Our Days escrita por Anchorage


Capítulo 1
Capítulo Único




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Astoria Greengrass havia crescido em uma família extremamente abastada. Ela poderia ter escolhido o caminho fácil, assim como sua irmã: poderia ter sido debutante, poderia ter viajado o mundo se hospedando sempre em um dos hotéis de sua família, poderia ter se casado com o rapaz que seus pais haviam escolhido, poderia ter ido aos eventos sociais e poderia ter aparecido na coluna social de domingo. Astoria poderia ter sido uma bonequinha de luxo, mas ela não se contentava com a vida que lhe fora planejada. Ela queria mais.

Desde pequena, Astoria já havia determinado que não viveria do dinheiro dos pais; ela queria ser independente e ter suas próprias conquistas. Assim que entrou no ensino médio, começou a trabalhar em uma cafeteria que ficava perto de sua casa, apesar da insatisfação de seus pais. Astoria se formou com mérito e não tardou a receber sua carta de aprovação para a faculdade de Design em Brunel com bolsa integral. Com o dinheiro que havia guardado, Astoria foi capaz de alugar um apartamento perto do campus com uma amiga. No seu primeiro ano de faculdade, ela conseguiu um estágio em uma revista famosa e, em meio a contas para pagar e livros para comprar, Astoria conseguiu juntar dinheiro suficiente para realizar a viagem de seus sonhos: conhecer a Tailândia e trabalhar em um safári.

Pode parecer que a vida de Astoria Greengrass se baseava em trabalhar, trabalhar, trabalhar e trabalhar, e talvez fosse verdade, mas ela sempre soube que precisaria se esforçar para atingir todos os seus objetivos. E ela não pararia por nada.

xx

Era verão. A temperatura estava agradável, o céu estava azul, sem nenhuma nuvem o cobrindo, e uma leve brisa mascarava o calor que o sol exalava. Era o dia ideal para aproveitar o Victoria Parque em Londres, mas Astoria Greengrass estava a caminho do aeroporto. Seu voo para a Tailândia sairia em algumas horas e ela não podia conter sua ansiedade. Antes de deixar o apartamento, conferiu todos os itens da sua lista de viagem duas vezes para ter certeza que não estava esquecendo nada. Deixou o dinheiro do aluguel dos próximos três meses para Heather, com quem dividia o apartamento, e se despediu de Pitel, o gato que elas haviam resgatado.

Por estar ensolarado, o dia na capital da inglesa era incomum, portanto, o trânsito, como era de se esperar, estava um nó. De dentro do táxi, Astoria ligou para a casa dos pais a fim de se despedir – ela esperava receber algum incentivo ou alguma frase de apoio do tipo: “Faça uma boa viagem!”, mas seus pais agiram como se a ligação de sua filha mais nova fosse um aviso de que ela iria à esquina comprar leite e logo mais voltaria para casa. Ela chacoalhou a cabeça, impedindo que pensamentos ruins ocupassem sua mente. Decidiu então ligar para sua irmã, mas esta não atendeu, obrigando Astoria a deixar um breve recado na secretária eletrônica.

Astoria não gostava e não admitia atrasos. Sendo assim, sua rotina era rígida e metódica. Com uma viagem internacional não seria diferente – com três horas de antecedência, chegou no aeroporto, realizou seu check-in, passou pela segurança e se direcionou até o seu portão de embarque.

Astoria sempre amou fotografias, pois sentia que, por meio das fotos, os momentos poderiam ser eternizados. Para todo lugar que ia, carregava sua máquina fotográfica e não perdia nunca a oportunidade de tirar fotos. Assim que se sentou, retirou sua câmera da bolsa e tirou uma foto dela mesma com o número do portão de embarque, “23”, atrás.

Conforme as horas se passavam, o portão ia enchendo e Astoria ficava mais apreensiva. Era sua primeira viagem sozinha, ela tinha o direito de estar assustada. O seu celular bipou e ela abriu a mensagem de Heather: “Aproveite sua viagem!! Espero que seja tudo que você sempre sonhou e mais um pouco! ☺”.  Enquanto ela teclava uma resposta para a amiga, a comissária de bordo deu início ao embarque de seu vôo. Por ser uma viagem longa, Astoria, após uma detalhada análise financeira, se permitiu ir na classe executiva do avião para ter um pouquinho mais de conforto. Ela merecia, afinal, tinha trabalhado bastante para poder desfrutar sua viagem da melhor maneira possível.

Quando o avião pousou em Bangkok, Astoria sentia seu coração acelerado. Ela sentia vontade de pular, gargalhar e abraçar a comissária de bordo, mas achou que poderia ser esquisito. Após pedir algumas instruções, arriscando seu tailandês, ela se encaminhou ao terminal de ônibus. Do aeroporto pegaria um ônibus que a levaria até Nonthaburi, onde ficava o parque ecológico em que ela trabalharia.

Assim que chegou ao parque, que era protegido pelo governo tailandês, se dirigiu à recepção, mostrou seus documentos, assinou uma papelada e pegou a chave para o quarto em que ficaria hospedada. Antes de abrir a porta, Astoria bateu três vezes, mas não obteve resposta, então entrou no quarto que seria seu pelos três meses seguintes. O quarto era equipado com três camas, duas delas já estavam desarrumadas, um banheiro e uma geladeira pequena. Ela acomodou sua mala na parte que ainda não estava ocupada e pegou o uniforme, que estava dobrado sobre sua cama.

De acordo com o roteiro, a nova equipe deveria se apresentar na sede do parque, já devidamente uniformizada, às 17 horas. Então, como era de se esperar, às 16:55 Astoria Greengrass estava com sua bermuda cáqui e sua blusa verde-musgo, com a insígnia do parque, no prédio principal.

Olhou ao redor e se deparou com muitas pessoas da sua idade. Ela se aproximou de uma menina, que também parecia sozinha, e a cumprimentou com um sorriso.

A instrutora, Wattana, que aparentava ser um pouco mais velha que o pessoal da equipe, pediu que todos pegassem um crachá e escrevessem seu nome e o seu país de origem e explicou que, durante o período de trabalho, todos deveriam usar os crachás. Astoria ficou feliz ao ver que a menina a qual ela tinha cumprimentado era dos Estados Unidos, o que facilitaria a comunicação entre elas.

Uma vez identificados, Wattana mostrou um grande quadro de avisos que continha o nome de todos que estavam trabalhando naquele período. A cada dia, as pessoas seriam designadas a um setor diferente, por isso era preciso consultar o quadro antes de se aventurar pelo safári.

Depois, Wattana apresentou Sunan, outro instrutor, que iria apresentar uma palestra, em que explicaria a função do trabalho que era feito ali – preparar os animais para que eles fossem inseridos no safári, auxiliar na hora da visitação, em que a equipe deveria guiar os visitantes pelo parque –  e os procedimentos básicos de segurança. A apresentação foi feita em inglês e, para aqueles que não entendiam a língua, foram disponibilizados fones de ouvido com tradução simultânea.

Quando a palestra terminou, os instrutores convidaram a equipe para ir a um pub, argumentando que era uma forma de integrar a equipe. Aqueles que quisessem participar deveriam estar na recepção em uma hora.

Astoria descobriu que a garota dos Estados Unidos com quem vinha conversando, Sarah, estava no mesmo quarto que ela. Logo depois, a terceira companheira do quarto apareceu. Ela era francesa, mas falava inglês fluentemente. No caminho até a recepção, cada uma falou um pouco de sua vida e as três se identificaram umas com as outras.

Um ônibus do parque estava parado em frente à recepção e, quando todos chegaram, Wattana e Sunan guiaram o grupo até o veículo. Após dar uma boa olhada pelo ônibus e perceber que pequenos grupos já haviam se formado e estes conversavam apenas entre si, Astoria pensou que talvez essa ida ao pub realmente ajudasse na dinâmica do grupo.

O lema do pub era: “Fique bêbado com menos de 10 dólares.” Astoria sempre fora ensinada a não exagerar na bebida, porque isso poderia levar a pessoa a fazer coisas de que se arrependeria mais tarde. No entanto, naquela noite, após três shots de tequila, Astoria não estava preocupada com arrependimentos.

Por mais que agora a equipe já estivesse um pouco mais à vontade devido às bebidas, os grupos ainda estavam segregados. Wattana, ao perceber isso, sugeriu que todos se aproximassem para tentar algum jogo em que todos participassem. Entretanto, organizar um jogo para 15 pessoas que não falavam a mesma língua seria complicado, assim, Sunan sugeriu – por meio de gestos – o jogo da garrafa.

Todos se sentaram no chão em um grande círculo e Sunan entregou a garrafa a um menino pálido, com cabelos loiros e olhos tempestuosos. Um burburinho de ansiedade perpassou pelo grupo e o garoto lançou um sorrisinho sarcástico antes de girar a garrafa. Astoria, que estava com um sorriso permanente no rosto, não se deu conta quando a garrafa parou em sua direção. Ao notar que todos a encaravam, seus olhos se arregalaram. Olhou para a boca da garrafa, que estava virada em sua direção, e depois para o menino pálido.

Ela o viu se aproximando, e ao perceber o quanto seus lábios estavam secos, Astoria passou a língua sobre eles. O garoto estava a milímetros de seu rosto e ela pôde notar que seus olhos possuíam um tom acinzentado, o que adicionava um toque de mistério à personalidade dele.

Astoria fechou os olhos, esperando pelo beijo e, quando sentiu os lábios dele contra os seus, um arrepio percorreu seu corpo. Ela entrelaçou suas mãos ao redor do pescoço dele, puxando-o para perto. A mão dele estava firme em sua nuca e o seu dedão fazia movimentos circulares, acariciando a parte de trás do pescoço de Astoria.

Para os dois, não existia mais nada além daquele beijo. Logo, eles não foram capazes de ouvir as risadas e os comentários que seus colegas faziam. Sarah sugeriu que dessem continuidade ao jogo, deixando os dois de lado. Quando Astoria precisou retomar o fôlego, ele soltou um grunhido irritado.

— Draco. — ele falou assim que Astoria abriu os olhos novamente. — Me chamo Draco. — repetiu, notando o cenho franzido dela.

No momento em que abriu os olhos, Astoria sentiu o mundo girar. Ela estava bêbada e precisava, urgentemente, de um copo de água; sendo assim, disparou até o bar.

— Uma água, por favor.

O garçom lhe entregou uma garrafa de água mineral e ela bebeu com vontade. Astoria estava abrindo sua bolsa para pagar pela água quando uma nota deslizou pelo balcão. Foi aí que ela notou a figura de Draco ao seu lado.

— Você não precisa fazer isso...

— Você ainda não me disse seu nome. — ele sussurrou divertido.

— Astoria. Astoria Greengrass.

Se Astoria não estivesse tão alta, talvez ela tivesse percebido um lampejo que fez os olhos de Draco brilharem assim que ela disse seu sobrenome.

— เบียร์.

Astoria o olhou intrigada e depois começou a gargalhar.

— O que foi?

— Você falando tailandês. Foi engraçado. — Ela acenou para o garçom que falava inglês e pediu mais uma dose de tequila. Astoria entregou uma nota e pediu que ele descontasse a cerveja que Draco havia pedido dali também.

— Eu não preciso que você me pague uma cerveja e, honestamente,... — Antes que Draco pudesse terminar sua frase, o bartender entregou a tequila para Astoria, que entornou sem nem pensar duas vezes. —... não acho aconselhável mais um shot.

— Cala a boca, Drago. — Astoria levou o dedo indicador até os lábios dele. De repente, ela semicerrou os olhos e deu um passo para trás. — Você não me disse seu sobrenome.

— É Draco. — ele corrigiu, um pouco irritado. — E o sobrenome é Malfoy.

— Malfoy? Por que esse nome não me soa desconhecido?

— Estudei com sua irmã. Daphne, certo?

Astoria assentiu e franziu o nariz.

— Problemas no paraíso? — ele perguntou sarcasticamente.

— Digamos que você tem sorte por ser filho único…

— Bom, pensando no lado financeiro, sim, mas, por outro lado, todas as expectativas e cobranças da família Malfoy recaem sobre mim.

— Problemas no paraíso? — Ela o imitou.

— Eu só não sou quem eles planejaram que eu fosse. — Draco falou e, por alguns instantes, seu olhar ficou perdido.

Astoria sentiu uma espécie de reconhecimento naquilo que ele falara. O bartender trouxe mais uma dose de tequila e ela ergueu seu copo, puxando um brinde:

— A nós, os desajustados!

Draco brindou com ela e sorriu. Ela tinha algo que ele não sabia explicar, mas era como se Astoria possuísse uma luz que emanava sempre que ela sorria.

— Eu gosto muito dos seus olhos. — ela falou de repente antes de beijá-lo.  Poucos segundos depois, ela se afastou e soltou um gritinho. — Eu AMO essa música.

Astoria começou a cantarolar baixinho a melodia, enquanto movimentava os braços de um lado para o outro. Draco a observava com curiosidade e, graças a Deus, estava, pois ela escorregou e, antes que atingisse o chão, ele foi capaz de segurá-la.

— Acho que é hora de ir.

Eles deixaram o pub e uma brisa quente balançou os cabelos negros de Astoria.

— Então, por que você está aqui?

— Por que você está aqui? — ele rebateu.

— Sempre quis conhecer a Tailândia e era meu sonho trabalhar em um parque ecológico. — ela contou, com um tom de esperança. — Ei, eu perguntei primeiro!

Draco deu de ombros e soltou uma risada. Ela parou para observar o céu que estava enfeitado por milhares de estrelas e ele aproveitou para acender um cigarro.

— Acho muito egoísta da sua parte fumar perto de outras pessoas. Se você não se importa com a possibilidade de ter câncer, tudo bem. Mas eu, por exemplo, não pretendo ter câncer.

— Você tem uma opinião formada sobre tudo? — ele perguntou antes de apagar o cigarro.

— Sim. — ela respondeu com simplicidade e um sorriso divertido surgiu em seus lábios.

Astoria era o tipo de pessoa que, quando bebia para além da conta, ficava tagarela. Então, o caminho até o safári foi bastante comunicativo, pelo menos da parte dela.

— Você gostaria de entrar? — Draco perguntou quando eles passaram pela porta de seu quarto. — Eu estou sozinho nesse quarto.

—Não tinha ninguém para dividir?

— Eu paguei a mais para não ter ninguém para dividir. — Ele sorriu e abriu a porta.

— Meu quarto parece tão pequeninho agora. — Astoria comentou entristecida. — Mas eu gosto de ter com quem dividir, as garotas que estão comigo são bem legais. E estar com elas faz com que essa experiência seja menos solitária, não que eu tenha algum complexo em relação à solidão…

Astoria se calou, pois percebeu que os primeiros botões da camisa de Draco estavam abertos, e, Deus, como ela queria desabotoar os próximos. Aproximou-se dele devagar e uma de suas mãos foi para o peito dele, enquanto a outra o puxava para um beijo. Conforme os beijos se tornavam mais profundos e urgentes, Astoria sentia a necessidade de se livrar daquela camisa que Draco vestia, mas antes que ela conseguisse terminar de desabotoar os botões, ele se afastou e segurou os pulsos dela.

— É melhor você ir.

— O quê? — ela perguntou baixinho, sentindo seu rosto esquentar.

— Você está bêbada, não vou fazer nada com você assim...

Astoria tinha pensado em várias coisas sensuais para dizer e mudar a cabeça de Draco, mas seu estômago revirou e uma sensação de náusea a atingiu, fazendo com que ela vomitasse.

Que ótima maneira de terminar o primeiro dia da viagem da sua vida: vomitando sobre os pés de um cara que ia trabalhar os próximos três meses com você.

xx

No momento em que o despertador começou a tocar, Astoria não pôde acreditar que já era hora de levantar. Sua cabeça latejava e seu estômago estava sensível – ela vomitara até duas da manhã. Mas a maior preocupação dela, era encontrar Draco Malfoy. Se a ressaca não a matasse, a vergonha com certeza o faria.

Ao sair do banho, já vestida em seu uniforme, Astoria notou que suas colegas já haviam acordado. Ela aproveitou e pediu para que Caroline tirasse uma foto sua.

— Estou tão animada! — Astoria comentou enquanto esperava pelas outras.

— Nem parece que passou mal a noite inteira. — Caroline rebateu com o seu sotaque francês.

— Pelo menos ele foi gentil o suficiente para te levar até o quarto. — Sarah soltou uma risadinha.

Após o café, elas consultaram o quadro de avisos para saber em que setores haviam sido designadas. Caroline iria cuidar dos elefantes, Sarah dos chimpanzés e Astoria das zebras – ela espiou os nomes que integravam sua equipe do dia, e, para sua sorte, Draco Malfoy não era um deles.

Cada grupo de animal habitava um espaço do parque durante a noite e, pela manhã, todos eram soltos e ficavam na companhia uns dos outros. O trabalho de Astoria naquele dia era preparar as zebras, alimentando-as e verificando as condições básicas da saúde de cada animal, antes de liberar o grupo. Uma zebra apresentava sinais de estresse, então, foi levada até o outro lado do parque, onde ficava a central veterinária.

Após um longo dia repleto de náuseas, quando o parque fechou, Astoria, após organizar a área das zebras, se encaminhou até a central veterinária para verificar a situação da zebra que estava sob observação. A zebra já havia se acalmado, mas os veterinários acharam que seria melhor mantê-la isolada do grupo para ver como ela se comportaria.

— Gostaria de entrar? — Um de seus colegas, que estava responsável por cuidar da área médica, ofereceu a Astoria, que aceitou prontamente.

O compartimento em que a zebra estava era uma ampla sala cujas paredes eram de vidro. O animal estava aninhado ao redor de uma zebra de pelúcia e, ao perceber a presença de Astoria, se mostrou assustado. Para evitar que ele ficasse nervoso, Astoria pegou um dos animais de pelúcia que estavam espalhados pelo chão da sala e se sentou no centro da sala. Aos poucos, a zebra começou a se aproximar de Astoria. Astoria perdeu a noção do tempo; em certo momento, ela pegou o livro que carregava consigo e começou a ler em voz alta. Esse era um de seus passatempos preferidos e, aparentemente, a zebra gostou daquilo.

Os dias no Safári se seguiram assim: Astoria cuidava dos animais designados, orientava as visitações e cuidava também do bem estar e da saúde de cada animal. Além disso, todo dia, após o expediente, Astoria ia até o setor veterinário  visitar a zebra, a qual ela havia apelidado de Marty, em homenagem ao filme “Madagascar”. Astoria e Sarah haviam se tornado muito próximas e já tinham diversas piadas internas. Aquelas estavam sendo as melhores férias da vida de Astoria.

Certo dia, Astoria ficou responsável por cuidar das girafas e este foi um dos seus preferidos. Ao passar o dia com girafas, ela se apaixonou por tais animais.

— Olha quem decidiu aparecer. — Sarah comentou enquanto levava um pedaço de quiche até a boca. Astoria estava vivendo à base de refeições corridas. Ela era uma das primeiras a chegar ao refeitório, montava seu prato e seguia até a área médica para visitar Marty. — Como vai o Marty?

— Nossas leituras diárias têm lhe feito muito bem. — Astoria comentou sorrindo. — Temos quiche de legumes? Hoje é definitivamente meu dia!

O que Astoria não comentava, entretanto, era que ela também estava evitando os momentos no refeitório porque não queria encontrar Draco - e até o momento ela tinha tido muita sorte nisso. Até aquele dia.

— Decidiu se juntar a nós, meros mortais? — aquela voz gélida da qual Astoria vinha tentando se esquivar surgiu de repente enquanto caminhava até a área médica do parque.

— Malfoy. — Ela acenou com a cabeça. — Sempre um prazer.

— O que te fez aparecer nesse dia especial?

— É dia de quiche de legumes! Não perderia por nada.

— Nunca encontrei alguém que tivesse essa paixão por quiche.

— Talvez nunca tenha encontrado um vegetariano.

— Você é vegetariana?

— Sim.

— Posso perguntar por quê?

— Sou contra qualquer tipo de violência.

Malfoy se manteve em silêncio, pensativo. Astoria tentou interpretar aquele silêncio e o fato de que Draco estava caminhando com ela.

— Não conseguiria ser vegetariano, acho que não poderia abrir mão de comer carne.

— Sendo sincera, nunca fui muito fã de carne vermelha. Então, foi relativamente, fácil. O mais difícil para mim foi deixar de comer peixe. 

Mais uma vez o silêncio tomou conta da conversa e Astoria pigarreou.

— Eu estou indo para o centro veterinário. — ela disse como uma forma de se despedir, mas Draco franziu o cenho, mostrando curiosidade. Astoria revirou os olhos antes de responder: — Logo no primeiro dia, cuidei das zebras e uma delas não estava muito bem. Ela está internada e eu a tenho visitado.

— Não sabia que era possível.

—  Acho que não é, mas Derek, o veterinário auxiliar, me deixa ficar com Marty.

— Marty? Como a zebra de Madagascar?

— Isso!

— Bom, não quero atrapalhar seu encontro. Nos vemos por aí, isto é, caso você decida aparecer.

Dei de ombros e continuei andando.

Ela pensou, enquanto entrava na sala onde Marty estava, que não havia sido tão ruim encontrar Draco. Nas poucas vezes em que conversaram, Astoria sentia que as palavras escapavam de sua boca, como se não tivesse qualquer filtro - bom, ela estava bêbada na primeira vez em que conversaram e nessa ocasião ela definitivamente não tinha qualquer filtro.

— Preparado para o próximo capítulo, Marty? — ela perguntou para a zebra, que já havia apoiado sua cabeça sobre os joelhos dela. — Aqui as coisas começam a ficar interessantes.

xx

Como de costume, Astoria acordou cedo, fez uma caminhada pelo parque antes de ir até o refeitório para tomar seu café da manhã e depois foi consultar o quadro de designação.

Naquele dia, ela iria cuidar dos elefantes. E Draco Malfoy também.

— Você não vai acreditar quem está na minha equipe hoje.

— O seu príncipe gelado? — Sarah perguntou brincalhona, utilizando o apelido que ela e Caroline haviam dado para Draco.

— Por que diabos fui até aquele pub?!

— Nada acontece por acaso, minha querida. — Caroline comentou e um sorriso maldoso surgiu em seu rosto.

Os elefantes ficavam agrupados perto de um lago. Astoria logo percebeu que os elefantes eram muito, muito maiores do que ela imaginava e, pela primeira vez, ela se sentiu ameaçada por estar no meio dos animais.

— Medo, Greengrass? — Draco, que carregava dois baldes cheios de frutas, perguntou.

— Eles são enormes!

— Você não trabalhou com as girafas?

— Elas parecem mais simpáticas. — ela respondeu baixinho, o que fez Draco gargalhar.

Aquele dia estava especialmente quente e, em vários momentos, Astoria desejou pular no lago com os elefantes para se refrescar. Por mais que gostasse de sentir o calor em sua pele, ela era londrina e não estava acostumada com tantos dias de sol intenso.

Ela, então, avistou os filhotes e correu para cuidar deles. Um deles gostou tanto de Astoria, que quis sentar no colo dela.

— Assim você vai me esmagar! — ela disse, entre gargalhadas.

Uma outra menina que também estava com os filhotes começou a rir da situação.

— Eles são tão fofos, eu poderia passar todos os dias aqui com eles. — ela comentou e Astoria notou seu sotaque australiano.

— Eu estava morrendo de medo dos grandões ali, mas esses aqui conquistaram meu coração.

— Fiquei com medo dos chimpanzés! Eles estavam muito agitados no dia em que fiquei encarregada de cuidar deles.

— Ainda não tive essa experiência. Cuidei das girafas ontem e foi maravilhoso!

Elas conversaram por algum tempo, enquanto alimentavam e limpavam os filhotes, e Astoria descobriu que seu nome era Meredith, tinha 26 anos e era formada em veterinária.

— Esse lugar deve ser um paraíso para você! — Astoria disse. Se para ela já estava sendo maravilhoso, imagina para alguém formado em veterinária.

— Mal posso esperar para ser designada à área veterinária. — ela comentou e Astoria sorriu, pensando em Marty.

Após cuidar dos filhotes, Astoria se aproximou do lago e molhou as mãos. A vista dali era de tirar o fôlego, e ela estava bastante concentrada na paisagem até receber um jato de água gelada no rosto. Draco Malfoy estava no lago em cima de um elefante e ele gargalhava.

— Obrigada por me refrescar. — ela respondeu, tentando mascarar a irritação.

— Quem vê nem pensa que você estava se atirando em mim há três semanas. — ele respondeu com um sorriso cruel estampado no rosto.

— Não passou de um impulso motivado pela grande quantidade de bebida que eu ingeri naquele dia.

— Amadi, acho que nossa colega merece um outro jato de água.

Astoria tentou desviar, mas não conseguiu e se molhou por inteiro. Como vingança, ela pegou um dos baldes que estava ali perto e tentou, num movimento falho, molhar Draco.

— Isso não é justo! — ela gritou irritada. Encheu mais um balde, outro e mais outro. Não tinha nenhum resultado. Draco Malfoy continuava intacto.

Em uma última tentativa, Astoria utilizou toda a sua força, o que resultou no arremesso do balde para cima. O toque do balde contra a pele do elefante fez com que ele se assustasse. Inesperadamente, o animal trombou com Astoria e a derrubou na parte mais funda do lago.

Astoria já havia mencionado que não sabia nadar? Não? Talvez ela mesma tivesse se esquecido do fato e, por isso,  não teve a rotineira precaução que tinha quando estava  perto de lagos, rios ou mares. Uma mão a puxou para fora da água e, quando ela sentiu o ar entrar em seus pulmões, tossiu, expelindo água. Seu nariz queimava e sua garganta ardia.

— Você não sabe nadar?! — Draco perguntou incrédulo.

— Sua brincadeira idiota poderia ter me matado! — ela gritou para ele.

Draco a levou até a parte rasa, e assim que Astoria colocou os pés sobre o fundo do lago, empurrou Malfoy para longe.

— Foi um acidente.

— Você sabia que eu estava com medo dos elefantes e ficou me provocando. Perto de um lago, ainda por cima!

— Como eu iria descobrir que você não sabe nadar?

— Isso não é da sua conta, mas essa informação é irrelevante. — Ela fez uma pausa para tossir. — Você não pode sair jogando pessoas que você não conhece em lagos.

— Eu não te joguei em lugar nenhum.

— Sra. Greengrass, Sr. Malfoy, esse não é o tipo de comportamento que esperamos da nossa equipe. — Sunan havia presenciado todo o ocorrido e estava enfurecido. — O horário de visitação está para começar e olha a bagunça que fizeram. É melhor que vocês voltem para os quartos e cumpram as horas depois. Dispensados.

Astoria, que estava morta de vergonha, saiu apressadamente sem nem olhar para Draco. Ao passar por Sunan, ela se desculpou e seguiu até seu quarto.

Tomou um longo banho para que pudesse relaxar, colocou sua playlist favorita para tocar e deitou em sua cama. Por que sempre que ela estava perto de Malfoy coisas vergonhosas aconteciam?

Mais tarde, Astoria foi até o escritório de Wattana para se desculpar mais uma vez, e a instrutora foi bastante compreensiva.

— Eu sei que você é responsável, Astoria. E sei que você leva o trabalho a sério. Todo mundo comete erros, o importante é aprender com eles e evitar cometê-los novamente.

Astoria balançou a cabeça confirmando tudo aquilo que a instrutora havia falado.

— Draco veio até mim mais cedo e explicou que a culpa havia sido inteiramente dele, e que situações como essa não voltariam a se repetir. Então, decidi dar o meu voto de confiança a vocês.

— Obrigada, Wattana.

— Sunan pediu que vocês cumprissem as horas hoje à noite, cuidando das leoas. — Ela puxou um papel e entregou a Astoria. — Aqui estão todas as instruções. Vocês devem prepará-las para dormir.

— Certo. Que horas devo começar?

— Você e Draco podem combinar. — Ela sorriu e Astoria suspirou, um pouco frustrada por ter que realizar essa tarefa com Draco.

Ao voltar para seu quarto, Astoria encontrou Draco, com um cigarro entre os lábios, encostado na porta.

— Então, que horas você pretende começar? — ela perguntou.

— Primeiramente, eu gostaria de me desculpar. Eu não deveria ter te provocado, foi infantil. — ele falou sem olhá-la nos olhos. — De jeito algum eu queria que você se machucasse. — Ele, então, a encarou.

— Ok, eu acho. — ela respondeu de qualquer jeito. — Que horas você quer ir?

— Você me desculpa?

— Sim, Draco. Eu te desculpo. Agora, por favor, vamos cumprir as horas que precisamos cumprir.

Ele bufou irritado, apagou seu cigarro na sola de seu sapato e saiu andando.

Astoria estava muito animada para cuidar dos leões e dos tigres; eram seus animais preferidos. Mas, naquelas circunstâncias, colocar as leoas para dormir era um encargo o qual ela preferia não cumprir.

A parte dos leões era uma das maiores do parque e era uma das partes mais atrativas para os visitantes. Astoria acreditava que o homem buscava adrenalina na sua vida, e brincar com animais como leões costumava ter esse efeito.

Quando ela chegou, Draco já estava trabalhando.

O local era cheio de redes e palanques, onde as leoas gostavam de ficar. A primeira leoa que Astoria foi cuidar se chamava Nala. Nala gostava de ficar nas redes mais altas no espaço, então Astoria teve que elaborar um esquema para que Nala fosse para a rede superior. Primeiro, Astoria deu a Nala um pouco de leite quente. Depois, ela buscou o objeto favorito da leoa: uma manta roxa. Astoria brincou um pouco com a leoa e depois foi guiando Nala pela sala, com a ajuda da manta, até a rede. Nala saltou para a rede, e Astoria ficou impressionada com a precisão do salto.

Uma já foi, pensou Astoria.

Draco se mantinha em silêncio e Astoria, ainda que desconfortável, também. Quando eles já estavam quase acabando, um rugido tomou conta do espaço, fazendo com que todas as leoas se agitassem.

Draco caminhou por entre as leoas, tentando identificar qual estava emitindo os rugidos.

— Ok, temos um problema. — ele disse com uma expressão de horror.

— O que foi?

— Essa aqui está grávida e parece que chegou a hora.

Um novo rugido, agora mais alto, retumbou pelas paredes.

Astoria correu até a leoa e sentiu pena da dor que ela estava sentindo.

— Precisamos do veterinário! AGORA! — ela gritou ao desviar de uma mordida.

— Eles não respondem o rádio!

— Continue tentando. — Astoria se voltou para a leoa e tentou mostrar que ela deveria respirar fundo - como se fosse funcionar.

— Parece que você vai ter que dar um jeito nisso.

— Eu? COMO VOCÊ ESPERA QUE EU FAÇA ISSO?

— VOCÊ É UMA MULHER, DEVE TER UMA NOÇÃO BÁSICA SOBRE PARTOS!

— Se não estivéssemos em uma crise, eu te daria uma grande lição sobre o seu comentário sexista.

— Boa noite. Qual o problema? — O rádio bipou.

— Temos uma emergência na área das leoas. Uma delas entrou em trabalho de parto.

Não demorou muito até que o veterinário chegasse e resolvesse a situação. Após o nascimento dos filhotes, a leoa foi levada para o centro veterinário.

Assim que o veterinário deixou a área das leoas, Astoria, que até então estava em choque, caiu na gargalhada, e não muito tempo depois Draco a acompanhou.

— Não é todo mundo que pode dizer que passou por tudo o que passamos nesse dia. — Draco comentou.

— Com certeza.

Como resultado de tudo que aconteceu, todas as leoas estavam dispersas e agitadas. Eles ainda teriam muito trabalho pela frente. Já era madrugada quando os dois deixaram a ala das leoas.

— Eu estava pensando… Talvez eu pudesse te levar para jantar a fim de compensar o dia de hoje. — Draco sugeriu com um pouco de receio.

Draco não conseguia entender o motivo da sua fixação com relação a Astoria. No dia em que chegou ao parque ecológico, Draco reconheceu Astoria e até cogitou falar com ela, mas não o fez. Naquele mesmo dia,os instrutores organizaram uma confraternização em um  pub que ficava nas redondezas e, no momento em que Draco avistou Astoria, ele não foi capaz de tirar os olhos dela. Para integrar o grupo, decidiram realizar o jogo da garrafa, o que, na opinião de Draco, era uma idiotice. Mas, como uma ironia do destino, a garrafa selecionou Draco e Astoria.

Após o pedido, Astoria o encarou por alguns instantes, pensando no que aquilo poderia significar.

— Nós começamos com o pé errado… — ela falou e Draco assentiu. — Acho que pode ser uma boa ideia.

— Mas, por favor, dessa vez sem vômito. — ele comentou com um sorrisinho sacana, o que fez Astoria corar.

xx

Ao se olhar no espelho, Astoria gostou do que viu, mas estar satisfeita com sua aparência não impedia que o nervosismo a consumisse.

— Uau! — Sarah bateu palmas ao olhar para Astoria. — Grande noite, hein.

— Não é nada. — Astoria fez um gesto com as mãos, tentando transparecer descaso.

— Você está em frente a esse espelho por, no mínimo, vinte minutos.

Astoria sentou-se em sua cama e olhou para sua amiga que estava com seu computador aberto no colo, assistindo uma série.

— Será que vai ser estranho? — ela perguntou, torcendo o nariz. — A gente não se conhece.

— O objetivo desse encontro é justamente mudar isso, Ast.

— Eu sei, mas…

— Bom, você já aceitou sair com ele. Se você se sentir desconfortável ou se ele for um chato de galocha, pede uma sobremesa deliciosa para não desperdiçar o jantar.

Astoria soltou uma risadinha e sua resposta foi interrompida por algumas batidas na porta.

— Sarah, troca de vida comigo? — Astoria resmungou baixinho.

Essa era uma brincadeira que elas haviam criado. Sempre que uma delas passasse por alguma situação desconfortável, elas perguntavam se a outra gostaria de trocar de vida.

Sarah balançou a cabeça de um lado para o outro e Astoria respirou fundo antes de abrir a porta.

— Boa noite. — Draco tinha uma voz baixa e arrastada que fazia com que os pelinhos da nuca de Astoria se eriçarem. — Você está linda.

— Ora, obrigada.

— Pensei que pudéssemos ir a um bistrô que não fica muito longe daqui. — ele comentou enquanto eles deixavam o parque para trás. — Eu pesquisei o cardápio e eles têm várias opções de pratos vegetarianos.

Astoria o encarou por alguns segundos e sorriu. Foi um gesto legal, ela pensou.

As ruas de Nonthaburi eram estreitas, e o parque ecológico era muito bem localizado; havia um pequeno centro, com vários restaurantes, bares, mercados locais e lojas, próximo ao safári. Os dois caminhavam lado a lado sem dizer uma palavra. Será que eles tinham alguma coisa a ver?, Astoria se perguntou.

— Então, você é da Inglaterra? — ela tentou puxar um assunto.

— Minha família é de lá, mas estou morando na Alemanha. — ele respondeu sem se prolongar no assunto, e Astoria percebeu que falar sobre a família dele não era algo que o agradava.

Astoria não gostava do começo de relacionamentos. Era uma época um pouco conturbada, em que as pessoas não possuíam intimidade e não conheciam os gostos um do outro.

— Por causa da faculdade? — ela arriscou.

— Já sou formado.

— Então… O que te levou a Alemanha?

— Oportunidades de emprego. — ele disse simplesmente. — E a distância de meus pais. — completou de maneira relutante.

— Bom, já temos algo em comum: problemas com os pais. — Ela sorriu um pouco sem graça.

— Qual a sua situação?

— Meus pais esperavam que suas filhas seguissem a vida que eles haviam planejado. Isso deu certo com Daphne, mas eu sou um experimento que deu errado. Fica difícil competir com o modelo ideal. — ela explicou. — Eu não deveria falar sobre a Daphne com você.

— Por que não?

— Vocês sempre foram ou são amigos. Nossas visões são completamente diferentes. — Ela soltou uma risada pelo nariz.

— Chegamos. — Draco indicou um pequeno restaurante com a mão.

O bistrô era todo iluminado por velas, havia uma música ambiente tocando e o maître os guiou até uma mesa que ficava de frente para uma grande janela com vista para um bonito jardim.

— Sofá ou cadeira? — Draco perguntou para Astoria, que se dirigiu ao sofá.

— Aqui é lindo. — ela comentou, observando cada detalhe do lugar.

Draco apoiou uma de suas mãos sob o queixo e aproveitou para estudar o rosto de Astoria, que estava distraída com a estrutura do bistrô. Quando ela percebeu que Draco a encarava, seus olhos se arregalaram, o que fez com que ele soltasse uma risadinha. Ele sabia que a deixava nervosa e gostava disso.

— Não é engraçado que a garrafa escolheu justo nós dois? Que já nos conhecíamos?

— Argh. — Astoria bufou e escondeu o rosto com as mãos. — Não gosto de lembrar daquela noite.

— Vamos lá, não foi tão ruim.

— Eu estava completamente fora de mim.

— Esses são nossos melhores momentos.

— Você, mais que qualquer outra pessoa, deveria saber que não foi um dos meus melhores momentos. — Ela o encarou e sorriu. — Eu vomitei em você. — sussurrou envergonhada.

— Ao lembrar daquela noite, prefiro pensar nos nossos beijos.

Ela o olhou incrédula.

O garçom trouxe os pratos que haviam pedido, e eles comeram em silêncio. Na maioria dos encontros, o silêncio costuma ser um mau sinal, mas Astoria e Draco achavam aquele silêncio um sinal de companheirismo. Os dois cresceram de maneiras similares, inseridos no mesmo contexto social, e os dois queriam, desesperadamente, se afastar do modo como suas famílias viviam. Ainda que fossem reservados, havia uma compatibilidade indescritível entre eles.

— Devo admitir, você escolheu muito bem.

— Eu tenho um gosto impecável, Greengrass. — ele respondeu daquela forma ácida típica. — Que bom que gostou. Não sabia se conseguiria agradar uma vegetariana.

Ela soltou uma risada.

— O fato de eu ser vegetariana realmente te incomodou.

— Eu diria que me fascinou.

— Fascinar você? Isso é algo possível? — Ela brincou e ele revirou os olhos. — Bem que eu achei que por baixo dessa sua camada fria havia um coração mole.

— Você é a primeira a achar isso.

— Estou certa?

— Terá que descobrir sozinha. — Ele se levantou e puxou um cardápio do balcão. Quando retornou para a mesa, sentou no sofá, ao lado de Astoria. — Sobremesa?

— Bolo de laranja vegano? — ela sugeriu receosa e Draco balançou a cabeça de um lado para o outro.

— No que eu fui me meter…

Ele fez um sinal para o garçom, pediu a sobremesa de Astoria e incluiu um brownie vegano.

— Aqui. — Astoria colocou um pedaço de seu bolo de laranja no garfo e esticou a mão até Draco.

— Greengrass, não preciso que você me dê comida na boca. — ele falou baixinho, tentando parecer irritado.

— Ei, Malfoy, você está estragando o momento. — ela respondeu antes de levar o garfo até a boca do rapaz.

— Ok, talvez eu tenha julgado erroneamente sua escolha. — Draco falou, saboreando o pedaço de bolo.

— Meu gosto também é impecável, Malfoy. — Ela sorriu, provocando-o. — Agora, o brownie.

Astoria deu uma mordida no brownie e depois fez menção de levar até a boca de Draco, mas ele segurou o queixo de Astoria e a puxou para perto.

— Você está com… — Draco não concluiu a frase. Seus olhos estavam pregados nos lábios de Astoria e seu único pensamento era beijá-la.

Astoria prendeu a respiração e sentiu seu coração dar um pulo. Estando a poucos milímetros de Draco, percebeu o quanto ela o queria. Fechou os olhos, e antes que pudesse pensar em algo, sentiu os lábios de Draco nos seus. Um súbito calor percorreu sua espinha e Astoria finalmente entendeu o que era se derreter por alguém.

— Um pedaço de brownie na boca. — ele completou a frase, ainda anestesiado pelo beijo, e sorriu abertamente. Astoria sentiu suas bochechas queimarem e soltou uma risada sem graça.

O bistrô estava fechando, assim, o garçom trouxe a conta dos dois. Draco puxou o papel para si, impedindo que Astoria visse o valor.

— Não é justo que você pague tudo, Draco.

— Você é minha convidada. — ele respondeu e jogou algumas notas sobre a mesa.

Draco se levantou e estendeu a mão na direção de Astoria, para ajudá-la a levantar. Eles agradeceram ao garçom pelo serviço e deixaram o bistrô.

— Devo imaginar que você também é feminista. — ele falou antes de puxar um cigarro do pacote.

— Todos deveriam ser feministas. — ela explicou. — As pessoas não entendem o conceito do feminismo. Ser feminista é acreditar que as mulheres merecem as mesmas oportunidades que os homens, é acreditar na igualdade dos gêneros. O feminismo defende a liberdade das mulheres.

Draco acendeu seu cigarro e assentiu. Astoria notou que eles andavam de mãos dadas e ela estranhou a familiaridade que sentiu naquele contato. 

— Você tem uma opinião formada sobre tudo.

— Eu te disse no nosso primeiro dia aqui. — Ela deu de ombros.

— Eu gosto disso. — ele admitiu. — Eu gosto de você.

Astoria engoliu em seco. Por mais que eles não fossem estranhos um ao outro, visto que suas famílias sempre foram amigas, eles não se conheciam de verdade e isso a assustava. Mas, ao mesmo tempo, ela se sentia completamente à vontade com Draco, e essa sensação era algo raro para Astoria.

— A noite foi agradável. — Astoria respondeu, e Draco parou de repente.

— Eu digo que gosto de você e essa é sua resposta?

— O que você quer que eu diga?

— A resposta padrão seria algo como “Puxa, Draco, eu também!”.

— Puxa, Draco, eu também! — Astoria respondeu mecanicamente e sorriu. — As coisas estão muito recentes, é só isso. — ela explicou e se aproximou dele.

— Sei que as coisas estão recentes, mas eu quero ficar com você. — ele falou baixinho, como se não quisesse admitir aquilo em voz alta.

— O que acontece quando voltarmos para casa? — Astoria perguntou, e ele deu de ombros. — Para que isso dê certo, precisamos ter em mente que no momento em que as férias acabarem, nosso relacionamento acaba.

— Faz sentido. — Draco concordou. Astoria estendeu a mão para Draco, que a chacoalhou, e os dois firmaram o acordo. — Isso foi fácil. — ele comentou e apoiou um de seus braços ao redor dos ombros de Astoria.

                Ao chegarem ao parque, Astoria olhou para o céu, que estava claro como nunca, e sorriu.

— Você pretende fazer algo comigo hoje ou…? — Astoria perguntou, fazendo referência à noite do pub, em que Draco dissera que não faria nada com ela, pois estava muito bêbada.

— Ah, eu pretendo. — Um sorriso maldoso surgiu em seu rosto. — Pode ter certeza.

Draco pegou Astoria pelas pernas e a jogou sobre seu ombro. Quando chegaram ao quarto de Draco, ele a jogou sobre a cama e fechou a porta do quarto com o pé. Logo depois, já sem camisa, ele se juntou a ela.

xx

                A intensidade do relacionamento de Draco e Astoria evoluiu rapidamente. Os dois estavam sempre juntos: trabalhando na mesma equipe, se aventurando pelo safári, visitando os pontos turísticos de Nonthaburi e conhecendo restaurantes exóticos.

                — As coisas estão ficando sérias entre vocês dois, não é mesmo? — Sarah perguntara à Astoria. Ela fez que não com a cabeça, mas não conteve um sorriso ao olhar para Draco, que estava do outro lado da área dos tigres.

Draco sempre fazia perguntas à Astoria, desde “qual sua cor favorita” até “por que ela se sentia deslocada em sua família”; ele queria saber tudo, o que podia e até mesmo o que não podia. E, a cada dia que passava, Draco se encontrava mais fascinado pela personalidade dela. Astoria não conseguia imaginar uma felicidade maior do que a que sentia naquele momento.

— Se você pudesse escolher um poder, qual seria? — ele perguntou.

Eles estavam deitados na cama de Draco, sob os lençóis, e Astoria estava debruçada sobre o torso dele. Draco a observava enquanto brincava com seus dedos. Os raios de sol daquele fim de tarde entravam pelas frestas da janela e banhavam as costas de Astoria.

— Controlar mentes. O mundo seria melhor se eu pudesse controlá-lo. — Ela brincou. — E você?

— Voar.

Ele percebeu o quanto soou como um garotinho de oito anos e soltou uma risada pelo nariz. Astoria sorriu e depositou um leve beijo em seu nariz.

Os dois estavam em uma sintonia inexplicável e tudo parecia estar a seu favor, a não ser o tempo.

                Nos finais de semana, os membros da equipe tinham folga dos afazeres do parque, logo, podiam conhecer a província de Nonthaburi e os seus arredores. Naquele sábado específico, o dia amanhecera nublado, mas Draco, que estava determinado a fazer com que Astoria perdesse o medo de mar, havia alugado um pequeno barco para que os dois passeassem por uma lagoa da cidade.

                — Viu como é calmo, não precisa ter medo.

                — Eu tenho medo do que tem embaixo da água. — ela explicou. — Draco, sei que sua intenção em me trazer para esse passeio foi a melhor. Mas, por favor, podemos voltar?

Ele assentiu.

Enquanto voltavam para o cais, Astoria arriscou colocar a mão na água por alguns instantes. Ela olhou para Draco, que sorriu, reconhecendo o esforço que ela estava fazendo.

Ao retornarem para o centro da cidade, eles pararam em uma delicatessen para fazer um lanche.

— Desculpa por ter arruinado o passeio de hoje. — Astoria falou.

— Você não arruinou. Foi uma tentativa que não deu certo, mas podemos fazer outra coisa.

— Qualquer coisa que não envolva o mar. — ela comentou, rindo, e ele assentiu. — Podemos ir até o Somdet Phra Srinagarindra Park mais uma vez. Podemos fazer um piquenique!

Eles compraram algumas coisas na delicatessen e caminharam até o parque. Sentaram-se no gramado e fizeram um piquenique simplificado.

— Não acredito que em duas semanas vamos embora. — Draco comentou, e Astoria o observou, tentando ler sua expressão.

Por ser um relacionamento com data de validade, eles haviam combinado que não iriam contar os dias que ainda tinham juntos. Entretanto, secretamente, os dois contavam com pesar e agora que faltavam poucos dias, havia uma certa tensão entre eles.

— Nós ainda temos duas semanas. Isso que importa. — Ela sorriu e o beijou.

Draco soltou um muxoxo e Astoria se afastou.

— Tive o desprazer de comer um pedaço do alface roxo que está no seu sanduíche. — ele comentou, e ela gargalhou.

O tempo voa quando estamos nos divertindo. A expressão não poderia se encaixar melhor naquele contexto. Os dias passaram voando e quando eles se deram conta, era o último dia de trabalho no safári e a última noite em Nonthaburi.

Em seu último dia, Astoria ficou encarregada de cuidar das zebras. Ela não poderia ter pedido melhor designação, pois pôde ver Marty completamente recuperado e inserido em seu antigo habitat. Após o expediente, Astoria ficou na companhia de Marty. Ela retirou o livro de sua mochila e leu o epílogo do livro que sempre lia durante a recuperação do animal.

Draco apareceu na área das zebras. Ele sabia que Astoria havia se apegado demais a Marty e a despedida seria um tanto dramática, então ele achou que seria bom estar lá para ela. E foi, pois assim que Astoria deixou a área das zebras ela caiu no choro. Draco a abraçou e afagou seus cabelos até que ela parasse de chorar.

Naquela noite, eles iriam ao mesmo bistrô aonde foram no primeiro encontro.

Enquanto Draco esperava por Astoria, ele tentava encontrar algum jeito de dizer a ela que ele a amava e que gostaria de tentar manter um relacionamento ainda que os dois vivessem em países diferentes.

— Ei. — Draco sentiu os braços de Astoria o envolverem por trás.

— Você está muito charmoso, Malfoy. — ela comentou antes de depositar um beijo na bochecha dele.

O jantar transcorreu sem qualquer problema, mas Draco não podia mais segurar sua ansiedade.

— Astoria. — ele falou de repente e ela o olhou com o cenho franzido. — Essa experiência não teria sido a mesma sem você.

Ela sorriu e acariciou a mão de Draco.

— Eu te amo.

— Eu também te amo, Draco. — ela respondeu com um sorriso melancólico.

— Eu estava pensando... — ele começou. — A Alemanha não fica tão longe da Inglaterra e eu...

— Pode parar por aí. — Ela levantou a mão, interrompendo-o.

— Nós nunca conversamos sobre isso.

— Porque nós temos um combinado, Draco.

— Sim, mas as coisas mudaram, então pensei que pudéssemos mudar o que combinamos.

— Mudaram como?

— Você sabe como. — Ele bufou irritado.

— Você está complicando as coisas. — Ela cobriu o rosto com as mãos. — Por favor, não faça isso.

— Eu quero ficar com você, Astoria. Não é o fim do mundo, por que você age como se fosse?

— Nós sabíamos que nosso relacionamento teria um prazo de validade e aceitamos isso. — Astoria sentiu um tremor tomar conta de seu corpo.

— Sim, mas…

— Como você acha que as coisas vão funcionar quando voltarmos para a Europa? Você vai estar em um país, eu vou estar em outro. Cada um vai voltar para sua rotina: você trabalha em tempo integral, eu estudo e trabalho. No fim do dia, os dois vão estar cansados e nosso relacionamento vai ficar em segundo plano, e, com isso, o sentimento que temos um pelo outro vai se desgastar.

— Você não tem como saber o que acontecerá no futuro, Astoria! — Draco bateu uma de suas mãos na mesa, a fim de descontar sua raiva. — Dê uma chance a nós.

— Eu não quero uma chance. Essa foi a nossa chance.

Astoria levantou-se e deixou o bistrô. Ela se sentia fraca, sua pernas estavam bambas,  sua respiração descompassada e sua cabeça latejava. Draco apareceu alguns instantes depois e manteve sua distância.

— Não fique chateado comigo. — Ela se aproximou dele e acariciou seu rosto. O toque fez com que ele fechasse os olhos.

Pela primeira vez na vida, Draco havia se apaixonado e, por isso, resolveu se arriscar. Deus! Como ele se sentia mal...

— Não posso evitar.

— Por que você está fazendo isso agora? — ela perguntou com a voz embargada.

— Eu não sabia o que esperar de você. — ele rebateu. — E, pelo visto, eu deveria ter esperado o pior.

— Você está mudando o que nós havíamos combinado, Draco!

— Qual o problema, Astoria? — Ele levantou os braços insatisfeito. — Por que você está tão apegada ao que combinamos? Eu te amo, porra. Isso não é suficiente?

— É assim que você quer passar a nossa última noite juntos? — Astoria cruzou os braços como se estivesse protegendo seu peito.

— Eu não quero que essa seja nossa última noite. — ele gritou.

— Mas é! — Astoria gritou de volta. — E você estragou tudo.

Ela o empurrou com força, o que o fez cambalear. Draco soltou uma risada cruel, o que fez com que Astoria, num ato enfurecido, pulasse em seu cangote e o enchesse de tapas.

— O que você pensa que está fazendo? — ele perguntou ao tentar segurar os braços dela. — As pessoas estão olhando.

— Você estragou tudo, Malfoy! — Astoria gritou antes de cair no choro. Após um soluço, ela escorregou de volta para o chão e se afastou de Draco, caminhando na direção do safári.

O caminho até o parque foi silencioso, e, dessa vez, o silêncio foi desconfortável. Draco a deixou na porta de seu quarto e, antes de partir, beijou o topo da cabeça dela.

xx

— Muito obrigada pelo ótimo trabalho em equipe, pela cooperação e pela dedicação. Espero que a experiência tenha sido maravilhosa para todos e até a próxima, pessoal! — A instrutora Wattana se despediu do grupo, que já estava pronto para deixar o parque.

Astoria estava com a ponta do nariz vermelha e os olhos estavam molhados. Ao seu lado estavam Sarah e Caroline. As três haviam trocado seus endereços de e-mails e seus números de telefones.

— Não é justo, sabia? Estarei em outro continente. — Sarah comentou.

— Não se preocupe, vamos nos falar toda semana. — Caroline respondeu. — Vai ser como “Quatro Amigas e Um Jeans Viajante”! Mas, no caso, serão três amigas conversando por e-mails ao invés de cartas.

— Ou por whatsapp. — Astoria apontou para o celular e abriu o aplicativo. Selecionou os contatos de Caroline e Sarah, escolheu uma foto das três e criou um grupo. — Pronto. Grupo criado.

— Como não pensei nisso antes?! — Sarah se perguntou baixinho.

— Eu esqueci completamente que tinha celular enquanto estava aqui! — Caroline falou, rindo. — Na verdade, não faço ideia de onde está! — Ela começou a revirar sua bolsa de mão e quando encontrou seu celular soltou um palavrão em francês.

Quando os ônibus começaram a deixar o parque ecológico, Astoria olhou para trás a tempo de ver Wattana, Sunan e os demais instrutores acenando, e seus olhos se encheram de lágrimas. Ela pensou em todos os animais de que cuidou, pensou em Marty, pensou na leoa que havia dado luz, pensou nas amizades que fez ali e, por fim, pensou em Draco. E foi aí que ela se permitiu chorar. Sarah a abraçou e ela sorriu em agradecimento.

Aquele havia sido um ótimo verão.

xx

— Última chamada para o voo JJ8603 com destino à Londres. Embarque no portão 31. — a voz da aeromoça ressoou pelo aeroporto. — Última chamada para o voo JJ8603 com destino à Londres!

Astoria já estava acomodada em sua poltrona. Selecionou na sua TV o álbum da Adele, sua cantora preferida, e abriu um pacote de chocolate. Ela estava muito grata pela experiência, mas Astoria não se sentia feliz.

Durante a madrugada, Astoria não conseguia adormecer. Ela já havia assistido a dois filmes e estava para começar seu terceiro quando ouviu um barulho. Ela esticou o pescoço e espiou o corredor. A figura de Draco Malfoy se materializou ao lado de Astoria.

— O que você está fazendo aqui? — ela perguntou incrédula.

— Decidi visitar meus pais.

Todos os alertas no cérebro de Astoria se acenderam. Por mais que seu coração tenha acelerado ao vê-lo, ela sabia o que Draco estava fazendo naquele voo.

— Ah, é? Isso é ótimo.

Ele assentiu e colocou suas mãos nos bolsos de sua calça.

— Então, é aqui que a realeza fica?

Astoria o encarou com o cenho franzido e ele continuou.

— Como comprei minha passagem em cima da hora, as únicas vagas eram na classe econômica.

— Eu não acredito que o senhor eu-paguei-mais-para-ficar-sozinho está na classe econômica.

Draco sorriu e se sentou no chão.

— A verdadeira razão de eu estar neste voo é você. Não queria que terminássemos do jeito como aconteceu, eu não poderia deixar você ir embora sem resolver as coisas. — Ele suspirou. — Você estava certa. Não daria certo manter um relacionamento à distância.

— Nosso objetivo nunca foi manter um relacionamento à distância.

— Meu objetivo nunca foi me apaixonar.

Ela o encarou por alguns segundos e sentiu seu estômago revirar. Astoria queria estar com ele e, naquele momento, nada parecia fazer mais sentido do que beijá-lo.

— Ainda não chegamos na Inglaterra. — ela falou baixinho e Draco se levantou rapidamente. Ao passar por ele, Astoria entrelaçou seus dedos nos de Draco e o guiou até o banheiro.

— Esse banheiro é tão melhor que o outro.

Astoria revirou os olhos e o puxou para um beijo. Ela sentiu seu corpo se descontrair e uma sensação familiar tomou conta de seu corpo - eles se encaixavam tão bem.

— Deus, eu te amo tanto. — ele sussurrou antes de levantar a saia do vestido que Astoria usava.

Ela segurou o queixo de Draco e encarou aqueles olhos cinzentos e misteriosos. Não precisou dizer nada, pois ele entendeu o que ela sentia. Era algo que transbordava. Astoria se sentia exposta, como se Draco pudesse enxergá-la completamente, e ela nunca se sentiu tão assustada.

— Eu preciso de você. — ela disse baixinho. — Agora.

xx

 Já havia se passado um ano desde a viagem.

Astoria Greengrass estava muito bem, obrigada. Era domingo à tarde e isso significava lotação no Victoria Parque. Como de costume, Astoria e Heather gostavam de sentar junto a uma árvore e ler. Astoria estava lendo “O Grande Gatsby” de Fitzgerald pela terceira vez.

— Gatsby foi tão incompreendido! — Ela abaixou o livro e comentou com a colega. Pitel estava enroscado nos pés de Astoria e ronronou ao ser acariciado por ela.

— Ele era um gângster, Ast.

— Eu sei. Mas ele era tão cegamente apaixonado por Daisy que acreditava que seria possível esquecer os anos que perderam por estarem separados.

— Isso é loucura. Não há como fingir que os anos não se passaram. Gatsby perdeu a Daisy justamente por ficar preso ao passado.

— Eu consigo entender a lógica dele. — Astoria deu de ombros.

— Sabe o que eu reparei? — Heather perguntou, encarando-a. — Você não terminou o scrapbook da Tailândia.

— Está tudo muito corrido e…

O verdadeiro motivo que tinha impedido que ela terminasse seu scrapbook da viagem era o fato de que ela não queria mexer em suas fotos com Draco. Ela guardara as fotografias em uma caixa que estava em cima de seu guarda-roupa, onde era muito alto para que ela alcançasse.

— Você sempre termina seus scraps, Ast.

Inusitadamente algo chamou a atenção de Astoria. Ela avistou um homem alto com cabelos loiros quase brancos e um cigarro na mão.

Será que…?

Poderia ser…?

Draco?


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem...Principalmente minha amiga secreta, Cornelia, a quem eu dedico essa fic! ♥

Bjs,
M.