As primeiras semanas foram incríveis. Muito mais perfeito do que qualquer sonho de Jane. Ela duvidava que já tinha experimentado tamanha felicidade na vida. Com certeza não tinha, nenhum zip seria capaz de apagar aquilo! O cotidiano ganhou um novo tom. Comer, trabalhar, voltar pra casa, dormir... Kurt dizia estar preocupado porque os dois não dormiam o suficiente, mas ela não dormia tão bem desde que saiu daquela bolsa na Times Square.

Jane até se esqueceu de seus pesadelos. Naqueles dias ela até duvidava que voltariam... Mas voltaram, eram mais amenos e sua reação também, afinal até seu inconsciente sabia que Kurt estava ali por ela. Então, quando um pesadelo interrompia seu sono, Jane envolvia-se nele mais e mais e o sono voltava porque ela sabia que estava segura e não estava mais sozinha.

A maioria desses pesadelos trazia Roman. A dor de sua perda incomodaria sempre, ela sabia. Era preciso aprender a lidar com essa dor. Muitas vezes Jane não sabia mais o que deseja: encontra-lo para poder buscar alguma forma de tratamento que pudesse ensiná-lo a se controlar? Esse era um grande sonho, mas ela temia que a CIA ou a NSA o tomassem. Não. Ela nunca poderia deixar que isso acontecesse. Roman não se recuperaria. Ele precisava de apoio e não de tortura. Será que o sistema penal ofereceria a ele tratamento adequado ou apenas o submeteriam a procedimentos violentos?

Roman tinha desaparecido completamente. Nenhuma pista remota de seu paradeiro foi encontrada. “Tasha parecia obcecada por isso. Talvez seja melhor assim. Talvez ele esteja bem. Talvez longe de problemas, longe de novos planos terroristas. Ele conviveu por algum tempo com o team, pode ter percebido que existem outras possibilidades e pessoas que valem a pena”, é o que Jane pensava. “Talvez ele esteja buscando a si mesmo, procurando se curar sozinho.” Sem ela...

Então, após um dia muito difícil no trabalho no qual Tasha ficou desaparecida por horas e voltou estranhamente calada, Jane teve seu mais tenebroso pesadelo. Ao acordar, ela não conseguia se aconchegar em Kurt, era como se todo o horror que aconteceu em sua cabeça não tivesse acabado. O quarto ao seu redor parecia estranho, ela parecia estranha. De repente, ela não estava mais na cama, estava sentada no chão do outro lado do quarto, sentindo  o frio correr todo seu corpo quase nu e coberto de suor.

Kurt acordou imediatamente e se sentou em frente a ela, chamando seu nome. Delicadamente, ele pegou uma de suas mãos e afagou:

— Jane, eu estou aqui. Bem aqui, com você. Nós estamos nisso juntos, lembra?_ e colocou sua outra mão sobre seu peito.

—Eu te acordei...

—Não tem problema, eu estou aqui pra você e você pra mim...

Aos pouco os olhos dela encontraram os dele. As lágrimas escorreram por seu rosto e ela se jogou em seu abraço. Ali ela podia sentir tudo de volta: seu paraíso estava ali, nele.

Após embalá-la um pouco, Kurt disse:

— Quando você estiver pronta pra falar sobre isso, estou aqui.

Ela se afastou um pouco de seu peito, buscou seus olhos e tocou seu rosto:

—Eu sei_ e se esforçou dar um pequeno sorriso_é só um monte de cenas, pessoas, vozes desconexas. Nenhuma delas parece assustadora pra eu demonstrar... mas tudo ali junto, as sensações..._ as lágrimas voltam._ Me desculpe, Kurt,eu não consigo...

—Jane, você não precisa se desculpar... Você passou por muita coisa. Nós passamos por muita coisa...

—Eu te amo...

—Eu também te amo! Sempre.

E ela buscou seus lábios de uma forma única, não era apenas desejo ou amor, era uma busca desesperada por proteção. A mesma proteção que ele lhe ofereceu quando seu mundo desabou após o ataque da Sandstorm ao SIOC. Kurt não precisava de palavras, ele a entendia e sabia como estar com ela naquele momento.