Moiras escrita por Lucca


Capítulo 14
Recuperação


Notas iniciais do capítulo

Essa ideia era pra ser mais sintética, mas quando foi para o papel, rendeu mais. Então, fechei o capítulo apenas nos aspectos da recuperação. Para o próximo, prometo ter mais interação com os outros personagens.



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Retornar para a rotina em casa exigiu uma conversa e acertos que resultaram na elaboração de um “contrato” entre Kurt e Jane:

Estamos juntos nessa e nos comprometemos a dizer ao outro tudo o que estamos sentindo, inclusive nossas aflições e medos, para encontrarmos uma saída unidos.

Quando um de nós estiver ferido, deve aceitar a ajuda do outro para não complicar seu ferimento. Amar é também cuidar e aceitar ser cuidado.

Os dois se comprometem em dispensar grande esforço no autocontrole durante o período de recuperação para não cometermos nenhum “excesso” antes da liberação médica.

Nos comprometemos com uma entrega total um ao outro durante um dia inteiro após maldita liberação médica. Nada de “salvar o mundo” nesse dia!

A trajetória da redação tinha sido complicada, mas foi muito mais difícil colocar aquilo em prática. O primeiro obstáculo foi no primeiro banho:

—Kurt, eu realmente acho que posso fazer isso sozinha.

Ele respirou fundo:

—Eu tenho certeza que você acha isso. E eu acho que talvez você esteja certa. Mas eu não quero e não posso arriscar.

Jane concordou um pouco sem jeito. Senti-lo despindo suas roupas era algo que ela desejou tanto durante a separação. Mas se sentir fragilizada ou dependente dele não era agradável.

Os dois tentaram encadear um diálogo casual sobre a temperatura da água e a decoração do banheiro, e evitavam ao máximo a troca de olhares. Enquanto ele a ajudava a se vestir novamente, percebeu que seu olhar se fixava no volume abaixo de suas calças e ficou nitidamente encabulado:

— An... eu juro que estou fazendo tudo pra me controlar, mas... seu cheiro e, por Deus, Jane, como você é linda!

Ela sorriu maliciosamente e estendeu sua mão ao rosto dele:

— Kurt, é muito bom ver que você ainda me deseja depois de tudo... Pode não estar visível, mas você não imagina o quanto é intenso o que estou sentindo por você estar me tocando.

Ele riu:

— Mas nós temos um acordo, então melhor buscarmos algo que nos distraía. Você sabe o quanto isso pode sair do controle e essa conversa está me enlouquecendo.

— Bem... _ ela riu com ele da situação _ que tal isso: Eu sei que não me lembro de muita coisa da minha vida..._riu novamente_ quase nada, mas eu tenho certeza que nunca antes alguém cuidou de mim da forma como você faz. Obrigada.

Ele a envolveu da forma mais cuidadosa que podia e beijou suavemente seus lábios.

— Quando os médicos te liberarem, prometo que compensaremos cada segundo.

Nos dias seguintes, muitas vezes os dois tiverem que relembrar as cláusulas do “contrato”. O diálogo e o carinho foram transformando as limitações em momentos divertidos e aumentando o desejo de uma forma imensurável.

No início da segunda semana, Kurt precisou voltar ao trabalho. Obviamente Jane se ofereceu para acompanhá-lo ao escritório, mas recebeu um enfático não. O apartamento era um ambiente mais seguro e controlado para a recuperação dela.

Dois dias depois ele já se arrependia amargamente de sua decisão. Ficar sozinha e entediada em casa não era coisa para Jane, era perceptível o quanto isso a irritava. Após o jantar, ele admitiu seu erro:

— Jane, estamos num caso que envolve o consulado búlgaro e pensei que talvez você possa ir até o SIOC nos ajudar amanhã.

Os olhos dela se iluminaram:

— Claro que eu posso. Eu juro que estou bem, Kurt... _ então ela pareceu desconfiada _ Você está me oferecendo a oportunidade de voltar ao trabalho... o que tem por trás disso?

Ele se divertiu com a empolgação e desconfiança dela:

— Vamos com calma. Não estou falando de “volta ao trabalho”, não ainda. Estou pedindo ajuda com traduções. De forma alguma isso inclui trabalho de campo. Se você concordar com essa regra sem que seja necessário um “contrato de trabalho” por escrito, vou ficar feliz em te ver de volta ao SIOC. Você parece uma leoa enjaulada nesse apartamento.

Ela se aproximou e o beijou:

— Obrigada, Kurt. Você não faz ideia do quanto isso me fará bem.

Os dias se seguiram de forma bem previsível. Jane estava muito mais feliz após a volta ao trabalho e, obviamente, não se manteve apenas nas traduções. No laboratório de Patterson, nos interrogatórios, na sala de provas ela participou ativamente das investigações e suas contribuições foram decisivas nos casos em andamento. O trabalho de campo foi evitado sem que Weller precisasse intervir. Ela conhecia bem os limites de seu marido e sabia que a desrespeito a essa regra significaria voltar a ficar em casa.

Finalmente chegou o dia da reavaliação médica. A consulta seria às 9 am. Os dois foram juntos para o trabalho no horário normal, já que o acompanhamento era feito no hospital último andar do NYO. Por volta das 8 am , Hirst convocou Weller para uma reunião de emergência junto aos dirigentes da U.S. Marshall.

— Jane, eu vou fazer de tudo pra voltar a tempo.

Ela sorriu porque sabia que isso era impossível:

— Por favor, Kurt, não se cobre por isso. Eu posso muito bem ir a essa consulta sozinha. O que eu não posso é ficar sem você em casa hoje após o trabalho. _ e piscou maliciosamente pra ele.

—Eu tenho a mulher mais maravilhosa do mundo, sabia? _ ele disse enquanto se aproximava para beijá-la.

A consulta indicou o que Jane já previa: o ferimento estava cicatrizado, o osso colado e ela estava livre daquela tipoia. Seriam necessárias algumas sessões de fisioterapia para liberá-la para o trabalho de campo, mas era alta total para todo o resto.

—Sra. Weller, acho que deveria iniciar a fisioterapia ainda hoje. Aqui na agenda do hospital temos um horário vago daqui 15 minutos com nosso melhor fisioterapeuta. Vou ligar pra ele, dando os detalhes do seu caso.

—Sim, concordo. O quanto antes melhor.

Na ala de fisioterapia, Jane enfrentou mais dificuldade do que imaginava. Era incrível como seu braço estava sensível e com a mobilidade reduzida. Realmente o profissional que a atendeu era bom. Iniciaram com uma conversa que definiu o tempo das sessões e esquemas de exercícios para casa. A reabilitação começou com uma drenagem linfática para estimular a circulação. Depois, Airon acompanhou de perto cada sequencia de exercícios, contendo o excesso de esforço de Jane e sendo sempre muito prestativo. Ele estava fascinado com a determinação que ela dedicou àquela sessão que, geralmente, é a mais difícil.

A reunião de Kurt terminou por volta das 11 am, ele literalmente voou de volta ao SIOC. Como não encontrou Jane, enviou uma mensagem e descobriu que ela estava na fisioterapia. Ele foi imediatamente pra lá. A sala possuía uma parede de vidro que possibilitou observá-la durante o exercício.

Airon estava sentado atrás de Jane, ajudando-a com os movimentos.

“Em que momento da história os fisioterapeutas se tornaram tão grandes e sarados como esse daí?” _ foi o primeiro pensamento de Weller. Ver aquele cara tão encostado em Jane despertou uma sensação que ele não sentia há tempos: ciúmes.

Quando os dois se viraram ao final da sequência de repetição, Jane avistou Kurt do outro lado do vidro. Um sorriso incrível inundou seu rosto e isso não passou despercebido por Airon:

—Você o conhece?

—É meu marido!

—Ele pode entrar, se você quiser.

— Eu quero, quero muito!

Airon fez o possível para disfarçar seu descontentamento com a clara demonstração de amor de Jane. Muitas pacientes com aliança já tinham passado por seu consultório e mesmo assim demonstravam interesse por ele. Mas justo aquela mulher tão linda e forte, que estava em sua companhia ha quase duas horas, era decididamente apaixonada por seu marido. Uma pena!

Quando os olhos de Jane encontraram os de Kurt, mesmo através do vidro, todo o ciúmes que o incomodava desapareceu. Ele mergulhou naquele verde intenso que lhe trazia uma paz e segurança que nunca outro olhar foi capaz.

“Você me têm nas mãos, Jane. Ou melhor, nos olhos!”— ele pensou enquanto abria a porta se dirigia a ela.

Jane se levantou imediatamente e correu pra ele, colocando os braços ao redor de seu pescoço:

— Assistente de Direção Kurt Weller, estou de alta! Olha só, nada de tipoia.

Ele a beijou discretamente e disse:

— Isso é bom!_ e envolveu as mãos intencionalmente ao redor de sua cintura.

— Na verdade, ela ainda não está liberada para o trabalho de campo. Bom dia, sou Airon Anderson, sou o fisioterapeuta de Jane. _ e estendeu a mão para Weller.

— Acredite, Airon, ele ainda não me liberaria para o trabalho de campo nem com aval seu e da médica. _ Jane interveio.

Kurt liberou apenas a mão direita para cumprimentá-lo:

— Kurt Weller, marido de Jane Weller. Eu pretendo acompanhá-la sempre que possível nas próximas sessões de fisioterapia.

— Tudo bem. _ mas algo em seu rosto não confirmava sua fala. _ Bem, Jane, acho que terminamos por hoje.

— Muito obrigada, Airon. Até terça, então.

Ele concordou com a cabeça.

Kurt não retirou as mãos de Jane durante todo o trajeto até o SIOC. Na verdade, ele não sentia vontade de retirar as mãos dela nunca mais.


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