Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 79
CAPÍTULO79




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CAPÍTULO79

Passaram-se algumas semanas, e tudo caminhava bem. Chapecó e
Blumenau, ambas com cinco meses de gravidez, preparavam suas casas e
suas vidas para exercer a função mais importante que poderia existir, a
maternidade.
— Jaraguá, veste a roupa no seu irmão, por favor! - a ordem veio de
Florianópolis, que havia acabado de banhar o filho caçula e estava indo
pro banho também:
— Com certeza eu visto a roupa nesse sapeca aqui, mãe - ela respondeu
animada -, pode tomar banho sossegada que eu cuido dele!
— E eu fico aqui também! - complementou Palhoça. A mãe de família entrou
no banheiro e deixou as filhas com o caçula.
Jaraguá começou a cumprir a missão de vestir a roupa no irmão, que
tentava se levantar, engatinhar na cama da mãe; São Joaquim sempre foi
uma criança muito esperta, e Palhoça se divertia com a cena:
— Vem pra cá, senhor bagunceiro! - dizia Jaraguá, com a fralda
descartável aberta na mão; o pequeno engatinhava na cama, olhava para a
irmã e ria:
— Acho que tem alguém que não quer vestir roupa! - comentou Palhoça em
meio a uma gargalhada:
— Para de rir e me ajuda! - a menina tentou fazer cara de brava para a
irmã, mas caiu na risada também:
— E o que é que você quer que eu faça, Jaraguá?
— Não sei; mas eu tenho que vestir a roupa nele!
Depois de muita luta, Jaraguá conseguiu colocar o irmãozinho deitado na
cama para poder cumprir a tarefa que sua mãe lhe deu; Palhoça riu muito,
ver sua irmã toda atrapalhada tentando vestir o caçulinha realmente foi
divertido.
Nas últimas semanas, Camila descobriu em São José um amigo para
todas as horas; a saída de Chapecó do flat fez com que a enfermeira se
sentisse desamparada no início, mas ela o tinha do seu lado, e tinha
também a doutora Ana Luísa, sua amiga desde a adolescência.
São José por sua vez, foi casado duas vezes; terminou um casamento
de vinte e um anos por causa de uma mulher mais jovem, que traiu sua
confiança e sumiu no mundo. Só que a aproximação com Camila estava
mexendo com aquele homem; o jeito espontâneo, meio atrapalhado e ao
mesmo tempo doce da enfermeira estavam mexendo com ele. Os dois saíram
juntos algumas vezes, jantaram mas nunca passou disso.
Camila, com vinte e sete anos, já havia conhecido vários rapazes,
alguns até mexeram com ela, mas nenhum deles tinha o par de olhos azuis
que a deixava completamente sem ação, nenhum deles tinha aquele sorriso
que parecia tornar tudo mais fácil, nenhum deles fazia seu coração
estremecer com um simples encontro no elevador.
— Amiga, será que você não está confundindo as coisas não? - assim
perguntou carinhosamente a doutora Ana Luísa, sentada frente a frente
com a enfermeira, na bancada do apartamento dela:
— Confundindo como, Ana?
— Você é filha de pais separados, Cami; será que você não está vendo
nele uma espécie de pai? Sim, porque que ele tem idade pra ser seu pai,
isso ele tem!
— Não, amiga, não é isso não! O meu pai, mesmo depois de ter se
separado da minha mãe, sempre foi muito presente na minha vida; é
diferente, sabe! Eu já aproveitei muito essa vida, namorei, mas eu nunca
senti isso antes!
— Cami, eu só quero que você seja feliz, do seu jeito! Eu só preciso te
lembrar que ele tem cinco filhos, entre eles duas adolescentes, um bebê,
e mais, ele é sogro de Chapecó, pai da moça que vive com ela!
Camila sabia que não seria fácil;
Depois que se separaram, Blumenau e São Bento do Sul se encontraram
poucas vezes, embora soubessem que teriam um laço que uniria suas vidas
pra sempre. Naquela noite, ele foi até a casa dela, os dois jantaram
juntos ao lado da mãe e das irmãs de Blumenau; foi a primeira vez que
São Bento conseguiu conversar com ela com calma depois da separação:
— E... como é que você está? - perguntou o rapaz tentando começar uma
conversa, sozinho na sala de estar com a ex-mulher:
— Estou bem, São Bento; voltei a estudar, logo logo começam os estágios,
eu quero ser uma boa advogada e dar uma boa vida pro meu filho!
— Você ainda não sabe o que é?
— Eu não quero saber antes do nascimento dele; o de Chapecó é um menino!
— Blumenau, eu fui um tonto! Eu tinha tanto medo que a sua cunhada desse
em cima de você, ela sempre foi tão atenciosa, tão carinhosa com a sua
irmã, eu um cara tão frio, tão prático, eu tinha medo que...
— E por causa disso você transformou a minha vida num inferno! Eu não
estou falando isso só por causa de Chapecó não; você tinha ciúmes de
qualquer um que se aproximasse de mim, inclusive do meu pai que eu
sei...
— Blumenau, volta pra casa! Eu sei que eu fui um idiota, mas vamos criar
o nosso filho juntos como deve ser...
— Não, São Bento, não! Eu nunca vou impedir que você esteja perto do
nosso filho porque você tem esse direito, e também porque apesar de tudo
eu acredito que você possa ser um pai legal! Mas viver com você eu não
volto não! Eu acho que é melhor inclusive pro nosso filho, que não
merece crescer no ambiente que a gente estava!
Blumenau estava decidida; não voltaria a viver com o pai de seu
filho. Mas tentaria manter uma relação boa com ele pela criança, que sem
dúvida, precisaria da presença dos dois para crescer bem, feliz.
Todos os dias, São Miguel do Oeste esperava ansiosamente por um
sinal, uma mensagem, um telefonema de sua mãe. Como Brusque estaria?
Como estaria vivendo? O garoto vivia com a tia, Concórdia, uma relação
invejável, e em uma noite de domingo, o sinal que ele esperou durante
meses, chegou.
A mensagem de Brusque chegou para sua irmã; na mensagem, a
professora dizia que estava bem, estava morando em Buenos Aires com o
pai de seu filho, e que assim que possível pretendia voltar pra
visitá-los. Ao fim da mensagem, Brusque referiu-se à São Miguel como
"meu filho amado", disse a ele que só queria a sua felicidade e que
abençoava o amor dele por Jaraguá.
Naquela noite, Comcórdia e São Miguel ficaram até altas horas
conversando; aquela sala se tornou pequena para tanta cumplicidade,
tanto carinho, tantos planos. O garoto afirmava que jamais abandonaria
sua tia; que se um dia viesse a se casar, a levaria com ele para onde
quer que fosse:
— E quem foi que te falou que eu vou ficar segurando vela, hein?
— Tia, não é segurar vela não! Eu quero cuidar de você, eu quero que
você tenha uma vida legal!
— Tá bom, futuro doutor! Eu te amo ainda mais por isso!
Lá estava Chapecó; na mesa de parto, com vários médicos e
enfermeiros à sua volta e Itajaí ao seu lado:
— A pressão dela está subindo muito, doutor! - dizia uma das
enfermeiras:
— O bebê não está respirando! - dizia outra enfermeira que estava dentro
da sala; mas o pior era olhar para o lado e ver os olhos de Itajaí, o
ódio nos olhos dela:
— Estamos perdendo a paciente! - alarmou-se o médico.
De repente, Chapecó sentiu que seu corpo não a obedecia mais, estava
tendo um pesadelo e não conseguia abrir os olhos:
— Não, meu filho não! Não! - ela acordou com seu próprio grito, e claro,
acabou acordando Joinville:
— Calma, Chapecó - sussurrou ela virando-se na cama e tocando a mão da
companheira -, calma, foi um pesadelo!
Ela se deu conta de que tudo não passou de um sonho ruim; estava
trêmula, ofegante e chorou ao ser abraçada por Joinville:
— Que alívio, meu Deus, foi horrível! Joinville, eu sonhei que meu bebê
tinha nascido, só que ele não respirava, não chorava, eu estava morrendo
na mesa de parto...
— Calma, minha querida, calma, não aconteceu nada! Você está
impressionada, é só isso; aconteceu tanta coisa, a gente se mudou pra
cá, Itajaí foi presa, foi muita mudança num espaço muito curto de tempo!
— Ela estava lá, Joinville, não era você quem estava lá do meu lado! Eu
via o ódio que ela tinha por mim, eu via o ódio nos olhos dela!
— Ela pode até sentir ódio, minha querida, mas tem muita gente que te
ama, que te quer bem! A gente tem uma família linda, você mesma diz que
ganhou uma família com pai, mãe, irmãos, ela não pode contra esse amor,
ela não pode contra o meu amor! Eu vou pegar uma água pra você!
Era tudo o que Chapecó precisava ouvir; Joinville tinha razão,
Itajaí não podia fazer nada, não com tanto amor que a cercava, com a
família que ela tinha.
Quando a companheira voltou com a água, Chapecó se sentou na cama e
pegou o copo:
— Você tem razão - ela sussurrou com Joinville sentada ao seu lado -,
ela não pode mais nada contra mim! Eu tenho amigos, tenho uma família,
a raiva que ela tem de mim não é mais forte que isso tudo!
Depois de alguns minutos, Chapecó colocou o copo vazio no criado mudo e
voltou a se deitar; Joinville fez o mesmo e esticou o braço esquerdo
para que a companheira o fizesse de travesseiro; ficou ali, brincando
com uma mexa do cabelo dela, vendo os olhos dela se fecharem lentamente.


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