Titanomaquia escrita por Eycharistisi


Capítulo 7
VI. Aqui é que eu não posso ficar.


Notas iniciais do capítulo

[Capítulo agendado]



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A confusão instalou-se enquanto a mulher-raposa disparava ordens a torto e a direito e os restantes se apressavam para fora do escritório para as poder cumprir. Eu fiquei ali no chão, confusa e abandonada, até que a mulher-raposa avançou para cima de mim, agarrando o meu pulso com força e rosnando contra o meu rosto:

Quem és tu?

— E-eu já disse… — balbuciei, admirada e um pouco assustada com a sua fúria.

— Quero saber quem és, não o teu nome!

— C-como assim?

— És humana? Vieste mesmo da Terra?

— Claro que sou humana, que raio haveria de ser?!

A mulher-raposa lançou-me um olhar muito desconfiado, as orelhas no topo da sua cabeça completamente inclinadas para trás.

— Impossível. Ele não te teria ajudado se fosses uma mera humana… — ponderou mais para ela própria do que para mim.

— Quem é ele…? — ainda tentei perguntar. A mulher-raposa, contudo, já me soltara e virara as costas, afastando-se alguns passos enquanto dizia:

— Jamon, leva-a de volta às masmorras…

— O quê?! — guinchei.

— Quero que fiques de vigia desta vez…

— Esperem lá! — interrompi-a, erguendo a voz — Eu respondi às vossas perguntas e mesmo assim vão voltar a atirar-me para as masmorras?!

— As tuas respostas não te ilibaram de qualquer suspeita. Muito pelo contrário — disse a mulher-raposa, olhando-me por cima do ombro.

— Muito pelo contrár…? Está a brincar comigo?! Eu já disse que não queria roubar o vosso precioso cristal e vocês sabem que disse a verdade graças à poção que me fizeram beber! Que mais preciso eu de dizer para me ver livre de vocês?!

— Quero saber porque é que aquele homem te ajudou.

— Então vá perguntar-lhe isso a ele, porque carga d’água haveria eu de saber?!

A mulher-raposa voltou-se lentamente, lançando-me um olhar cada vez mais desconfiado.

— Não sabes realmente porque é que ele te libertou?

— Não! Eu… — soltei um suspiro cansado, começando a perder a esperança de alguma vez esclarecer aquele assunto. Porque tinham eles de complicar tanto…? Decidi recomeçar o meu discurso, num tom mais brando e, esperava eu, claro — Senhora raposa… eu não percebo nada do que se está a passar desde que dei por mim na sala do cristal, okay? Não percebo como cheguei aqui, não percebo porque fui presa, muito menos percebo porque raio decidiu aquele homem libertar-me. Eu até gostaria que alguém me esclarecesse, mas, depois de tudo aquilo por que vocês me fizeram passar, a única coisa que aceitarei ouvir da vossa boca é um modo de regressar a casa. Ficou entendido agora?

A mulher-raposa continuou a lançar-me o mesmo olhar desconfiado até que disse:

— Mesmo que estejas a dizer a verdade… nós não podemos pura e simplesmente enviar-te de volta para o teu mundo.

— Porque não?

— Por diversas razões. A principal é não dispormos dos meios necessários à abertura dum portal neste momento.

Senti um arrepio gelado percorrer-me e engoli nervosamente em seco antes de perguntar num tom apreensivo:

— Quanto tempo irá demorar até disporem desses meios?

— Ah, não sei… Não posso sequer garantir-te que alguma vez os teremos!

Desta vez, as suas palavras deixaram-me a tremer. Aquilo não me podia estar a acontecer… Ela não me podia estar a dizer que iria ficar presa ali!

— Eu ajudo — aprontei-me, tentando agarrar-me a pensamentos positivos — Eu ajudo a recolher o que for preciso para abrir o portal, basta dizerem-me o que tenho de fazer. Aqui é que eu não posso ficar.

A mulher-raposa fez mais um dos seus sorrisos forçados.

— Não creio que uma humana acabada de chegar da Terra consiga dar conta do recado.

— Farei o que for preciso para voltar para casa — garanti — Peça-me o que quiser, qualquer coisa, mas por favor… deixe-me regressar a casa.

A mulher-raposa ficou a olhar para mim por alguns instantes, desconfiada e pensativa. Fosse qual fosse o seu raciocínio, foi interrompido pela entrada tempestuosa dum homem com um estranho cabelo loiro e negro. Uma mulher pálida de cabelos brancos esvoaçava, aflita, em redor dele, mas foi apenas quando ela lhe puxou o braço direito que eu percebi porquê. Estava coberto de sangue.

— Leiftan — reconheceu a mulher-raposa, admirada — O que é que aconteceu?!

O homem abriu a boca para responder, mas apercebeu-se entretanto da minha presença, ainda ajoelhada no chão, e pareceu perder as palavras. Os seus cristalinos olhos verdes arregalaram-se um pouco, surpresos, e eu devolvi-lhe o olhar com desconfiança. Qual era o problema dele?

A mulher-raposa parecia estar a ponderar a mesma questão porque começou a olhar de mim para ele, chamando:

— Hã… Leiftan? Há algum problema?

O homem desviou lenta e relutantemente o olhar para o fixar na mulher-raposa.

— Não… Eu só… — voltou a mirar-me — É esta a humana de quem falavas há pouco?

— Ah, sim, é… Chama-se Eduarda, veio da Terra através dum círculo de cogumelos… ou pelo menos é isso o que ela diz.

Eu franzi levemente o sobrolho, lançando-lhe um olhar arreliado antes de perguntar:

— A sério? Nem com a porcaria do elixir da verdade acreditam em mim?!

A mulher-raposa revirou levemente os olhos, como quem pede paciência, e chamou o homem-javali com um gesto da mão.

— Jamon, leva-a de volta às masmorras…

— Eu não vou volt…! — comecei a rebelar-me.

— Vais, sim! — cortou-me a mulher-raposa, com as caudas eriçadas — Até eu decidir o que fazer contigo, vais ficar trancada nas masmorras, quer gostes ou não!


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Notas finais do capítulo

[Próximo: 3/10/17]



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