Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 40
CAPÍTULO40




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CAPÍTULO40

    O sorriso se desfez em questão de segundos no rosto de Criciúma:
— Como assim não vamos? Você só pode estar de brincadeira comigo...
— Criciúma, tente entender; Jaraguá não está passando bem, teve uma
febre de quase quarenta graus a noite toda...
— Muito estranho, não é? Muito estranho que a sua filha tenha resolvido
dar um show, chamar atenção logo agora!
— Você não pode falar desse jeito! - o pai de família agora estava
irritado:
— Posso sim - reagiu ela furiosa -, posso porque você me prometeu que...
— Eu nunca te prometi nada, Criciúma! Você sempre soube que eu era pai
de família, você sempre soube que eu era casado com Florianópolis a
vinte e um anos e tinha quatro filhas com ela...
— Três; uma você sabe muito bem que não tem nada de você, nem se quer o
sangue! Aliás, meu querido, se eu fosse você eu pediria exame de DNA das
outras três; quem garante que elas são suas?
— Você está sendo cruel...
— Eu não aguento mais, São José; eu não aguento mais carregar o status
de amante, eu não aguento mais estar sempre em último plano!
    O silêncio tomou conta daquela sala por alguns instantes; enquanto a
jovem executiva chorava, São José a encarava, nervoso, completamente
desnorteado:
— Eu vou pra empresa - decidiu ele -, você hoje fica em casa, se acalma,
coloca essa cabeça no lugar, depois a gente conversa!
— Você não vai me deixar aqui sozinha...
— É pro nosso bem que eu estou fazendo isso, Criciúma! Eu sou pai; eu
posso estar traindo a mãe das minhas filhas da maneira mais descarada do
mundo mas eu amo as minhas meninas! E se tem uma coisa que nunca ninguém
vai conseguir fazer é me afastar delas!
Depois de dizer isso, São José simplesmente deu meia volta e saiu pela
mesma porta que entrou; Criciúma continuou como estava, parada no meio
da sala, com seu sonho totalmente desfeito.
    Eram dez horas da manhã quando Joinville colocou o carro na garagem
do prédio onde morava; subiu para o apartamento e lá ficou sabendo que
sua irmã caçula não estava passando bem. Foi direto para o quarto dos
pais, precisava vê-la.
    - Mana! - Jaraguá colocou os olhos em sua irmã, que agora entrava no
quarto com um olhar tranquilo, sereno; a menina tirou forças de algum
lugar e se levantou. Sentiu uma tontura e Joinville precisou ampará-la:
— Deita, mana - dizia a futura arquiteta, calmamente -, você levantou
muito rápido, está aqui deitada a horas, calma!
— Eu preciso falar com você, Joinville; é importante!
A jovem sentia que algo não ia bem; sua irmã parecia ter urgência em
falar com ela.
Joinville juntou-se à Jaraguá na cama dos pais; abraçou a irmã caçula,
distribuindo-lhe beijos pelo rosto, tentou deixá-la o mais confortável que conseguisse:
— Pronto, maninha; estou aqui, conta tudo o que você quiser!
Jaraguá procurou os olhos da irmã, que por sua vez, jamais imaginou que
ouviria aquilo algum dia:
— O nosso pai tem outra mulher, Joinville! - a revelação da garota veio
acompanhada por um choro incontrolável:
— Como assim, minha querida? Me explica isso direito! - Joinville estava
chocada com o que Jaraguá acabara de dizer:
— Eu entrei aqui no quarto ontem, mana, o papai estava no banho e o
celular estava ali no criado mudo dele; eu acho que ele acabou
esquecendo a conversa aberta, eu vi; é Criciúma, mana!
— É uma acusação muito séria, minha irmã...
— Ele ia viajar com ela, Joinville, você precisa acreditar em mim; eu
errei em ler a conversa, eu sei, mas...
— Calma, meu anjo, calma, por favor; eu acredito em você, é claro que eu
acredito! Tenta se acalmar, eu prometo pra você que vai ficar tudo bem,
só que você também vai me prometer uma coisa; você vai me prometer que
não vai contar isso pra mais ninguém, mana! A nossa mãe está grávida,
vai ser um choque muito grande pra ela se...
— Eu prometo, mana, eu não vou falar nada pra ninguém; eu só queria que
você chegasse logo, eu tinha que te contar!
    A futura arquiteta chorou com a irmã aninhada em seus braços mas não
deixou que ela percebesse; Jaraguá foi pouco a pouco se acalmando:
 Tenta dormir, garota - aconselhou Joinville -, a mamãe disse que você não
dormiu quase nada durante a noite, tenta dormir!
— Eu queria dormir, Joinville; só que ao mesmo tempo eu queria estar
acordada quando você entrasse por aquela porta ali!
— Agora eu estou aqui, minha querida; a gente já conversou, eu já te
prometi que tudo vai ficar bem e é isso mesmo que vai acontecer! Pode
dormir sossegada; eu te amo muito, sua maluquinha, muito, do tamanho do
universo!
— Você está chorando, mana?
— Não, não estou chorando! Vamos dar uma checada nessa febre?
— Pode ser!
    Jaraguá caiu em sono profundo minutos depois, estava sem febre; não
havia conseguido dormir direito durante a noite, só conseguiu pegar no
sono depois que sua irmã chegou e as duas conversaram.
    Joinville não soube dizer por quanto tempo ficou ali, deitada ao
lado da irmã mais nova, velando o sono dela. Seria mesmo verdade que seu
pai estava tendo um caso com outra mulher? Seria mesmo Criciúma?
Márcia, a fiel escudeira daquela casa, entrou no quarto silenciosa e
encontrou a futura arquiteta chorando, sentada na cama de seus pais:
— Ela dormiu? - perguntou a mulher tentando iniciar uma conversa;
Joinville balançou a cabeça afirmativamente:
 Não fica assim, minha querida - o tom de voz de Márcia era
reconfortante, afável -, ela vai ficar bem! Isso que deu nela deve ser
uma virose dessas que anda dando por aí... Ela está com febre?
— Não! - murmurou a jovem, não conseguiu dizer mais nada:
— Por que é que você está assim? - Márcia puxou Joinville para um
abraço, nunca a havia visto daquele jeito; ela não disse nada, quis
apenas aproveitar o conforto dos braços de Márcia, aqueles braços que a
seguraram e a ninaram por tantas vezes quando ela era criança.
    Depois de longos minutos ali, abraçada à Márcia, Joinville
finalmente conseguiu tomar uma decisão; nos braços de sua fiel escudeira
ela conseguiu pensar e resolver o que faria:
— Márcia, fica com Jaraguá; não desgruda dela até a mamãe chegar; eu vou
ter que dar uma saída mas logo volto!
— Sua mãe desceu ali na farmácia, já deve estar voltando! Mas você vai
aonde nervosa desse jeito, menina?
— Eu estou bem, Márcia; eu só preciso resolver um problema!
    Joinville saiu do quarto de seus pais, deixando Márcia ao lado de
Jaraguá; passou apressada pelo corredor e entrou na cozinha. Enxugou as
lágrimas com a ponta dos dedos na tentativa de parar de chorar; pegou a
chave do carro e a bolsa que ainda estavam na mesa da cozinha e saiu,
acabou batendo a porta.
    Durante os poucos minutos em que ficou dentro do carro, Joinville
prometeu a si mesma que não iria chorar quando chegasse ao seu destino;
não demorou muito para que ela estacionasse em frente à empresa de seu
pai.
Desembarcou do carro sem levar nada e caminhou apressada até a porta
principal; entrou e deu uma olhada pelo ambiente; haviam ali algumas
poltronas, um bebedouro de água e algumas pessoas circulavam por ali.
Parada junto à uma das duas mesas da recepção, em pé, estava uma jovem
de cabelos longos, pouca maquiagem e um olhar tranquilo. Joinville
caminhou apressada até ela:
 Bom dia! Meu pai, eu preciso falar com ele! - a moça fazia um esforço
enorme pra não chorar:
— O doutor está na sala dele - respondeu a recepcionista, que sabia que
Joinville era filha de seu patrão -, eu vou avisar que...
— Pai! - a moça saiu correndo em direção a o corredor que a levaria à sala onde ele trabalhava, sem
dar chance para a recepcionista terminar de falar:
— O que foi que deu nela? - perguntou preocupada a recepcionista para a
outra moça, que trabalhava na mesa ao seu lado:
— Não faço a menor ideia; a mais velha tem um narizinho empinado mas
essa aí sempre foi muito calma, quase nunca aparece aqui na empresa,
deve ter acontecido alguma coisa!
— É essa aí que... que curte mulher?
— É; eu vi ela com a namorada outro dia no shopping!
    São José quase deixou cair a xícara de café quando sua filha, muito
nervosa, entrou em sua sala:
— Filha, que susto você me deu!
O pai de família se levantou, e por um momento, prestou atenção no olhar
de sua menina:
— Joinville, sua irmã, o que foi que aconteceu com ela?
— Jaraguá está dormindo, pai; está bem, sem febre!
— Então o que foi, filha? Você está me deixando preocupado!


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