Dentro do quarto do estudante Fumikage Tokoyami, Katsuki Bakugou, também estudante e colega de classe dele, deixava suas lágrimas caírem ao ouvir os versos finais da música “Children Of The Corn” da banda alemã Sopor Aeternus & The Esemble of Shadows.

“(…) Em uma terra, sublime, que alguns chamam de fantasia,

Nossa única esperança de amor

É a imortalidade.

Não há um pingo de beleza aqui

Habitando na carne humana,

Só há tristeza e confusão,

E o fedor de merda e morte”

Ao mesmo tempo, Katsuki fazia uma cara de espanto ao observar fixamente ao pôster da única integrante, a peculiar Anna-Varney Cantodea, colado em uma das paredes.

— Ela é sinistra, mas as músicas dela são muito foda também! Tokoyami, depois você me passa o link do streaming oficial dela pelo LINE? — Já passou a época que Bakugou referia-se ao outro como “gótico trevoso” ou apenas “trevoso”.

— Opa, já até passei. — respondeu o rapaz, colocando o celular em cima da cama.

— Valeu, agora eu vou mostrar uma banda e acho que você vai gostar. Symphony X, já ouviu falar? — comentou Bakugou.

— Já, mas só de nome mesmo. Você sabe que nunca fui de prestar muito atenção em Prog além do Prog Black Metal, como Mistur, Nemisis Oculta e Lord Almighty. Põe de volta seu fone de ouvido que está plugado no meu adaptador para dois fones aqui no meu celular, porque vou colocar aqui para você meu play favorito deles, o “Paradise Lost”.

Tokoyami colocou novamente os fones de ouvido e ficou com uma boa impressão da introdução, a música instrumental “Oculus ex Inferni”. Em seguida, veio a música favorita de Bakugou, “Set the World on Fire (The Lie of Lies)”. Incrivelmente, ele gostou da melodia com guitarras bem trabalhadas, o baixo cadenciado, os teclados dando ainda mais luminosidade a canção, a bateria frenética e os vocais fortes, bem limpos, mesmo sendo atípico do que costumava ouvir. Ao prestar atenção nas letras para praticar seu inglês, Fumikage começou a entender o porquê esse era um dos álbuns favoritos do colega: era intenso e explosivo como ele, porém tinha seu lado sóbrio. Ao mesmo tempo, em que passou a ter a impressão das letras do álbum terem algo bem familiar e estranhamente encantava-se cada vez mais por ele. Continuou a ouvir o álbum até chegar na faixa homônima dele:

“(…) Olhando para abaixo de um céu etéreo

Lágrimas silenciosas e cristalinas eu choro

Por todos que devem dizer seu último adeus, ao paraíso (…)”

E através da letra dela, Tokoyami perceber o que era exatamente esse algo familiar, as lágrimas de encanto vieram e compartilhou sua descoberta com o colega:

— Essa música, esse álbum fala sobre a Saga de Satanás, descrita nos dois primeiros capítulos de “Paraíso Perdido” de John Milton, né?! Saca isso, “Looking down from ethereal skies”, “Hurld headlong flaming from th’ Ethereal Skie”.

— Sim… eles realmente se inspiraram nesse livro para compor o álbum. — Bakugou ficou impressionado pela coincidência do seu álbum favorito da banda ser baseado no livro épico favorito de Tokoyami.

— Caraca, meu, que foda! Confessa, vai, você fez isso de propósito, né?! — comentou Fumikage, ainda maravilhado pela ótima descoberta.

— Não, foi apenas uma baita coincidência mesmo. — Após a resposta de Katsuki, eles riram um pouco e depois voltaram a ouvir a música. Enquanto ela continuava a rolar, eles olharam um para o outro. Repentinamente os corações deles começaram a bater forte e passaram a reparar em detalhes que nunca repararam no outro antes.

Eles mal poderiam imaginar, mas aquele quarto passaria a ser o local ideal para eles descobrirem novas bandas, novos sentimentos e, mais tarde, passarem a criar a mais bela e única melodia composta por notas de trevas e explosões. A peculiar melodia do amor.