ANTOINE

 Já estava naquele parque a horas, esperando por Claire. Ela havia dito que precisava muito de minha ajuda, mas não explicara para que. Eu era uma criatura que não tinha muita paciência, ou tempo para gastar. O que ela queria? Vi várias pessoas entrarem e saírem do parque, menos uma que já estava quando cheguei e ainda não tinha saído. Era uma pessoa meio andrógena, de média estatura, cabelo curto e escuro, olhos castanhos e pintados com lápis preto, e por todo o tempo em que estava no parque, essa pessoa fazia talagarça. Uma linda talagarça, com cores vibrantes e distintas, formando uma distinta paisagem. Antes de qualquer outro pensamento, um portal surgiu na minha frente e quatro pessoas pularam dele. Eu sorri.

— Claire, você não vai a lugar nenhum sem Shi, não é? - Ela riu – quem são esse garoto e a garota?

— Prazer em vê-lo também Antoine. Esses são Vitkwa e Luke

— Claire, o que você está fazendo para precisar de uma dríade e um… um… O que Luke é? - Não conseguia, pela primeira vez, identificar o tipo de criatura que estava em minha frente

— Hmmmmm… Nós não sabemos – a resposta do próprio Luke parecia frágil, porém real – mas esse não é o caso. Precisamos de sua ajuda para resgatar minha… minhas amigas

— E por que eu te ajudaria? - A resposta foi apenas um olhar ameaçador de Shi – Ok, então… Sua pequena equipe contará com a ilustre presença de…

— Antoine. Pare com isso – Claire parecia cansada antes mesmo de começar sua “jornada”- falta uma pessoa ainda.

— Ainda tem alguém? Daqui a pouco poderemos fazer uma banda – Luke parecia utilizar o humor para esconder o fato de que estava aflito – não acha que muita gente pode acabar atrapalhando?

— Relaxa, cara – Shi parecia à vontade – quanto mais melhor. Mais gente para poder usar de isca.

— Vamos, então? - Era a primeira vez que Vitkwa dizia alguma coisa. A resposta foi a criação de outro portal, e todos entraram, menos eu. Percebi que o ser havia parado de fazer talagarça, e olhava fixamente para mim. Não era para ser possível me ver. É claro que ela era uma criatura, mas pela segunda vez no dia (e em minha vida inteira) eu não conseguia descobrir que tipo de criatura era essa.

LUKE

          Depois da náusea de ser puxado para dentro de um portal sem aviso, eu finalmente percebi que estávamos em frente à minha casa.

— Hmmmm... Claire? Acho que estamos no lugar errado. – Ela se virou para mim – essa é a minha casa.

— Não, estamos no lugar certo. Quase. Vamos ter que andar um pouco. – Ela tinha em sua mão um tipo de esfera, que parecia guiá-la. – Chegamos

          Eu quase caí no chão ao ver que estávamos em frente à casa de uma das minhas melhores amigas de infância, Sophia. Sorri ao lembrar que quando pequena ela tinha uma grande fixação por chinchilas, então a chamávamos assim. Mas como seria possível que ela fosse uma criatura também? Tocamos a campainha e a própria atendeu. Ela tinha mudado muito desde a última vez que eu a tinha visto. Agora ela devia estar com... Quinze anos agora. Ela estava mais alta, seus cabelos castanhos estavam na altura de sua cintura formando ondas naturais, ela estava mais madura, mais bonita.

— Luke? E Shi, Claire, Vit... – ela parou seu olhar em Antoine, e pareceu tentar dizer alguma coisa, sem muito sucesso. – Antoine.

          Cada vez mais a cena me confundia mais. Primeiro, minha amiga de infância, Chinchila, é uma criatura, depois ela conhece todas as criaturas que estão comigo, e depois ela tem um sentimento muito forte por Antoine, o que é muito estranho, porque ele tem aparência de doze anos. Como se respondendo a meu pensamento, Antoine sorriu e abraçou Chinchila de um modo invejoso.

— Sophia. Eu... Eu não consegui enviá-lo a tempo... Eu tive que... – Ela colocou o dedo na boca de Antoine fazendo-o parar de falar, e então voltou a abraçá-lo.

— Mas Sophia também é uma criatura? – Eu perguntei para Claire, mas foi Vitkwa quem me respondeu

— Você deve saber que ela tem alguns... Algumas deficiências mentais – lembrei-me que de sábados ela nunca podia ir em minha casa, porque precisava ir ao médico – Ela não é uma criatura, porém como tem essa deficiência, a mente dela consegue ver através da magia, e também confere a ela algumas habilidades impressionantes na luta.

— Você já leu Jogos Vorazes? – Claire perguntou. Eu assenti – A mente dela é como a dos mentalmente desorientados no livro. A autora se inspirou em pessoas como ela para fazê-los.

— Bom, já tá bom de me introduzir, certo? -  ela finalmente se soltara de Antoine – Do que vocês precisam?

        Depois de explicar tudo o que aconteceu, Chinchila ficou maravilhada com o fato de que eu também era uma criatura, porém perdeu toda a sua animação quando descobriu que ninguém sabia qual eu era.

— Acho que acabamos.- Claire olhou para cada um de nós como se analisando-nos – Não precisamos de mais ninguém...

— Precisamos sim. – Chinchila estava mais animada que nunca –Eu tenho uma amiga que será crucial. E eu não vou aceitar um não como resposta, ela vai vir com a gente.

          Ao ver que ninguém discordou dela, saiu correndo da casa com um grito distante dizendo para não sairmos dali. Qual era o propósito de fazer uma equipe? E por que todos estavam concordando tão imediatamente com uma jornada tão perigosa? De repente um portal se abriu na porta da casa e dele saíram Chinchila e uma garota com olhos cinzentos e amendoados, cabelo na altura do ombro num tom vermelho metálico, com uma cicatriz de queimadura circundado o olho direito. Ela era alta, com um nariz empinado e tinha um furo em seu queixo. Ela usava um short jeans, combinado com uma meia calça com um padrão losangular, uma camiseta com a capa de um álbum do AC/DC e coturnos negros.

— Prazer. Sou Helena Dóiteàin. – Ao dizer isso, estendeu a mão para mim – Me disseram que precisam de ajuda. E eu acho que posso ajudar