O Segredo de Janis | Supernatural Fanfic escrita por Kamila Lube


Capítulo 6
Na estrada até Sioux Falls




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Dean acordou com dor no pescoço. Isso sempre acontecia quando ele dormia no banco do motorista. Diabos! Por que não tinha ido se deitar no banco de trás?

Ah, é mesmo! Porque Sam estava dormindo no quarto do motel e ele queria estar a postos caso precisasse correr até o irmão.

Fazia seis meses desde que Castiel tinha tirado Sam da jaula de Lúcifer. Quando voltou à terra, a alma do irmão estava quase completamente destruída pelas torturas do diabo, tanto que nas primeiras semanas, Dean chegou a pensar que tinha sido um erro deixar que seu egoísmo obrigasse Sam a voltar à vida.

Toda vez que o irmão gritava durante um pesadelo ou tentava inutilmente controlar os tremores que o assolavam, Dean se culpava por não ter permitido que ele seguisse em frente para o paraíso. Porém Sam foi forte e lutou para se recuperar. Agora era só uma questão de tempo até que estivesse cem por cento novamente. Mas mesmo sabendo que o pior já havia passado, Dean não conseguia se impedir de ficar em alerta.

O ar frio da manhã fez os vidros do carro se embaçarem. Dean passou a mão no para-brisa e encontrou o estacionamento vazio e a cortina do quarto onde o irmão dormia aberta. Ele saiu do carro e foi bater à porta.

— Até que enfim você acordou! – Sam a abriu quase que instantaneamente, o que fez Dean se perguntar se ele estivera atrás dela esperando que ele batesse.

— Não são nem oito da manhã. – ele comentou mas o irmão o ignorou.

— Eu preciso do kit de primeiros socorros. – Sam disse – O Impala está trancado?

Dean entregou-o as chaves e ficou observando-o ir até o estacionamento.

— Você pode por favor dizer a seu irmão que estou bem? – Janis, que Dean tinha se esquecido que também estava ali, falou e ele se virou para ela.

— Sinto muito, – comentou – mas quando Sam bota uma coisa na cabeça, ele não muda de ideia. 

Ela revirou os olhos e se deixou cair sentada em uma das camas.

— É. Ele é chato assim mesmo. – ele completou, enquanto inspecionava a mesa em busca de qualquer coisa comestível que pudesse ter sobrado do dia anterior.

— Não o acho chato. – ela disse puxando sua bolsa de viagens para o colo – Só super protetor. Aqui! – ela jogou para ele um pacote de batatinhas.

Graças ao bom reflexo, Dean o pegou ainda no ar. Ele ficou um pouco desapontado quando viu que o sabor das batatinhas era ervas finas, mas a cavalo dado não se olha os dentes.

— Fique com ele por mais uma semana, – disse ele, sentando em uma das cadeiras e abrindo o saco de batatinhas – e logo você vai concordar comigo.

Ele pegou um punhado de batatas e enfiou na boca. Mastigou um pouco, ainda meio incerto sobre as ervas finas, mas a desconfiança passou quando ele sentiu a textura engordurada no céu da boca. Não eram as melhores batatinhas que ele tinha comido na vida, mas iriam servir até que encontrasse outra coisa para comer. Olhou para Janis, para agradece-la, mas ela o estava encarando de cara feia. Ele teria dito mais alguma coisa para irritá-la ainda mais se Sam não tivesse voltado.

— Prontinho. – Sam disse a Janis logo depois de passar pela porta – Agora podemos fazer isso direito.

Sem ter outra alternativa, Janis deixou que Sam afastasse seu cabelo e examinasse o corte da noite anterior. Dean ficou olhando para ela, sentada e de braços cruzados, enquanto terminava seu café da manhã. O rosto dela se contorceu quando Sam limpou o ferimento com um líquido azul claro e algodão.

— Ai! – ela reclamou, mas Sam continuou impassível.

— Já está acabando. – ele aplicou mais um pouco do líquido e voltou o cabelo dela para a posição normal – Pronto! – concluiu – Só não fique colocando a mão no machucado, está bem?

Dean viu Janis resmungando alguma coisa inaudível quando Sam virou-se para falar com ele.

— Podemos ir. – ele disse e Dean, que estivera tentando entender o que saía da boca de Janis, precisou de um segundo para compreender do que o irmão estava falando.

— Ah, sim! – respondeu – Eu estou pronto. Vamos quando você quiser.

— Vou com a Janis. Ela não está em condições de dirigir.

— Eu ouvi isso! – ela gritou do banheiro e Dean teve que sorrir. Ela era uma resmungona de papel passado.

— Boa morte então! – ele desejou ao irmão, que suspirou profundamente enquanto esperava Janis sair do banheiro.

—x-

Quinze minutos depois Dean verificava o motor do Prius enquanto Sam escondia algumas armas embaixo do banco do motorista. Eles pretendiam ficar juntos na estrada o tempo todo, mas precaução nunca era demais. Janis estava acomodada no banco do passageiro, ainda que meio a contragosto, e mexia em sua coleção de CDs.

— Tá tudo em ordem. – Dean disse ao baixar o capô do Prius. Ele puxou do bolso da calça um pedaço de pano encardido que tinha pego no porta-malas do Impala e esfregou as mãos sujas de óleo nele.

— Tudo bem. – Sam comentou – Você vai na frente.

Dean sorriu maliciosamente.

— Não precisa dizer duas vezes! – ele jogou o pano pela janela do Impala, se acomodou no banco do motorista e deu a partida – Escuta só! – gritou para Sam enquanto empurrava uma fita cassete no rádio antigo do painel. Ele aumentou o volume e acelerou para fora do estacionamento, levantando uma nuvem baixa de poeira enquanto a música tocava.

"Ninguém vai pegar o meu carro
Eu sou uma estrela da estrada
Ninguém vai derrotar meu carro
Eu vou romper a velocidade do som

Oh, é uma máquina mortífera
Ele tem de tudo
Como um motor potente
Super-pneus e tudo mais"*

— Babaca. – Sam comentou baixinho enquanto o irmão fazia o retorno e entrava na rua principal cantando pneus.

— Seu irmão é estranho. – Janis comentou debruçada na janela do motorista. Ela voltou para o próprio assento quando Sam abriu a porta do carro para entrar.

— Você ainda não viu nada. – ele respondeu, deu a partida no carro e seguiu o mesmo caminho que o irmão, só não tão exageradamente.

— O que você quer ouvir? – Janis perguntou enquanto folheava o porta-CDs como se fosse uma revista – Eu só tenho coisas atuais. – comentou e Sam compreendeu que ela pensava que o gosto musical dele era parecido com o do Dean, que por sinal, estava parado a uns bons 500 metros de distância embaixo de um semáforo fechado.

— Eu gosto de coisas mais novas. – ele se apressou a dizer – Mas é você quem conhece o que tem aí, – disse, indicando o porta-CDs – então me surpreenda. – Sam sorriu e Janis o correspondeu.

— O que você acha do segundo álbum do Ryan Adams? – ela quis saber.

— É do cara de To Be Young? – perguntou, citando a única música daquele cantor que conhecia pelo nome.

— Esse mesmo. – Janis respondeu – Posso colocar?

— Pode. – ele afirmou.

Ela empurrou o CD na abertura do painel e ajustou o volume para ficar numa altura confortável.

Não demorou até que Sam alcançasse Dean, que agora dirigia mais devagar de propósito. Os dois carros seguiram em fila indiana atéa saída de Silverton, onde pegaram o desvio para a rodovia US-550 Norte, que os levaria das Montanhas Rochosas até Denver. E quando eles finalmente saíssem das sinuosas estradas das montanhas, poderiam acelerar de verdade.

— Aonde mora esse Bob? – Janis perguntou depois de um tempo.

— Bobby. – Sam a corrigiu. – Ele mora em Dakota do Sul, numa cidade chamada Sioux Falls.

Janis pensou por um tempo.

— Isso dá o que? Um dia de viagem? – quis saber.

— Umas 20 horas, mas Dean e eu vamos encurtar esse tempo depois de Denver. – ele respondeu.

— Sem parada então. – ela concluiu.

— Só para comer e ir ao banheiro – Sam confirmou.

— Então, acho que vamos ter tempo suficiente pra você me contar sobre o outro profeta, não é?

Sam tirou os olhos da estrada por um pequeno instante para olhar para Janis. Da última vez que ele tinha tentado tocar no assunto, ela tinha dito que não queria saber. Mas agora ele percebia que algo havia mudado, e ela parecia estar preocupada.

— Você teve outra visão? – ele a questionou.

— Não necessariamente. – ela respondeu – Faz tempo que tenho esses pesadelos, Sam. Eles sempre foram confusos, cheios de névoa e eu só conseguia ver fragmentos. A primeira vez que consegui ver uma cena completa foi no dia que sonhei com você e Dean. Por isso pensei que a partir de agora meus sonhos passariam a ter mais sentido, mas essa noite voltei a sonhar com a névoa.

— E o que está te incomodando? – Sam perguntou e Janis se abraçou, como se de repente estivesse sentindo frio.

— Não sei exatamente o que é. – ela respondeu – Eu só sei que está vindo e que, de alguma forma, seu irmão está relacionado com a figura que vi no meio do redemoinho.

Sam engoliu em seco. Ele conseguia pensar em pelo menos dois seres fortes o suficiente para causar uma cena apocalíptica como a que Janis viu em seu pesadelo, mas só um deles tinha laços com Dean.

O pânico tomou conta de Sam. Castiel garantiu que não havia chances de Lúcifer ou Miguel fugirem da jaula, mas... e se ele estivesse enganado? O próprio Sam era uma prova de que a jaula tinha falhas.

— Janis, você precisa me contar cada pequeno detalhe que se lembrar desses sonhos. Cada pequena coisa que a princípio pode parecer inútil ou sem sentindo. Tudo!

Janis olhou para Sam e ele viu que os olhos escuros dela espelhavam o terror que ele mesmo estava sentindo.

— Você sabe quem é a figura dentro do tornado. – Janis afirmou.

— Eu tenho uma vaga ideia. E você não vai gostar muito dela.


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Notas finais do capítulo

* trecho traduzido da música Highway Star, do Deep Purple.