I Have Questions escrita por aliceweller


Capítulo 1
One Shot




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Passava das 10am, eu tinha me acostumado com essa vida de não ter hora pra dormir ou acordar. Dormir era um dos meus poucos prazeres. Quando tudo acabou eu achei que o meu lugar fosse com ele, chegamos a noivar, estávamos prontos para nos casar. Mas eu percebi que precisava de um tempo para mim. Tudo estava ligado no piloto automático. Levantávamos 6am, ia para o parque correr, passávamos no mesmo café, voltava pra casa, tomávamos o nosso banho, íamos para o bureau. Era isso. Nada diferente. A gente apenas saia da rotina em caso de alguma missão disfarçados. Isso estava me sufocando. Por mais que amasse ele com todo meu coração, e ainda amo, apesar da distância, apesar da falta de notícias eu realmente queria estar com ele, queria encontrar com ele algum dia. Já fazia um ano desde que eu fui e deixei apenas uma carta. A única que sabia da minha partida era Patterson, precisava que alguém soubesse para me ajudar com os papéis. Também desde o início ela esteve comigo, e eu com ela. Vivemos bons e maus momentos juntas. Então eu sabia que poderia contar com ela, e com o seu apoio. Ficava me perguntando se ela tinha contado para o Kurt sobre ter me ajudado. Apesar de saber da fidelidade Dela com ele, eu sabia que ele ficaria muito bravo. Então eu realmente tenho dúvidas se ela tinha contado pra ele. Tudo começou em uma quarta feira, depois de cumprimos a nossa rotina matinal chegamos ao bureau, entrei na locker room e tive uma sensação de sufocamento, como se alguém estivesse apertando o meu pescoço com as duas mãos muito forte. Eu tirei as duas camadas de blusa que vestia, mas a sensação não passava. Patterson chegou bem na hora e me ajudou a acalmar. Quando eu estava me sentindo mais calma ela me levou para dar uma volta na rua e conversamos. Contei como estava me sentindo e a minha vontade de largar tudo e começar do 0. A princípio ela disse que era loucura, mas nos aproximamos muito e com as nossas conversas ela percebeu que talvez me faria bem dar esse tempo. Então começamos a procurar cidades pequenas, que fosse próximo de NY, para que ela pudesse me visitar e para caso eu mudasse de ideia ser mais fácil voltar. Me apaixonei por Corning, é cidade bem pequena a mais ou menos 4 horas de NY, o que é não tão longe, mas também não é tão perto. Pensei que em caso de algum surto teria o tempo suficiente de mudar de ideia no caminho antes de procurar o Kurt. Eu tinha um bom dinheiro guardado, quando a sandstorm acabou ganhamos uma gratificação bem generosa, eu não tinha tocado em nem um centavo até chegar em Corning. Mesmo tendo dinheiro trabalhei por alguns meses na recepção de um dos Museus da cidade. Conheci algumas pessoas foi realmente um tempo bom. E já fazia pouco mais de um mês que eu parei de trabalhar lá. Desde então eu vivia lendo romances, assistindo filmes, comendo e dormindo. Nada mal. Mas então eu passei a sentir saudades da minha casa, da minha NY, dos meus amigos, do meu Kurt. Eu sei que eu não poderia simplesmente voltar pra vida deles como se nada tivesse acontecido, como se não tivesse passado um ano inteiro. E eu estava adiando a minha volta a muito tempo. Ouvi a campainha tocando. Sai da cama para atender.

 - Jane, você tá ai? - ouvi a voz dela do lado de fora.

 - Patterson! - abri a porta e pulei no seu abraço.

— Jane, que saudades. Desculpa ficar um tempo sem aparecer por aqui, mas você sabe como é. Você deveria se render ao celular logo - ela disse sentando-se à mesa e colocando algumas sacolas que ela tinha trago.

 - Já pensei algumas vezes, mas sempre acabo deixando pra depois - disse enquanto ajudava ela a desfazer as sacolas.

 - Trouxe algumas coisas pra gente tomar café e ter uma conversa. Senti um tom preocupado em sua voz, mas ela estava tranquila então não quis criar paranoias.

— Vou prepara café enquanto você organiza aí - joguei duas cestas pra ela colocar os pães e biscoitos que ela havia levado.

 - A quantas andam suas maratonas na netflix? - ela perguntou com humor.

 - Sabe como é né, ainda tem bastante coisa por lá, então pretendo manter esse meu trabalho por mais um tempo.

 - Então, justamente sobre trabalho que eu vim falar com você... - ela se virou pra mim e nossos olhares se encontraram.

— Você tem alguma série nova para me indicar? - disse tentando amenizar o clima.

Patterson deu uma risada, mas logo o seu rosto contraiu de novo.

 - Desculpe pela brincadeira, é que não sei onde esse assunto vai parar então estou tentando evitar - disse sem graça - mas acho que vai ser em vão.

Terminei de falar servindo colocando o café a mesa e me sentando em frente à Patterson.

— Então, ha algumas semanas atrás recebemos um caso - Patterson começou a falar enquanto servia o seu café - e chegamos a um ponto que não podemos seguir sem você. Eles exigem falar com você, só vai aceitar nos ajudar se você fizer parte.

— Eles quem? - eu disse preocupada.

— Nos não sabemos ao certo quem são eles e o que eles querem, mas temos bons motivos para acreditar que são pessoas que estavam envolvidas com a Sandstorm.

— Mas nos não acabamos com eles? - eu disse tomando um gole do café.

— O seu irmão Jane, ele ficou. E ele tem bons motivos para querer dar continuidade com o plano - vi Patterson abaixar a cabeça - a dosagem de ZIP que ele recebeu não foi nada comparada a sua, ele já pode ter recobrado a memória a tempos.

— Deus... - foi a única coisa que eu consegui falar.

 - Por mais que parece impossível, estamos em uma fase de negociação avançada, mas agora eles exigem você. Estão achando que você está morta, você sumiu do radar deles.

Passei as minhas duas mãos pelo rosto deixando-as escorregar pelos cabelos.

— Mas todos concordam com a minha volta? Digo a Tasha, Reade e Kurt? Eles sabem que você sabe onde eu estou? - perguntei preocupada.

— Sabem a pouco tempo, porque precisei contar - ela disse segurando a minha mão, seus olhos imploravam perdão - eles estavam preocupados pensando na possibilidade de ter acontecido algo com você, já que você não entrou em contato. E tive que fazer isso para sanar a preocupação deles.

 - Tá tudo bem Patterson, estou feliz que você tenha falado. Como ele está?

— Bem, você sabe como ele é. Ele sofreu muito Jane com a sua partida, você deixou ele em pedaços. Mas se recuperou aos poucos. Enfiou a cara no trabalho. Trabalhamos muito por sua culpa - ele disse rindo - mas agora ele superou.

— Mas como ele está em relação a minha volta? Ele quer que eu volte?

— Ele não deu uma opinião pessoal, apenas pediu para que eu entrasse em contado com você, e que se você decidisse voltar comigo ele estava disposto a te reintegrar no team.

— Acho que é hora de voltar pra casa - eu disse decidida.

— Jane você tem certeza? Você se sente preparada para encarar sua vida pessoal e o trabalho assim? Com toda essa pressão?- Patterson disse segurando a minha mão. Apertei a mão Dela de volta e fui em direção ao meu quarto.

— Estou prolongando isso a meses, agora é o momento perfeito - disse enquanto jogava umas mudas de roupa dentro de uma bolsa.

— Então vamos lá, vamos fazer isso - ela disse encostada no batente da porta do meu quarto.

— Não vou levar tudo, pois pretendo voltar, nem que for para passar fins de semana e feriados.

— Pronta? - Patterson disse me entregando um celular.

— Sim. O que é isso? - peguei o celular enquanto seguíamos para a porta de saída.

— Um ano sem e já esqueceu o que é um celular? - ela disse rindo.

— Claro que não né Pat, o que eu quero dizer é por que você está me dando esse celular?

— Você vai precisar de um, este é seu. O que você deixou pra trás. Kurt pediu para que te entregasse desde o dia que ficou sabendo que eu sabia onde você estava e te visitava frequentemente. Mas estava esperando o momento certo para fazer isso, e é agora.

— Obrigada - eu parei e abracei-a.

— Imagina. Mas vamos lá que temos muito trabalho a fazer.

Durante o caminho me peguei pensando diversas vezes em como seria meu encontro com ele, como ele iria me receber. Seria frio? Ele pelo menos me daria um abraço? Será que a Tasha me receberia com a mesma rispidez da outra vez? E o Reade? Será que superou os traumas, com drogas e o treinador Jones? Tantas perguntas passaram na minha cabeça. Todas elas pela primeira vez. Durante esse tempo que fiquei fora eu evitava muito pensar neles, porque sei que me causaria muito sofrimento. Mas mesmo assim eles sempre me vinham em pensamento, era uma coisa boa e ruim ao mesmo tempo. Não conseguiria explicar. Mas agora era inevitável. Eu estava voltando. Eu estava cada vez mais próxima deles. Paramos em um restaurante na estrada. Conversamos sobre assuntos do passado, casos que trabalhamos juntos. Como é bom relembrar esses bons momentos. Será que seria tão amistoso com o resto deles como era com ela? Já passava das 3pm, quando a Patterson estacionou o carro na garagem do escritório meu corpo congelou. Eu não conseguia me mexer.

— Jane, se você quiser a gente pode ir pra minha casa. Você não precisa fazer isso hoje. Por que não damos um tempo pra você se acostumar com tudo aqui - ela disse colocando a chave de volta na ignição.

— Não - eu segurei a sua mão - eu tô bem... eu vou ficar bem.

Aos poucos consegui me movimentar e abrir a porta do carro. Desci, alonguei um pouco e segui em frente. Conhecia aquela garagem muito bem. Fui em direção ao elevador privado do SIOC. Ao sair do elevador meus olhos foram direto para a sala dele. Estava toda fechada com as cortinas abaixadas. Pensei que ele não fosse querer me ver. Segui a Patterson até o seu laboratório, ao entrar estavam todos lá. Tasha foi a primeira a vir em minha direção.

— Jane, o que deu em você? - ele disse me abraçando forte - sentimos muito sua falta.

— Eu senti mais a de vocês, pode ter certeza.

Quando sai dos braços dela me encontrei com Reade, ele parecia tão saudável.

— Você parece bem - eu disse passando minhas mãos pelas suas costas em um gesto de carinho.

— Você também - ele disse voltando a olhar pra mim - que bom que voltou, você faz falta.

 Por último estava ele, um pouco mais afastado. Mas ele veio em minha direção. Com aquela camisa azul que eu amava quando ele usava, eu me perdia no azul dos seus olhos.

— O seu cheiro ainda é o mesmo, eu nunca me esqueci dele - eu disse quando nossos corpos se encontraram.

— Senti muito a sua falta - ele disse e eu senti o tom aliviado na sua voz.

— Me desculpa - senti as lágrimas escorrerem, foi inevitável - eu sinto muito de verdade.

— Shhi... - ele sussurrou no meu ouvido - a gente não precisa falar sobre isso agora.

— Eu te amo - eu disse bem na ponta da sua orelha.

— Eu também - a voz dele sorria pra mim - vamos sair pra jantar depois que sairmos daqui, precisamos conversar.

— Sim - eu respondi me desvencilhando do seus braços.

Como eu estava aliviada. Eles sentiram a minha falta. E eu não poderia estar mais feliz em estar de volta. Eu finalmente me acalmei e assim começamos a reunião. Eles me atualizaram de casos com potencial para ser ligado a sandstorm 2.0 como eles estavam chamando. Já se passava das 9pm quando demos por terminada a primeira reunião, de muitas que viriam pela frente.

— Como você está se sentindo? - Kurt me perguntou enquanto saíamos do laboratório da Patterson.

— Um pouco cansada mais feliz por estar de volta - eu disse sorrindo.

— Acho melhor você ir com a Patterson, você descansa e amanhã a gente continua.

— Mas e o nosso jantar? - eu perguntei chateada com a possibilidade de ele ter esquecido.

— Talvez a gente combine amanhã, no almoço ou até um jantar mesmo. Mas vejo que você esta bastante cansada hoje. Melhor termos essa conversa outra hora.

— Tudo bem - eu abaixei a cabeça.

— Você trouxe seus pertences? Se quiser posso separar algumas coisas e mandar para a casa da Patterson.

— Eu queria ir pra nossa casa com você - disse decepcionada.

— Jane - ele disse puxando meu braço me levando para uma sala vazia no corredor - você sabe quanto tempo você passou fora? E eu fiquei aqui sem nenhuma notícia sua. Você sabe o meu desespero ao pensar que talvez você estivesse morta? Então por favor, não pense que as coisas estão do jeito que você deixou, porque não estão.

— Ok - respondi livrando meu braço de sua mão - não precisa mandar nada, eu trouxe o suficiente.

— Antes de sair eu tenho uma pergunta - ele começou - em algum momento você pensou em ficar? Em lutar por mim? Em lutar por nós?

Ele disse e saiu da sala, me deixando com as minhas próprias interrogações e agora com as interrogações dele. Eu realmente precisaria pensar para obter a resposta que ele queria. A sua pergunta ecoava pela minha cabeça. A Tasha veio no carro junto comigo e Patterson, elas queriam saber como foi o tempo que passei fora. Se conheci pessoas legais. Sobre o meu trabalho no museu. Várias vezes durante o trajeto elas tiveram que me despertar do devaneio. Ao chegar à casa da Patterson primeira coisa que fiz foi entrar no chuveiro. Lá seria o lugar que teria mais paz naquele momento, tudo que eu precisava. Não parei de pensar no que o Kurt tinha me dito, e como aquelas palavras saíram frias de sua boca, e como havia cortado meu coração. Mas percebi que não ia adiantar eu enrolar  Tasha e Patterson. Era melhor eu acabar logo com isso. Passamos pelo menos umas três horas sentadas na sala tomando vinho e conversando sobre as novidades. Falando sobre nos três. Eu realmente tinha ficado apenas um ano fora? Tanta coisa tinha acontecido. Se eu tomei no máximo duas taças de vinho foi muito, eu despistei as meninas, não podia chegar amanhã no meu primeiro dia oficial de volta com dor de cabeça. Quando a Tasha foi embora e a Patterson arrumou o quarto de hóspedes para eu ficar me veio a resposta, a resposta que eu precisava e que eu queria. E não poderia esperar. Vigiei enquanto a Patterson estava no quarto esperando ela pegar no sono, mas ela fez melhor, entrou para o chuveiro. Tranquei a porta do quarto de hóspedes. Peguei a chave do carro dela e sai mais rápido antes que ela notasse a movimentação.

*

— Eu tenho a resposta para a sua pergunta - eu disse quando ele abriu a porta do seu apartamento. Notei que estava com o rosto amarrotado e me dei conta que eram quase 2am.

— Entra - ele pegou no meu braço me puxando pra dentro do seu apartamento - isso são horas Jane? Você quase me matou de susto.

— Desculpe eu não tinha visto as horas - lamentei - é que desde aquela hora que você me fez a pergunta eu não paro de pensar, mas agora eu tenho a resposta. E eu não conseguiria esperar ate amanhã.

— Vem, senta aqui - ele disse apontando para o sofá.

— Não Kurt - comecei ele assustou e se virou pra mim - em nenhum momento eu pensei em ficar, eu precisava desse tempo, desse espaço. O amor que eu sentia por você estava me sufocando. Eu precisava me encontrar, porque eu era você, eu tinha as suas manias, eu tinha os seus sonhos, os seus desejos, as suas vontades. Eu não tinha nada meu e eu precisava me encontrar, precisava ver onde eu começava e onde o você em mim começava - quando dei por mim nossos dedos tinham de enlaçados -eu sei que fui egoísta, mas eu não faria diferente. Agora eu estou aqui, estou aqui por inteiro, e quero lutar por você, quero lutar por nós. Mas preciso que você me diga se vale a pena, se você quer que eu faça isso. Sou capaz de esperar o tempo que for, desde que você me diga que vai valer a pena.

— Acho que você não vai ter que esperar por muito tempo - Kurt disse me puxando para junto dele.

 Ele me deu o melhor e mais apaixonado dos beijos. Como eu senti falta de casa. Como eu senti falta de morar no seu abraço.


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Notas finais do capítulo

Espero que vocês tenham gostado, o seu comentario me deixaria feliz :). xx



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