Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 6
CAPÍTULO6




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CAPÍTULO6

    E passaram-se alguns dias.     Palhoça e Jaraguá começaram a participar do grupo de teatro da
escola e pregaram uma surpresa em todo mundo; as duas realmente tinham
jeito pra coisa.
E Joinville, bem; Joinville estava vivendo um dos momentos mais
decisivos de sua vida. Já havia entendido que Chapecó a amava, que o que
ela sentia era muito mais do que amizade; agora, a jovem futura
arquiteta precisava decidir se queria viver aquele amor também. Ela
também estava se apaixonando por Chapecó; mesmo sem nunca ter namorado,
e muito menos ter se envolvido com outra mulher, ela sabia que alguma
coisa diferente estava acontecendo. Chapecó despertou nela algo que ela
nunca tinha sentido antes, por ninguém; seria realmente amor? Seria
apenas curiosidade? Era esse o seu medo.
    Uma noite, Chapecó e Joinville combinaram de ficar no flat
conversando depois da aula, e foi o que realmente aconteceu. Naquela
noite, sentada no sofá ao lado de sua amada, Chapecó decidiu que era
hora de encarar os fatos e se declarou, mesmo correndo o risco de que
Joinville saísse por aquela porta e não voltasse nunca mais.
Mas isso não aconteceu; ela chorou, disse que não sabia o que dizer, mas
mesmo assim, se sentia lisonjeada com tanto amor à sua disposição.
Naquela noite, Joinville queria ficar ali, não queria ir embora; mas ao
mesmo tempo, não sabia se realmente estava preparada. Foi para casa já
passava de meia noite, confusa, sem direção.
    Jaraguá acordou quando a irmã chegou em casa e foi ter com ela.
Entrou no quarto silenciosa, meiga:
— Mana, eu ouvi você chegar, está tudo bem?
— Está, mana, tudo bem! E aqui em casa, tudo certo?
— Tudo sossegado! Mamãe já foi dormir, papai também, tudo certinho!
— Mana, dorme aqui comigo? - Joinville se sentiu uma criança ao fazer
esse pedido para sua irmã:
— Você não tá legal, né? - deduziu surpresa Jaraguá:
— Estou; só estou carente de carinho de irmã; não posso?
— É claro que pode; vou pegar o travesseiro, durmo aqui com você!
As duas irmãs se deitaram e se aqueceram; conversaram, riram horrores e
depois dormiram.
    Na manhã seguinte, Jaraguá se levantou para ir pra escola; Joinville
ficou na cama, não pregou os olhos a noite toda. A declaração de amor de
Chapecó na noite anterior não lhe saía da cabeça e ela sentia que iria
enlouquecer caso não conversasse sobre isso com alguém.
Esperou que seu pai saísse para o trabalho e não teve dúvidas. Foi até o
quarto, e deitada na cama, de camisola, estava aquela que ela escolheu
para abrir seu coração por inteiro, sua mãe.
    - Eu estou com muito medo, mãe! - declarava Joinville, em meio a um
choro que demonstrava esse sentimento, medo; sem dúvida, esse era um daqueles
momentos em que Florianópolis, se sentindo impotente, tinha vontade de
colocar sua filha de volta dentro de seu corpo, se pudesse:
— Você, com medo? - perguntou a mãe com lágrimas nos olhos; a jovem
estava deitada junto a o peito de sua mãe, as batidas do coração dela
ainda lhe acalmavam de uma forma surpreendente:
— Sim, mãe, eu estou com muito medo!
— E você tem mais medo dos sentimentos dela ou dos seus, meu amor?
— Acho que dos meus, mãe! Eu nunca imaginei que isso fosse acontecer
comigo um dia, eu nunca pensei que eu fosse me sentir tão atraída, tão
presa a uma outra mulher! Eu nunca me interessei por ninguém, mãe, e
nunca me senti uma garota normal por causa disso; sempre achei que
tinha alguma coisa errada comigo! E ontem, mãe, ontem quando ela olhou
nos meus olhos e disse que estava apaixonada por mim, uma parte de mim
queria correr daquela sala, enquanto a outra parte queria ficar lá e
desfrutar disso tudo, entende?
— Calma, filha, calma; não tenha medo, não se desespera, eu estou aqui
com você e a gente vai enfrentar isso juntas! Quando eu estava grávida
de você, eu e seu pai ficávamos horas aqui, nesse mesmo quarto, fazendo
planos, sonhando acordados! Só que nem sempre os planos que nós fizemos
servem pra vocês, meu anjo! Se for pra ser assim, se essa moça estiver
no seu destino, quem sou eu pra impedir?
    As palavras de Florianópolis soaram como música para Joinville, que
jamais imaginou que sua mãe fosse ter a atitude calma, compreensiva que
teve. Por alguns minutos ela permaneceu ali, deitada junto a o peito da
mãe, ouvindo as batidas do coração dela:
— Filha - Florianópolis quebrou o silêncio -, eu preciso ir até a
cozinha, falar com a Márcia, ver se está tudo bem por lá! Mas fica aqui
deitada se você quiser, você disse que não dormiu bem a noite, fica
aqui!
— Você volta, mãe? - sussurrou Joinville:
— Volto, volto sim! Eu só preciso falar com a Márcia la em baixo e volto
pra ficar aqui com você!
    Florianópolis saiu do quarto deixando sua filha deitada; desceu até
a cozinha e encontrou Márcia, a fiel escudeira daquela família guardando
com cuidado algumas xícaras que acabara de lavar:
— Bom dia, Márcia!
— Bom dia - respondeu a mulher com um sorriso leve e tranquilo -, tudo
bem?
— Tudo indo; já saiu todo mundo?
— Sim; Blumenau saiu faz uns cinco minutos, o doutor levou Palhoça e
Jaraguá pra escola, só não vi Joinville por aí ainda...
— Ela está lá no meu quarto, Márcia; não está muito bem!
— O que ela tem?
— É dor de amor, Márcia, sabe como é! Me faz um favor; prepara uma
bandeja de café da manhã, você sabe o que eu gosto e ela também, e daqui
a pouco leva lá no meu quarto; eu vou tomar café com ela lá! Você faz
isso pra mim?
— Claro; vou caprichar e daqui a pouco levo lá!
— Obrigada, Márcia; eu espero lá no quarto!
Parada junto à mesa da cozinha, Márcia viu a patroa se retirar; ela era
sempre assim, calma, serena, parecia andar sempre a um palmo a cima do
chão.
    Joinville ficou o dia todo em casa, aproveitou a companhia de Márcia
e de sua mãe, e a tarde, da irmã Jaraguá. No fim do dia, Chapecó,
temendo ter perdido pra sempre aquele presente que a vida lhe deu,
decidiu ir até o apartamento dela; as duas não haviam se falado o dia
todo.
— Mana - anunciou Palhoça ao abrir a porta do quarto de Joinville -, tem
visita pra você!
A menina deu dois passos para trás e Chapecó surgiu na porta sorrindo,
mas o medo lhe torturando por dentro. Já estava preparada para que
Joinville lhe pedisse para sair e dissesse que não queria mais vê-la,
mas uma mistura de amor e gratidão por ela se apossou da jovem futura
arquiteta, e sua única reação foi correr abraçála.
    As coisas começaram a clarear para Joinville com o passar do tempo;
agora ela começava a compreender muitas coisas que ficaram perdidas,
confusas em sua adolescência. Nunca havia namorado, jamais havia
experimentado a sensação de estar com alguém, homem ou mulher; e em uma
sexta feira, depois da aula, acabou indo para o flat de Chapecó.
Joinville passou aquela noite fora de casa, e no sábado, saiu do Flat
certa de que amava Chapecó e que era esse o seu caminho.
Não seria fácil; mas ela estava disposta.


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