Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 2
Capítulo 2




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CAPÍTULO2

    O intervalo acabou e Joinville estava muito atrasada; sempre fora
pontual, detestava quando isso acontecia. Quando saía correndo da
biblioteca, esbarrou em alguém que ela nem teve tempo de prestar atenção
naquele primeiro momento; os livros e a pasta que ela carregavam caíram
no chão e ela se abaixou para pegá-los.
Se levantou e só então pôde ver a linda moça em quem acabou esbarrando
na porta da biblioteca; estava vermelha, não sabia se ria ou pedia
desculpas:
— Está tudo bem? - perguntou a moça?
— Está - respondeu sem jeito a futura arquiteta Joinville -, acho que
sim!
— Me desculpe; eu não te vi!
— Eu que peço desculpas! Você é...
— Chapecó! - ela se apresentou estendendo a mão para Joinville:
— Praser; Joinville! Você tem cara de quem faz direito!
— Não - esclareceu Chapecó sorrindo de leve, sua voz tinha um certo tom
de brincadeira -, errou feio; faço engenharia civil!
— Eu faço arquitetura! Comecei a duas semanas!
E o papo terminou ali; Joinville saiu da biblioteca carregando os livros
e se perguntando mil coisas sobre a moça em quem esbarrou ainda a pouco.
Chapecó aparentava ter mais de vinte anos; e a primeira impressão que
Joinville teve dela foi de alguém bem resolvida, decidida. Ainda
conseguia lembrar do perfume que ela usava mas não sabia o nome; mais
tarde descobriria não apenas o perfume, mas cada detalhe da vida dela.
    Chapecó, por sua vez, perdeu os pais ainda muito sedo e desde então,
precisou amadurecer, tornar-se dona de sua própria vida antes do que
poderia imaginar. Viveu até os dezoito anos com parentes, e quando
completou a maior idade, tomou posse da erança deixada pelos seus e
seguiu sua vida.
Hoje ela vivia em uma situação financeira confortável em um flat bem
próximo da universidade; estava com vinte e três anos e cursava o último
ano da faculdade de engenharia civil.
Chapecó era linda, destemida, dona de si; mas mesmo depois de tanto
tempo na universidade ela ainda sentia os olhares de alguns em sua
direção, os olhares de preconseito, os olhares que a recriminavam. Ela
era homossexual assumida, já havia namorado muito e estava solteira a
dois meses.
    As universitárias da família, Joinville e Blumenau, entraram em casa
por volta de dez e trinta; encontraram os pais e as duas irmãs mais
novas na sala do apartamento.
São José e Florianópolis sentados lado a lado, ambos com uma taça de
vinho; Jaraguá e Palhoça sentadas no tapete da sala, de frente para a
televisão. Esse sempre foi um hábito da família; todos juntos na sala ou
até mesmo no quarto dos pais:
    Depois de entrar em casa, Joinville deixou a bolsa no sofá e
juntou-se às duas irmãs mais novas, sentando-se também no tapete da
sala; Blumenal, por sua vez, foi para o quarto e ficou por lá:
— Maninhas - começou divertida Joinville -, paguei o maior mico hoje na
porta da biblioteca!
— O que foi que você fez agora? - questionou Jaraguá:
— Aposto que levou um tombo e a universidade inteira viu! - complementou
Palhoça:
— Gente, estou eu saindo da biblioteca, correndo porque o intervalo já
tinha acabado, quando de repente esbarro com uma moça na porta da
biblioteca, derrubo os livros dela e os meus!
— Depois a desastrada sou eu! - reagiu Palhoça divertindo-se com a
história da irmã:
— E a moça, mana - questionou Jaraguá -, o que fez?
— Foi super educada, gente; perguntou se estava tudo bem e tudo; faz
engenharia civil, deve estar quase terminando!
— E de resto, filha - interveio São José -, tudo bem?
— Tudo certo, pai! A turma é super bacana, a gente está combinando de ir
num barzinho um dia desses depois da aula!
— Filha - complementou Florianópolis -, a única juventude da qual você
tem certeza é essa; por tanto, aproveita! E isso vale também pras suas
irmãs; e por falar em irmãs, cadê Blumenau?
— Foi pro quarto! - respondeu o pai.
    Já era mais de meia noite quando todo mundo se recolheu; quando se
deitou na cama e pegou o celular, Joinvile percebeu que havia uma
mensagem de um número desconhecido. Tratava-se de um rapaz que estudava
com ela, certamente ele pegou o número no grupo da turma
de arquitetura no whatsapp.
Ela respondeu; achou o rapaz simpático e fez questão de ser educada; mas
assim como aconteceu com os outros rapazes que passaram pela sua vida,
ele não a atraiu em nada.
Porque nenhum rapaz fazia com que Joinville se sentisse atraída? Porque
ela nunca conseguiu se interessar por nenhum? Ela tinha medo da
resposta.
    Na manhã seguinte, era sábado, e a família toda sentou-se à mesa
para o café da manhã; faltavam apenas Palhoça, que aos fins de semana
acordava depois do meio dia, e Joinville, que estava se arrumando e
viria em seguida:
— Coitada da mana - comentava jaraguá -, esbarrar na moça na porta da
biblioteca, atrasada e ainda derrubar tudo!
Joinville estava vindo pra sala nesse momento; e sem saber ao certo o
motivo, parou no corredor e ficou ouvindo sem que ninguém se desse
conta.
Blumenal, que até então esteve calada, relatou aos pais e à irmã:
— A tal moça em quem ela esbarrou ontem na biblioteca já namorou uma
colega de classe minha, mãe! É assumida, a universidade inteira sabe que
ela curte mulheres!
Joinville, ainda parada no corredor, colocou uma das mãos na cabeça,
surpresa com o que acabara de ouvir. Não soube explicar o motivo, mas
sentiu seu coração bater descompassado dentro do peito. Decidiu respirar
fundo e ir para a mesa de café da manhã com a família.
    O dia transcorreu normalmente; e a noite, depois de muito debate, a
família toda decidiu promover aquela noitada de pizza em casa.
O pai, com pasciência e bom humor, fazia questão de servir todo mundo;
suas filhas e sua mulher estavam ali, em volta da mesa, todo mundo
falava ao mesmo tempo, e o que era para ser um simples jantar em família
acabou virando festa, o que não era raro de acontecer
    A semana seria movimentada para todo mundo; enquanto as
universitárias da família passavam parte dos seus dias na faculdade, as
outras duas filhas do casal São José e Florianópolis seguiam sua rotina
normal.
Na quarta feira, Palhoça passou a tarde com um grupo de quatro amigas no
shopping, enquanto Joinville se perguntava como seria o encontro que
havia marcado logo mais a noite. Havia aceitado sair com o rapaz que lhe
enviou mensagem no sábado; ele era bonito, educado, parecia ser um rapaz
sério; os dois iriam aproveitar aquela noite de quarta feira, pois não
haveria aula na universidade.


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