Depois de fazer suas últimas anotações, Wallace fechou seu livro de “Sistemas de Gerenciamento de Banco de Dados” e tentou lembrar-se das informações mais importantes que tinha aprendido naquela tarde.

Estava conseguindo concentrar-se direito em seus estudos do curso de Ciências da Computação apesar dos eventos bizarros da noite anterior o terem deixado bastante cismado. Ele já tinha estudado durante cinco horas seguidas e agora iria descansar um pouco a cabeça... Trabalhando o corpo. Iria levantar pesos para gastar o resto de sua energia e, quem sabe, ficar com sono.

Já fazia alguns minutos que ele estava exercitando-se quando seu celular tocou. Wallace pôs o peso de lado e levantou-se para atender. Quem estava do outro lado da linha era Vivienne, sua melhor amiga.

— Hey, Vivien.

“E aí, Wall-E? Queria saber se você tem o número do Jean, ele ia me explicar umas leis que não entendi bem e que vão cair numa prova que vai ter amanhã.”

— Não, não tenho. Na verdade nem falo com ele, aquele cara é super grosso com outros garotos. — Com a mão direita, Wallace pegou sua garrafa térmica e deu um gole no chocolate quente que tinha dentro. — Você estudou bem? Como são suas notas na matéria?

“Sim, estudei, e sou ótima nela. Mas quero ajuda do Jean.”

— Bom, conheço uma outra pessoa do seu curso que pode lhe ajudar. Ele é um dos melhores da turma, e-- Espera aí. Você não quer ajuda do Jean por causa daquela amiga ruiva dele, né? Eu vi a maneira que você a encarou ontem no teatro... Vivien, foco nos estudos!

“Não preciso que me digam o que fazer, Wallace.”

— Miga, além de estudar você também trabalha. Se quiser continuar na faculdade, tem que se esforçar. Por favor escute meu conselho...

“Minhas notas estão ótimas, ô chatinho. Te ligo depois. Tchau.”

— Tchau...

Wallace colocou o telefone e a garrafa térmica na mesinha e jogou-se na cama. Fechou os olhos de imediato, finalmente rendendo-se à exaustão.

Estava cansado e começou a pensar em coisas aleatórias, como sua opinião sobre os últimos episódios da segunda temporada de Revenge e algumas teorias de Steven Universo... E aquele chocolate...

Seu celular vibrou.

Mensagem para mim?

Sem sair da cama, Wallace esticou o braço e tentou alcançar seu celular para ler o SMS.

“Preciso de um serviço seu.”

O garoto franziu as sobrancelhas e respondeu rapidamente com um sinal de interrogação. Imediatamente a resposta do número privado chegou.

“Soube que você é ótimo em roubar informações. Pode me fazer um favor? Eu pago bem.”

Não, não, não. Há bastante tempo Wallace havia decidido que não faria mais esse tipo de coisa. Nem se o contratante o pagasse uma quantidade absurda de dinheiro... Infelizmente.

Digitou “não, desculpe” e enviou. Desta vez não recebeu resposta.

O rapaz sempre foi muito habilidoso com informática. Quando era mais novo, algumas pessoas influentes o pediam virtualmente que ele roubasse informações em troca de dinheiro. Conforme foi amadurecendo, Wallace mudou sua forma de ver as coisas e percebeu que fazer aqueles trabalhinhos poderia prejudicar pessoas inocentes. Prometeu para si mesmo que nunca mais os faria.

Wallace fechou os olhos novamente e finalmente já estava conseguindo recuperar o sono... Mas seu celular vibrou de novo. Outra mensagem, desta vez de outro número privado.

“Estou longe. Queria estar perto.”

Hein? Deve ter sido enviada para mim por engano.

Wallace apagou a mensagem e tentou concentrar-se no seu sono, mas recebeu no mesmo instante outro SMS proveniente do mesmo número.

“Que belo casaco branco. Quero um assim.”

Assustado, Wallace olhou para o casaco que estava vestindo e levantou-se bruscamente da cama. Alguém estava observando-o naquele exato momento!

Olhou para os lados e correu para a janela para fechar as cortinas. Será que aquilo era uma ameaça da pessoa que tentou contratá-lo ainda há pouco? Ou aquilo tinha algo a ver com o encontro da noite passada, no Solstice? Será que...

Pegou sua garrafa térmica e bebeu tudo de uma vez. Tenso, foi ao banheiro e lavou o rosto. Voltou para o quarto e começou a andar em círculos, refletindo em como deveria agir numa situação incomum daquelas...

A porta do quarto abriu-se de repente e o colega com quem dividia o cômodo entrou no local.

— E aí, Wallace? — o rapaz perguntou quase sem prestar atenção no outro. — Hoje eu vou para uma festa na casa do Alois Jo. Aquele carinha super rico, sabe? O pai dele é um arquiteto famoso e mãe dele é uma cantora famosíssima.

Na casa do Alois Jo...? Wallace conhecia apenas de vista aquele garoto. Inclusive, tinha o encontrado ainda ontem... Lá no teatro.

— Hey, Wallace. Por que fechou as cortinas? Você nunca faz isso.

— Ah, não sei. Só deu vontade mesmo. Nada demais — tentou não parecer preocupado com as coisas estranhas que estavam ocorrendo e se esforçou para dar um sorriso convincente. — Posso ir com você para essa festa? Preciso mudar de ares.