Solstice - Interativa escrita por Ren
Vivienne estava verdadeiramente intrigada com a demora de Wallace e Alois. Enquanto andava em direção ao dormitório, questionava a si mesma possíveis motivos deles tardarem tanto.
Não tinha como relaxar naquele momento, pois sua mente não cooperava: nenhuma das possibilidades que imaginava se encaixavam com a personalidade de Wall-E. Talvez algo grave tivesse acontecido? Ou talvez...
Chegou na porta do quarto do amigo. Pôs a mão sobre a maçaneta, e ao ver que o cômodo não estava trancado, respirou fundo e abriu a porta.
Encontrou os dois sentados à mesa, com Wallace usando o laptop e Alois observando atentamente tudo o que estava sendo feito.
Lençóis cobriam quase todos os objetos do quarto.
— ...Gente?
O duo virou-se em sua direção ao ouvir a voz dela.
— Ah, oi, Vivi. Já estou acabando — Wallace falou e voltou a digitar no laptop. — É sobre o número desconhecido que me mandou aquelas mensagens. Eu tô quase conseguindo terminar de rastrear...
Vivienne aproximou-se devagar, confusa. Por que ele estaria fazendo aquilo justamente na hora em que todos estavam o aguardando?
— Bingo! — O jovem bateu palmas para si mesmo e aguardou as informações terminarem de serem processadas pelo computador. Sua expressão facial sorridente logo dissipou-se em uma tensa seriedade. — Ué... Aqui diz que o número vem de dentro deste dormitório mesmo. Parece que ele não estava blefando quando deu a entender que entrou em meu quarto...
— Pera, quê? A pessoa das mensagens invadiu seu quarto?
— Sim... Ou...
Um barulho ruidoso proveniente do quarto ao lado despertou a atenção de Vivienne. Parecia que alguém estava derrubando coisas...
— O que foi isso? — Alois perguntou, levantando-se sobressaltado.
Ela escutou o barulho novamente, desta vez vindo do corredor. Ora, qual seria a chance disso estar acontecendo no exato momento de Wallace ter rastreado a proveniência das mensagens?
Vivi precipitou-se para fora e viu uma jovem encapuzada ao final do corredor correndo com uma pasta preta na mão. A porta do quarto ao lado estava escancarada, e no chão, um monte de papéis e canetas... E por algum motivo a garota correndo não havia voltado para os apanhar.
Era óbvio o que Vivi tinha que fazer.
Com cuidado para não tropeçar, a garota travou uma perseguição atrás da moça misteriosa.
Desceu os degraus aos pulos, quase perdendo a fugitiva de vista.
Correu um pouco e chegou à rua. A garota estava apenas a alguns metros de distância, correndo pela calçada...
Ia conseguir a alcançar. Era só esforçar-se um pouco mais.
Quando estava um pouco mais perto da fugitiva, Vivienne pulou em cima da menina, agarrando as pernas dela e fazendo-a levar um belo tombo. A pasta que ela estava carregando caiu no meio da rua.
— Ai! Me solta! — A desconhecida tentou furiosamente chutá-la, mas Vivi imobilizou com sucesso sua oponente. A jovem debateu-se para escapar, inutilmente. — N-Não! Argh...
A fugitiva era uma bela intercambista tailandesa, de cabelo pintado de loiro. Vivi recordava-se de já ter cruzado olhares com ela na faculdade algumas vezes.
Em questão de segundos, Alois e Wallace chegaram.
— O que foi?! Quem é ela? — Wall-E estava bastante desnorteado.
— Hmph, como se você não já soubesse — a tailandesa admitiu sua culpa de maneira grosseira. — Pelamor, alguém pega minha pasta naquele asfalto antes que algum carro passe por cima do meu laptop!
— Dê motivos pra gente fazer isso, sua invasorazinha de privacidade — Vivienne ainda estava por cima dela, encarando-a como um leão observa sua presa.
— Eu confesso tudo, tá bom?! Não é isso que vocês querem?! Mas por favor, peguem meu laptop!
Wallace andou pelo asfalto e pegou a pasta com o laptop. Aquela desconhecida havia tido muita sorte, pois nenhum carro havia passado naquele intervalo de tempo.
— Pode me soltar? Estou sujando minhas roupas nesse chão nojento — falou rispidamente para Vivienne, que pareceu não se importar e continuou a prendendo.
— Qual é o seu nome? — Wallace perguntou.
— Elisa — bufou.
— Você está por trás das mensagens que recebi?
— O que você acha, otário? Que esse escândalo todo pra não me atrasar pra alguma aula? — o jeito rude com o qual ela se dirigia a Wallace denunciava que ela claramente não era uma admiradora secreta. — Assim que vi que vocês estavam prestes a me descobrir, tentei fugir antes que a coisa ficasse feia pro meu lado... Como está agora.
— Por que você fez tudo isso? — Alois questionou.
— Eu até falaria mais, porém não estou numa posição confortável — ela tentou olhar para Vivienne, mas o jeito que a outra garota havia imobilizado-a não permitia muitos movimentos.
— Bom... Realmente não é uma boa posição para se estar no meio da rua — Wallace falou com um pouco de pudor, e Vivienne o atendeu relutantemente levantando a garota. Estava adorando estar daquele jeito.
— Eles me disseram para te assustar caso não você aceitasse a proposta deles — a garota disse para Wallace, ainda exaltada. — Eu tinha que te pressionar psicologicamente, dar uma de stalker intimidante e te fazer sentir o máximo de insegurança que eu pudesse. Depois de mais alguns dias, o pessoal voltaria a entrar em contato contigo para oferecer proteção e afins, e meu trabalho acabaria com uma bela grana no meu bolso. Sabe, eu também sou hacker, mas por algum motivo eles precisavam especificamente das suas habilidades.
— Eles? Eles quem? — Wallace perguntou, mas logo recordou-se das mensagens que havia recebido logo antes dos SMS sinistros começarem a chegar.
“Preciso de um serviço seu. Soube que você é ótimo em roubar informações. Pode me fazer um favor? Eu pago bem.”
— Quem estava atrás dos meus serviços? — perguntou novamente, vendo que Elisa estava hesitante em responder. — Quem te contratou?!
— Foi a Equinox — a garota finalmente cedeu à pressão.
Mas... Estaria ela falando da Equinox Corporation? Se sim, isso significaria que a empresa mais rica do país estava envolvida com negócios ilegais e seus donos estavam dispostos a jogar sujo para eliminar as ameaças. E pelo plano que arquitetaram para forçar Wallace a ajudá-los, dava pra ver que esse pessoal era bastante perigoso.
Um turbilhão de pensamentos passou pela cabeça de Wallace enquanto ele fitava incrédulo Elisa. A hacker estremeceu um pouco e continuou sua confissão.
— Eles me arranjaram um quarto ao lado do seu e também me deram um conjunto de micro-câmeras que coloquei nas suas coisas há mais ou menos uma semana.
— Como você--
— Eu usei seu colega de quarto para entrar lá quando você estivesse fora e as implantar. Não foi difícil manter aquele pateta distraído. — Um momento de silêncio se instalou no ambiente, e Elisa tornou a falar. — Okay, confessei tudo, podem me soltar?
Vivienne riu sarcasticamente do pedido e segurou com força o braço da criminosa.
— Garota, você está encrencada.
Subitamente, uma cotovelada pegou Vivi desprevenida e um simples outro golpe a derrubou no chão. A intercambista avançou em Wallace em seguida, empurrando sobre a barriga do rapaz a pasta que ele mesmo estava segurando -- deixando-o desnorteado por alguns segundos, pois era um movimento totalmente inesperado. Foi exatamente a oportunidade que Elisa precisava para puxar o objeto das mãos dele. Alois tentou impedí-la de fugir, mas no segundo em que se aproximou, a garota bateu a pasta em sua cara e correu atravessando a rua pouco antes de um ônibus passar.
Vivienne levantou-se nesse instante, com alto nível de adrenalina. Pretendia correr atrás da fugitiva, mas Wallace segurou seu braço no momento em que pisou no asfalto para iniciar a perseguição.
— Não, Vivi! Deixa pra lá.
— Me larga! Aquela cadela tem que levar uma surra antes de ser jogada na cadeia!
— Ela já foi embora, e o trânsito na rua está mais movimentado. Você não pode se atirar no meio dos carros assim!
Sentindo-se derrotada, Vivienne respirou fundo e concordou com o amigo. Elisa tinha escapado e nada mais havia de ser feito em relação a ela...
Ah, mas algum dia… Ela vai pagar caro.
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