Wrestling & Romance escrita por MrSancini


Capítulo 13
Capítulo 13: Comida, música e Jogos!




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Enquanto nossos amigos não chegam, eu e Nicole aproveitamos pra relaxar um pouco na praça de alimentação do Shopping. Não havia muito o que fazermos, até que Lara, Nicholas e Samantha chegassem. E a verdade é que eu nem saberia o que fazer após eles chegarem, mas isso é meramente um detalhe.

O tempo de espera passou tediosamente, a ponto de eu começar seriamente a cogitar ir pra algum canto fazer algo um pouco mais obsceno com Nicole, já que o marasmo ao menos seria espantado... Mas diabos, assim como a Nicole, eu queria que a nossa segunda vez fosse mais especial que a primeira.

Felizmente, por volta de onze e quinze da manhã, Nicholas e Samantha chegam na praça de alimentação, a Nicole já estava cochilando na mesa.

—Nicholas, Sam! - Cumprimento os dois animadamente. - E aí, beleza?

—Bem, um pouco abalados ainda e... EPA! - Nicholas leva um susto quando Nicole acorda rapidamente, provavelmente em reação a minha voz. - Bom... Bom dia, Nicole.

Samantha começa a rir da reação abobada de seu irmão, que não tem outro jeito a não ser rir também.

—Bom dia Nicholas, Samantha... - Nicole dá um bocejo, antes de despertar completamente. - Desculpem, mas a gente ficou sem assunto e eu decidi tirar um cochilo.

—Só de ver o Nick tomando um susto com isso valeu ter vindo. - Samantha brinca, sentando do lado em frente a mim e a Nicole.

—Tudo bem, mas... O que diabos vamos fazer? - Pergunto, levantando a questão que passava pela minha cabeça.

—Bem, eu estava pensando em um almoço no restaurante mexicano ali... - Nicholas indica, e vemos também vindo em nossa direção, Lara. - E depois partirmos para um karaokê numa casa que tem músicas muito boas.

—E aí, Lara? - Nicole acena para nossa amiga, que acenava de volta.

—Diego, Nic... - Lara nos cumprimenta e depois se vira pra Nicholas e Samantha. - Bom dia, Nicholas, Samantha.

—É uma boa ideia... - Concordo com a ideia de Nicholas.

—Tanto aqui, quanto o karaokê são por minha conta! - Nicholas diz, abrindo os braços. - É meio que pra compensar pelo ocorrido, e pelo fato de que a gente não pôde ter aquela parada ontem de tarde.

—Não precisa... - Nicole diz, mas Samantha a corta.

—A gente sabe, Nicole... - Samantha sorri, depois olha pro irmão dela. - Só que o Nick é meio cabeça dura com isso, se faz ele se sentir bem e poupa o dinheiro de vocês, aceite!

—Sabe Sam, você me fez parecer um idiota agora. - Nicholas comenta, com um tom neutro.

—Eu venho tentado lhe dizer que você é um idiota desde que a gente aprendeu a falar. - Samantha devolve, com um sorriso malicioso.

—Eu posso ter perdido algo. - Lara ergue a mão, como uma aluna. - Então, o que vamos fazer?

—Espero que tenha tolerância a comida mexicana, Lara... - Respondo a ela, pra ser franco, acho que nunca experimentei a culinária da terra do RBD... Se bem que a origem de Rebelde é da Argentina e depois fizeram uma versão mexicana e PORQUE CARALHOS ESTOU DIVAGANDO A RESPEITO DISSO? - Porque esse vai ser nosso almoço hoje.

—Ah! - Nicole lembra de algo repentinamente. - Tenho que mandar um aviso pro pessoal pedir a comida porque né, eu não estou em casa para fazer o almoço. - Ela pega o celular e manda uma mensagem pra Brenda (e só pra garantir, pra Beatriz e pro Erick também).

—Só espero que eles não morram de fome. - Dou de ombros.

—Vamos? - Nicholas se levanta e nós o seguimos para o restaurante.

Como Nicholas parece mais familiarizado com os pratos, acabamos acatando as sugestões dele, então começamos com pozoles, que é uma sopa feita dos grãos de uma espiga de milho chamada cacahuacintle (saúde!), temperada com porco, abacate, alface, cebola, limão, orégano, chicharrón (que é um equivalente mexicano ao nosso torresmo), chile, queijo cremoso e servida com salsa verde.

Oh, céus, minha dieta! Bem, nesse momento tudo o que digo (e o pozoles é só a entrada), foda-se a dieta! A comida é maravilhosa, longe daquele clichê de taco, quesadilla e guacamole que a internet nos faz pensar sobre o México.

—Então... - Nicholas nos dirige a palavra enquanto saboreamos a comida. - Eu queria pedir desculpas pelo ocorrido no caso... Bem, no caso do Marcos.

—Sério cara? Sério mesmo que você vai fazer isso? - Meu olhar é um pouco incomodado com a situação.

—A gente tá se sentindo mal e... - Samantha tenta explicar, mas a corto.

—Sério, essa situação não tem a ver com vocês. - Concluo, respirando fundo. - Vocês, talvez com exceção da Nicole, foram os mais prejudicados pelas ações do Marcos.

—Sem contar que boa parte dos fãs está do lado de vocês. - Nicole continua, olhando nos olhos de Nicholas. - Apesar de não colocarem todos os detalhes, por razões óbvias, vocês jogaram limpo expondo os fatos e razões da saída daquele miserável da banda.

—E pensar que eu saí com ele... - A voz de Samantha transmite ao mesmo tempo arrependimento e raiva.

—Ninguém poderia prever isso, Samantha. - Lara dá a opinião dela. - Claro, o cara tinha um histórico de recaídas, mas ninguém esperaria que ele fosse apelar pra sequestrar a Nicole!

—Exatamente, Lara. - Concordo com ela. - Eu queria ter agora alguma coisa inteligente pra dizer, mas deu um branco.

—Então fica quieto, seu idiota! - Nicole pega um pedaço de chicharrón e arremessa em mim. - Na próxima vez vai a colher.

—Tá bom, mãe. - Dou a língua pra ela, de maneira muito madura.

—Melhor ver vocês nesse modo picuinha infantil. - Lara comenta, rindo. - Do que vocês no modo full amorzinho grudento... Ou pior, um apaixonado pelo outro e não se confessando.

—Como assim apaixonados sem se confessar? - Samantha pergunta, curiosa.

—Bem, resumindo... - Ela começa a contar. - O Diego se apaixonou pela Nicole no primeiro dia do ensino médio. Bem, ele se apaixonou pela aparência, mas depois que ela ficou nossa amiga, ele se apaixonou PRA VALER. - Ela para, pensativa. - E a Nicole... Bem, já faz um tempo que vez ou outra ela olhava pro Diego de maneira diferente. Mas nessa de não querer prejudicar a amizade, eles guardaram esse sentimento um dentro do outro.

—Interessante, daria até uma boa música. - Nicholas comenta, sorridente.

—Calma que eu não terminei. - Lara retruca, pra quem queria RESUMIR, ela tava se alongando um pouquinho demais. - Eu já sabia que esses dois estavam como unha e carne em relação ao que sentem, mas nunca confessaram, e bem... Aproveitei a viagem pra flertar um pouquinho com o Diego, apertar os botões certos pra esses dois se juntarem de vez.

Depois de ouvir esse resumo da Lara, que era um pouco longo demais, prefiro continuar com minha sopa, que estava muito boa. Depois do pozones, temos um guisado de frango com frijoles (feijão frito) e arroz a la mexicana, o que era um pouco mais leve que o pozones, mas não temos necessariamente o tempo, ou a vontade, para conversarmos. Diabos, eu sei que o Nicholas e a Samantha tem um horário apertado porque eles ainda tem que ensaiar.

Após o guisado, pra finalizar, uma Capirotada, que é um pudim de pão mexicano, geralmente consumido na Sexta-feira santa e amigos, eu precisaria de uma longa sessão de exercícios pra queimar as calorias disso, porque a sobremesa estava magnífica.

—Eu vou precisar correr muito pra queimar isso aqui, hein. - Digo, satisfeito após a terceira fatia de pudim.

—É, mas não precisava de comer TRÊS fatias de Pudim. - Samantha ri.

—Você não conhece esse cara. - Nicole complementa, rindo. - Ele tem um fraco por doces que te surpreenderia.

—Agora, falando sério, Nicholas. - Continuo, após me limpar. - Obrigado pela oportunidade de almoçarmos juntos.

—Quê isso, cara, o prazer foi meu. - Nicholas diz, um pouco mais tranquilo. - E de quebra, você descobriu que a culinária Mexicana não é aquele clichê apimentado que falam por aí. Claro, tem muitos pratos apimentados, mas se você tem o intestino sensível, dá pra comer de boa.

Após Nicholas pagar a conta, saímos os cinco do Shopping, conversando trivialidades até que chegamos num bar modesto que possui uma sala para karaokês, ficava curiosamente na mesma rua da delegacia da cidade. Coisas de cidade (relativamente) pequena, tudo ficava perto de tudo.

A sala de Karaokê era locada por frações de hora, mas não com exatidão porque se alguma música estourasse o tempo, não tinha problema, pois aquela seria a última e tudo se daria como encerrado. Pelo menos foi o que a Samantha me explicou enquanto o Nicholas acertava os detalhes de tempo que a sala ficaria conosco.

—Bom, temos duas horas pra nos divertirmos aqui. - Ele diz, após voltar.

A sala de Karaokê não era necessariamente suntuosa, haviam três sofás de três lugares, uma mesinha de centro, pra caso quem alugasse comprasse algum petisco ou bebida, e o aparelho com as músicas, além de um livreto com as disponíveis.

—Como vamos definir a ordem? - Lara pergunta, com o livreto em mãos, consultando o que poderia cantar. E olha, o livreto era bem grande.

—Que tal irmos por ordem alfabética? - Nicole sugere e mentalmente a xingo. Eu não gosto de ser o primeiro a fazer as coisas, até mesmo nas lutas que tive eu entrava depois.

—Boa ideia. - Nicholas sorri. - Vou ali no bar pegar algo pra bebermos, nada alcoólico, por conta do ensaio que teremos logo mais.

Eu suspiro resignado e Lara me entrega o livreto das músicas. Felizmente ele é separado por artista e mesmo para artistas japoneses, os nomes estão romanizados. Indo numa certa letra, felizmente encontrei uma que me agradou. Olho o código da música e após Nicholas voltar com algumas garrafas de refrigerantes (e a quantidade de exercícios vai aumentando!), digito o código na máquina.

—Eu não sou nenhum Nicholas em termos de vocal, mas bem... - Digo, enquanto os primeiros acordes da música começam a tocar. - Aí vamos nós!

Respiro fundo, antes de começar a cantar:

Do you remember me / You can't see the things

That make me who I am / You'll never understand

And I gotta keep moving, you're living off my sweat

Moving, the devil's on my back

And these are the days that I dreamed about

And you're always there to remind me

E assim, ainda que errando um tom ou outro, vou cantando "Enemy", do Fozzy e não poderia ser diferente, já que sou fã do Chris Jericho, e felizmente a máquina tinha alguns dos hits do Fozzy para serem cantados. Após a música, pego um refrigerante e dou um longo gole. Felizmente a sala era climatizada e Nicholas teve a presença de espírito de trazer um balde de gelo pros refrigerantes não esquentarem.

—Nada mal... - Nicholas bate palmas, sarcasticamente. - Talvez em uns cinco anos você fique ruim.

—No dia que você fazer aplicar um moonsault do topo da terceira corda sem se cagar de medo, podemos conversar, Junior. - Devolvo, claro, sem especificar que eu apenas me mijo de medo ao cogitar dar um moonsault da terceira corda.

—Oooh, nervosinho, é? - Nicholas ri, enquanto Lara escolhe sua música, e eu me sento ao lado da Nicole, passando o braço ao redor do ombro dela.

Quando os primeiros acordes da música escolhida por Lara começam a tocar, ela inspira fundo, como se tentasse canalizar a voz lírica da ex-vocalista do Nightwish, Tarja Turunen

This is me for forever

One of the lost ones

The one without a name

Without an honest heart as compass

E provavelmente pela falta de habilidade no vocal, Lara não foi lá grandes coisas, mas isso era esperado e quem mais ri após a performance dela de "Nemo" é ela mesma.

—Ei, o profissional é o bonitão ali e não eu. - Lara brinca, enquanto se senta ao lado de Samantha. - Eu só estou aqui pela brincadeira e quem sabe tirar uma casquinha dele.

Nicholas, que estava tomando um gole de seu refrigerante, cospe o mesmo em meio a declaração de Lara e começa a rir ainda mais. Nicholas vai até o livreto e procura uma música, e após se decidir, começam a tocar os acordes de uma música que eu não era tão familiarizado.

Coming out of my cage / And I've been doing just fine

Gotta gotta be down / Because I want it all

It started out with a kiss / How did it end up like this

It was only a kiss, it was only a kiss

Apesar de "Mr. Brightside" do The Killers estar fora do estilo de Nicholas, ele simplesmente destruiu na performance, perfeito em cada nota, mesmo eu que não manjo porra nenhuma de técnicas musicais, percebi que o cara tinha um talento do caramba e um futuro na música.

—E é assim que os profissionais cantam, baby. - Ele pede aplausos, de maneira nada humilde e eu como bom adulto responsável, arremesso a tampa da minha garrafa de refrigerante nele, pra risada de todos.

A próxima a escolher a música é Nicole, e após folhear bastante o catálogo de músicas (O Nicholas inclusive saiu pra pegar água pra gente, eu me sinto como se ele fosse o nosso garçom do dia), ela digita o código e uma melodia familiar começa a tocar.

Essa melodia inclusive me traz lembranças de uma das coisas que fizemos naquele ano novo em Angra dos Reis, nossos amigos estavam dormindo e nós dois fizemos uma maratona dos treze OVA's de Record of the Lodoss War, e agora ali, como se quisesse justamente evocar essas lembranças, Nicole está cantando "Kaze no Fantasia"

aishiau destiny

owari no konai yoru no you

eien to kimeta

anata dakara

sa, nemurinasai

kono mune de

E Nicole cantava bem, não sei se ela praticava no chuveiro, mas definitivamente entre mim, Lara e ela, talvez fosse ela a classificada no "The Voice", isso é, se a gente resolvesse largar o Wrestling para tentar uma carreira musical.

Após a performance dela, estamos nós quatro aplaudindo, e Nicole fica um pouco vermelha. Mostrar os vocais não era algo ao qual ela estava habituado, e quando eu ergo uma sobrancelha querendo saber de onde ela tirou esse vozeirão, ela responde num sussurro "Aulas de canto". Aprendendo todo dia. Pois é.

Pra finalizar a primeira rodada, ao invés de Samantha escolher uma música séria, como todos nós, resolve meter o pé na jaca e cantar uma música a qual eu estava habituado por causa de uma paródia... Não da música, mas de outra coisa.

Well, party party party

I wanna have a party

I need to have a party

You better have a party

Come on, party party party

Ya gotta party hardy

I'm gonna have a party

Or else you will be sorry

Ah, "Party, Party, Party", do Andrew W.K., a performance da Samantha foi propositalmente cômica, e como se fosse essa a intenção, após o fim da música ela solta uma única frase:

—Bitches Love Cannons! - E após Samantha soltar essa frase, eu me levanto e dou um abraço nela. - Mas hein?

—Não é todo dia que se encontra alguém que curte Hellsing Ultimate Abridged! - Exclamo, pra risada geral.

Após relaxarmos um pouco, conversando sobre tudo e nada ao mesmo tempo, vamos para uma segunda e última rodada de karaokê, onde faço uma performance razoável de "Chōzetsu☆Dynamic!", do Kazuya Yoshii, Lara se redime da desafinação com "Bad Reputation" da Joan Jett, Nicholas se exibe com uma ótima performance de "TNT" do AC/DC e Nicole me chama para um dueto com "I Wish I Had an Angel" do Nightwish, o que custa muito esforço meu pra fazer jus ao vocal de minha namorada, que pode não ter o poder lírico de Tarja Turunen, mas pra um karaokê e em comparação com três outras pessoas que não sabem cantar muito, é divina. No fim nossa performance foi boa, pelo menos do meu ponto de vista. E finalizando, Samantha resolve bancar a metaleira e fazer uma performance de "Fuel", do Metallica.

Por fim, após a cantoria, conversamos mais um pouco até dar o limite de nosso tempo, por fim nos despedimos de Nicholas e Samantha, que vão passar onde estão hospedados, antes de ir pro estúdio ensaiarem, já eu, Lara e Nicole voltamos pra casa.

—O que vamos fazer? - Nicole pergunta, enquanto pegamos o ônibus de volta pra casa.

—Eu estava pensando em treinar um pouco na praia. - Lara responde.

—Bem, como eu estou precisando de perder as calorias que acumulei com o almoço de hoje, seria uma boa ideia. - Me espreguiço um pouco. - Vem com a gente, Nicole?

—Claro. Não tenho nada pra fazer mesmo... - Nicole assente.

Após passarmos em casa pra trocar de roupa, nós três nos dirigimos até a praia. Eram duas e pouca da tarde, a praia estava um pouco mais cheia, era uma sexta-feira, mas felizmente a parte da praia com mais palmeiras estava mais vazia. Nicole se afasta um pouco de mim e de Lara, e nós dois nos posicionamos a mais ou menos dois metros um do outro.

—Podem começar! - Nicole diz, fazendo um gesto como se fosse pro sino do ringue tocar.

Lara dá alguns passos para trás e corre na minha direção, saltando e me aplicando um dropkick, jogando o corpo para trás e me empurrando com os dois pés. Apesar do impacto não ter sido forte, eu havia deixado o corpo mole para o golpe ter o efeito desejado.

Eu caio para trás, me levantando após alguns segundos. Olhando para Lara, vejo ela dizendo algo por entre os lábios: "Hurricanrana, contra ataque com powerbomb". Lara corre em minha direção, e pula para tentar encaixar as pernas em mim, visando aplicar o Hurricanrana, mas agarro as pernas dela quando ela as põe em meu ombro, pego no quadril dela, a ergo e desço o corpo dela na areia.

Para qualquer um que visse de fora, poderia supor que eu causei um dano nela, mas já praticamos tanto isso que eu nem me preocupo, mas quando olho pro lado vejo que Nicole virou o rosto, um pouco assustada.

—Caramba, Nicole, você sabe que esses golpes são combinados e... Aaaai! - Nem tenho tempo de terminar minha sentença, já que Lara havia me acertado um tapa no peito com as costas da mão, um popular chop.

Tenho certeza de que se estivéssemos em um ringue, a platéia teria gritado um 'Woooo!' no momento em que ela me acertou. Isso é uma tradição no Wrestling profissional. Pelos próximos doze, talvez quinze minutos, temos uma luta improvisada, com o máximo que dá pra fazer sem um ringue de verdade, ou seja, arm drags, submissões e finais falsos.

Para os que não sabem, existem dois tipos de luta em um ringue de wrestling, A primeira, é uma luta na qual todos os momentos principais são planejados de antemão, e a outra é mais improvisada, com os lutadores decidindo os movimentos na hora ali, apenas com uma ideia de quem vai ganhar.

A 'luta' entre eu e Lara terminou quando ela aplicou um standing moonsault, um mortal para trás no qual ela terminou batendo com as pernas no chão e o peito sobre o meu peito, como se fosse aplicar um pin.

Nicole mergulha no chão e faz a contagem, como se fosse uma juíza, batendo no chão três vezes.

—Um... Dois... E três! - Ela ergue o braço de Lara. - E temos uma vencedora... Lara... Lima!

Assim que eu me levanto, escutamos alguns aplausos. Sinceramente, eu nem havia notado que a nossa 'luta' havia atraído alguns banhistas e um deles em particular, nos era familiar, afinal, havíamos jogado vôlei com ele alguns dias atrás. Sim, Carlos correu em nossa direção, nos reconhecendo.

—Lara! Diego! Nicole! - Ele nos cumprimenta, enquanto eu e Lara nos limpamos, o máximo que dá. - Bom ver vocês novamente! E... Caramba, não sei como não tinha te reconhecido da outra vez, Diego. E você chegou no final do torneio dos Rookies na BWF...

—Normal, eu não tenho tanta exposição assim. - Respondo, um pouco sem graça. - Boa parte das minhas lutas na BWF não foram pra TV. Sem contar que lá eu sou mais lutador convidado, e não necessariamente parte do roster da empresa.

—Enfim, vocês lutam bem, ao menos pra pessoas da idade de vocês. - Ele continua a rasgar seda. - Só passei pra dar um oi e parabenizar, pois tenho que ir trabalhar!

—Tudo bem... - Nicole sorri, aliviada de não termos que ficar puxando conversa onde não tem.

Após darmos um último tchau, Carlos vai fazer o que quer que fosse fazer como trabalho, e eu, Lara e Nicole começamos a fazer nosso caminho de volta pra casa.

—Olha, Diego... - Lara se dirige a mim. - Foi incrível, você tem melhorado bastante.

—Eu não teria chegado a esse nível se você não tivesse me colocado no caminho certo. - Aponto o fato de que o ato de Lara ter me levado a treinar por vezes com o pessoal da FILL ter me ajudado. - A propósito, esse standing moonsault é novo no seu arsenal?

—Não... Você sabe que eu costumo usar o Lionsault como golpe finalizador. - Lara explica, dando de ombros. - Mas como não temos cordas aqui, eu tive que improvisar.

—A execução foi muito boa. - Nicole elogia.

—Pode ter sido, mas não tem espaço e nem razão pra colocar ele no meu arsenal. - Lara dá um ponto final na conversa.

—Sabe... Ver vocês lutando assim, apaixonadamente, me deixou muito, muito animada... - Nicole confessa, sorridente. - Espero que dê tudo certo pra você na semana que vem, Lara! - Nicole passa um braço pelas costas de Lara.

—Estaremos torcendo por você! - Passo o braço pelas costas de Lara também.

—Espero que o booker da luta decida a meu favor. - Lara diz, com um sorriso não muito animado.

—Se precisar, posso usar uma grana pra subornar ele... - Nicole diz, sem o menor pudor, deixando Lara e a mim boquiabertos. - Tô brincando gente! Vocês não tem o menor senso de humor!

—Você... - Tento falar em meio ao riso. - Você me pegou de guarda baixa porque sei que você TERIA o dinheiro pro suborno...

—Ainda assim Lara... - Nicole pisca, de maneira brincalhona. - Tudo o que você precisa é uma ligação.

Após voltarmos pra casa, rindo Lara decide descansar e depois ela terá uma reunião via whatsapp com as colegas da luta da próxima semana pra combinar os spots. E isso tudo sem saber quem vai ganhar o título.

E enquanto isso, Erick, Brenda e Beatriz maratonam alguma série no Netflix. Queria eu ter essa despreocupação deles.

—Ótimo... Ainda são três e meia da tarde. - Nicole resmunga, levemente chateada. - O que vamos fazer?

—A minha primeira sugestão só vale pra segunda-feira. - Digo, e Nicole tira a cara de enfado pra rir um pouco. - Bem, a gente podia fazer uma tarde de jogos, não?

—Seria uma boa se tivéssemos trazido o Playstation 3 ou mesmo o Playstation 4. - Nicole diz, lamentando não ter trazido videogame algum.

—Poderíamos ir ao fliperama do Shopping! - Sugiro e o rosto de Nicole se ilumina.

—Vamos ao menos tomar banho antes? - Ela diz, me puxando até o quarto pra pegarmos alguma roupa.

Após escolhermos a roupa, Nicole entra no banheiro, enquanto decido esperar por ela na porta. Só que Nicole me puxa pra dentro do banheiro, o que me surpreende.

—Não, não vamos fazer nada! - Nicole diz enquanto se despe na minha frente. - Você já me viu pelada mesmo, ficando aqui dentro economizamos algum tempo!

Pode até ser, mas a visão do corpo de Nicole nu é um colírio para os (meus) olhos, as formas dela são de dar inveja a algumas modelos. Ela nunca teve o jeito (ou pretensão) de modelo, mas as curvas dela dariam uma boa capa de revista. Ou talvez eu estivesse apaixonado demais porque não lembro de muita gente ter dado em cima dela. Provavelmente porque...

—E Diego, se você entrar aqui enquanto me banho. - Nicole avisa, com o chuveiro ligado. - Eu juro que você vai passar o resto da vida cantando feito o Detonator.

Mesmo sem essa ameaça de Nicole, eu não entraria no box, diabos, é um momento dela apenas e sei como o banho é importante. Após um tempo, onde Nicole cantarola uma música em hum hum huns (musica essa que é bem semelhante a Kaze no Fantasia, que ela havia cantado no karaokê mais cedo.), ela sai do banho com uma expressão tranquila.

Eu havia me despido pra ganhar tempo, e assim que ela sai, eu entro no chuveiro. Nossa, nunca pensei que a relação entre eu e Nicole fosse chegar a esse ponto tão rápido. Talvez seja pelo fato de que nossa amizade já tinha rompido as barreiras comuns há muito tempo. Não creio que a Nicole da época em que nos conhecemos ficaria pelada na minha frente.

Após sair do banho, Nicole está praticamente arrumada, vestida como uma nerd normal que vai ao Shopping pra comprar... Mais coisas nerds. Eu coloco minhas roupas, algo mais casual e menos praiano, um pouco nerd também.

Apesar de atrairmos alguns olhares de nossos amigos quando saímos do banheiro juntos, nenhum comentário é tecido e vamos sem pressa pro Shopping.

Felizmente não tínhamos ido ao Shopping pelas compras, porque ele estava cheio, estávamos quase na semana do Natal, logo fomos diretamente ao fliperama.

—Vamos começar com o quê? - Nicole pergunta, olhando as máquinas ao redor.

—Não vamos de Outrun dessa vez. Estive com o Erick aqui na quarta-feira, e eles tem umas máquinas que podemos jogar em dupla. - Explico, enquanto vamos comprar um monte de fichas.

—Como o quê?

—Você verá.

Começamos com um clássico dos jogos de nave, Aero Fighters. Provavelmente algumas das máquinas desse fliperama são computadores utilizando o MAME, mas isso não importa. Nicole e eu escolhemos o time do Japão porque sim, começando a explodir tudo o que vem pela frente.

Aero Fighters em si é um jogo com dificuldade de regular pra difícil, eu tenho familiaridade com o gênero de shooters, logo não passo tanta dificuldade, já Nicole precisa de algumas fichas pra me acompanhar, numa proporção de quatro pra um. Se bem que considerando que hoje temos jogos com gazilhões (essa palavra existe?) de balas na tela, então Aero Fighters não chega a ser um problema pra finalizar.

Durante os créditos finais, Nicole se dirige a mim, com uma cara de enfado.

—Isso é muito injusto. - Ela reclama. - Você sabe que não sou boa em shoot'em up's!

—Estou lhe ensinando uma lição de humildade por ter me chamado de frouxo quando jogamos OutRun 2 outro dia! - Devolvo, com um sorriso.

—Ah, então é sobre humildade, é? - O sorriso de Nicole é maquiavélico. - Vamos pro Tekken agora.

Oh céus, pisei num calo dela. Isso era comum em nossas Noites de Jogos. Nós vamos pra Tekken 5 e em uma melhor de sete, Nicole me vence por 4 a 1. O que não era nem um pouco incomum, vocês sabem o quanto a Nicole já me surrou na série.

—Só me lembre de... - Vou dizer algo, mas Nicole me interrompe com um selinho. Eu fico vermelho e esqueço o que ia dizer. - Agora... Que tal jogarmos um beat'em up?

—Perfeito. - Nicole sorri.

Nós decidimos jogar Cadillacs & Dinossaurs, clássico da Capcom e jogo presente em 9 de 10 biroscas espalhadas pelo Brasil. Seguindo nossa tradição, eu jogava com Mustapha Cairo e ela com Hannah Dundee, os mais populares daquela máquina.

Bem, enquanto que eu era melhor que Nicole em Shooters e ela chutava meu rabo (na maioria ao menos) nos jogos de luta, a nossa sincronia em beat'em up's era perfeita. Com horas de prática pra evitar o fogo amigo presente no gênero, cobríamos os espaços do outro e não dávamos chance para os chefes.

Inclusive essa prática era o que havia feito com que soubéssemos exatamente os padrões de ataque dos chefes e uma maneira de reagir. Não era necessariamente uma ciência exata, mas uma coisa que aprendemos com jogos injustos, explore as falhas da CPU para avançar. Só estávamos aplicando esse princípio a um jogo mais simples.

Não demora muito até começar a juntar um grupinho de pessoas em volta da gente enquanto passávamos pelo jogo. E ouvimos elogios a nossa performance, alguns enaltecendo a nossa performance, outros falando sobre a facilidade do jogo.

E assim prosseguimos no jogo, até derrotarmos o chefe final, Fessenden. Enquanto os créditos descem, Nicole me dá outro selinho.

—Sabe... - Ela diz, um pouco pensativa. - Algo me passa pela cabeça sempre que jogo Cadillac.

—O quê?

—Os personagens acalmam dinossauros furiosos na base da porrada, não é?

—Sim.

—E ainda assim, o chefe final acaba se transformando em uma mistura de homem e dinossauro pra tentar nos deter. O cara deve ter um baita otimismo, considerando os heróis.

Não evito de rir, e o pior é que a lógica de Nicole faz sentido. Mas é um beat'em up dos anos 90, creio que coerência não era o forte nesse gênero. Continuamos a jogar outras máquinas, por um bom tempo, até que por volta das sete da noite, e sem bastante dinheiro, decidimos dar o dia como encerrado.

—Nossa! - Me espreguiço, exausto. Não exausto de cansado, mas simplesmente joguei o que tinha pra jogar pela semana toda. - Foi ótimo!

—Fazia tempo que a gente não jogava assim! - Nicole se espreguiça também. - Sete e pouca da noite, o que vamos fazer?

—A gente podia visitar o parque, ver como é lá durante a noite... - Sugiro, enlaçando a cintura dela.

Interpreto o gesto de Nicole apoiar a cabeça em meu ombro como um sim, e lado a lado, saímos do fliperama e do Shopping, como um casal normal numa noite de sexta-feira. Bom, com todos os meus problemas resolvidos (menos o da chance de gravidez da Nicole, mas ela tomara a pílula do dia seguinte), espero não ter nenhum contratempo no que virá a seguir pra mim.  


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