Moiras escrita por Lucca


Capítulo 16
Amigos


Notas iniciais do capítulo

Escrito no churrasco ao som do karaokê, o assunto não podia ser diferente: amigos. Muitas vezes, eles nos valem mais que família. E Jeller tem os melhores amigos que se pode querer. Então, um pouquinhos deles pra todos nós.



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Eram cerca de 2 pm e Weller dedicava grande esforço em preparar uma refeição rápida e nutritiva com o maior silêncio possível. Essa era sua terceira tentativa desde àquela manhã, mas se Jane acordasse tudo estaria perdido de novo. Mas nem mesmo sua concentração tirava o sorriso de seu rosto.

“Como ela pode não sentir fome depois de tanto tempo e tanto esforço físico?”— pensava e sorria, mas a resposta para essa pergunta lhe veio quebrando seu coração. Se lembrou do tempo que ela teve que resistir sem comida ou sem água no black site da CIA. Imaginou quantas vezes a pequena Alice também teve que se habituar à uma alimentação precária ou a ausência total dela. Ele sacudiu a cabeça procurando dispersar seus pensamentos:

“Ela está aqui agora e não precisa de piedade sobre seu passado. Alimentar isso é o primeiro passo pra perder Jane. Nosso presente é o que importa, e vou fazer de tudo para cada segundo valer a pena. Momentos felizes hoje que se relembraremos no futuro. É isso.”

Seus pensamentos foram interrompidos pelo som da notificação em seu celular que estava no quarto:

“Merda! Não acredito que esqueci o celular no quarto”

— Kurt, posso ver de que se trata?

— Claro, amor. “Melhor acelerar aqui”

Ela veio até a cozinha e se debruçou sobre o balcão para um beijo:

— Bom dia, Kurt!

— BOA TARDE, Jane.

—Nossa, esse cheiro está muito bom!

— E eu espero que o sabor esteja melhor ainda. Só preciso de mais um minuto.

— A mensagem era do Reade. Ele disse que encontrou um de seus whiskys preferidos lá em Oklahoma e que isso merece uma reunião.

— Acho uma ótima ideia. Faz tempo que não reunimos aqui em casa.

“Olá, Reade, é a Jane, achamos uma ótima ideia.”— Uou... ele quer saber se pode ser hoje à noite...

Weller levantou as sobrancelhas:

— O que você acha?

Jane olhou para a ilustração que tinha produzido com o contrato Jeller disposto de forma central.

— Cláusula 4.

Ele riu.

— Amanhã?

— Bem melhor!

“Amanhã.” _ ela digitou e enviou a mensagem.

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— Eles responderam amanhã. _ Reade informou

— Não pode ser amanhã. Tem que ser hoje! _ disse Tasha.

— E vocês querendo chegar lá de surpresa, eu disse que não era uma boa ideia._ Patteson sequer tentou conter as insinuações faciais.

— Por favor, pessoal, vocês precisam me ajudar nessa.

—Eu fiz o que podia, Zapata.

— E se nós os atrairmos para fora, aqui para o SIOC? Podemos fingir uma crise, algum tipo de perigo nacional...

— Patterson, você quer que eu traga Roman aqui?

— Verdade...esqueci desse detalhe. Mas precisamos de uma estratégia logo, preciso de algum tempo de antecedência para avisar o Rich.

Tasha não escondeu seu descontentamento:

— Ele só vai irritar todo mundo, especialmente Weller.

— Nossa primeira reunião depois de tudo que aconteceu precisa de algo divertido, Tasha. _ Reade completou.

— Pessoal, eu garanto que vou arrancar lágrimas de todos vocês.

— Conta logo, Patterson. O que você tá tramando?

— Hoje à noite, Tasha. Se você quer tanto saber, foco numa estratégia capaz de separar os corpos de Kurt e Jane por algumas horas.

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Às 7 pm, foi a vez do celular de Jane tocar. Ela estava embaixo de Kurt no sofá, eles se entreolharam um acordo claro: ignorar. Dois minutos depois tocou novamente. E continuou tocando repetidas vezes. Jane estendeu a mão até a mesa de centro onde o celular estava e inclinou o visor para ver de quem se tratava. Sua reação foi imediata, tentando se sentar para atender:

— É a Patterson._ e atendeu_ Oi, Patt.

— Jane _ o tom de voz da amiga já deixou Jane em alerta _  desculpa te incomodar, mas temos problemas...

— O que aconteceu?

— Zapata se meteu numa confusão danada. Ai, eu não posso falar por telefone, mas temos que conversar pessoalmente.

— Claro! Você está o SIOC? Nós chegamos logo.

— Não, Jane! Não é seguro falarmos daqui. Eu levo ela até sua casa. Pode ser? Ai, Jane, me desculpa por estragar a folga de vocês...

— Patterson, não se preocupe conosco, venham o quanto antes. _ e desligou.

— O que aconteceu?_ Kurt perguntou aflito.

— Algum problema com Tasha, sem maiores detalhes. Elas estão vindo pra cá.

— Ok...Vamos dar um jeito em tudo aqui, então, antes delas chegarem. _ e a abraçou _ parabéns por sua determinação em manter a cláusula 4, Sra. Weller.

— Kurt, é nossa família...

— Eu concordo plenamente com você._ e riu _ mas não resisti à ironia da autora ser a própria contraventora da regra.

— Oh, então agora eu sou a vilã da história? _ e deu um selinho nele _ Se é assim, você é meu partner in crime.

Foi a desculpa perfeita para um novo beijo. Mas esse não se estendeu como todos os outros daquele dia. Tasha precisava de ajuda e esse era o foco agora.

Cerca de 40 minutos depois, a campanhia tocou e “los três amigos” entraram procurando manter a seriedade em seus rostos. Weller foi o primeiro a questioná-los:

— Então, o que aconteceu?

— São quatro pontos, Weller. Nós vamos tentar ser claros. _ Reade começou. _ O primeiro é esse aqui. _ e colocou a garrafa de whisky sobre a mesa de centro.

Jane e Kurt se entreolharam tentando entender a situação. A campainha tocou novamente.

— Eu atendo! _ Tasha foi até a porta. _ Esse é o segundo ponto. _ deu espaço para que Roman entrasse.

— Oi _ ele evitou olhar diretamente pra eles, pois temia a reação de Weller.

Jane atravessou a sala em dois passou. Sua vontade era se lançar num abraçou caloroso e demorado com seu irmão. Mas ela parou assim que estava a centímetros dele. Os últimos encontros foram tumultuados e ela ainda não compreendia porque Roman estava ali:

— Oi, oi. Que bom que você está aqui. Venha, sente-se conosco. _ sua voz estava totalmente tomada pela emoção.

— Sem um abraço?

Não foi preciso mais nada para que Jane se lançasse nos braços dele. As lágrimas corriam por seu rosto. Foi então que ela se lembrou do motivo da reunião e tentou recuperar o controle.

— Hoje era o único dia que podíamos vir até vocês. Estamos numa investigação complicada. _ Tasha informou.

— Teria sido bem mais fácil se vocês tivessem aceitado o whisky de primeira. _ Reade completou.

Kurt e Jane respiraram aliviados. Roman estendeu a mão para Weller.

— Olá, Weller.

Todos os olhares se voltaram para Kurt. Todos ali compreendiam seus motivos para hostilizar Roman: morte de Emma, as nova tattos de Jane, mas a expectativa de que os dois buscassem um entendimento especialmente agora era grande.

Weller retribuiu o gesto: _ Olá, Roman. Junte-se a nós.

Apesar do clima não desaparecer por completo, ficou claro que os dois se empenhariam em superar suas diferenças por Jane que se deixou dominar pela alegria do momento:

— Vou pegar os copos e alguns petiscos!

Roman se acomodou ao lado de Tasha. Ele se sentia mais seguro ao lado dela. A campainha tocou novamente. Tasha bufou. Jane foi até a porta e explodiu com a surpresa:

— Rich!!!!!!

— Olá, Goddes! Pode me abraçar, sei o quanto sentiu minha falta._ após o abraço, se virou para Kurt _Stubble, é ótimo estar de volta ao seu apartamento. Espero receber mais carinho dessa vez._ depositou uma pequena caixa sobre a mesa.

Weller olhou indagativamente para o team.

— Terceiro ponto. _Patterson esclareceu_ Rich estava transformando minha vida num inferno desde que Jane saiu do hospital.

— OMG! Eu fico tão excitado por estar na casa do meu casal favorito. Bem, de certa forma eu colaborei pra que tudo isso acontecesse. Percebi a química entre vocês desde nosso primeiro encontro. Temos uma história tão linda juntos._ aqui ele mudou seu tom_  Confesso que ainda estou magoado por não ter sido convidado para o casamento. Aliás, boa parte dos fãs de vocês dois estão. Mas enfim, eu trouxe... _ interrompeu sua matraca assim que colocou os olhos sobre Roman _ Ei, ei , ei. Parem tudo! O que temos aqui. _ correu o corpo todo de Roman com os olhos _ Quem é esse deus grego? Acho que ainda não fomos apresentados: Rich DotCom, hacker, divertido e muito aberto a novas experiências.

Roman ficou sem ação. Aquilo era muito estranho pra ele. Jane e Tasha se posicionaram temendo que tudo evoluíssem para um grave desentendimento rapidamente.

—Rich, se você não calar a boca, eu mesma vou aí calar. _ Tasha estava tentando se conter desde o momento em que o olhar de Rich correu o corpo de Roman. “Inconveniente e abusado! Será que ele não pode perceber que temos que acolher Roman?” Ela estava realmente incomodada com aquilo.

— Roman, esse é Rich, um colaborador do FBI. Rich, esse é meu irmão Roman.

— Colaborador? Por favor, Jane, assim você destrói meu coração. Eu sou parte dessa família! Sei que Weller não gosta muito de falar de nosso curto relacionamento..._ Weller remexeu-se desconfortavelmente. _ E, falando em família, abençoados os genes que formaram vocês dois. Cara, você é um deus a altura de sua irmã. Tudo isso é tão excitante, estou na casa de vocês e... Nossa, diante do novo deus grego eu até me esqueci de continuar. O assunto era o casamento para o qual eu não fui convidado _ Kurt e Jane se entreolharam _ Para mostrar que eu não guardo rancor, trouxe um presentinho. _ e ofereceu a caixinha para o casal.

Jane se desmanchou:

— Que doce, Rich. Realmente não era necessário. Sentimos tanto por não tê-lo convidado. _ ela foi falando enquanto abria a caixa. Quando retirou o objeto da caixa, todos tentavam conter o riso e o constrangimento. _ Nossa, é tão...

— Rich, o que é isso?_ Weller estava surpreso e zangado ao mesmo tempo.

— Isso, Stubble, é uma obra de arte, uma escultura caríssima trazida da Polinésia. Vocês mereciam uma peça única! Não poupei esforços nem dinheiro para consegui-la.

Tasha se serviu de whisky lançando um olhar de “eu avisei" para Patterson, Reade estava quase cedendo ao riso, Roman não entendia nada e Patterson se divertia com tudo. Weller coçou o pescoço procurando se tranquilizar para conduzir aquilo da forma mais civilizada possível.Então disse:

— Rich, sua visão de arte é bem...particular.

— Stubble, você precisa compreender melhor a pluralidade cultural do mundo. Seu olhar está muito focado nos parâmetros ocidentais. Esculturas fálicas remetem à ancestralidades tão remotas quanto à espiritualidade e foram fundamentais para o desenvolvimento da dimensão criativa humana. É claro que podemos explorar seu cárater simbólico também. Nesse sentido temos uma verdadeira ponte conceitual entre artes, técnicas e as ciências humanas. E aqui, nessa pequena obra de arte, temos uma representação fálica dupla! Um convite à compreensão da pluralidade_ nesse momento, Rich colocou um braço em Kurt e outro em Jane_  famílias não precisam seguir o padrão convencional. Podem estar abertas à relacionamentos mais amplos...

— Chega, Rich! _ Weller sabia muito bem onde isso chegaria e fez questão de soltar as mãos do hacker de Jane que só conseguia se divertir com aquilo.

— Nossa! Quanta conhecimento num único presente. _ ela não conseguia conter o riso ao olhar para a escultura, então a depositou sobre o aparador.

— Para os casais mais limitados quanto a verdadeira compreensão da sexualidade_ e olhou provocativamente para Weller _ uma representação fálica dupla também pode demonstrar a igualdade entre as partes numa relação heteroafetiva. É assim que eu vejo vocês dois, como iguais, tão humanos e tão divinos!

Weller não respondeu. Era melhor ele não buscar quaisquer palavras para aquele momento.

— Rich, estamos realmente gratos por seu carinho. Obrigada._ Jane resolveu amenizar a situação sendo doce com o convidado.

— Só mais um detalhe, Janie, temos uma clara referência aí à fertilidade. Espero que vocês dois estejam praticando para nos dar os bebês mais lindos que essa família merece.

Ao impacto das palavras de Rich, todos se mobilizaram. O rosto de Jane se transformou, assumindo uma tristeza que não podia ser disfarçada. Weller a envolveu por trás num abraço procurando oferecer conforto. O team todo correu ao socorro da situação:

— Você conseguiu ser mais inconveniente do que eu podia prever, Rich! Devia ter calado a boca enquanto podia._ Tasha rosnou.

Rich tentou entender os olhares de reprovação:

— Acho que tem algo mais além do casamento que não foi compartilhado comigo.

— Estamos todos aqui, vamos procurar nos divertir. _ Weller tentou reconduzir o encontro.

—Bem, eu adoro arte e achei esse aspecto relacionado à fertilidade bem conveniente. _ Patterson comentou chocando a todos.

Reade deixou sua cabeça cair entre as mãos.

— Patterson, você não disse isso...

— Sim, eu disse. Foi por isso que eu quis tanto essa reunião. _ ela retirou um envelope do bolso, entregou a Jane e deu um beijo em seu rosto.

— O que é isso?_ a morena perguntou a amiga.

— Quarto e último ponto. Abra e veja.

Jane estava trêmula. Não era do perfil de Patterson fazer brincadeiras com coisas sérias.

— Eu estava muito preocupada com sua saúde. Então pedi autorização à Weller pra colher novas amostras de sangue enquanto você estava em coma para mensurar a quantidade de substancia radioativa no seu organismo. Os processos são demorados e, quando o resultado chegou, achei melhor repetir mais duas vezes para ter absoluta certeza. Logo, é super confiável.

Jane abriu o envelope e tentou compreender os resultados apresentados:

— Os índices diminuíram... _ Jane disse quase sem acreditar.

—  Sim, eles estão totalmente normais.

— Eu não sabia que isso podia acontecer._ Jane entregou os resultados para Weller.

— Na verdade, isso não deveria ter acontecido. Foi algo inédito até agora. Os testes apontam para uma conjunção de fatores. Bom, para simplificar, o ZIP foi muito relevante para isso. Ele funcionou como um bloqueador que impediu os isótopos radioativos de se fixarem no seu organismo e, ao longo desses quase dois anos, eles foram sendo eliminados._ Patterson concluiu.

Nesse momento, Weller já estava totalmente agarrado à Jane e interrompeu:

— Patterson, isso quer dizer que não precisamos mais nos preocupar com a saúde de Jane?

— Com certeza, mas não é só isso. _ Patterson olhou para a escultura de Rich, era tão cômico, mas tão apropriado naquele momento. _ Se vocês quiserem e quando vocês quiserem, podem ter uma gestação segura: fertilidade!

Jane se virou apertando seu corpo contra Kurt. Ele fechou os olhos e beijou o topo de sua cabeça, sem tentar conter as lágrimas. Ela não conseguia definir o que estava sentindo. Era algo tão forte, mas tudo veio tão rápido, que apenas se entregou a gratidão que sentia.

Rich não se conteve:

— É incrível como estou conectado à eles. _ visivelmente emocionado, tornou o abraço triplo.

— Ok, Rich, pode nos soltar agora._Weller afastou as mãos do hacker que agora estavam praticamente no bumbum de Jane. _ Isso merece um brinde!


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