Olhos fechados escrita por Arthur Araujo


Capítulo 1
Capítulo 1




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— Feche os Olhos.
— Por quê?
— Só estou mandando fechar os olhos, é tão complicado assim?
Amanda obedece.
— Não é a coisa mais divertida que eu esperaria que acontecesse no meu aniversario. – Ela diz, com olhos fechados, sua boca está entreaberta, seus lábios ressecados.
— Acho que você vai gostar disso. – Gabriel se aproxima do rosto da Amanda, ela pode sentir a respiração dele em sua bochecha, ela pode sentir os lábios dele se encaixarem nos seus, ela pode senti-lo se afastar. – Pode abrir agora.
Amanda obedece.
Eles estão no quarto do Gabriel, As cortinas estão fechadas, a luz está incrivelmente baixa, o resto da casa é silencioso, os pais do Gabriel permitiram que ele comemorasse o aniversario da Amanda a sós em casa, deixaram que ele comesse o bolo, ou o que quisesse, contando que não fizesse sujeira.
Mesmo com as luzes apagadas, o brilho refletido pela lua entra pelas persianas, deixando as coisas em um tom de azul claro e ponderado. Amanda olhando para frente, encara Gabriel e morde os lábios, fazendo forças para não rir.
— O que foi? – Gabriel parece um pouco bravo. – Nunca viu alguém com um roupão de stormtroppers?
Gabriel está parado na frente da Amanda, com um roupão branco com desenhos de máscaras de soldados de guerra nas estrelas postos aleatoriamente no tecido. Suas pernas estão abertas, e suas duas mãos na cintura, ele olha para ela com se fosse o super-herói que está pronto para defender a galáxia.
Amanda se inclina para trás, caindo com tudo na cama, seu corpo se contorce em risos, Gabriel a olha com desprezo.
— Algo de errado com a roupa? Não foi uma surpresa legal?
Amanda ainda rindo se senta na cama, secando as lagrimas que escorriam no canto de seus olhos.
— Eu só não esperava que o Jedi que eu amo viesse equipado com um Sabre de Luz.
Gabriel olha para baixo, entre as frechas do roupão um armamento florescente estava erguido e pronto para combate.
— Af.
— Não fica assim, vou parar de zoar você... – Antes que Amanda terminasse a frase, Gabriel já estava sobre ela, dilacerando-a com o bastão iluminado. A casa vazia e silenciosa foi preenchida pelos rangeres da cama.
***
Deitados na cama, com pouca quantidade de roupa, Amanda jazia com os olhos fechados, Gabriel encarava o teto, a noite ainda não havia acabado, Gabriel ainda tinha uma surpresa.
— Amor. – Chamou ele, com a voz rouca e cansada, sua respiração ainda estava um pouco ofegante.
— Fala. – Respondeu Amanda, virando seu rosto para ele, Gabriel estava do lado esquerdo de Amanda, seu corpo agora inclinado de lado, com a mão debaixo da cabeça. Gabriel a encara com olhos de peixe e cabelo bagunçado. Amanda observou sua cicatriz abaixo do nariz, pouco acima dos lábios.
— Eu achei uma coisa na internet e queria testar. – Amanda o contempla com atenção, vê seu peito encher-se de ar e se esvaziar logo em seguida. Gabriel continua. – É como uma viagem para dentro do subconsciente. Você vem comigo?
Amanda continua em silêncio, olha a animação do Gabriel, ela pensa em negá-lo apenas para ver sua reação e rir da cara dele, mas ela evita o gasto de tempo, espreme os lábios e balança a cabeça.
— Pode ser.
Gabriel se senta na cama.
— Sério?
Amanda também se senta na cama.
— Adianta.
Gabriel sorri, e põe a mão na nuca da Amanda, puxando-a para um beijo rápido, em seguida ele se levanta e liga o computador.
Amanda o observa caminhar as pressas, sem roupa, ela olha a bunda dele e tenta em vão controlar o sorriso, ela acha a bunda dele algo fofo, se essa fosse a palavra correta.
— Talvez devesse vestir uma cueca, mas se não quiser assim pra mim tá ótimo.
Gabriel olhou para ela, e sorriu como se tivesse irritado. Em seguida, ele levanta e pega uma cueca preta no bolo de roupas jogado no chão.
Assim que o computador termina de ligar, em aproximados três minutos, Gabriel já estava de volta na cama, uma música mecânica tocava no fundo, como se as batidas fosse barulhos de passos, vidro quebrando ao longe, batidas na porta, som de pele sendo arranhada, respiração pesada, entre outras coisas que numa mistura harmônica Amanda não foi capaz de reconhecer.
— Fecha os olhos, Amanda. Quando se sentir leve, você os abre novamente, OK?
Gabriel segurou a mão da Amanda, e juntos eles tentaram adormecer.

Mesmo com os olhos fechados, Amanda teve a sensação de estar sendo observada, imaginou que fosse pelo Gabriel, mas o lado direito do seu corpo que estava arrepiado, pensou em mexer-se e abrir os olhos, mas ao tentar mexer os dedos, sentiu-os formigar e foi incapaz se movê-los.
Amanda senti seu coração bater mais rápido, Um, Dois, Sete, Nove, Dezoito, ela conta quantas vezes sentiu seu corpo todo congelar em menos de cinco minutos. Sente uma dor forte atrás de sua cabeça, como se tivesse sido acertada por um taco de beisebol.
Ela tenta focar na sua mão esquerda, usando toda força do seu corpo, lentamente seu dedo mindinho é erguido, até que um por tudo toda sua mão esteja em seu controle. Amanda começa a arrastar sua mão pelo forro branco da cama a procura do Gabriel.
Amanda respira aliviada quando sente sua pele, põe sua mão sobre a dele e cola as duas palmas, a mão de Gabriel esta fria, como se ele tivesse segurado gelo por algumas horas, Amanda entrelaça seus dedos com os dele, toca a ponta de seu dedo no de Gabriel, a ponta do indicador percorre as unhas pontudas e bem feitas. Amanda tenta não acreditar, mas sabe que a mão que ela esta segurando não é a de seu namorado.
Seu coração para, Amanda abre os olhos, se levanta. Sua respiração está ofegante, ela lentamente vira o pescoço para onde deveria estar o Gabriel, com receio do que poderia avistar. Amanda sente seu corpo congelar. A cama está vazia.
Amanda deixa seus olhos correrem pelo lençol amarrotado. Ele deve ter acordado para ir ao banheiro. Amanda pensou, se perguntando para onde mais ele iria. Pegou-se surpresa por estar mais preocupada com o paradeiro do seu namorado do que com a mão estranha que acabara de tocar. Eu estava dormindo, tendo paralisia do sono talvez.
Amanda pôs-se de pé, se perguntou se os pais do Gabriel já haviam chegado enquanto ela caiu no sono, a casa ainda estava silenciosa, com apenas o barulho dos eletrodomésticos preenchendo o ar.
O computador ainda estava ligado, Amanda caminhou até ele e apertou o botão para pausar a musica. O silêncio invadiu seu ouvido, sem a musica de fundo era então possível ouvir apenas a duas respirações.
Um vento frio deixou Amanda arrepiada, dando-se por falta de suas roupas Amanda se abaixou para pegar uma das camisas do Gabriel que estavam no chão. Seus pés descalços tocavam o piso gélido. Um latido fez Amanda olhar para janela, com um olhar rápido, Amanda consegue ver no canto da parede uma mulher com pele pálida, Amanda respira fundo, e volta devagar, enquanto olha com o canto do olho a mulher continua imóvel, no canto alto da parede a de onde a mulher a observa, Amanda pode achar nela algo que lhe deixa com as mãos tremulas. Amanda nota que a mulher lhe lembra uma aranha.
Quando finalmente seus olhos encontrando o lugar onde a mulher estava, Amanda vê a parede vazia.
Isso só podia tá acontecendo comigo. Melhor aniversario de todos, pode apostar. Vou matar o Gabriel se ele tiver fazendo alguma brincadeira.
Vestida com uma camisa do Gabriel, Amanda começa a caminhar, deixando o quarto para trás, um fino jato de ar se choca com o pescoço dela quando ela passa pela porta, Amanda olha para suas costas, não há nada ali que possa indicar de onde tenha vindo aquela respiração.
Enquanto caminha lentamente pela casa, Amanda fica contente em ouvir o barulho da televisão ligada, isso em sua mente significa que o pai do Gabriel estava em casa, se o pai do Gabriel havia chegado, ele provavelmente sabia dizer onde estaria o filho.
Na medida que Amanda da suas passos até a sala, seu coração bate aceleradamente, e se não for o pai do Gabriel que está vendo TV? Amanda já havia visto filmes de terror suficientes para saber que haviam varias alternativas de quem ligou a televisão. Suas mãos queimavam, seus braços estavam dormentes, a barriga de Amanda parecia dar voltas, sua cabeça doía, Amanda decidiu mudar seu caminho para cozinha.
Suas pernas estavam frias e trêmulas, Amanda desejou estar calçando uma meia.
Seu corpo começou a esquentar assim que Amanda entrou na cozinha, havia uma mulher esfregando os pratos com uma bucha amarela. Amanda não deixaria de reconhecer a sua sogra. Respirou aliviada. Se ela estava na cozinha lavando os pratos, o pai de Gabriel estaria na sala vendo TV e Gabriel provavelmente estaria no banheiro.
Amanda parou por um minuto, até sentir seu corpo se acalmar. Suas axilas estavam frias. Sua cabeça latejava.
— Boa noite. A senhora tem algum remédio pra dor de cabeça?
A mãe do Gabriel parou o que estava fazendo, pôs a bucha no canto, e enxaguou a mão com agua tirando o sabão. Começou-o então a caminha em direção ao armário.
— Muito obrigado.
— Por nada, querida. – A mãe do Gabriel se vira, As pernas da Amanda se dobram, ela cai para trás. Amanda não consegue acreditar no que viu. Ela contou. Ela não está louca. A mãe de Gabriel a encarava com oito olhos no rosto.
Amanda não seria direito as pernas, mas se arrastou para fora da cozinha.
— Algo errado, amor? – Disse a voz do pai do Gabriel, vindo da sala.
— Não, querido, apenas a namorada do Gabriel que acabou se desequilibrando aqui.
Amanda sentiu algo grudento em suas mãos, limpou na camisa ao se levantar. Seus pés tocam o piso que agora parecia diferente. Amanda então reparou que estava cercada por finos fios de uma enorme teia de aranha.
Amanda põe-se a correr.
— Tem certeza que está tudo bem, querida? – Pergunta o pai do Gabriel.
— Ela está fugindo, querido. Ajude-me aqui.
Amanda ouve o barulho das molas da poltrona se locomovendo. Antes de ver o pai de Gabriel chegar até ela, Amanda tenta se esconder no banheiro.
Amanda se sentiu a pessoa mais burra do mundo, como alguém com claustrofobia, se trancar no banheiro não deveria ser a melhor opção. Merda. Alguém bateu na porta. Amanda se encostou contra ela, e girou o trinco. Mais duas batidas. Amanda abraçou os próprios joelhos. Isso não pode tá acontecendo. Mais quatro batidas.
— Vamos, querida, você não pode ficar ai para sempre, deve sair para comer alguma coisa, ou ser comida, quem sabe. – A mãe do Gabriel riu, sua voz está alterada, fina e rouca, aquilo estava deixando Amanda agoniada, ela só queria sair dali. A noite não duraria para sempre, o dia também não, vai dia, vem dia uma hora seus pais iriam lhe procurar.
Amanda se perguntou se Gabriel havia virado um metamorfo-aracnídeo, esperava que seu namorado não tentasse mata-la isso seria terrível. Com quem ela transaria? Ela não conseguiria olhar para o Gabriel se ele tivesse tantos olhos quanto uma aranha. O estomago da Amanda embrulhou. Mais oito batidas na porta.
Mais dezesseis batidas na porta. Amanda imaginou algo como uma cena de O Iluminado, o banheiro sendo invadido por um homem com um machado. Amanda sentiu seu estomago embrulhar novamente. Amanda sentiu que ia vomitar. Se afastou da porta, e foi as pressas até o vaso, abrindo a tampa e inclinando a cabeça.
Sentiu uma queimação correndo por dentro, Amanda abriu a boa e fechou os olhos, da esperança de não ver um liquido esverdeado saindo dela, Amanda sentiu uma queimação intensa, como se algo estivesse fazendo pequenos furos para sair de sua garganta, sem resistir Amanda abre os olhos e vê um conjunto de aranhas sendo cuspidas de sua boca.
Amanda sem reação encara as aranhas se mexendo sobre a água no vaso, Amanda grita, e tira de sua língua algumas pequenas aranhas que ainda permaneceram unidas. Amanda não consegue se mexer, em visto do que aconteceu, seus olhos se fecham e ela vai de encontro ao chão, mesmo não estando completamente adormecida, Amanda ainda consegue sentir as aranhas que entraram por debaixo da porta fazendo um cobertor sobre seu corpo.

Quando seus olhos se abrem novamente não há mais aranhas no banheiro. Uma luz mais clara entra pela porta aberta.
Amanda se levanta calmamente, e sai do banheiro, o silencio é assustador, não há mais barulho da TV, nem as teias no chão, Amanda tem esperanças de ter delirado tudo, começa a caminhar até a sala, pensa em sair dali e ir para algum lugar, ela queria ir embora, queria que tudo ficasse normal. Amanda continua caminhando.
Amanda imaginou que ficaria mais feliz em ver o Gabriel, ainda então sendo que ele não tinha oito olhos, mas o Gabriel deitado na poltrona parecia estranho, adormecido, inerte. Amanda sentiu calafrio.
O rosto do Gabriel estava pintado com tinta branca, seus olhos ressaltavam um riso perdido e insano, maquiagem borrada de vermelho. Gabriel estava morto, e seu corpo fora transformado em um palhaço.
— Amanda, Feche os olhos. – Amanda ouviu a voz do Gabriel como se ele falasse em sua cabeça.
Mas eles já estão fechados. Ela respondeu.
— Amanda, Feche os olhos. – Gabriel repete.
Eu sei que não é real. Mas eu não sei o que fazer.
Amanda.— A voz saia do Gabriel mesmo que ele não fosse capaz de se mexer.
Não é real. Não é. Eu posso. Eu.
Amanda espremeu os olhos com toda a força que conseguia. Até senti-los de verdade novamente. Amanda se permitiu sorrir ainda com os olhos fechados, então os abriu, e foi invadida pela luz da lua refletida dentro do quarto. Estava acordada. Amanda virou o pescoço para direita, viu o relógio que marcava 3:25, uma fileira de pequenas aranhas saiam de trás do relógio. Amanda sentiu arrepios. Virou seu pescoço para esquerda, então viu que tinha algo estranho no corpo imóvel do Gabriel.


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