Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 61
CAPÍTULO61




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CAPÍTULO61

Lá se foi uma semana, dias muito intensos para a família de
Joinville. A moça continuava internada na UTI, não estava reagindo aos
medicamentos e seus pais iam visitá-la todos os dias.
Florianópolis, embora estivesse morrendo por dentro, tirava coragem de
algum lugar de sua alma para chegar todos os dias do hospital, entrar em
casa e dizer para as três filhas que Joinville ia ficar bem.
Jaraguá, que sempre foi a mais apegada com a irmã, chorava todos os
dias, principalmente quando tinha algo a confidenciar; sua irmã não
estava ali para ouvir. A garota fazia questão de entrar todos os dias no
quarto de Joinville, abrir a janela, se incarregou de cuidar
pessoalmente de tudo para quando ela voltasse. Sim, Jaraguá tinha
certeza, Joinville voltaria.
Palhoça sempre foi a mais animada das quatro; aquela que quebrava o
climão, que sempre dava um jeito de fazer quem estivesse à sua volta
cair na risada. Mas por mais que ela quisesse, a piada não saía, a
brincadeira não tinha graça sem Joinville por perto.
Todas as manhãs, ela entrava com Jaraguá no quarto da irmã, e as duas
faziam questão de cuidarem juntas daquele cantinho que, logo logo, seria
ocupado por sua verdadeira dona.
Em uma dessas manhãs, Palhoça entrou no quarto de Joinville e gravou
um vídeo com o celular. No vídeo ela falava com a irmã como se ela
estivesse lhe assistindo naquele exato momento; falou que a brincadeira
não tinha graça sem ela por perto, falou da certeza que tinha quanto à
sua melhora, mostrou o quarto preparado para recebê-la. Depois, a garota
enviou o vídeo para o grupo dos colegas de classe, e em poucos dias,
muita gente já o havia assistido. Palhoça emocionou o Brasil com tamanha
demonstração de amor.
Desde o dia em que Joinville deu entrada no hospital, Chapecó passou
a enfrentar uma dura rotina diária; não sabia de onde tirava forças, mas
saía todos os dias pela manhã pra trabalhar, e depois do espediente, ia
para o hospital para pelo menos conversar com os médicos.
Itajaí tocou a campainha do apartamento dela em uma dessas manhãs; a
engenheira já estava indo pro trabalho quando a ex-namorada apareceu de
surpresa:
— Eu vim saber se eu posso fazer alguma coisa! - justificou-se a futura
advogada, em pé na porta do apartamento da ex:
— Como é que você tem coragem, Itajaí?
— Chapecó, por mais que você não acredite eu estou preocupada;
preocupada com você, com o bebê que você está esperando... eu não vou
negar que estou cheia de esperanças, mas vou te respeitar nesse
momento...
— Joinville não está bem, Itajaí, ela não está bem! Não reage a
medicamento nenhum, os médicos não sabem mais o que fazer por ela!
— Eu nunca quis que acontecesse nada...
— Como é que você tem a capacidade de me dizer isso, hein? Então você
joga o carro em cima de Jaraguá, que não tinha e não tem culpa de nada e
ainda tem coragem de vir aqui me dizer que nunca quis que nada
acontecesse? Itajaí, eu não tenho se quer forças pra te colocar pra fora
daqui como fiz da última vez que a gente se viu, por isso eu te peço,
sai da minha casa, sai da minha vida, acabou, põe na sua cabeça que
acabou!
Naquele instante, Itajaí percebeu que de fato, era o fim da linha.
Chapecó jamais havia sido tão clara como agora, jamais havia dito com
tanta convicção que acabou.
A jovem futura advogada saiu dali com uma horrível sensação de perda;
mas não estava convencida daquilo. Ainda queria lutar por seu amor,
mesmo que o resto do mundo dissesse o contrário.
Naquela manhã, depois de acompanhar a doutora Ana Luísa em dois
partos, sendo um deles muito difícil, Camila percebeu que o
clima ficou mais tranquilo. Por fazer parte do quadro de enfermeiros do
hospital, ela tinha acesso à área restrita; decidiu ir até a
UTI.
A jovem enfermeira entrou naquele lugar, ali haviam vários leitos
ocupados por pacientes graves, outros não tão graves assim. Com apenas
alguns passos, ela chegou a o leito de Joinville; inclinou-se como se
fosse dizer algo importante e sigiloso para a paciente e segurou a mão
dela:
— Joinville - começou Camila calmamente -, eu não sei se você está me
ouvindo, mas sei que de alguma forma você está me sentindo, de alguma
forma você sabe que eu estou aqui!
Camila sentiu uma lágrima rolar de seus olhos mas não iria chorar, não
agora; seria forte o suficiente para terminar o que a levou até aquele
lugar:
— Joinville, eu trago um recado de Chapecó pra você, minha querida; ela
pediu que eu entrasse aqui e te dissesse que ela te ama muito! Nós vamos
dar um jeito dela entrar aqui, nem que seja por dois minutos pra ela
ficar um pouco aqui do seu lado; nós vamos dar um jeito! Eu vim aqui pra
te dar esse recado, e também pra te dar força; reage, Joinville, eu sei
que você é forte, eu sei que você consegue, reage, minha querida!
Camila saiu da UTI depois de mais alguns minutos; não sabia ao certo o
motivo, mas sentia que havia feito a coisa certa.
Na tarde daquele dia, São José e Florianópolis não foram no
hospital; o pai ligou, conversou com os médicos no hospital e os dois decidiram ir
só no dia seguinte.
Criciúma estava sempre observando seu homem, mesmo que ele não
percebesse. acabou ouvindo a conversa dele ao telefone com o médico e
depois com Florianópolis. Ouviu quando ele contou à ex-mulher que estava
tudo bem com Joinville; deu uma desculpa qualquer e saiu do trabalho
mais cedo.
Determinada, Criciúma chegou no hospital no horário de visitas;
conversou com a recepcionista, com os médicos, disse que era madrasta de
Joinville, que o pai dela não viria naquela tarde mas ela estava ali por
sua enteada. Conseguiu entrar na UTI, e quando se deu conta, já estava
lá, ao lado dela:
— Boa tarde, minha enteada querida - sussurrava Criciúma, ao pé do
ouvido da moça -, você não pode imaginar o prazer que eu sinto em te ver
aí, deitada, imóvel, sem ação! Você foi muito burra quando tentou me
separar do seu pai, sabia? Quis ser a boa moça da história, colocou o
meu homem contra a parede querendo que ele escolhesse entre eu e sua
mãe, você se deu mal, meu amor; ele me escolheu! Eu amo o seu pai,
Joinville, por mais que você duvide eu amo o seu pai; e ele, bem, ele
está tão cego de amor por mim que caiu como um patinho na história que
eu contei pra ele!
Criciúma se aproximou ainda mais de Joinville, como se quisesse deixar
tudo muito claro para ela:
— Sabe aquela história da minha gravidez, Joinville? Tudo mentira, minha
querida; eu não estou grávida, eu só inventei essa história pra prender
o seu pai a mim e ele caiu feito um patinho!
Por mais algum tempo, Criciúma permaneceu ali, ao lado da enteada;
depois, despediu-se dela:
— Adeus, minha enteada; você não sai daí tão cedo, e se sair, ai de você
se abrir o bico pra alguém sobre essa nossa conversa! É um segredo
nosso, combinado?
E a executiva deixou a UTI sem olhar pra trás.
No dia seguinte, Florianópolis e São José foram a o hospital,
ficaram um tempo com a filha, e depois foram ter com o doutor Jaime e com
o médico responsável pela UTI. Receberam a notícia de que na tarde do
dia anterior, Joinville começou a reagir; o quadro dela ainda inspirava
cuidados, mas havia uma esperança.
— É sério, mãe? Ela começou a reagir? - Palhoça não conseguia
acreditar no que sua mãe estava dizendo; Jaraguá, sentada no sofá ao
lado da irmã, quis abraçá-la. Florianópolis, sentada em uma poltrona com
o filho no colo, observava a cena:
— Ela vai voltar, Jaraguá - afirmava Palhoça -, Joinville vai voltar pra
gente logo logo! Por trás daquela carinha de anjo lá, tem uma mulher
forte, persistente, eu sei disso!
Na mesma hora, Jaraguá fez questão de ligar para o namorado e contar que
sua irmã começou a dar sinais de melhora; São Miguel do Oeste vibrou com
ela, e na mesma hora, tomou um taxe e foi vê-la em casa.
— Vamos sair um pouco, amor? - convidou calmamente o garoto,
sentado no sofá da sala ao lado da namorada:
— A gente não sai desde o dia em que...
— Pois então! Joinville está reagindo, ela está melhorando e se Deus
quiser vai continuar assim! Só que você precisa estar inteira, meu anjo,
você precisa estar inteira pra quando ela voltar, entende? Vamos andar
um pouco, tomar um sorvete, hein?
Jaraguá não conseguia resistir a o sorriso do namorado:
— Eu vou me arrumar; você me espera aqui?
— Espero sim; vai tranquila!
Pela primeira vez depois do acidente com Joinville, Jaraguá decidiu
sair com o namorado; os dois caminharam pela rua de mãos dadas até uma
sorveteria, o pôr do sol enfeitava aquele momento.
No dia seguinte, ainda de manhã, Chapecó recebeu uma ligação de
Camila; a enfermeira deu a ela a notícia de que os médicos haviam
permitido a entrada dela na UTI. Naquele mesmo dia, ela foi até o
hospital no horário de visitas; estaria com Joinville pela primeira vez
depois do acidente.


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