Evelyn suspirou antes de falar novamente ao interfone.

— Tae, por favor, acompanhe o visitante até a mansão. — A solução mais racional para aquela situação era manter o segurança próximo durante a conversa que teriam com o desconhecido misterioso, e Evey estava bastante preocupada com o que poderia acontecer naquele momento.

Sua amiga Alyssa, entretanto, aparentava não estar tão tensa – como geralmente ficaria em momentos incomuns como aquele.

As duas andaram até a janela da fachada e observaram Tae acompanhar o estranho até a porta de entrada. Este estava vestindo um casaco sobretudo marrom-acinzentado e um roupas formais; seu rosto familiar transmitia certa serenidade. Evey reconheceu-o como um dos convidados ao encontro do Solstice.

Não parecia ser má pessoa, porém as aparências certamente podiam enganar...

— Boa noite, senhoritas — o rapaz as cumprimentou curvando-se depois que Evelyn abriu a porta. — Peço desculpas por interromper a noite de vocês, porém, como eu disse antes, quero conversar sobre o encontro da quarta-feira passada.

— Por favor, entre. Você também, Tae — Evelyn dirigiu-se ao segurança, que acompanhou o visitante inesperado até a espaçosa sala de estar da mansão. — Sente-se conosco, senhor...

— Daehwi, prazer em as conhecer. Ah, e por favor, não me chamem de senhor. Tenho só 21.

— Certo... — Evey o encarou, pensativa. — Então, poderia nos dizer como descobriu onde moro? E como sabe nossos nomes? Falamos no Solstice, mas apenas umas nove pessoas estavam conosco naquele momento... E pelo que me lembro, você não era uma delas.

— Bom... Admito que me esforcei pra ler seus nomes nos envelopes. E meu irmão mais velho trabalha com investigação e tals, então não foi muito difícil rastrear vocês...

— Você... Contratou seu irmão para nos investigar? — incrédula, Alyssa franziu as sobrancelhas.

— Oh, não! Só pedi para ele descobrir onde vocês moram. — o jovem finalmente sentou-se no sofá e cruzou as pernas. — Mas vamos direto ao ponto, okay? — Ele parou de falar um pouco e deslizou sua língua nos lábios, distraído. — Pera aí, que cheiro bom é esse?

— ...Nós estamos fazendo cupcakes. Mas ainda está no forno. E não preparamos recheio nem glacê.

— Ai, que top! — O tom formal do desconhecido se dissipou em questão de segundos. — Adoro cupcakes. Depois pode me dar alguns, por favor? Sem recheio mesmo, isso não me importa.

— Bom... — Evey ficou supresa por alguns instantes. — Se o senhor gosta tanto assim...

— Ai, não me chama de senhor! Pelamor… — Ele engoliu em seco e ajeitou a postura, como se estivesse se recompondo. — Hã... Enfim. Vim aqui falar sobre o Solstice. Acho que descobri o que os bilhetes significam.

— Sério? — a expressão facial de Alyssa suavizou.

— Sim. Olhem o meu bilhete — ele tirou um envelope do bolso de seu sobretudo e o entregou a Evelyn.

“4 – S1: ‘prédio’

Recompensa: MDD+CDC

Punição: D”

— Se minha teoria estiver certa, a primeira linha refere-se a uma frase que devemos completar. A ordem das palavras seria ditada pelos números que procedem a “S1”... Porém não faço ideia do que esta sigla signifique.

— Então, os bilhetes são tipo um quebra-cabeça? — as coisas pareciam ficar cada vez mais interessantes e estranhas para Evelyn.

— Sim! E teríamos resolvido o enigma na noite do encontro caso tivéssemos percebido.

— Mas e a “recompensa” e a “punição”?

— Acho que isso significa que se resolvermos o enigma, seremos recompensados. Caso contrário, seremos punidos.

— Isso não faz sentido. — Alyssa começou a tremer um pouco, mas controlou-se e tornou a falar. — E caso não tivéssemos ido ao Solstice? Não receberíamos o envelope. Não haveria punição.

— Aí que está. No folheto que recebi me convidando ao Solstice, tinha escrito “não falte” em caixa alta. O que com certeza significa algo, tipo consequências ruins caso faltássemos.

Um momento de silêncio se instala durante alguns segundos.

— E-Eu... Vou ver os cupcakes no forno. — Alyssa levantou-se e foi até a cozinha.

— Yay! — Daehwi levantou os braços comemorando com um sorrisinho, mas logo voltou ao normal, desconcertado. Parecia estar acostumado a agir de maneira fofa, pois estava tendo clara dificuldade para se portar como o homem maduro que obviamente estava tentando ser. — U-Umm... Posso ver os bilhetes de vocês?

— Claro... Vou ao andar de cima pegá-los e já volto.

Sem pressa, Evelyn foi até o andar de cima refletindo sobre tudo o que Daehwi tinha falado. Já em seu quarto, a moça abriu a segunda gaveta do móvel da cabeceira de sua cama e pegou seu bilhete.

Logo depois, andou até o quarto onde Alyssa estava hospedada. Antes de segurar a maçaneta, notou pequenas manchas azuis de tinta no chão. Desde que o encontro no Solstice ocorrera e o espelho no corredor principal do térreo quebrara, ela e a amiga começaram a ver esses pingos estranhos pela casa... E nenhuma das duas fazia ideia do que poderia ser.

Apressando-se, pegou o bilhete de Alyssa e desceu a escadaria.

— Aqui estão — Evelyn entregou os papéis para Daehwi e senta-se ao seu lado no sofá. O perfume dele tinha cheiro de cereja.

Primeiro, o rapaz analisou o seu bilhete.

“19 – S1: ‘os’

Recompensa: R+CDC

Punição: V”

Em seguida, leu o bilhete de Alyssa.

“11 – S1: ‘-Sinimun’

Recompensa: MDD+CDC

Punição: D”

— Prédio, ‘-Sinimun’, os. Interessante... Oh, parecem deliciosos! — Sorriu ao ver Alyssa chegando na sala com uma bandeja de cupcakes.

— Estou os trazendo agora mesmo porque você pediu para os experimentar assim, sem glacê nem recheio, mas se você quiser aguardar, garanto que não vai se arrepender!

O rapaz pegou um e deu uma pequena mordida.

— Não precisa. Está divino!

Tanto Evelyn como Alyssa sorriram com o elogio.

— Coloque essa bandeja aí na mesa de centro e sente-se conosco! Tenho uma coisa importante para falar. — Depois que ela se sentou, Daehwi prosseguiu. — Até agora temos três palavras de vinte. É um bom começo para resolver o enigma, mas ainda assim é pouco demais. Nós precisamos ir atrás dos outros dezessete bilhetes.

— Espere aí. — Evelyn franziu as sobrancelhas. — Nós?

— Sim, somos agora uma equipe! Vamos juntos--

— Mas daqui a dois dias eu voltarei a Paris. Moro lá. — Alyssa o interrompeu, séria. Daehwi ficou pensativo por uns instantes e voltou a falar.

— Então que tal uma última aventura antes de partir? — O rapaz pegou outro cupcake sem recheio. — Você não gostaria de passar o resto da sua viagem sem experimentar coisas novas, não é?