Não importa para quem se virassem naquela casa, toda a gente saberia o nome de toda a gente, e muito provavelmente onde estariam e o que estavam a fazer.

Cada passo dado sobre o chão elevado de madeira clara era acompanhado de um sentimento de calma e compaixão embriagante apesar dos muitos- MUITOS gritos e xingamentos que enchiam o ar.

Hiroto e Hitomiko não eram excepção alguma. A adulta era a filha mais velha do fundador da casa, e Hiroto tinha sido o primeiro a pôr lá os pés, seguido gradualmente de todos os outros membros daquela enorme família.

E não importa a quem se perguntasse, todos – mesmo que relutantemente – viam o ruivo como o líder e o absoluto coração da casa.

Apesar da sua aparência solitária, existia o mito de que ele tinha um Sol inteiro dentro do seu peito, a sua mão sempre estendida para quem precisava e as suas palavras gentis melhorando o ânimo nem que fosse um pouquinho.

“Hiroto.”

O ruivo virou-se ligeiramente para trás e esticou o braço com um ligeiro sorriso, aceitando o copo de barro cheio de chá verde.

No entanto, não deu um gole de imediato.

“Não puseste um bocado de cabelo aqui, pois não?”

O de cabelos verdes pousou o copo no chão antes de se sentar com os pés descalços sobre o quintal meio careca e empurrou o ruivo forte o suficiente para o fazer pôr uma mão atrás de si para se impedir de cair, rindo baixinho.

“Não tem graça, Hiroto!” Ele próprio deu um gole grande do chá, passando o copo a Suzuno, que se sentou do lado dele. “Da próxima pego numa flor qualquer e afogo-a na chaleira, a ver se sabe melhor!” No exato momento em que disse isso, Nagumo passava pelo corredor, procurando pelo de cabelos brancos.

Nepter, dirigindo-se à cozinha com dois sacos vazios de biscoitos de arroz, aproveitou para atualizar a lista de tarefas desenhada a giz na lousa da cozinha.

‘REGAR O JARDIM - Suzuno - X’

Falando nele, tinha saído a correr de um Nagumo da cor dos cabelos que o perseguia na intenção de estrangular o seu riso compulsivo.

“…Hey. Tu… Sempre vais aceitar a proposta? A que o Kira-otou-san te fez?” Ele perguntou, pousando o copo quase vazio do seu lado novamente.

“Ainda não me decidi de vez, mas é mais provável que aceite do que rejeite. O Hiroto faria o mesmo.” Ele disse, passando o seu copo meio cheio para as mãos do esverdeado. Explicou que não tinha muita sede apesar de apreciar a gentileza, e que ele não pôde desfrutar da sua dose na totalidade, pelo que com certeza o chá lhe seria mais proveitoso.

O mais novo riu um pouco antes de bebericar do copo. “Tudo isso e nada de beijo, hã?”

“É mais giro fazer-te pensar.” Ele retrucou, empurrando-o para o lado com o cotovelo, gentil.

“Voltando ao assunto, sim. Vou aceitar.” Ele disse, assentindo e esticando-se para mexer num dente de leão, arrastando levemente os pés na terra.

“O que é que aconteceu à probabilidade?!” Felizmente já tinha acabado o chá, Ulvida tinha aproveitado e levado também os seus copos para a cozinha, afinal já levava alguns pacotes de sumo.

“São só números, Ryuuji. São apenas um auxílio, quem tomou esta decisão fui eu. Não sozinho, mas fui eu que a tomei.” Ele assentiu e olhou o de olhos escuros, com um sorriso leve a repousar nos lábios.

“…Vais explicar-me ou queres que vá à tua irmã como quando achaste que dar-me um enigma fonético como bilhete de S. Valentim era boa ideia?” Inquiriu, cruzando os braços.

“…Bah, não preciso de explicar-te. Tal como o bilhete, vai valer a pena quando perceberes. Agora vamos lá, plantinha. Toda a gente se está a divertir e nós os dois cá fora. Já devemos ter perdido metade do filme!” Ele levantou-se, calçou os seus chinelos e ajoelhou-se brevemente do lado do mais moreno para lhe beijar afetuosamente a bochecha que corou de imediato, prosseguindo para a sala onde o resto dos seus habitantes, amigos e principalmente irmãos viam uma maratona de filmes antigos no escurinho do cómodo.

Midorikawa ficou sentado mais uns segundos antes de ir atrás do seu namorado, sentando-se do seu lado, com as costas apoiadas na canela de Osamu, visto estar sentado no chão. Suspirou silenciosamente e carinhosamente pousou a cabeça no ombro do ruivo, os seus olhos entrecerrando-se.

Combinando lindamente com o nome do seu lar, Hiroto era o Sol do Sun Garden.

As plantas precisam de Sol para viver, e o ruivo sabia bem disso.

Uma vez que dependia dele, o Sol só brilharia mais e mais dali em diante.