Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 90
CAPÍTULO90




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    Naquela noite, São Bento do Sul fez questão de levar Blumenau e a
filha até em casa; Içara acabou por pegar no sono na cadeirinha, no
banco de trás do carro do pai, durante o trajeto até em casa.
O rapaz estacionou o carro em frente a o edifício e se preparou para
desembarcar; Blumenau pegava a bolsa com a mão esquerda, e com a direita
arrumava uma mexa do cabelo:
— Eu pego ela, tá! - avisou calmamente São Bento:
— Sim; ela estava tão cansada que não aguentou nem chegar em casa!
O pai abriu a porta de trás do carro, e com muito cuidado tirou o cinto
de segurança da filha; pegou-a no colo e se preocupou em cobrir a
pequena com uma manta cor de rosa que estava no banco de trás:
São Bento fez questão de levar a filha até o apartamento e colocá-la na
cama. Blumenau entrou no quarto quando ele cobria Içara com cuidado;
ficou observando o ex-marido, um filme passou por sua cabeça em questão
de segundos, ele se transformou no melhor pai do mundo:
— Achei que ela ia acordar!
— Não - ele respondeu -, troquei a roupinha dela e a mocinha continuou
dormindo!
— A gente vai pra fazenda amanhã, voltamos no domingo! Se der, aparece
lá!
— Pode deixar; amanhã eu não prometo nada, mas domingo eu almoço lá com
vocês!
São Bento do Sul saiu do apartamento quando teve certeza que tudo estava
bem; deixou sua pequena na cama, dormindo feito um anjo, a mãe dela
dentro de casa. Blumenau ainda mexia com aquele homem, só ele sabia o
quanto se arrependia de ter agido com ela como agiu; mas não se atrevia
a dizer uma palavra sobre isso, não estava preparado para ouvir um não
da mãe de sua filha, da mulher que amava, que continuava amando.
    São José abriu os olhos e percebeu que já havia amanhecido; no
criado mudo ao seu lado ainda estavam as duas taças e a garrafa de champagne
vazia, vestígios daquela noite. Percebeu que estava sozinho na cama e consultou a hora no relógio
de pulço, eram nove horas da manhã.
    O cheiro de café fresco lhe trouxe uma sensação de felicidade, uma
sensação de que tudo era perfeito, e realmente era. Camila certamente
estaria na cozinha; São José se livrou do edredom e saiu da cama.
    Camila nunca pensou que fosse assim, estava preparando o primeiro
café da manhã em sua nova casa, a primeira refeição que faria sozinha
com São José depois de casada, sentia-se plena, completa, feliz. Enquanto
caminhava pela cozinha para pegar uma coisa ou outra, a enfermeira
cantarolava uma música qualquer:
— Bom dia, senhora minha! - a mão em sua cintura e o beijo leve em sua
nuca despertaram a enfermeira de seu devaneio; ela se virou, ficando de
frente para São José, estavam no centro da cozinha:
— Bom dia, meu marido! - ela sussurrou com um sorriso largo; ele ajeitou
uma mexa do cabelo dela e puxou-a para um abraço; o par de olhos azuis
e o sorriso discreto fizeram com que o mundo parasse, Camila se deu
conta de que agora podia ver aquele sorriso todos os dias, teria sempre
aqueles olhos em sua direção. Os lábios se encontraram e se uniram; ele
enrolou calmamente a mão direita no cabelo dela, dando duas voltas como
se quisesse manter sua mulher ali:
— Dormiu bem? - perguntou Camila parando o beijo:
— Fiquei boa parte do tempo te olhando; você estava tão linda, parecia
sorrir enquanto dormia, eu daria tudo pra saber com o que a senhora
estava sonhando!
— Estou preparando o nosso café, não via a hora de inalgurar a minha
cozinha!
— Quer ajuda?
— Coloca a mesa pra gente?
— Coloco sim!
E assim começava o dia para os dois; Camila, com um sorriso de
felicidade, terminou de preparar o café enquanto seu marido colocou a
mesa. Os dois fizeram questão de ter uma mesa grande na sala de jantar,
a enfermeira queria que as filhas de São José tivessem sempre um lugar
especial em sua casa. Camila agora podia ter tudo o que quisesse, mas
seria sempre a mesma.
O vôo que os levaria à São Paulo sairia no fim da tarde; de lá eles
embarcariam para a Europa, onde ficariam por duas semanas.
    Florianópolis chegou na fazenda para o almoço; com ela estavam
Palhoça, Jaraguá e São Joaquim, Blumenau e Içara, Chapecó e Joinville
com o filho, e mais tarde, São Miguel do Oeste chegou acompanhado pela
tia.
    - Que casa linda, menina! - comentou Concórdia com Florianópolis ao
entrar pela porta da sala:
— Essa casa existe a mais de cem anos; quando nós compramos a fazenda,
fizemos uma pequena reforma, trocamos toda a parte elétrica mas a
estrutura continua igual!
— São Miguel havia me dito que era um paraíso aqui!
— E Brusque, ligou, deu notícias?
— Ela tem ligado sempre pra nós; voltou a lecionar, está feliz, quer
dizer, minha irmã voltou a ser feliz!
— Ela pensa em voltar?
— Ela disse que pretende vir visitar a gente em breve, mas voltar a
morar aqui ela garante que não! Eu até ia conversar com você sobre ela,
Florianópolis, ela me pediu o seu contato, eu disse que ia falar com
você primeiro!
— Tudo bem, Concórdia; passa meu contato pra ela! Eu nem cheguei a
conversar com ela direito quando os nossos filhos começaram a namorar,
procurei evitar por causa daquela vez que ela praticamente expulsou
Jaraguá da casa dela! Quando a gente tem filhos, Concórdia, se for
preciso a gente vira bicho pra defender a cria da gente!
— E o casamento, como foi? Eu não pude ir, tinha um evento ontem!
— Foi lindo, Concórdia!
— Você não sentiu nenhuma pontinha de ciúme não?
— Eu não sei te explicar o que eu senti! Mas eu não posso negar que me
deu um aperto no peito quando São José disse o sim!
    E aquela tarde passou voando; Concórdia e Florianópolis foram para a
beira da piscina, enquanto o resto da turma fazia uma verdadeira festa
dentro d'água. Blumenau entrou na piscina com a filha no colo; ainda
muito pequena, Içara parecia adorar aquela bagunça toda, estava
totalmente segura no colo da mãe. Jaraguá se encarregou de cuidar do
irmão caçula, enquanto Joinville se sentou em uma parte rasa da piscina
e ali ficou, ao lado da companheira, brincando com o filho.
    - Parece que tem alguém que vai dormir cedo hoje, não é, meu amor? -
comentou Chapecó ao entrar na sala de estar e ver São Lourenço do Oeste
aninhado no colo de Joinville:
— Também - ela respondeu -, bagunçou a tarde toda, água cansa mesmo! E
Içara?
— Está lá em cima com Blumenau; caindo de sono, ou melhor, lutando
contra o sono! Vamos lá pra cama, filho?
Chapecó se preparou para pegar o pequeno do colo da companheira, mas ele
relutou; colocou o bracinho esquerdo por trás da cintura de Joinville e
deitou a cabeça no peito dela, recusando-se a sair dali:
— Eu levo ele pra cama daqui a pouco! - ela sorriu para Chapecó, que fez
um sim com a cabeça e sorriu de volta. Ficou ali por alguns instantes,
observando Joinville e o filho, depois saiu da sala com passos leves.
Quando São Lourenço já fechava os olhinhos, Joinville deu um beijo leve
na testa do filho:
— Te amo, tá, filho! - ela sussurrou; e o pequeno dormiu, encostado a o peito
da mãe. Não era sua mãe biológica, mas ela era sua.
    - Galera, a lâmpada desse quarto está queimada! - deduziu Palhoça ao
entrar com Jaraguá e São Miguel em um dos quartos de hóspedes da casa
da fazenda -, vou chamar o seu Manuel pra trocar!
Acontece que já era tarde da noite:
— Palhoça - sugeriu o rapaz -, eu troco essa lâmpada; não precisa chamar
o Seu Manuel a uma hora dessas! Vamos pegar a lâmpada nova, uma cadeira
e eu resolvo isso!
    Com a lâmpada nova e uma cadeira em mãos, Palhoça, Jaraguá e São
Miguel voltaram a o quarto; São Joaquim os seguiu com seus pequenos
passos e um sorriso constante.
São Miguel subiu na cadeira para fazer o serviço; tirou a lâmpada
queimada do bocal e colocou a nova sem nenhum problema, por enquanto.
Quando o garoto se preparou pra descer, lá veio a surpresa desagradável;
a cadeira quebrou.
    Sentadas na cozinha, Concórdia e Florianópolis conversavam sobre
tudo; ouviram um barulho vindo do andar de cima e se prepararam para ir
até lá e ver o que estava acontecendo. São Joaquim entrou na cozinha
correndo e agarrou-se à barra do vestido da mãe:
— Caiu! - disse o pequeno:
— Quem caiu, meu filho?
— Titio, mamãe, titio caiu!
    São Miguel do Oeste acabou sofrendo um pequeno acidente quando
tentava trocar a lâmpada de um dos quartos de hóspedes da fazenda;
quando Concórdia e Florianópolis chegaram no tal quarto, lá estava a
cadeira, quer dizer, alguns pedaços de madeira que já foram uma cadeira,
Palhoça sentada no chão, quase sem ar de tanto rir, e Jaraguá sentada na
cama, ao lado do namorado, com cara de apavorada. Quando caiu, São
Miguel acabou torcendo o pé; e o resultado foi o fim de semana toda de
molho, com Jaraguá ao seu lado o tempo todo, dedicada, se desdobrando em
cuidados com ele.


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