Titanomaquia escrita por Eycharistisi


Capítulo 50
XLVIII


Notas iniciais do capítulo

[Capítulo agendado]



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Lee caiu sentado na sua cama e gaguejou uma data de sons incompreensíveis até Lithiel o interromper com uma gargalhada.

— Ficaste assim tão surpreendido? Não devias estar já meio desconfiado depois da nossa conversa?

— N-n-não! — tartamudeou o elfo — Não, não devia estar desconfiado! Como poderia…?! O que…? O que é que estás a fazer aqui, Eduarda? Como é que entraste?

— Entrei camuflada — respondi, encolhendo os ombros — e estou aqui para falar contigo.

— Falar comigo? Sobre quê? O que é que eu fiz?

— Não é tanto o que fizeste… é mais o que viste…

— O que é que eu vi?!

— Lembras-te de ver em Ryss uma menina vermelha e flutuante mais ou menos deste tamanho? — ergui a mão para medir a altura de Rubih com os dedos.

Lee inclinou ligeiramente a cabeça para o lado, confuso.

— Lembro, sim…

— E deves ter visto uma outra, azul, durante a viagem até aqui…

— Sim… E daí?

— Sabes o que são?

— Não… Devia?

— Não, não era suposto sequer conseguires vê-las.

— Porquê? — perguntou Lee, cada vez mais confuso.

— É… uma longa história.

— Como é que fugiste dos titãs? — inquiriu o elfo de súbito.

— Eu não fugi — admiti depois de uma breve hesitação — O Ashkore deixou-me sair.

— A sério? Porquê?

Troquei um breve olhar hesitante com Lithiel antes de me sentar ao lado de Lee, apertando nervosamente as minhas mãos uma contra a outra.

— Prometes não contar a ninguém o que te vou dizer?

— Prometo…

Troquei mais um olhar com Lithiel, recebendo um aceno de incentivo.

— Okay — murmurei, humedecendo os lábios — Bom… Primeiro convém saberes que eu estou… meio do lado dos titãs…

— Tu juntaste-te a eles? — inquiriu Lee, incrédulo.

— Mais ou menos…

— Porquê?! — continuou o elfo, sobrepondo a sua voz à minha.

Eu desviei o olhar para as minhas próprias mãos e soltei um suspiro trémulo.

— Porque… eu sou um deles…

— Um deles? Eles quem?

— Eles. Os titãs. Eu… sou uma titânide, Lee…

Os olhos do elfo arregalaram-se enquanto o seu queixo caía lentamente. Eu devolvi-lhe nervosamente o olhar, esperando a sua reação, mas ele demorou vários segundos a manifestar-se. Começou a erguer a mão na minha direção, como se fosse tocar-me no rosto, mas desistiu a meio e voltou a recolhe-la. Só então reuniu alento suficiente para fechar a boca, engolindo ruidosamente em seco.

— Não posso acreditar — murmurou, muito baixinho.

— Não podes acreditar no quê? — perguntou Lithiel num tom severo.

Lee sacudiu a cabeça, voltando a engolir em seco.

— Vais denunciar-me, Lee? — indaguei com um murmúrio.

— Não! — negou o elfo, tão brusca e prontamente que me fez saltar de susto — Não vou denunciar-te… Como poderia?! Tu és…! — Lee olhou para a doppelganger — Tu sabias disto?

— Que a Eduarda é uma titânide? Sabia…

— Há quanto tempo?

— Desde o início da nossa viagem.

— E não a denunciaste?

— Não. Eu estou do lado dos titãs.

— A sério?

— Sim. E tu? De que lado estás?

Lee hesitou, sacudindo a cabeça.

— Não sei… Não sei o que realmente aconteceu na Titanomaquia, por isso não posso conscientemente “escolher um lado”… D-digamos apenas que estou do lado da Eduarda.

— Se estás do lado da Eduarda, estás do lado dos titãs — fê-lo ver Lithiel.

— Não exatamente. A Eduarda não é como os outros titãs… pois não? — acrescentou na minha direção com um sorrisinho contido — Ela é diferente…

Eu franzi ligeiramente o sobrolho. Lee sabia sobre a casca humana com que Úrano e Gaia me tinham envolvido? Isso… era possível?

— Como é que sabes? — perguntei num tom lento.

O sorriso contido de Lee abriu-se nos seus lábios.

— Ouvi dizer…

— Onde? — indagou Lithiel num tom autoritário.

— Não te interessa, não é nada contigo.

— Parece que tens muitas coisas a contar, Lee — constatei.

— Não sou o único. Também quero saber a tua história… mas não acho que este seja o sítio certo para termos essa conversa. Não é seguro falarmos destes assuntos onde a Guarda nos possa ouvir.

— Fico feliz por te ouvir dizer isso porque vim justamente para te tirar daqui — anunciei.

— A sério? — admirou-se o elfo, entusiasmado.

— Sim, a sério…

— Aonde vamos?

— Vou levar-te até ao esconderijo do meu irmão… e ele levar-te-á à Terra, se ainda quiseres visitá-la.

— Sério? Isso é fantástico! Preciso de levar alguma coisa? — perguntou Lee, levantando-se com um pulo e dirigindo-se para o seu armário — Uma muda de roupa, comida de conserva, algumas poções…?

— Só tens de levar os teus bens pessoais. Os mais importantes…

Lee escavou o fundo do armário até encontrar uma mochila e começou a guardar as suas coisas. Lithiel virou-se para mim.

— Posso também ir buscar uma mochila? — perguntou.

— Sim, claro.

— Esperem por mim aqui, então, eu volto já — disse ela antes de sair rapidamente do quarto.

Lee terminou de arrumar as suas coisas e sentou-se novamente ao meu lado para esperar por Lithiel. Ao fim de alguns instantes de silêncio, decidiu começar um diálogo:

— Então… estás aqui porque consigo ver as meninas brilhantes? O que são elas?

— São seres elementais que só os titãs ou outros elementais conseguem ver, ouvir e tocar. Tu és um elfo, um faery, não era suposto conseguires vê-las.

— Ah… — fez Lee antes de abrir um pequeno sorriso culpado e desviar o olhar para o lado — Isso é porque… eu não sou um faery, na verdade…

Eu virei lentamente a cabeça na direção do elfo, mirando-o com os olhos semicerrados de desconfiança.

— O que és tu? — perguntei com um murmúrio.

Lee soltou um risinho sem humor e sacudiu a cabeça. Quase ao mesmo tempo, a porta abriu-se de rompante e Lithiel entrou com uma mochila nos ombros.

— Estou pronta — anunciou — Vamos embora.

Lee levantou-se com um pulo animado e encaminhou-se para a porta. Eu fixei desconfiadamente as suas costas antes de ativar a minha camuflagem e ir atrás dele. Queria questioná-lo sobre a revelação polémica, mas achei melhor deixar aquele assunto para quando estivéssemos em segurança na colónia.

— Vamos para onde, Eduarda? — perguntou-me Lithiel, baixinho, enquanto Lee trancava a porta do quarto.

— Para a floresta do lado de fora do quartel.

A doppelganger assentiu e metemo-nos a caminho. Tivemos de sair novamente pelas traseiras porque a multidão no átrio continuava tão compacta como há uma hora atrás. Para minha infelicidade, Valkyon ainda estava lá, nos campos de treino, e senti um arrepio gelado descer-me pela espinha quando ouvi a sua voz bradar o nome dos meus dois acompanhantes. Ah, não… Estava tão perto do fim da minha missão!

— Onde é que vocês vão? — perguntou o Comandante da Obsidiana, parando na nossa frente de braços cruzados e pernas ligeiramente afastadas.

— Estamos em missão — disse Lithiel sem hesitar — Porquê?

— É a segunda vez que te vejo sair do quartel pelas traseiras. Aconteceu alguma coisa no átrio que eu não saiba?

— Não, eu só não quero meter-me no meio da confusão. Não gosto de andar ao encontrão no meio da multidão.

— E para que são as mochilas?

— São para a nossa missão.

— Qual missão?

— Porque é que queres saber? — perguntou Lithiel, cruzando os braços — Não tens mais nada para fazer além de andar a meter o nariz na vida dos outros?

Valkyon semicerrou os olhos.

— Abre a mochila — ordenou.

— O quê?

— Abre a mochila, é uma ordem.

— Porque raio haveria de te mostrar a minha mochila?!

— Porque eu quero ver, simples assim…

— O que é que se passa, Valkyon? — perguntou Lee, pronunciando-se pela primeira vez — Porque é que estás tão desconfiado? Fizemos alguma coisa que justifique isto?

— Vocês estão a agir de maneira muito suspeita e eu quero saber o que estão a esconder. Vão abrir as mochilas ou terei de ser eu a fazê-lo por vocês?

Lee e Lithiel entreolharam-se por breves instantes até a doppelganger soltar um suspiro muito aborrecido e tirar a mochila dos ombros. Poisou-a no chão aos seus pés e convidou Valkyon a espreitar com um gesto da mão. O Comandante não se mexeu.

— Abre-a — ordenou — e mostra-me o que está lá dentro.

Lithiel lançou-lhe um olhar ardente de ódio, mas baixou-se para abrir a mochila, revelando as botas arrumadas sobre um monte de roupa dobrada.

— Onde vais com isso, Lithiel? — perguntou Valkyon num tom inesperadamente brando.

— Viajar para uma missão…

— Estás a mentir. A Miiko só autorizou o Leiftan a sair em viagens de longa duração desde que declarámos estado de emergência. Diz-me a verdade.

Lithiel rangeu os dentes e trocou um novo olhar com Lee, talvez à procura de apoio, mas o elfo estava tão ou mais atrapalhado do que ela. Valkyon não ficou indiferente aos seus olhares e soltou um pequeno suspiro.

— Vocês não estão a planear ir atrás da Eduarda, pois não?

— O quê? Porque faríamos isso? Ir atrás da Eduarda? Que disparate! — Lee começou a entrar em pânico — Ela foi raptada por titãs, ir atrás dela seria suicídio, não é? Talvez ela já esteja morta e tudo…!

— Podes parar, Lee, já percebi tudo.

— Como é que sabes que íamos atrás da Eduarda? — perguntou Lithiel, decidindo jogar de acordo com as suposições do Comandante.

— Vocês não são os primeiros a tentar escapulir-se do quartel para ir atrás da Eduarda — revelou Valkyon — O Nevra encontrou a Karenn, o Chrome e o Adonis a tentar saltar a muralha durante a noite na semana passada…

— E não nos disseram nada? — admirou-se Lee — Traidores!

— Teriam conseguido sair se nos tivessem chamado — disse Lithiel em surdina.

— Duvido — negou Valkyon — Afinal, vocês também foram apanhados, não foram?

Lithiel abriu um meio sorriso perigoso.

— Achas mesmo que nos apanhaste?

Antes de termos tempo de processar o que ela dissera, Lithiel lançou-se a Valkyon e desferiu-lhe um vigoroso murro no queixo. O Comandante não se mexeu, não se defendeu, não revidou ou sequer retraiu, mas Lithiel terminou no chão com um grito de dor.

— Lithiel! — exclamou Lee, aflito, correndo para acudir à doppelgagner. Enquanto ela embalava a própria mão, Valkyon esfregou descontraidamente o queixo.

— É perigoso esmurrar alguém com afinidade com a terra — lembrou à rapariga — Precisamos de chamar a Eweleïn?

— O que é se passa aqui?

Todos nós viramos a cabeça ao som da nova voz, encontrando Nevra a poucos passos de distância.

— Apanhei estes dois a tentar sair do quartel para ir atrás da Eduarda — revelou Valkyon — e a Lithiel partiu os dedos ao tentar esmurrar-me. Deixo-os contigo ou queres que os castigue?

Nevra lançou um olhar reprovador a Lee e Lithiel, esta última ainda a aconchegar a mão partida, e soltou um suspiro.

— Eu trato deles a partir daqui. Obrigado, Valkyon…

O Comandante da Obsidiana encolheu os ombros e afastou-se, dando uma palmadinha amigável no ombro do vampiro ao passar por ele. Nevra soltou mais um suspiro e foi ajudar Lithiel a levantar-se.

— Vocês e as vossas ideias parvas — resmungou — Pensei que sabias melhor do que isto, Lithiel! Vamos lá ver a Eweleïn…

— Eu não preciso de ir ver a Eweleïn — negou a doppelganger, soltando-se do vampiro.

— Os teus dedos não estão partidos?

— Estão, mas nós temos mesmo de sair daqui…

— Tu não vais a lado nenhum, Lithiel.

— Tu não estás a perceber, Nevra! É importante!

O Mestre da Sombra cruzou os braços diante do peito.

— Conta-me.

— Não posso. Não aqui. Vem connosco até à floresta do lado de fora do quartel e eu conto-te.

— O quê? — admirou-se Lee — Endoideceste?!

— Nós podemos confiar no Nevra — garantiu a doppelganger — Ele não nos vai denunciar.

— Esta tua tentativa de sair do quartel tem alguma coisa a ver com… a nossa conversa? — perguntou Nevra à rapariga, desconfiado.

— Tem tudo a ver. Deixa-nos sair do quartel, Nevra. É mesmo importante.

O Mestre da Sombra hesitou, mas acabou por assentir.

— Tudo bem. Vamos embora.

Eu vi Lithiel e Lee afastar-se com Nevra, sem querer acreditar. O que é que ela tinha na cabeça para chamar o vampiro? Como podia ter tanta certeza de que podíamos confiar nele?! É certo que Nevra não me denunciara depois de descobrir a minha raça e ele também parecera disposto a defender-me das Guardas de Eel e Ryss, mas como podia ter a certeza de que ele não mudara de ideias depois de me ver fugir com Ashkore? Eu queria acreditar que Nevra era de confiança e que Lithiel sabia o que estava a dizer já que conseguia detetar mentiras… mas como poderia eu ter a certeza de que ela não estava a mentir também?! Nevra não referira uma conversa entre os dois? Estariam a fazer um complô? Contra quem? Contra os titãs? Contra mim? No que é que eu me fora meter…?

Graças à companhia do Mestre da Sombra, conseguimos sair do quartel sem enfrentar mais perguntas ou problemas. Dirigimo-nos para a floresta e caminhámos vários metros até as árvores nos escudarem por completo da vista da cidade. Lithiel parou junto ao tronco retorcido de uma árvore e virou-se para enfrentar Nevra de braços cruzados. Lee colocou-se ao lado dela. Eu escondi-me atrás de uma árvore, mesmo estando camuflada.

— Já me podem explicar o que está a acontecer aqui? — perguntou o Mestre da Sombra, cruzando também os braços.

— Podemos, mas primeiro… — Lithiel ergueu um pouco a voz — Podes aparecer, Eduarda!

Nevra petrificou por um instante, tenso como cabos de aço. Eu permaneci camuflada e escondida atrás da árvore.

— Eduarda? — repetiu o vampiro, baixinho — Isso é sério? Ela está aqui? Estava com vocês?

— Nós vamos explicar-te tudo… quando ela decidir aparecer — disse Lithiel, olhando em seu redor — Eduarda? Onde estás? Podes desfazer a camuflagem!

— Será que a perdemos no caminho até aqui? — indagou Lee, confuso.

— Duvido, ela não teve razões para se separar de nós…

Nevra desencantou uma adaga que trazia escondida sabe-se lá onde e começou a olhar desconfiadamente em volta.

— Poderia ser uma armadilha? — ponderou.

— Não… Eu não a senti mentir durante as conversas que tivemos. Não sobre as suas intenções, pelo menos…

— Mas ela mentiu sobre algo? — insistiu o vampiro.

— Ela disse que confiava em mim… mas estava a mentir.

— A Eduarda não é burra, sabe que não pode confiar em ti — alfinetou Lee — Talvez seja por isso que ela não se quer mostrar agora.

— Não, acho que a razão para ela não se mostrar… sou eu — concluiu Nevra.

— O Nevra é de confiança, Eduarda. Ele está do nosso lado e não te vai fazer mal — garantiu Lithiel.

— Eu não te vou denunciar, Eduarda — corroborou Nevra — Não precisas de ter medo de mim.

Eu sorvi lentamente o ar antes de arriscar falar, sem desfazer a camuflagem:

— Desde quando estás do nosso lado?

Nevra virou-se de imediato na direção do som da minha voz, fixando a árvore atrás da qual eu estava escondida.

— Não sei dizer — admitiu o vampiro, aproximando-se com passos lentos e cuidadosos — Eu não diria sequer que estou do lado dos titãs. Estou simplesmente do teu lado. Eu não acredito que sejas uma ameaça. Não acredito que queiras destruir-nos. Não poderias fazê-lo, mesmo que quisesses, pois não? O Leiftan fez-te prometer que não nos atacarias… Sendo assim, não há razão nenhuma para temer-te ou odiar-te.

— Como sabes disso?

— A Karenn contou-me. E a Lithiel contou-me o que sabe sobre a Titanomaquia. Nós temos estado os dois a investigar os relatos originais para tentar descobrir o resto da verdade, mas o Leiftan não facilita… — Nevra estendeu a mão e tocou o tronco da árvore, a poucos centímetros de onde eu estava — Eu não te vou fazer mal, Eduarda… Deixa-me ver-te. Por favor…

Eu queria tanto acreditar no que ele dizia…

Ignorando a voz da desconfiança, decidi correr o risco. Desfiz a camuflagem e deixei que Nevra me visse. O vampiro abriu um sorriso e, antes que pudesse pará-lo, envolveu-me com os braços, apertando-me contra si. Hesitei, mas acabei por devolver o abraço. Ele enterrou o nariz nos meus cabelos e inspirou profundamente, terminando com um suspiro satisfeito.

— Cheiras cada vez melhor… — murmurou.

Ouvimos um pigarrear vindo dos outros dois e tentei afastar-me do vampiro, mas ele só me soltou depois de me depositar um beijo carinhoso na testa.

— Eu e o Lee estamos a mais? — perguntou Lithiel — Não queres trazer o Nevra connosco também, Eduarda?

— Onde é que vocês vão? — inquiriu o vampiro.

— A Eduarda vai levar-nos ao titã.

— Ao titã? Tu estás a trabalhar com ele? — perguntou Nevra na minha direção.

— Mais ou menos…

— Como assim, mais ou menos? Vais lutar com ele contra nós?!

— Não! — neguei rapidamente — Eu não pretendo participar na luta, não é algo que me diga respeito, mas, ao mesmo tempo… não consigo ficar indiferente. Eu gostaria de ajudar os faeries e os titãs a encontrar um acordo e devolver a paz a Eldarya, mas… é difícil. Não sei sequer por onde começar…

— Ela está a dizer a verdade — apoiou Lithiel.

— Então e eles? — perguntou Nevra, apontando para a outra dupla — Porque os vais levar a eles contigo?

— O Ashkore quer saber porque é que o Lee consegue ver os seres elementais.

— Os seres elementais? Eles existem mesmo? — admirou-se o vampiro.

— Existem, sim, mas os faeries não conseguem vê-los.

— Como é que o Lee os vê, então?

— É-é justamente essa a questão, não é? — disse apressadamente o elfo com um sorriso amarelo — É isso que temos de descobrir…

— Porque é que estás a mentir? — perguntou-lhe Lithiel, desconfiada.

— Porque é que a Lithiel também vai? — indagou Nevra.

— Pois, porque é que tu também vais? — apoiou Lee, lançando um olhar irritado à doppelganger.

— Eu e a Eduarda temos um acordo.

— Que acordo? — perguntaram os dois homens ao mesmo tempo.

— Não vos interessa!

— Eu também quero ir — revelou Nevra, virando-se para mim — Quero ajudar-te a encontrar esse acordo entre titãs e faeries. Estou cansado destas mentiras…

— A… sério? — murmurei, pasmada.

— A sério…

— Mas… eu… não tenho a certeza se te consigo levar…

— Tu devias ficar, Nevra — opinou Lithiel — Ser-nos-ás mais útil dentro do quartel.

Nevra hesitou.

— Qual seria a minha utilidade, exatamente? Ajudar com as negociações… ou ajudar os titãs a invadir o quartel e matar toda a gente?

— Isso importa? — perguntou a doppelganger.

— Claro que importa! Eu não vou ajudar os titãs a dizimar a minha espécie! — defendeu de imediato — Desculpa, Eduarda, mas se for essa a ajuda de que precisas… não contes comigo.

— Não é — afiancei — Já te disse que não pretendo lutar na guerra do meu irmão… mas não acho que consigo demovê-lo dos seus intentos. Não sei sequer se quero demovê-lo.

— Quais são os seus intentos?

— Para já, libertar os outros titãs.

— Os outros titãs também estão dentro dos cristais?

— Sim…

— Mas para os tirarmos de lá temos de destruir os cristais — notou Nevra — O que vai ser de nós, de Eldarya, se ficarmos sem eles?

— Vocês não precisam dos cristais. São os titãs no interior que produzem a Maana, não é a pedra em si. Mesmo que destruam os cristais, enquanto tiverem os titãs, ficará tudo bem.

Eu sabia! — festejou Lithiel, dando um murro de vitória no ar — Eu sabia que eram os titãs a produzir a nossa Maana. Eu não te disse, Nevra? A forma como os autores dos relatos originais falavam dos titãs dava mesmo a impressão de estar a venerá-los, exatamente da mesma forma que fazemos com os cristais. Eu sabia!

— Se podemos sobreviver sem os cristais, não deveria ser difícil convencer as Guardas a libertar os titãs — opinou Lee — Poupariam muito tempo, esforço e cabeças decepadas!

— Não é assim tão simples — negou Lithiel — As Guardas não iriam aceitar desmantelar séculos inteiros de mentiras de um dia para o outro. Além disso, duvido muito de que os titãs nos perdoassem por os termos drenado durante todo este tempo. Libertar os titãs seria libertar a sua ira ou submeter-se à sua soberania, já que teríamos de os venerar abertamente… As Guardas sairão sempre a perder.

— Talvez haja algo que os titãs possam fazer pelos faeries para os convencer a libertá-los? — ponderei.

— Como o quê? Poupar as suas miseráveis vidas não será um prémio bom o suficiente.

— Não sei, é uma questão de falar com o Ashkore.

— Entretanto, eu vou tentar “converter” umas quantas pessoas à nossa causa — anunciou Nevra — Sei de alguns ouvidos que vão gostar do que tenho a dizer…

— Não faças isso, é perigoso — adverti-o — Se a Miiko ou o Leiftan te apanharem…

Nevra abriu um pequeno sorriso e teceu-me uma suave carícia no rosto.

— Não te preocupes. Sou o Mestre da Sombra, lembraste? Conspirar bem debaixo do nariz inimigo é a minha especialidade…


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Notas finais do capítulo

[Próximo: 23/7/18]



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