Nem Takeshi nem Gustavo souberam mais o que dizer até o fim do intervalo. O silêncio meio constrangedor acabou afetando os dois de formas diferentes. O efeito mais importante, no caso, foi em Gustavo, que, naquele breve momento de paz, percebeu que não deveria ficar dependendo de estranhos pra desabafar... Tinha decidido, estivesse envolvida ou não, ia falar com Tereza!

Tereza era tão amiga de Gustavo quanto Pedro. Eles meio que se equilibravam nesse quesito, já que eram completos opostos. Com ela, ele poderia falar coisas relacionadas a sua homossexualidade sem se sentir julgado. Era muito bom ter a sensação de não esconder nenhuma parte de si mesmo para alguém. Algo que, no momento, já fazia falta...

— Eu já vou indo — disse ele, olhando novamente para Takeshi — depois a gente se fala mais! — não sabia se aquilo seria verdade ou não, mas não iria desperdiçar a oportunidade de se aproximar mais de sua quedinha de infância.

— Olha — respondeu Takeshi, em um tom surpreendentemente sério — se você precisar de ajuda, eu e a Mimi vamos estar aqui pra você, sério... O que Isabelle fez é algo que não se faz...

Gus não tinha muita certeza do que responder depois daquilo, mas acenou com a cabeça. Andando para longe dali, ficou em dúvida se deveria correr ou não para falar com Tez antes do intervalo acabar...

Takeshi, por sua vez, tentou parecer o mais discreto possível enquanto "andava rápido" até Mimi. Sabia que Gustavo era gay! Ela ia pirar quando descobrisse que tinha um mistério por trás do término de Pedro e Isabelle... Ia começar a parte dois da investigação!

Infelizmente, para o infortúnio de todos, o sinal tocou antes que qualquer um pudesse falar com alguém. Gustavo, Mimi e Takeshi mal conseguiam se conter nas cadeiras com a adrenalina do momento... Ódio! Por que o intervalo não tinha mais cinco minutos?!

Entretanto, por um desatino do destino, uma funcionária da escola entrou na sala, ao invés da professora de inglês que todo mundo esperava:

— Prestem atenção todos! — ela disse, depois de se postar atrás da mesa só professor — A professora de inglês teve de faltar hoje, então não terá aula agora pra vocês. Obrigado.

Aquilo não era algo completamente incomum na escola. Mais ou menos uma vez por mês algum professor faltava e eles eram abençoados com uma aula livre. Uma parte da turma dos alternativos tinha a teoria de que esse descanso era totalmente proposital e os professores revezavam em suas faltas permitidas.

Fosse ou não fosse de caso pensado, Gustavo tinha de pensar rápido se quisesse falar com Tereza sem Isabelle se intrometer. Se Isa se metesse na conversa, não ia adiantar de nada... Até porque essa mentira dela sobre o término ficava cada vez mais esquisita.

Pegou seu celular e mandou uma mensagem para Tez. Tinha de torcer para ela ver a tempo da aula livre continuar. Ficou alguns minutos sentado, pensando se deveria chamá-la pessoalmente ou não...

Não, melhor não. Isa poderia intrometer.

Takeshi, por sua vez, não teve problemas em virar-se para o lado e falar com Mimi:

— Vamos conversar lá fora! — ele disse, mas estranhamente sua voz pareceu ter duplicado e soado mais forte...

— Falamos ao mesmo tempo — disse Mimi, sorrindo.

Os dois sairam quase que correndo da sala, deixando para conversar apenas quando chegassem a um canto mais escondido do pátio, sem o perigo de algum ouvido curioso ouvir tudo. Chegando lá, Mimi já não conseguia se conter:

— Tem alguma coisa esquisita naquela menina, sério! O jeito como ela falou foi meio esquisito e–

— Mimi, para! — Takeshi exclamou — Você TEM que ouvir o que eu descobri com o Gustavo! — e ele contou.

O rosto de Mimi reagia de diversas maneiras naquele curto espaço de tempo que era o discurso de Takeshi. Como?! Não só Gustavo não era hétero como toda aquela história era mentira?! O que estava acontecendo naquela escola?! De repente, encheu de mistério que nem série teen?!

— Chocante, né? — disse Takeshi, vendo a cara de Mimi.

— Eu não estou conseguindo acreditar!

— Isso coloca nossas duas teorias no chão...

— Sim... — ela disse, com a mão no queixo — O que poderia ter sido então pra Isa mentir desse jeito?

— Não faço ideia... Mesmo se Pedro tivesse traindo ela, porque envolver o Gustavo? Eles não são amigos?

— Então, essa é a parte mais esquisita. O Gustavo deve ter alguma parte de culpa... Ou ele está mentindo.

— Não, não — respondeu Takeshi, de pronto — ele tá falando a verdade.

— Uiii — retrucou Mimi — Que reação foi essa? Gostou do menino?

— Tá louca?! O que isso tem a ver com o assunto?!

— Ora, tudo — disse ela, como se fosse óbvio — se você estiver afim dele, o objetivo por trás disso tudo muda.

— Não acredito que você já está querendo me juntar com ele! Você achava que ele era hétero até uns cinco minutos atrás.

— Isso não vem ao caso... Até porque, do jeito que você disse que ele ficou, certeza que pelo menos uma quedinha por você ele tem.

— É ISSO que não vem ao caso! — Takeshi defendeu — Temos que pensar no porque Isabelle tá se vingando do Gus também...

— Guuussss — Isa continuou, provocante — o lance de vocês dois tá bem rápido!

— Não enche!

Mimi continuou rindo por mais alguns instantes, enquanto pensava no quão bonito o casal de Takeshi com Guuusss ficaria. No mínimo, super shippável. Iam virar o casal da sala! Perfeito agora que Isabelle e Pedro tinham se separado...

Foi aí que uma ideia súbita passou pela mente de Mimi.

— Já sei!

Ela se levantou abruptamente e começou a andar em direção a sala.

— Menina, aonde você tá indo? — perguntou Takeshi, correndo para se juntar a sua amiga.

— Eu tive uma ideia — disse ela, sem diminuir o passo — Mas primeiro tenho de falar com o Matheus!

Takeshi não estava entendendo nada, mas o rosto de Mimi estava tão confiante e determinado que ele sabia que não ia adiantar nada tentar impedí-la. Era melhor ver no que aquilo ia dar...

Gustavo viu Mimi e Takeshi voltando para a sala enquanto espera Tez em outro canto do pátio... O que será que eles estavam fazendo? Não conseguia acreditar que tinha conversado de fato com Takeshi depois de tanto tempo estando afim dele. Tudo bem que as circunstâncias foram péssimas, mas pelo menos–

— Gus — disse uma voz feminina, chamando sua atenção e o tirando de seus devaneios — vamos conversar.

Ele se assustou apenas por um segundo. A sua frente estava Tereza, com a expressão mais séria que ele já vira estampar o rosto dela.