maneira jocosa.

Dar uma entrevista pra um veículo nacional me deu mais medo do que ter que lutar contra o Kazuchika Okada no ano passado. Felizmente quem conduziu a entrevista sabia sobre kayfabe e não foi muito diferente de fazer uma promo.

Oitenta minutos depois

Estávamos lutando há uma hora e vinte, isso superou nossa luta no ano passado, mas agora eu era mais experiente, então nem aparentei o meu cansaço (ano passado eu queria morrer no fim da luta, lembram?).

Naquele momento, eu estava jogando o Hiromu pra fora do ringue, me preparando pra mais um daqueles spots malucos de sempre. Subi na terceira corda e dei um salto, descendo com meu cotovelo diretamente no abdômen de Takahashi. Nisso, depois de uns segundos pra recuperar o fôlego, o levanto e o jogo de volta pro ringue, subindo logo em seguida.

O levanto, aplico um WinDDT, para em seguida subir na terceira corda, viro de costas para o ringue, e dou um salto para trás (encarando o lado de fora do ringue), fazendo um giro completo no ar, mais um quarto de giro, caindo exatamente sobre a área do abdomem de Takahashi, mas não emendo com o pin e sim o levanto mais uma vez e aplico um novo WinDDT, arrastando-o pro meio do ringue e subindo na terceira corda.

Respiro fundo e dou um salto, descendo com meu cotovelo diretamente no abdômen de Takahashi, foi um salto longo, perigoso. Eu emendo com o pin e o juiz cai pra fazer a contagem.

—Um! - Apesar de ter sido eleito no ano passado o melhor wrestler do mundo, eu nunca me senti o tal, apesar da consistência das minhas lutas.

—Dois! - Havia sido uma luta bem divertida, mais até do que a ladder match que tive contra o Okada meses atrás.

—Três! - Vinte mil pessoas gritam extasiadas, aquele ali era o pico de minha carreira, o símbolo da confiança que os mandachuvas da New Japan tinham em mim como o Cara da companhia.

—Eis o vencedor, e NOVO IWGP Heavyweight Champion... - O anunciador berra no microfone, enquanto o juiz traz o cinturão pra mim. - KAZE NO DIEGO!

Eu evito de cair no choro por uma única razão, a minha missão aquela noite ainda não havia sido cumprida totalmente, então eu peço o microfone ao anunciante, enquanto Hiromu sai do ringue e eu pego uma caixinha que eu havia escondido antes da luta.

—Muito bem, primeiramente, cortem a música, por favor... - Peço e os acordes do meu tema são interrompidos. - Agora, eu gostaria de pedir desculpas ao público porque as próximas palavras serão em inglês, e não em japonês. Nicole, por favor, venha aqui... - Aponto pra minha namorada, e ela, vermelhíssima, como nos tempos em que nós éramos somente amigos, pula a barricada e sobe no ringue.

"Primeiro" continuo, sussurrando nos ouvidos dela em português. "Desculpe pelo inglês."

—Eu comecei a minha carreira amadoramente, há mais ou menos dez anos, nos ringues da minha cidade natal. A primeira pessoa que eu contei o meu sonho de ser wrestler, hoje está lutando na América, mas a segunda pessoa a quem contei está aqui na minha frente e desde que eu disse isso, ela jamais saiu do meu lado, sempre me apoiou. - Começo, me dirigindo tanto a Nicole, quanto ao público do Tokyo Dome. - Mais do que isso, é a pessoa que quando a conheci, nos meus quinze, dezesseis anos, eu me apaixonei imediatamente por ela, não só porque ela é uma mulher muito linda, mas porque ela tinha uma personalidade gentil, sempre foi prestativa com todos ao seu redor, não ficou com pena de mim quando soube que eu era órfão de pai e mãe e perdi minha avó aos quinze anos, mas simplesmente esteve ao meu lado sempre que precisei. Ela se tornou minha namorada em um momento importante da minha vida, quando eu estava prestes a iniciar minha jornada ao redor do mundo, e mesmo que muitas vezes estivéssemos em países diferentes por conta do nosso trabalho, o amor que sentíamos um pelo outro não mudou, só aumentou.

"E tal qual naquela época, quando começamos a namorar juntos, hoje eu estou em um momento muito importante e decisivo em minha vida."

Eu me ajoelho e abro a caixinha, revelando um par de alianças.

—Nicole... - Digo, a minha voz quase falhando. - Você aceita se casar comigo?

Nicole, e não só ela, mas praticamente todo o Tokyo Dome está em choque, até porque eu não havia dito a ninguém que a pediria em casamento

—Eu... Eu aceito. - Nicole praticamente sussurra, mas pela expressão dela, o público adivinhou a resposta e gritou novamente, como se uma outra luta tivesse terminado. E eu coloco uma aliança no dedo dela, antes de beijá-la apaixonadamente. O mundo podia acabar e estaria tudo bem pra mim... Apesar de que seria bom se ele não acabasse.

Francamente, aquela foi uma boa maneira de encerrar o Wrestle Kingdom daquele ano, que em termos de wrestling seria um ano bastante corrido pra mim e seria magnífico para Nicole.

Ela começou o ano perdendo o Wonder of Stardom em fevereiro para Kris Wolf em uma luta fantástica (cinco estrelas, de acordo com o Meltzer), mas mal teve tempo de chorar o título perdido, já que em março, vencera Mayu Iwatani pelo World of Stardom Championship em outra luta incrível, que lhe rendeu cinco estrelas novamente.

Meu ano começou antes do New Year Dash com uma reunião com a cúpula da New Japan, onde eu perguntei aos executivos, quem eles tinham em mente pra ser o novo Ace da empresa no futuro. Abri um sorriso ao receber a resposta de que seria o Makoto Fuji, e contei sobre o meu plano de defender o título em praticamente todos os shows da empresa e das parceiras também. Isso, culminando com minha derrota pro futuro Ace da empresa no próximo Wrestle Kingdom.

Eles questionaram se eu não estava me precipitando ao querer perder o título um Young Lion que ainda nem graduou da divisão de Juniors da empresa. Eu argumentei que mesmo que ele não recebesse um reinado longo, isso colocaria ele nos holofotes e daria a visibilidade. Um pouco relutantes, eles aceitaram meu plano maluco de dar o IWGP Heavyweight Championship ao Makoto no ano que vem. Só que pra isso, eles não dariam a maleta do G1 Climax pro Makoto, mas ele a ganharia próximo ao Power Struggle.

E assim, meu ano começou, defendendo o título em quase todo show, eu colocava o título em jogo contra qualquer um do plantel da New Japan que tivesse coragem, o que rendeu muitas lutas boas.

Julho de 2017, Tóquio, Japão

Mais difícil do que arranjar coragem pra pedir a Nicole em casamento ou tomar um Rainmaker do alto da escada, foi encontrar uma igreja no estilo ocidental para realizar minha cerimônia de casamento. A lista de convidados, trazia é claro, a família da Nicole, incluindo aí como extensão a família da Lucy, nossos amigos do Brasil, o pessoal da Magic Fires, as famílias de Renan e Kasumi (acabamos nos tornando amigos a vera após o Wrestle Kingdom) e vários wrestlers dos locais onde lutei, do Canadá, Inglaterra, México, Alemanha, EUA e Japão.

Inclusive o padrinho de casamento, Erick, chegou a brincar, enquanto nós aguardávamos Nicole entrar na igreja.

—Tem tanto lutador aqui que daria pra fazer um card superior a qualquer Wrestlemania e Wrestle Kingdom JUNTOS! - Ele ri, enquanto eu estou me borrando de ansiedade, esperando minha noiva.

Repentinamente, começa a tocar uma música lenta, não é a marcha nupcial, mas uma versão no piano de Angel of Salvation, do Galneryus, que o Nicholas tinha rearranjado (curiosamente, um cover de Angel of Salvation foi um dos maiores hits do Magic Fires na época em que Nick estava lesionado) e em seguida, a pessoa mais linda do mundo entra na igreja.

Usando um vestido ao estilo chinês, branco com alguns detalhes em amarelo e o cabelo preso em rolinhos, com duas longas tranças nos lados, Nicole vinha acompanhada de seu pai. O sorriso dela era meio tímido, mas denotava que estava bem feliz.

Roberto Almeida parecia bem satisfeito ao conduzir a filha até o altar, a felicidade dela o contagiava. Eu não conseguia me conter direito, a cada passo dela, meu coração batia fortemente. Não sei como os meus pais reagiriam, e francamente, meus tios ficaram sabendo pelo noticiário, já que nossas vidas não eram necessariamente conectadas.

Após o pai dela finalmente deixar ela do lado, o padre começa todo o cerimonial:

—Estamos aqui neste dia para celebrar a união dessas duas almas que resolveram juntar suas botas de wrestling. - Risadas dos presentes. É, o padre sabia da nossa profissão. - Diego Alves, você aceita Nicole Almeida como sua legítima esposa, prometendo ser fiel, amá-la e respeitá-la na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias de sua vida?

—Aceito... - Não era uma pergunta difícil.

—Nicole Almeida, você aceita Diego Alves como sua legítimo marido, prometendo ser fiel, amá-lo e respeitá-lo na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias de sua vida?

—Eu aceito... - Nicole estava se segurando pra não chorar.

—Pelo poder a mim investido, eu os declaro marido e mulher. - O padre diz. - Podem se beijar.

Pra delírio dos presentes, Nicole e eu damos um beijo cinematográfico. E a sensação de tocar os lábios dela não mudou nada desde que começamos a namorar, talvez tenha ficado melhor ao longo do tempo.

—Acho que sou a pessoa mais feliz do mundo agora... - Sussurro no ouvido dela.

—Possivelmente vou discordar... Porque acho que sou eu. - Ela sussurra e dou uma risada baixa.

Festa do Casamento, meia hora depois

O salão de festas estava cheio e era uma festa de línguas, tinha gente conversando em inglês, espanhol, português, japonês e um pouco de alemão. E realmente, a seleção de convidados renderia lutas muito interessantes, coisa que fiz questão de frisar quando estavam todos reunidos no começo.

—Olha, eu olho pra esse salão e vejo a quantidade de lutadores que temos aqui... - Começo. - Sinceramente, poderíamos desbancar a Wrestlemania e o Wrestle Kingdom combinados. Ia ser o melhor evento de Pro Wrestling de todos os tempos. Só que eu não tenho dinheiro pra pagar todo mundo, então a Diegomania tá cancelada. - E todos caem na risada. - Agora, falando sério, obrigado de coração a todos os que vieram.

A verdade é que fora isso, a festa de casamento foi meio que um borrão pra mim, certamente eu me diverti, mas acho que eu estava com pressa demais pra me divertir com a Nicole, se é que me entendem.

O resto do ano de 2024 pra mim foi corrido, porque rolou os primeiros eventos da New Japan Pro Wrestling no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde levei o IWGP Heavyweight Championship pra ser defendido no Rio e em São Paulo, quatro dias absolutamente loucos, pouco antes do G1 Climax daquele ano que começou nos EUA, e foi somente naquele período onde não defendi meu título.

Em dezembro daquele ano, foi quando começaram as minhas negociações com a WWE, porque de algum modo, eu sentia que finalmente, finalmente eu estava pronto pra encerrar minha jornada de evolução como lutador pra fazer meu sonho de criança se tornar realidade.

Também contribuía pra isso, o fato de que em setembro, Nicole resolvera negociar com a WWE para ir pro NXT, e em outubro estava resolvido pra em novembro ela passar a morar nos EUA. E em uma excelente (a oitava luta cinco estrelas dela naquele ano) luta, Kris Wolf ganhara o World of Stardom Championship naquele mês ainda.

Novembro de 2024, Full Sail University, Flórida, NXT

Nicole

A vida é mesmo curiosa, enquanto que dez anos atrás o Diego nos dizia que seu sonho era chegar na WWE, Lara e eu alcançamos esse sonho primeiro. Lara havia se tornado NXT Women's Champion uma vez e duas vezes Smackdown Women's Champion e eu chegava no NXT como a melhor wrestler feminina do mundo.

Minha despedida da Stardom foi tocante, porque eu sempre seria grata àquele grupo de mulheres que me ajudaram a evoluir como lutadora e muitas se tornaram grandes amigas minhas, presentes no meu casamento e tudo.

Agora era hora de iniciar uma nova fase em minha vida, e era pra isso que eu estava lá. Eu estava atrás das cortinas, esperando minha hora de entrar, eu tinha recebido já todas as instruções, aquilo seria fácil.

—E ninguém aqui poderá me vencer! - Maite Sanchez, a atual NXT Women's Champion brada arrogantemente no ringue. - Os resultados do NXT Takeover passado falam por si só, foram quatro mulheres contra mim e ninguém pôde tirar esse bonitão aqui de mim! E eu vou permanecer assim até o fim dos dias.

Eu coloco a minha máscara de Pink Jaguar, aquela havia sido a pista que meu tema tocaria em breve.

—Olá! Mulheres do NXT, venham! Desafio qualquer uma pra uma luta... Se me vencer, uma chance pelo título é provável... Mas são todas medrosas, é claro e... - Maite continua.

Os primeiros acordes de Stand Up, do Shallow Side começam a tocar. Os comentaristas se perguntam quem seria, até que o meu nome surge no tron e o público vem abaixo. Eles sabiam que eu estava pra estrear, mas não sabiam quando seria.

Eu entro de maneira lenta, descendo o palco com uma determinação renovada, era um novo mundo que eu estava adentrando, a WWE era diferente da Inglaterra, do México, das independentes dos EUA. Era um novo local e eu tinha que jogar pelas regras de lá.

Eu subo no ringue e pego um microfone.

—Ah, Maite, obrigado pelo convite... - Meu tom goteja sarcasmo. - Talvez não hoje, porque francamente, você usaria uma de suas lacaias pra me atacar se marcássemos uma luta pro evento principal. Mas fique tranquila, semana que vem lutaremos e vou mostrar todos os meus truques.

—Oh, a garotinha estrela que veio do Japão... - Maite provoca. - Qual é o seu nome mesmo?

—Meu nome não te interessa, mas você vai saber o gosto das minhas botas na próxima semana. - Rebato. - Mas tenho certeza de que o Universo NXT sabe quem sou, não é? - O público ergue os dedos repetidamente e grita "Yes! Yes! Yes!" - Viu? Eles sabem reconhecer uma estrela. E pode ter certeza de que esse cinturão vai estar comigo, cedo ou tarde.

Claro, era só bravata minha, eu não fazia a menor ideia dos planos que a WWE tinha pra mim no NXT, mas como o Paul disse pra eu improvisar qualquer coisa, então combinei com a Maite, qualquer coisa a respeito de fazer meu nome. O que deu certo, pois depois disso a platéia passou a gritar "Holy Shit! Holy Shit! Holy Shit!" e isso, no universo do Wrestling, quer dizer que algo muito mágico estava pra acontecer muito em breve. 


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