Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 75
CAPÍTULO75




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CAPÍTULO75

— Foi horrível! - desabafava Chapecó, deitada na cama, com São José à sua
direita e Márcia à sua esquerda:
— Eu sei, minha querida - respondeu o pai de família -, eu nunca poderia
imaginar que isso pudesse acontecer!
— Essa moça é desequilibrada, gente! - complementou Márcia:
— Desequilibrada é pouco, Márcia - continuou Chapecó -, eu cheguei a
pensar que eu fosse morrer, que eu fosse matar, que fosse acabar tudo!
A conversa foi interrompida por Palhoça e Jaraguá, que entraram no quarto
sorridentes:
— Como é que vai a minha cunhada mais corajosa e mais poderosa do mundo?
Chapecó sorriu pela primeira vez com a pergunta de Palhoça:
— Oi, queridas, venham, sentem aqui perto de mim!
As meninas obedeceram; Márcia se levantou para que elas se sentassem:
— Chapecó - sussurrou Jaraguá ao tocar a mão da cunhada -, segura meu
sobrinho aí dentro, não deixa acontecer nada com ele, tá!
As palavras de Jaraguá comoveram a futura mamãe:
— Pode deixar, titia coruja; pode deixar que eu vou proteger ele aqui
dentro, você vai curtir muito ele!
Palhoça se inclinou, ficando com o rosto próximo a o de Chapecó:
— A gente está aqui - falou a garota -, eu acho que é tudo o que eu
posso, tudo o que eu sei dizer agora, cunhada; a gente está aqui!
— Eu sei, minha querida; pode ter certeza que eu acredito nisso!
São José entrou na conversa:
— Chapecó, eu vou pra empresa daqui a pouco, se você quiser eu posso
passar la na construtora, explico que você teve um problema, entrego o
seu atestado médico, você quer?
— Eu te agradeço; eu acho que é melhor!
— Tudo bem; eu passo lá, não se preocupa com nada!
Joinville entrou silenciosa no quarto; trazia uma bandeja com duas
xícaras de chá; sua mãe vinha logo atrás:
— Gente - sugeriu calmamente Florianópolis -, Chapecó precisa descansar
agora!
— É verdade - concordou Jaraguá -, Palhoça, vamos?
— Eu também vou - complementou São José -, passo na construtora e depois
vou trabalhar!
— Muito obrigada, gente! - foi a única coisa que Chapecó conseguiu dizer
naquele momento, diante de tanto carinho. Todos saíram do quarto,
restaram apenas ela e Joinville.
Chapecó tomou o remédio receitado pela doutora Ana; as duas ficaram
sentadas na cama por alguns minutos, conversaram e tomaram chá:
— Joinville, eu quero te pedir perdão!
— Perdão por quê?
— Pelo que eu estou fazendo com a sua vida, meu amor; você tem dezenove
anos, uma vida toda pela frente, uma vida que aquela desiquilibrada
poderia ter...
— Uma vida que não tem sentido nenhum sem você, Chapecó! Eu posso ter
uma vida toda pela frente, mas essa vida não tem sentido nenhum sem você
do meu lado!
Joinville pegou a xícara vazia da mão da namorada:
— Agora eu vou colocar essa xícara aqui do lado, a gente vai deitar
nessa cama, você precisa de repouso!
— Você fica aqui?
— Claro que eu vou ficar; eu vou deitar aqui, vou descansar com você!
As duas se deitaram na cama, ambas de lado; Chapecó estava de costas
para a namorada, que por sua vez, contornou sua cintura com o braço
esquerdo, parando com a mão na barriga que já começava a aparecer:
— Descanse, minha querida! - concluiu Joinville, depositando um leve
beijo na nuca da namorada; Chapecó jamais se sentiu tão segura.
São José chegou na empresa se sentindo desolado; Joinville havia
sofrido quase que um atentado da ex-namorada de Chapecó, e Blumenau, sua
filha mais velha, estava em um casamento repleto de sofrimento.
Apesar de tudo o que aconteceu a vinte e dois anos atrás, Rio do Sul,
o pai biológico de Blumenau, vinha mostrando interesse pela filha. São
José jamais imaginou, mas estava construindo uma relação amigável com
ele, o pai de sua filha. Os dois conversaram naquela tarde, Rio do Sul
deixou claro que estaria disposto a ajudar no que fosse preciso.
Chapecó dormiu a tarde toda, e quando acordou, estava se sentindo
melhor, mais calma:
— Amor, já pra aula! - insistia a engenheira com um sorriso no rosto, sentada na cama com
Joinville ao seu lado:
— Eu não queria te deixar aqui!
— Eu estou cercada de cuidados e de carinho; e outra, a senhora tem
prova na faculdade hoje que eu sei! Vai, minha querida, eu vou ficar
bem, sua mãe e suas irmãs estão comigo!
— Você promete que vai se comportar?
— Prometo; prometo que fico aqui quietinha até você voltar!
— Na volta eu passo no flat, pego umas roupas pra você, você fica aqui
em casa pelo menos até amanhã! A doutora recomendou repouso, eu conheço
a namorada que eu tenho, sei que se você for pra casa não vai parar quieta, eu prefiro que você fique aqui comigo hoje!
— Sim senhora; eu me rendo!
O fim de semana passou muito rápido; o almoço de família no domingo
foi oferecido por Concórdia, na casa dela; por ser tia de São Miguel do Oeste, já
era considerada um membro da família de Jaraguá:
— Florianópolis - perguntou a dona da casa, na cozinha com a amiga -,
que loucura foi essa que aconteceu com Joinville e Chapecó?
— Ah, menina, nem te conto, viu! Elas foram ver um apartamento que uma
colega de Chapecó está vendendo e elas estão pensando em comprar;
acontece que aquela desequilibrada estava seguindo as duas de taxe,
entrou no apartamento armada!
— E como é que deixaram ela subir? O prédio não tem porteiro não?
— Tem, mas ela deve ter passado uma bela mentira no cara! Itajaí é muito
esperta, Concórdia, muito esperta! Mas agora ela está presa, eles estão
investigando porque existe a suspeita de que ela tenha se envolvido com
outras coisas também! Cadê o nosso casalzinho?
— Estão na capela! Eles sempre dão uma passadinha lá, meu sobrinho me
disse uma vez que ele ainda se casa com a sua filha na nossa capela!
— Minha Jaraguá tirou a sorte grande, sabe! Ele é um rapaz bom, que
gosta e cuida da minha filha! E a mãe dele, deu alguma notícia?
— Não; eu tentei ligar pra ela na semana passada mas parece que até o
número do celular ela trocou!
— Eu posso imaginar a sua preocupação, Concórdia! Mas deixa eu ir atrás
de Palhoça lá no jardim, ela saiu com o irmão dela no colo e esqueceu de voltar!
E o dia correu normalmente, com alegria.
Era segunda feira; São José acordou determinado a salvar Blumenau
daquele casamento que não lhe trouxe nada de bom. No sábado anterior ele
havia ido até o apartamento dela, jantou com a filha e o genro e teve
certeza de que as coisas não iam bem.
— Blumenau não está bem, Rio do Sul! - assim falou São José, sentado
de frente para o pai biológico de sua menina, na sala onde ele
trabalhava, a sala que Criciúma ocupou:
— Como não está bem, São José? Eu ainda fico meio sem jeito de ir até
lá pra visitá-la...
— A alguns dias, Palhoça, minha outra filha me ligou e pediu que eu
fosse buscá-la na escola pra almoçar! Ela tem ido sempre no apartamento
da irmã, e me falou sobre um hematoma que Blumenau tinha no braço!
— Um hematoma? Você acha que...
— Acho, Rio do Sul! Eu não posso acusar o marido dela sem provas, mas
segundo Palhoça, nossa filha não soube explicar a origem do hematoma!
— E o que é que você pretende fazer?
— Ainda não sei; mas eu tiro a minha menina de lá, eu juro pra você, eu
tiro ela de lá!
— São José, eu quero te dizer que eu estou aqui! Blumenau ainda não
confia em mim e acho que no lugar dela eu teria a mesma atitude; mas se
você precisar de mim, conte comigo, sempre!
Para São José, ouvir aquilo foi como um bálsamo; ele jamais poderia
imaginar que um dia, ouviria tais palavras do pai biológico de Blumenau.
O dia passou muito rápido, e antes de ir pra casa, São José passou
novamente para a sala de Rio do Sul. Ainda era estranho para ele ver
aquela cadeira sendo ocupada por um homem, não era mais Criciúma que
estava ali:
— Rio do Sul - avisou o pai de família -, estou indo pra casa!
— Claro, vai tranquilo! Eu vou ficar mais um pouco por aqui, tem muita
coisa pra ser feita!
Já faziam algumas semanas que Rio do Sul ocupava aquela sala, e sabia
tudo o que havia acontecido com São José e Criciúma:
— Ela deixou muita coisa pendente?
— Infelizmente sim, São José! Mas aos poucos eu vou colocando tudo em
ordem, pode confiar em mim!
— Ela tirou uma boa quantia da empresa...
— Isso a gente recupera, cara, mas eu sei que ainda é difícil pra você
segurar essa onda!
— É, é difícil! Mas a gente conversa, eu vou passar lá pra ver os meus
filhos!
— Faz bem, daqui a pouco eu vou também!
São José se retirou, deixando Rio do Sul sentado atrás da mesa. Ele
continuou a colocar os papéis e documentos em ordem, até ser tomado por
uma sensação estranha que nem ele mesmo conseguia definir. O coração
apertado, uma inquietação, um tipo de angústia que ele não fazia ideia
que existisse:
— Como será que está a minha filha? - murmurou ele com alguns papéis
impressos nas mãos. A sensação ruim não passava, e Rio do Sul se viu
obrigado a sair daquela sala; deixou as coisas como estavam e resolveu
ir até o apartamento de Blumenau, mesmo sabendo que poderia não ser bem
recebido pela filha.
Rio do Sul chegou no edifício e pediu que o porteiro o anunciasse;
aquela angústia só almentava a cada minuto:
— Eu não posso deixar o senhor subir, doutor - explicava nervoso seu
Mário -, eles acabaram de chegar em casa, discutiram aqui na portaria e
o doutor disse que não era pra ninguém subir!
— Em primeiro lugar, seu Mário, aquele rapaz não é doutor nem aqui e nem
na China, pelo menos por enquanto; e em segundo lugar, pai pode entrar
em qualquer lugar! Eu vou subir pro apartamento da minha filha mesmo
que...
— Mas eu pensei que o pai dela fosse...
— Eu sou o pai de sangue; São José deu o nome, deu amor pra ela! Agora o
senhor me dá licença porque eu vou subir!
O porteiro não soube o que fazer; também tinha filhos, não sabia o que
estava acontecendo no apartamento mas respeitou Rio do Sul, respeitou o
sentimento dele.
O elevador chegou no sétimo andar e a porta se abriu; quando
caminhava até a porta do apartamento de Blumenau, Rio do Sul esbarrou em
São Bento, que parecia muito nervoso:
— Calma, meu rapaz, aconteceu alguma coisa?
— Pergunta pra sua filha!
— O que é que você fez com ela?
Mas ele não respondeu; ignorou a pergunta e sumiu pela porta do
elevador.
Rio do Sul apressou o passo e chegou na porta; tocou a campainha e foi
atendido por dona Margarida:
— Graças a Deus o senhor cheggou - disse a fiel empregada muito nervosa
—, eu estava tentando falar com alguém mas...
— O que aconteceu, dona Margarida? Cadê Blumenau?
— Eles tiveram uma briga horrível; ela está passando mal e...
E dona Margarida não precisou dizer mais nada; Rio do Sul entrou porta a
dentro, tinha preça, seu coração tinha preça. Encontrou sua Blumenau
sentada em uma das poltronas, pálida, chorando muito:


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