Lena não era do tipo de realmente se importar com comemorações. O trabalho lhe esgotava, quando tinha um tempo livre queria ficar em casa com a namorada usando um blusão e fazendo piadas sem-graça. Emily era um pouco mais supersticiosa, mas também não era tão fã de festas e sabia como a cadete queria descansar e passar um tempo com ela.

E nisso não tinham exceções. Enquanto grande parte do povo de Londres veria a virada do ano perto do Big Ben, as duas estavam no sofá assistindo os jornais que filmavam as famílias ansiosas contando os milissegundos para que o próximo ano chegasse logo.

— Não conseguiria chegar horas antes e acampar só pra ver o relógio bater meia-noite. — comentou enquanto via algumas pessoas sendo entrevistadas. Já havia feito diversas missões perto do Big Ben, sendo que ele também foi um grande alvo na crise ômnica. Sendo nascida em Londres, passar ou não o ano novo esperando o relógio bater já não fazia tanta diferença. Havia se acostumado com a presença dele.

— Tem gente que gosta. — disse Emily enquanto se agarrava na sua cintura e depositava leves selinhos no seu rosto.

Lena não conseguiu conter os seus leves risinhos com o afeto. Emily sempre foi extremamente carinhosa, mesmo quando ainda eram amigas — o que fez o coraçãozinho sapatão da Oxton passar pela boca. Dava abraços, beijinhos na bochecha e fazia carinho no seu cabelo. Quando começaram a namorar e a morar juntas, aí que Lena começou a ter diabetes de fofura. Do nada recebia abraços quando estava cozinhando ou lavando a louça, às vezes sentia a mão da ruiva entrar debaixo do seu blusão para acariciar o seu abdômen e estava sempre recebendo beijos em momentos inesperados. Se existia um anjo na terra, Lena tinha absoluta certeza de que era ela.

— É porque essas pessoas não tem a melhor namorada do mundo. — disse com um sorriso idiota no rosto enquanto acariciava as madeixas ruivas, fazendo as suas bochechas ficarem meio avermelhadas.

Emily disse um breve "eu te amo" antes de dar um último selinho em seus lábios e se levantar animada, fazendo com que Lena ficasse extremamente confusa.

— Os fogos-de-artifício. — explicou quando viu o desentendimento em seu rosto. — Podemos ver melhor da janela do quarto.

Antes que a aventureira pudesse dizer qualquer coisa, a namorada a puxou pela mão para que se levantasse (Emily tinha mais força do que aparentava) e a guiou pelo corredor do apartamento com passos curtos e lentos pela preguiça. Quando entrou no quarto, não se deu o trabalho de acender as luzes ou algo do tipo, apenas foi até a janela e puxou as cortinas sem falar nada, deixando Lena sentada na cama a observando. Não tinha uma coisa naquela mulher que não amasse. Desde as sardas até o mindinho do pé torto; não existia pessoa mais fascinante aos olhos da ex agente da overwatch.

— Você está me olhando estranho de novo. — Lena piscou algumas vezes e notou que Emily a encarava por cima do ombro, logo gesticulando com a cabeça para que fosse até o seu lado ao ver que tinha conseguido a sua atenção.

De inicio não tinha muito o que se olhar, mas então as pessoas começaram a gritar alto a contagem regressiva para o fim do ano. Era tudo em perfeita harmonia com os ponteiros. Mesmo que não gostasse de participar, era impossível negar o espetáculo; pessoas que robôs, todos juntos em completa paz.

10... 9....

— Ei. — Emily a chamou num tom baixo, quase um sussurro, enquanto deitava a cabeça no seu ombro.

7... 6...

— É o nosso primeiro ano novo juntas...

5... 4...

— Como um casal... — e com o risinho bobo que escapou dos seus lábios, o coração de Lena disparou.

3... 2... 1...

E junto dos seus pensamentos, os fogos dispararam nos céus. Enquanto as cores fortes coloriam o céu escuro, Lena pensou como era incrível estar passando o final do ano com a sua namorada. Não conseguia explicar a sensação que sentia, era algo simplesmente fantástico. Mesmo que as comemorações que passou com seus antigos companheiros e amigos tivessem sido incríveis, nada conseguiria chegar no nível daquilo.

Estava feliz.

É, isso a descrevia bem naquele momento. Estava puramente feliz.

Sem pensar duas vezes, puxou Emily para um apertado abraço, daqueles que se dava em alguém quatro ou cinco vezes na vida; como se alguém fosse tirá-la de perto de si a qualquer instante. De início, a ruiva ficou surpresa e não soube como reagir, mas então o seu abraço foi retribuído na mesma intensidade, como se tivesse lido os seus pensamentos.

Lena não tinha como saber o que o futuro guardava, mas torcia para que ainda fosse ver muitos fogos-de-artifício com a mulher mais incrível que conhecia e que tinha muito orgulho em dizer que amava.