Você é uma garota escrita por Anchorage


Capítulo 1
Capítulo Único




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Quando Ron Weasley descobriu que teria um novo vizinho, ele não ficou feliz com a ideia, pelo contrário, ele detestou essa notícia. Rony gostava de seu antigo vizinho, Troy; os dois tinham a mesma idade e sempre brincavam de bola-de-gude. Assim, a notícia de que seu amigo iria se mudar não agradou em nada Ron.

Sua mãe tentara lhe explicar que Troy ia ter um irmão em alguns meses e, portanto, a família precisava de uma casa maior, mas Ron se recusava a aceitar aquela justificativa - afinal, em sua casa moravam ele, seu irmão mais velho, Percy, os gêmeos, Ginny e seus pais.

O dia amanhecera cinzento e o cheiro da torta de morangos, feita por sua mãe, estava deixando Ron nauseado. A família Weasley estava enfileirada em frente à casa vizinha, a fim de receber os novos moradores. Um carro dobrou a esquina e Molly Weasley soltou uma risadinha gostosa.

— Não se esqueçam, crianças…  

— Sejam educados. – os cinco filhos disseram em coro, repetindo a frase que sua mãe vinha falando a cada cinco minutos, o que fez com que a matriarca da família exibisse um sorriso orgulhoso.

— Bem-vindos ao bairro! Sou Arthur. — o Sr. Weasley cumprimentou o novo vizinho, que sorriu abertamente. Ron espiava para dentro do carro esperando ver alguma criança, mas nada conseguiu ver, pois seus irmãos estavam bloqueando o caminho.

— Hermione. — A matriarca da nova família deu algumas batidinhas na janela de trás do carro e vagarosamente a porta se abriu, revelando uma menina que estava com os olhos inchados, provavelmente por causa do choro.

Ron torceu o nariz ao perceber que sua nova vizinha era uma garota. Hermione era uma menina feia e chorona. Com quem ele iria brincar agora? Com uma garota?

— P-prazer. – Hermione falou entre fungadas, direcionando-se aos novos vizinhos, com os olhos pregados no chão.

— Eu sei que essa mudança pode estar parecendo um tanto infeliz, mas tenho certeza que você vai gostar de morar aqui. — Molly se abaixou e afagou os cabelos volumosos da pequena. Ao se levantar, a Sra. Weasley olhou sugestivamente para Ronald e para a torta que o filho segurava, mas ele não se moveu. Encarava Hermione com desgosto; a menina usava uma saia rosa e uma blusa florida e em seu cabelo castanho havia vários penduricalhos brilhosos.

Um dos gêmeos empurrou Ron e, por um tropeço, parou na frente de Hermione, que franziu o cenho ao observá-lo.

— Você é uma garota. — ele constatou frustrado. Hermione boquiabriu-se e empinou o nariz. Aquele menino parecia ser muito bobo e Hermione não tinha tempo para lidar com meninos bobos.

— Uma pequena lembrança de boas-vindas. — Molly disse de repente, encorajando o filho a entregar a torta.

Algumas semanas se passaram, e  Ron criou o hábito de observar sua nova vizinha. E sua primeira constatação foi: Hermione sempre tinha um livro debaixo do braço. Em um dia quente, Hermione estava deitada no gramado de sua casa, sob a sombra de uma árvore, colorindo algo até que uma borboleta chamou sua atenção. Ela se levantou e começou a seguir a borboleta, rindo a cada volta inesperada que o inseto fazia. Ronald Weasley riu ao ver aquela cena. Garotas se distraíam tão facilmente...

No último dia das férias, Ron não podia conter sua animação em ir para Hogwarts. Os irmãos Weasley jogavam bola no quintal e, por causa de um chute muito forte de Ginny, que havia sido deixada de fora da brincadeira, a bola foi parar no terreno vizinho.

— Você fez isso de propósito, Ginny. — Ele bufou indignado. — Nós não vamos convidá-la para brincar!

— Vá buscar a bola, Gin. — Percy ordenou, tentando não parecer tão duro com a irmã mais nova.

— Não. — Ginny mostrou a língua aos irmãos e correu para dentro da casa.

— Ronald, você é o irmão mais novo… — Percy começou a dizer de maneira diplomática, como sempre fazia.

— ‘Tá legal, eu vou buscar. — Ronald o interrompeu antes que ele se estendesse em algum discurso sem finalidade alguma.

— Roniquinho quer interagir com a vizinha. — os gêmeos disseram em uníssono. Ron sentiu suas orelhas esquentarem e balançou a cabeça negativamente antes de dar as costas a seus irmãos.

Ron considerava o terreno dos Granger esquisito, ainda que fosse igual ao seu, mas a nova família era quieta e isso era novidade. Foi até o cercado para procurar por sua bola e, depois de localizá-la, certificou-se de que não havia ninguém nos jardins. Caminhou pé ante pé, evitando qualquer barulho, até que viu a figura de Hermione sentada sob a árvore. Ela estava de costas e cantarolava alguma música baixinho. Ron se aproximou e gritou, pretendendo assustá-la, mas apenas ela se virou em sua direção e revirou os olhos.

— Eu ouvi você. — Ela deu de ombros e Ronald se perguntou como ela poderia tê-lo ouvido, visto que ele havia feito tudo para não fazer qualquer barulho.

— O que é isso? — Ron perguntou, fazendo referência ao caderno que estava sobre as pernas de Hermione.

— Nada da sua conta. — Ela fechou o caderno com força e se levantou. — Sua bola está ali. — Ela apontou para o objeto esquecido.

Pela primeira vez, Ronald encarou Hermione sem procurar por defeitos. Notou que ela possuía sardas espalhadas pelo nariz e achou engraçado, pois parecia que ela tinha catapora, mas ao invés de bolinhas vermelhas eram bolinhas marrons.

— Você vai para Hogwarts, certo? — Ron perguntou curiosamente e ela assentiu. — Nos vemos amanhã, então.

Naquele mesmo ano, Ronald Weasley e Hermione Granger se tornaram amigos e isso foi assustador. Ora, Hermione era uma garota.

xx

Era o quarto ano em Hogwarts e haveria um baile de confraternização entre as escolas locais. Um baile. A pressão de encontrar o par ideal deixava Ronald Weasley ansioso. Ele não sabia como se aproximar de uma garota para convidá-la para o baile. E, quando seu irmão, Fred, convidou Angelina Johnson por meio de um bilhete bem na sala de estudos, Ron sentiu-se pior ainda. Como Fred transformara aquilo em algo tão simples?

Ronald suspirou angustiado e voltou a se concentrar em suas questões de Química.

Par ideal.

Por que inventaram uma tradição tão estúpida que nem essa?

Ron se virou para seus amigos, Harry e Hermione, e se perguntou se eles também estariam aflitos com o baile.

Hermione realizava as questões de Química com extrema facilidade e Ron não pôde evitar de sorrir. Ele apreciava o fato de Mione ser estudiosa, principalmente quando ela o ajudava a estudar.

Descobrira possuir certo fascínio pelo volume natural dos cabelos castanhos de Hermione e hora ou outra se pegava observando-a. Como estava fazendo naquele momento. Ele se repreendeu e olhou novamente para seu caderno até que uma ideia lhe passou pela cabeça.

— Hermione? — ele sussurrou. Hermione levantou os olhos um pouco incomodada pela interrupção, mas acenou, indicando que ele deveria falar o que quer que seja que tinha para falar. — Você é uma garota.

— Bem observado, Ronald.

— Você deveria ir ao baile com um de nós dois. — Ele apontou para Harry, que franziu seu cenho.

— Pense bem, uma coisa é um menino ir sozinho, mas para uma menina, é triste. — ele tentou argumentar.

— Eu não vou sozinha, pois acreditem ou não, alguém me convidou. — Ela fechou o caderno com força - um hábito que tinha sempre que estava irritada - e se levantou. — E eu aceitei!

xx

— Eu não acredito que Harry foi o primeiro de nós a beijar! — Ronald resmungava inconformado com a notícia que seu amigo acabara de contar.

— Não é uma competição, Ronald. — Hermione respondeu entediada. Estavam falando sobre o beijo de Harry há horas. — Não seja tão invejoso.

— Não é inveja! É só que… Ah, deixa pra lá.

Ele cruzou os braços sobre o peito e afundou o corpo no sofá. Hermione revirou os olhos.

— Vamos acabar logo com isso. — ela disse de repente, antes de se sentar de frente para seu amigo.

— O que você quer dizer?

Hermione se aproximou de Ron e fechou os olhos antes de colar seus lábios nos dele. Ronald ficou sem reação; nunca esperara aquilo de Mione.  Manteve os olhos abertos e prendeu a respiração até ela se afastar.

As bochechas de Hermione estavam rosadas e ela soltou uma risada um tanto irônica ao notar a expressão confusa no rosto do amigo.

— Já pode parar de reclamar. —ela falou baixinho e fez menção de se levantar, mas Ron a puxou pelo braço.

— Espere... — Ronald segurou a mão de Hermione e, antes que pudesse pensar em outra coisa, a beijou.

Dessa vez o beijo foi mais profundo. Os dois estavam tentando compreender a sensação extasiante que sentiam e se separaram, um pouco frustrados, quando precisaram recuperar o fôlego.

—Você definitivamente é uma garota.

Hermione sorriu e beliscou o ombro do ruivo e respondeu:

— Considerando que você gosta de garotas, seria estranho se o seu primeiro beijo fosse com um garoto, não acha?

xx

— Você não imagina o quão feliz eu fiquei ao ver a Pepper!

Hermione e Ron tinham acabado de deixar a sala de cinema, foram assistir “Homem Aranha: De volta ao lar”, e ela estava em êxtase.

— Todo mundo estava comentando que o Tony Stark e a Tia May iam ficar juntos e eu nunca ia superar isso, porque é óbvio que o Tony pertence a Pepper.

— Obviamente. — Ron complementou sem prestar muita atenção no que Hermione dizia.

Ele estava nervoso, suas mãos suavam contra o tecido dos bolsos de sua calça e seu coração estava acelerado. Pensou no bouquet que havia comprado para Hermione e sentiu as orelhas esquentarem.

Entraram no carro, e Hermione ainda fazia comentários do filme. Ron seguiu em silêncio por quase todo caminho; de vez em quando fazia um comentário qualquer para mostrar que estava prestando atenção, mas na realidade estava preocupado em pegar as flores, que repousavam no banco traseiro do carro.

— Eu adoro a Zendaya, espero que ela apareça mais no próximo filme!

— Eu também.

Ela se calou e encarou Ron por alguns instantes. Eles estavam parados em um sinal vermelho e o rapaz olhava fixamente para frente.

— Não gostou do filme? É por isso que está agindo assim?

— Assim como?

— Você mal falou algo desde que deixamos o cinema. Achei que quisesse assistir a esse filme.

— Eu queria, não é esse o problema.

— Qual é o problema? — Hermione perguntou receosa.

Ela tinha medo de se abrir completamente a Ronald, por mais que se conhecessem desde sempre, porque sentia que, a qualquer minuto, ele poderia colocar um fim no relacionamento - ainda que não fosse oficial - que tinham.

— Você pode fechar os olhos por um instante? — ele perguntou e ela mordiscou o lábio inferior, antes de fechá-los.

Ronald respirou fundo e esticou dentro do carro para pegar as rosas. Hermione abriu os olhos e sorriu espantada.

— Mione, você é uma garota. — ele disse baixinho e ela caiu na gargalhada.

Aquela era uma piada interna deles e Ronald gostava de usar a frase nas situações mais inadequadas ou, nesse caso, adequada.

— De fato.

— Acho que você merece isso. — Ele colocou o bouquet sobre o colo dela e sorriu. — Quer dizer, só se aceitar namorar comigo. Se a resposta for não, por favor deixe as flores no carro.

— Ronald Weasley, você é muito bobo!

— Isso é um sim?

— É claro que sim. — Ela depositou um beijo na bochecha de seu namorado e sorriu.

Namorado. É, ela podia se acostumar com isso.

xx

Oito anos haviam se passado. Hermione Granger era uma conceituada arquiteta de uma das mais importantes firmas da Grã-Bretanha. Ron, por sua vez, era um colunista fixo do Daily News. Os dois moravam juntos há 4 anos e não podiam estar mais felizes.

A próxima coluna de Ron seria uma análise cômica sobre o vocábulo “sim”. Passara meses pensando em como fazer algo criativo e, ao mesmo tempo, engraçado, e ficou muito satisfeito com o resultado.

— Hoje é o grande dia, certo? — Neville, um colega de trabalho, perguntou animado.

— Sim, sim! — Ronald assentiu sorrindo. — Espero que dê tudo certo.

— Não se preocupe, cara. Eu aceitaria só pela sua coluna de amanhã. — ele respondeu, apontando para o quadro onde montavam a edição final do jornal.

Ron se despediu e seguiu para o apartamento.

Ele não tinha motivos para ficar preocupado. Bom, pelo menos pensava que não tinha.

Ao chegar em casa, deparou-se com sua namorada sentada sobre a bancada da cozinha comendo uma maçã. Vários projetos estavam à sua frente e ela falava ao telefone.

— A entrega era para ontem! — ela ralhou com a pessoa na linha. — Isso não é problema meu. Resolva isso, Mark.

Ela desligou e sorriu para Ron. Ele caminhou até ela, colocou um de seus braços ao redor de sua cintura e beijou o topo de sua cabeça. O cheiro costumeiro de coco que emanava do cabelo dela o atingiu e ele fechou os olhos, apreciando aquele momento.

— Ocupada, hein?

— Querido, sei que combinamos de comer no Unique hoje, mas será que podemos deixar isso para amanhã? — ela perguntou dengosa, tentando convencê-lo.

— Você sabe que para conseguir uma reserva em seu restaurante preferido é quase impossível.

— Eu sei, mas…

— Vamos, Hermione. Os projetos podem esperar.

Ela suspirou e pensou por alguns instantes, claramente indecisa sobre o que fazer.

— Certo.

A fila para entrar estava quilométrica, mas, por terem reservado uma mesa, Ronald e Hermione entraram sem problemas.

Aquele era o restaurante favorito de Hermione. As luzes eram azuladas, a música ambiente era romântica e, ao fundo, havia uma parede coberta por quedas d’água.

— Eu havia me esquecido do quanto eu gosto desse lugar. — ela comentou segurando as mãos de Ronald. — Suas mãos estão suando. Está tudo bem?

— Vou ao banheiro lavá-las.— Ele levantou sem graça e marchou até o banheiro, irritado com ele mesmo. — O que você está fazendo? — perguntou ao seu reflexo assustado. — Você não pode estragar isso.

Ronald voltou para a mesa um pouco mais relaxado e o jantar transgrediu sem mais quaisquer problemas.

Após retirarem os pratos, um único prato coberto por uma redoma de prata foi colocado no centro da mesa. Hermione lançou a Ronald um olhar curioso e ele sorriu.

— Eu nunca pensei que eu fosse capaz de me sentir como me sinto quando estou com você. — Ronald começou a falar e, ao imaginar aquela garotinha de onze anos saindo do carro para ser sua nova vizinha, ele sentiu uma segurança tomar conta de seu coração. — Quando eu penso em tudo que passamos, fico feliz por você ter estado sempre do meu lado; nos bons e nos maus momentos. — Ele se lembrou de como a presença de Hermione foi importante durante os dias em que Fred estava internado no hospital. — Sinto que não posso viver sem você, Hermione. Por isso, gostaria de saber se você aceita se casar comigo?

A redoma deu lugar a um lindo anel, com um enorme brilhante na ponta, e pequenos detalhes ao lado.

— Ronald? — Hermione perguntou antes de puxar o anel para perto de si. Ela o encarou com a boca aberta e seus olhos se encheram de lágrimas. — Mil vezes sim!

Ronald caminhou até Hermione e a beijou.

— Você é uma garota. — ele constatou enquanto suas testas estavam coladas uma na outra. Hermione sorriu e o puxou para mais um beijo.

xx

Ronald estava apreensivo aguardando a enfermeira chamá-lo. Hermione havia o expulsado da sala de parto, pois aparentemente ele estava mais nervoso que a própria gestante. Ele andava de um lado para o outro, roendo as unhas impacientemente. Quanto tempo levava para o bebê sair? Não deveria ser algo tão difícil, não é mesmo?

— Sr. Weasley? O senhor já pode entrar. — a enfermeira o chamou, e os dois seguiram para a sala onde Hermione estava.

Hermione estava com os cabelos grudados em sua testa e pescoço, os olhos muito lacrimejados e um sorriso bobo no rosto, direcionado para o pequeno embrulho que ela segurava.

— Ron... — ela sussurrou e ele se aproximou dela, depositou um beijo no topo de sua cabeça e espiou o pequeno embrulho.

— Ei, você é uma garota!


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Notas finais do capítulo

Eu não costumo ler/escrever da Golden Era porque acho que a Rowling fez um trabalho espetacular. Mas um dia desses estava assistindo Harry Potter e o Cálice de Fogo e quando passou a cena do Ronald chamando a Hermione para o Baile de Inverno me surgiu essa ideia!

Espero que gostem ♥



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