Begin Again escrita por Nicolle Bittencourt


Capítulo 1
Numa quarta-feira, eu vi isso começar de novo


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores lindos! Quanto tempo, não? Tudo bem com vocês?
Então, aqui estou eu de volta com uma song fic. Eu sei que não é exatamente como a maioria gostaria que eu tivesse voltado (sei que vocês esperam atualização da “Momentos”, isso é, se é que ainda tem algum leitor meu aqui), mas eu fiquei inspirada esses dias e resolvi terminar essa song que tinha começado no início do ano, então espero agrade vocês.
Essa fic é inspirada na música “Begin Again” da Taylor Swift. E, só pra deixar claro, nenhum dos personagens é semideus, todos são humanos, então, isso é um universo alternativo.
Espero que gosto! Falo com vocês novamente nas notas finais. Boa leitura!



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Respirei fundo enquanto me olhava no espelho, uma sensação de nostalgia tomou conta de mim enquanto eu fazia isso. Era engraçado como eu já sentia que havia superado ele e mesmo assim me pegava sentindo saudade de uma situação ou de um sentimento relacionado a ele. Sim, porque eu sabia que não era saudade dele.

Acho que sentia isso porque aquela era a primeira vez que saía para um encontro desde que havia terminado com Luke. Era meu primeiro encontro com alguém desde que eu terminei com ele, isso já fazia oito meses. Por que eu terminei com ele? Bem, eu descobri que o idiota estava saindo com uma garota da fraternidade local pelas minhas costas.  

Okay, basicamente, eu descobri porque a minha melhor amiga, Thalia, me contou que viu os dois numa festa se beijando. A princípio eu não queria acreditar, mas ela era Thalia, minha melhor amiga desde a infância, eu sabia que ela não mentiria para mim sobre uma situação assim.

Obviamente, eu terminei tudo com o Luke e não quis saber dele, na verdade, havia o odiado mortalmente, mas... Não era como se eu pudesse controlar a sensação de uma estranha nostalgia toda vez que pensava em algo relacionado a ele. Não era saudade dele, era saudade do que me era familiar, afinal, nós havíamos namorado durante todo o colegial e parte da faculdade e nos conhecíamos a mais tempo do que isso. Nossos pais até brincavam que um dia iríamos nos casar, só que isso foi antes, antes de ele me trair.

Sacudindo a cabeça, me concentrei na minha imagem diante do espelho.

Meus cachos loiros caíam em ondas perfeitas sobre meus ombros, minha maquiagem era sutil, e meu vestido de verão parecia impecável. Além disso, eu estava particularmente feliz por estar usando meus saltos altos para ir a um encontro, aquela deveria ser a primeira vez em tempos que os usava para ir a um, considerando que Luke não gostava que eu os usasse já que eu ficava um pouco mais alta do que ele (algo realmente ridículo, não sei por que homens sentem sua masculinidade afetada quando garotas ficam mais altas do que eles). Em todo caso, não era algo que eu devesse me preocupar hoje, ainda mais considerando que, de qualquer forma, o garoto que eu iria encontrar era mais alto do que eu.

Dei os últimos retoques e percebi que já estava quase na hora que eu havia combinado de encontrar com Percy.

Sim, o nome do garoto que eu iria encontrar era Percy, na verdade, Perseu Jackson, mas seu apelido era Percy.

Com receio de me atrasar para encontra-lo, peguei minha bolsa, minhas chaves e saí de casa. Diferentemente do que eu costumava fazer quando saía, tranquei a porta, já que Thalia (minha melhor amiga e colega de apartamento) havia aproveitado o feriado para ir visitar a família, então, o apartamento estava apenas aos meus cuidados.

Peguei o elevador e me dirigi até a garagem. Lá estava o meu carro, não era como se tivesse marcado com Percy em algum lugar extremamente longe, mas era necessário usar o carro se eu não quisesse chegar atrasada à confeitaria que havíamos marcado de nos encontrar.

Entrei no carro e liguei o rádio, apenas para me deparar com a música “Paradise” do Colplay tocando. Foi inevitável não pensar em como naquela hora Luke estaria revirando os olhos e dizendo que não conseguia entender o significado daquela música. E só Deus sabe o quanto aquilo me irritava, porque eu entendia a letra.

Argh, eu precisava parar de ficar me lembrando de situações que envolviam ele. Mas isso era resultado de cinco anos de namoro e oito de amizade. Era inevitável não pensar nele em situações assim, só que eu precisava tentar.

Olhei o relógio do carro ao estacionar na esquina da Rua Church, percebendo que era um feito ter chegado em menos de 15 minutos onde ficava La Patisserie, a confeitaria que havia combinado de encontrar com Percy. Eu realmente esperava que fosse demorar mais, já que era uma quarta-feira e durante a semana o trânsito local costumava ser um pouco intenso. No entanto, acho que o feriado havia feito com que menos pessoas estivessem nas ruas naquele horário.

Mordi o lábio inferior considerando a hipótese de ficar no carro mais alguns minutos, quero dizer, eu havia chegado cinco minutos antes da hora combinada com Percy pensando que o trânsito estaria pior e eu sabia que ele, muito provavelmente, chegaria atrasado, assim como sempre chegava atrasado para nossas aulas de História Americana nas terças à tarde.

Entretanto, cheguei à conclusão de que era idiota ficar dentro do carro, era melhor esperar por ele dentro da loja e aproveitar para conhecer o local, já que eu nunca havia estado lá e aquela fora uma ideia de Percy.

Talvez você esteja se perguntando como nos conhecemos.

Bem, ambos cursávamos a Universidade de Harvard há dois anos. Eu cursava arquitetura; ele, oceanografia; o que não é lá muita coisa em comum, fora que o Campus é imenso.  Por isso mesmo, eu nem fazia ideia quem ele era até que Percy começou a ter aulas comigo e com a Thalia de História Americana no começo daquele período. O professor tinha organizado a turma em duplas para um trabalho e, como ele sorteou aleatoriamente quem ficaria com quem, acabou que minha amiga e Percy formaram uma dupla enquanto eu tive que trabalhar com outra colega de classe.

Enfim, Thalia logo se tornou amiga dele, quero dizer, ela gostava mesmo era de pegar no pé dele pelo fato dele viver atrasado e às vezes ser meio lerdo para entender certas situações, mas eu sabia que aquela era a definição dela sobre ser amiga de alguém. Então, em pouco tempo, ela estava chamando-o para sair com a gente e ir lá em casa, e por mais que eu achasse Percy legal, eu apenas o via como “o amigo da Thalia”. Okay, ele era bonito e tudo mais, só que eu não estava realmente no clima pra ficar me interessando por ninguém considerando que fazia um mês que havia terminado um namoro. Fora que eu achava que a Thalia tinha algum interesse romântico nele, o que se provou ser uma grande precipitação da minha parte, pois ela me garantiu que ele era só seu amigo, quase um irmão.

Tudo isso mudou quando, há dois meses, nós tivemos que fazer um trabalho juntos sobre a “Arte americana durante o período colonial” (novamente, o professor havia feito o mesmo sistema de sorteio de duplas) e eu tive a chance de realmente conversar com ele. A princípio foi estranho, porque nenhum de nós sabia o que dizer, nós nunca realmente conversáramos a sós, apenas com Thalia, então, era meio bizarro. No entanto, em pouco tempo nós começamos  a nos entender, eu comecei a perceber o quão legal ele era e porque Thalia havia se tornado sua amiga. Quero dizer, o cara era super simpático, gentil e engraçado, fora que era bonito, eu conseguia entender porque algumas garotas da nossa classe viviam cochichando quando ele passava, quase como se revivessem o colegial outra vez.

Eu admito, ele era bem irritante às vezes e eu discordava de muitas coisas com ele, na verdade, nosso trabalho quase não dera certo porque vivíamos discutindo sobre detalhes bobos e nossa ida ao museu (para pesquisar sobre as artes e a influência inglesa nos Estados Unidos) quase terminou numa catástrofe quando ele perdeu um dos meus papéis de anotação e eu quis mata-lo por aquilo. Entretanto, nós estávamos nos dando melhor desde então, tanto que ele havia me chamado para sair naquele feriado.

Para mim era apenas um passeio entre amigos, mas Thalia havia insistido que com certeza era mais do que isso e vivia dizendo que sentia uma “química” entre nós e não sei mais o quê, aliás, fora ela que insistira para que eu me vestisse para um encontro ou quando chegasse de viagem acabaria comigo. Sendo assim, o que mais eu poderia fazer, certo?

Adentrei a confeitaria esperando que ele chegasse atrasado, mas fui surpreendida ao ver que Percy já estava lá dentro, perto da enorme janela lateral, sentando diante de uma mesa de madeira parecendo meio ansioso enquanto olhava para porta. Então ele me viu entrar e sua expressão foi de puro alívio enquanto acenava para mim.

Será que ele esperava que eu não fosse? Há quanto tempo ele estava ali?

— Olá! Há quanto tempo você está aqui? Espero não ter te feito esperar muito. – disse enquanto caminhava até a mesa onde ele estava e percebia que era um pouco antes das três da tarde.

— Oi! Não se preocupe. Não estou aqui há muito tempo. – ele se levantou da cadeira e me cumprimentou com um beijo na bochecha, o que fez com que nós dois corássemos.

Surpreendentemente, ele puxou minha cadeira (que era toda de madeira trabalhada e acolchoamento de veludo) e me ajudou a sentar como um verdadeiro cavaleiro, o que me deixou totalmente surpresa e sem palavras porque nunca ninguém havia feito aquilo para mim.

— O-obrigada.  – eu disse enquanto olhava seus olhos verde mar que me encaravam com interessante — Não sabia que você era tão cavalheiro.

— Devo admitir que em geral eu não sou, mas com você eu tenho vontade de ser. – ao dizer isso ele corou de uma maneira adorável.

Era tão fofo e engraçado como aquele jovem homem de 20 anos corava quando dizia coisas daquele gênero, não que eu fosse muito melhor, já que sempre acontecia o mesmo comigo.

Devido ao seu gesto, eu começava a pensar que talvez Thalia tivesse razão, talvez aquele fosse realmente um encontro.

— Então, senhor Jackson, vai me dizer por que escolheu esse lugar para nos encontrarmos ou continuará com o mistério?

Ele sorriu enquanto pegava o cardápio em cima da mesa.

— Simplesmente porque eu amo doces e essa é a melhor confeitaria da região. Tudo aqui é incrivelmente delicioso e, como eu nunca vejo você comendo doces, achei que era hora de alguém te mostrar os verdadeiros prazeres da vida. Talvez isso adoce mais você.

Abri a boca indignada. Eu sabia que ele estava apenas me provocando, era o que nós dois fazíamos, mas eu amava entrar no jogo.

— Você está dizendo que eu sou amarga, Cabeça-de-Alga? – chamei-o pelo apelido que havia inventado para ele há algumas semanas.

Na época, nós estávamos fazendo nosso trabalho (que valia metade da nota da matéria) e Percy havia tido uma ideia bem ridícula sobre como deveria ser nossa abordagem. Obviamente, não fora algo planejado, mas ele tinha dado uma sugestão idiota e me veio à mente o fato de ele cursar Oceanografia e amar o mar, então, deu nisso.

Algo interessante é que ele não parecia irritado quando eu o chamava assim, mas ficava enfurecido se Thalia lhe chamasse por tal apelido.

— Não, longe de mim, só disse que você precisa de mais açúcar na sua vida. – ele fez uma cara de inocente com aqueles grandes olhos verdes.

— Okay, vou fingir que acredito. – olhei ao redor — Só espero que esse lugar seja tão bom quanto você diz. Ou, ao menos, que a comida seja tão boa como o ambiente.

Aquilo era verdade. A confeitaria era uma loja de esquina extremamente grande. Ela não possuía uma arquitetura luxuosa ou refinada, era um local aconchegante, com paredes de madeira, mostruários de vidro, janelas que eram tão imensas que permitiam uma boa visão da rua e luminosidade quase toda natural, fora o cheirinho delicioso de doces que invadiam cada canto. Era como se o lugar te fizesse sentir no aconchego da casa de uma avó. Era extremamente reconfortante saber que havia um lugar assim para se frequentar quando se vivia tão longe da família.

— Não é? – ele disse enquanto olhava para a janela a qual nossa mesa ficava ao lado — Está vendo aquela praça ali?

Ele apontou para a paisagem, me mostrando um ponto mais adiante onde se via uma pequena praça cheia de brinquedos e de crianças acompanhadas de seus pais enquanto corriam e brincavam por aí.

— Eu gosto de vir aqui de vez em quando, sentar perto de uma dessas janelas e comer enquanto olho para a vista. Mas eu gosto particularmente de ficar olhando para essa praça e ver as crianças brincando, me faz pensar na minha infância e na minha família, sabe?

Virei-me e me peguei o observando enquanto ele olhava a paisagem. Pela forma como ele analisava a cena e pela expressão em seu rosto, eu diria que ele estava nostálgico, lembrando-se de bons tempos e de pessoas que amava.

— Você sente falta da sua família, não?

Ele me encarou de repente, me pegando desprevenida, pois seus olhos encontraram os meus, que o observavam.

— Sim, sinto. – ele sorriu melancolicamente – Não que eu não goste da faculdade ou de Massachusetts, mas eu realmente sinto falta de New York, eu cresci lá e sinto falta de todo o barulho, de saber que posso sair a qualquer hora e terão lojas abertas, pessoas nas ruas. Sinto saudade da minha mãe, do carinho dela, dos doces que ela fazia, do tempo que passávamos juntos. Até do meu pai, que eu nunca fui de ver muito, eu sinto saudade, principalmente quando estou aqui sentado e vejo a paisagem através dessa janela.  Isso é estranho?

— Não, nem um pouco. – sorri enquanto olhava mais uma vez para a janela, observando as crianças no parque correndo e brincando — Eu também sinto saudade de São Francisco, sabe? Eu cresci lá, então, sinto falta do sol constante, do calor. Sinto saudade do meu pai, de como a gente sempre assistia filmes juntos as sextas-feiras e como ele se esforçava pra fazer o café-da-manhã aos domingos.  Então, é normal sentir saudades.

Meu olhar se encontrou com o de Percy. Ele parecia curioso enquanto me olhava.

— E da sua mãe? Você não sente saudade?

— Claro que sinto. Mas ela morreu quando eu era um bebê, não é como se eu realmente lembrasse muita coisa.

— Oh, eu não sabia. – ele parecia extremamente surpreso e sem graça por ter tocado no assunto. — Eu sinto muito.

— Tudo bem, não tem por que ficar assim. Eu raramente conto isso para as pessoas.

Eu sorri para reforçar que estava bem, pois senti que ele estava envergonhado.

— Deus! Você deve estar me achando um idiota por estar falando sobre como sinto saudade da minha família, ainda mais num primeiro encontro.

— Encontro? – perguntei confusa, pois aquela era a primeira vez que ele dizia tal palavra abertamente.

Percy ficou vermelho feito um tomate.

—B-bem, é um encontro, não? Eu te convidei para vir até aqui para que pudéssemos conversar e passar a tarde juntos. Para mim, parece muito com um encontro.

Foi a minha vez de ficar vermelha.

— Vendo por esse ângulo... Eu só estou surpresa porque em nenhum momento você disse abertamente que era um encontro.

— Precisava? – não havia um pingo de sarcasmo em sua voz, ele parecia ser honesto, curioso até.

— Hum... Digamos que, dá próxima vez, será melhor se você me disser abertamente.

— Oh, então você toparia ter outro encontro comigo? – seu rosto se iluminou.

— Dependendo de como você se sair hoje, Cabeça-de-Alga, quem sabe? – eu sorri enquanto ele engolia em seco, parecendo preocupado com o que faria.

Era interessante, mas eu realmente estava surpresa com o fato de que Thalia estava certa: aquilo era um encontro, um encontro com todas as letras. E o pior é que, embora eu tivesse brincado para provocar Percy, eu estava bem propensa a aceitar outro convite dele se ele o fizesse.

— Bem, acho que podemos pedir. – disse enquanto olhava o menu e analisava as opções – Você, que vem sempre aqui, tem alguma sugestão?

— Ah, tenho várias. – ele disse sorrindo — Aqui eles têm um cheesecake que é uma delícia.

— Cheesecake? Hum... Eu adoro cheesecake, minha avó faz um que eu considero o melhor de todos.

— Eu aposto que você achará o daqui tão bom quanto o da sua avó.

— Aposta é? Pois eu duvido que seja. – perguntei por sobre o cardápio.

— Oh, então você quer realmente apostar? – uma de suas sobrancelhas se ergueu.

— Ué, foi você que trouxe o tópico na conversa. Mas eu topo uma aposta.

— Okay, senhorita Chase, vamos apostar. Se eu ganhar e o cheesecake daqui for tão bom quanto o da sua avó, você me dará um beijo.

Assim que ele falou, eu engasguei com o ar e coloquei o cardápio na mesa, meio que em choque.

— Um beijo?

— Sim, um beijo. – ele sorriu de lado de uma forma que era totalmente adorável e sexy ao mesmo tempo.

— Você não acha que está meio apressadinho, Jackson? – perguntei enquanto desviava o olhar.

— Bem, eu ia dizer que, se você ganhasse, poderia ter o que quisesse em troca. Mas se não quiser apostar, tudo bem, sei que deve dar medo saber que pode perder pra mim.

Estreitei os olhos enquanto o fuzilava.

— Olha só você, tentando reverter à situação para me convencer a topar. Você é mais esperto do que eu pensava, Jackson.

Ele riu abertamente, jogando a cabeça pra trás exatamente como uma criança faria. Isso era realmente adorável.

— Desculpa, não consegui resistir, mas de verdade, você não precisa topar. E me perdoe se eu fui...

— Não, eu topo. – disse repentinamente assim que uma ideia me passou pela cabeça.

— O quê? – seus olhos verdes estavam arregalados enquanto ele me encarava. Dessa vez, eu fui a que riu.

— Eu topo, Percy. Eu sei que vou ganhar.

— Sabe é? – ele ergueu uma sobrancelha em descrença.

— Sim, e se eu ganhar, você terá que me levar pra jantar nesse final de semana.

Ele arregalou tanto os olhos que ficaram parecendo duas bolas de gude e foi impossível não rir ainda mais disso.

 — Jantar?

— Sim. – eu disse assentindo e isso o fez recuperar a compostura.

— Ora, ora, acho que alguém está ansiosa para um próximo encontro comigo. – ele sorriu de orelha a orelha.

Revirei os olhos. Eu sabia que ele estava brincando, mas ele sabia ser irritante quando queria.

— Ansiosa? Eu? Não, Jackson, por favor, eu só quero te levar a falência mesmo, porque a conta quem vai pagar será você.

Ele assentiu.

— Okay, me parece justo. Apostado então? – ele estendeu a mão diante da mesa.

— Apostado. – disse enquanto segurava sua mão e fechávamos nossa aposta.

Ele chamou a garçonete e fizemos nossos pedidos.

— Sabe, nós somos meio estranhos. Apostando sobre comida e tudo mais. – ele estava sorrindo, seus olhos me analisando.

— Ué, está dando pra trás, Cabeça-de-Alga? – eu também sorria.

— Não, longe disso. É só que... Okay, não quero que entenda errado e nem que ache que o que vou dizer é estranho, mas é que é tão fácil estar na sua companhia.

Arqueei uma sobrancelha enquanto ele dizia isso. Ele deve ter achado que eu estava questionando o seu posicionamento, no entanto, eu fizera isso porque me sentia da mesma forma sobre ele.

— Quero dizer, - ele continuou — nós ficamos nos provocando, brigando e brincando, mas é tão natural, sabe? Talvez eu esteja falando besteira, esquece.

Eu sorri enquanto ele desviava o olhar e ficava encarando a janela ao nosso lado, suas bochechas levemente coradas.

— Não é besteira, Percy. – coloquei minha mão sobre o braço dele que repousava na mesa — Eu me sinto da mesma forma em relação a você.

Ele olhou para minha mão e eu fiz o mesmo, só então percebendo que o estava tocando. Retirei minha mão rapidamente dali e coloquei sobre meu colo, meio envergonhada pelo que tinha feito, afinal, éramos amigos, mas nunca fomos realmente do tipo que compartilhava muito contato físico.

— Sente?

— Sim, sinto.

Nós dois nos encaramos, sorrimos e desviamos o olhar ao mesmo tempo para a janela, para a praça cheia de crianças.

Era interessante, mas agora, parando para analisar, eu realmente estava adorando aquele encontro com Percy e, na verdade, eu havia adorado todas as vezes que havíamos ficado juntos. Quando estávamos juntos eu não pensava em mais nada fora estar com o Percy e isso era algo muito bom, era muito divertido e libertador. Fora que ele tinha esses lindos olhos verdes que ficavam me encarando com uma intensidade que nunca ninguém jamais olhou.

— Aqui está o pedido de vocês. – disse a simpática garçonete enquanto colocava nossos pedaços de cheesecake e nossos chocolates quentes diante de nós.

— Obrigado. – disse Percy pouco antes da moça se retirar.

— Okay, agora é a hora da verdade.  — disse enquanto pegava meu garfo e me preparava para dar uma garfada no cheesecake de frutas vermelhas que estava diante de mim.

— Ei, ei, ei. Não tão rápido, mocinha. – Percy me parou antes que eu pudesse pegar um pedaço do doce.

— Hum? Por quê? – eu não estava entendendo nada enquanto ele retirava o garfo da minha mão.

— Porque isso é um encontro, esqueceu?

— Não, não esqueci. Ainda tenho pleno uso das minhas faculdades mentais. Só não entendo o que isso tem a ver com o fato de eu comer o cheesecake. Ou você espera que eu fique vendo você comer?

Ele inclinou a cabeça enquanto me analisava.

— Engraçadinha você. – com o meu garfo, ele pegou um pedaço do meu cheesecake e na hora eu entendi o que ele queria fazer — Feche os olhos e abra a boca.

Olhei incrédula para ele.

— Não, você não vai...

— Feche os olhos e abra a boca. – ele repetiu no mesmo tom calmo de antes.

— Isso é algo extremamente desnecessário e...

— Ah, deixa eu me divertir vai. Isso parece ser algo legal de se fazer, fora que temos uma aposta, esqueceu?

— Não esqueci, mas isso não me impede de pegar o meu próprio pedaço de torta.

— Não impede, verdade, só que não te proporciona saborear por completo o doce e muito menos o momento. Então, por favor, feche os olhos e abra a boca.

Eu ia rebatê-lo, porém, ele me olhou de uma forma tão carinhosa, implorando pra que eu fizesse o que pediu que me resignei a bufar.

Honestamente, esse garoto nunca deixava de me surpreender. O pior é que ele era irritantemente fofo e sabia como me desconcertar e me tirar do sério, mas também sabia como me acalmar e me divertir. Era uma confusão de sentimentos e reações as que ele causava em mim.

— Okay, mas nada de gracinhas, Percy.

— Eu prometo.

Suspirando, fechei bem os olhos e abri a boca. Em poucos segundos, senti o delicioso mix de cream cheese e frutas vermelhas em minha boca, uma explosão de sabor que eu nunca havia sentido e que era tão bom que parecia derreter na boca.

Assim que terminei de mastigar e apreciar aquela delícia, abri os olhos e dei de cara com um curioso Percy que me analisava, ansioso pelo meu veredito.

Claro, eu podia mentir e dizer que a sobremesa que minha avó fazia era melhor, mas eu acho que estava na minha cara que essa não era a verdade.

“Droga,” pensei. “Realmente, esse lugar faz o melhor cheesecake que eu já comi. Desculpa, vovó.”

— E então? – ele instigou, um pequenino sorrisinho já surgindo em sua face.

Mordi o lábio inferior tentando prolongar um pouco mais o momento.

Poxa, se eu dissesse que aquela torta era mesmo melhor do que a da minha avó, eu teria que beijá-lo. Não que fosse realmente algo ruim. A quem eu estou querendo enganar? Eu realmente não me importaria em beijá-lo. Na verdade, eu já havia considerado algumas vezes a hipótese de fazê-lo, só que eu ainda estava surpresa pelo fato de que ele também queria isso. O problema era que parte de mim não sabia se eu queria realmente beijá-lo e talvez estragar uma amizade. Eu já havia passado por isso antes, não queria passar de novo.

— Annabeth? Qual o seu veredito?

— Oh, sim! – disse enquanto sacudia a cabeça e tomava uma decisão. — Eu tenho que admitir: você estava certo, Percy, esse é o melhor cheesecake que eu já comi.

— Não te disse! – ele tamborilou na mesa enquanto um sorriso vitorioso surgia em seus lábios. Só Deus sabe o quanto aquilo me irritava. O engraçado é que, ao mesmo tempo, eu gostava de vê-lo sorrindo.

Ele colocou as mãos atrás da cabeça e se recostou na cadeira.

— Ei, ei, não vai se achando não.

— Eu não estou me achando, só estou feliz porque estava certo. E você sabe o quão é raro eu estar certo e você errada. Eu tenho que aproveitar esses poucos momentos.

Fiz uma careta pra ele.

— Ha ha, muito engraçadinho você.

Repentinamente, ele colocou um dos cotovelos sobre a mesa e levou a mão ao queixo, sustentando assim a sua cabeça e fazendo um gesto como se estivesse pensando.

— Bem, se não me falha a memória, nós tínhamos uma aposta, a qual eu ganhei. Sendo assim, acho que alguém me deve um beijo.

Ele estava quase soando presunçoso.

— Sabe, eu prefiro quando você está errado, te torna mais humilde.

— Digo o mesmo de você. – ele disse sorrindo, agora suas mãos repousavam na mesa — Mas não mude de assunto.

Revirei os olhos.

— Pra sua informação, eu disse sim que te beijaria se você estivesse certo. Mas não disse quando e nem onde seria o beijo. Afinal, em nenhum momento eu disse que seria na boca.

— Ei! – ele parecia meio indignado, o que me fez rir — Isso não é justo. Além do que, onde mais seria o beijo se não na boca?

— Na bochecha, na testa, na mão. Tantos lugares. – eu sorri inocentemente, o que o fez revirar os olhos — E fique você sabendo que é justo sim, você não especificou nada, por isso, eu posso decidir. Ou estou errada?

Ele estreitou os olhos e, por fim, suspirou. Já estava acostumado o suficiente comigo para saber quando não deveria mais insistir em algo.

— Tudo bem, é verdade. Além do mais, eu não quero que você se sinta forçada a me beijar. Eu quero que seja algo que você deseja. E se não é agora, bem, só me resta esperar que um dia você queira.

Pisquei diante a sua honestidade. Aquele era o tipo de coisa que Luke nunca faria, nunca mesmo.

— Percy, isso foi... fofo. E correto, devo dizer. – aquele garoto nunca cansava de me impressionar — Falando assim, até parece que você gosta mesmo de mim. – eu ri com tal pensamento.

As bochechas dele coraram.

— E eu gosto. – sua voz saiu num tom baixo, mas firme.

— O quê? – engasgar com o ar estava quase se tornando um hábito naquela tarde.

— Eu gosto de você, Annabeth, mais do que como amigo, devo acrescentar, por isso te chamei para sair. Eu tinha esperanças de que você pudesse gostar de mim da mesma forma, ou ao menos, começar a me ver como uma possibilidade de ser mais do que um amigo.

Sem saber como reagir e ainda em choque, me permite beber meu chocolate enquanto pensava no que dizer.

Quando ele disse que aquilo era um encontro, bem, eu tinha ficado surpresa e tudo mais, entretanto, eu não havia considerado a hipótese de que ele poderia mesmo gostar de mim. Achei que era mais, sei lá, que ele tinha vontade de ficar comigo? Afinal, é o que os garotos costumam fazer, só que, da forma que ele falou, implicava algo a mais.

Ele REALMENTE gostava de mim. Uou! UOU!

Mas eu gostava dele?

Claro, ele era uma ótima companhia, me fazia rir, era divertido, gentil, um ótimo amigo, e até mesmo quando era irritante eu o adorava. E ele tinha aqueles olhos verdes que ficavam me olhando o tempo todo e que me hipnotizavam por vezes, e a forma como ele passava a mão pelo cabeço bagunçado não captava menos a minha atenção, só que... Nós dois tendo algo a mais? Tipo, porque era isso que ele parecia implicar que queria, certo?

Não sei se queria isso, perder uma amizade. Fora muito difícil pra mim perder Luke. Nós havíamos misturado amizade com namoro e foi terrível quando acabou. Os livros e filmes sempre romantizam os relacionamentos entre melhores amigos e até mesmo amigos, entretanto, tudo é pior quando o relacionamento acaba. Você não perde só seu namorado, você perde seu melhor amigo e parceiro. E, em dois meses, Percy havia se tornado muito importante para mim, um grande amigo e até mesmo confidente, eu não sabia se queria arriscar isso.

— Annabeth? – Percy parecia preocupado — Tudo bem? Você bebeu todo o chocolate de uma vez.

— Oh! Desculpa! Eu estava distraída. – sem graça, coloquei o copo vazio em cima da mesa.

— Relaxa. Eu sei que o que eu disse pode ter sido um choque e eu com certeza não imaginei te contar sobre isso desse jeito, só que eu não quero, de jeito algum, que você pense demais sobre isso. No momento, somos amigos e estamos nos divertindo nesse encontro. Só isso, não pense demais sobre o assunto.

— Okay. – assenti, embora fosse mais fácil falar do que fazer.

Como ele esperava que eu agisse normalmente depois de ele dizer que gostava de mim?

Ficamos em silêncio enquanto comíamos nossas tortas, provavelmente, ficamos uns 15 minutos daquele jeito antes que ele resolvesse intervir.

— Okay, esse silêncio não está legal. Eu acho que estraguei tudo, né? – ele abaixou a cabeça, legitimamente envergonhado.

— Não, não, Percy. Você não estragou nada, é só que... É muito para processar, sabe? E, eu já tive um relacionamento com um amigo e acabou dando tudo errado no final, então, é meio complicado pra mim.

Ele assentiu, seus olhos perdendo um pouco da vivacidade enquanto as palavras que eu começavam a fazer sentido para ele.

— Eu sei, Annie. De verdade, não quero que você se sinta pressionada a nada. Você não precisa gostar de mim de volta, nem dizer que gosta, não precisa me beijar ou nada disso. Eu só quero que você me permita continuar sendo seu amigo, tendo sua companhia, indo a encontros que nem esse e que você se permita viver o momento comigo. Só isso.

Mordi o lábio inferior ao ouvi-lo dizer palavras tão doces. Quem diria que Perseu Jackson poderia ser tão meigo? E como eu poderia dizer não para uma pessoa que eu adorava tanto e que se importava tanto com o que eu sentia?

— Está certo. – suspirei — Eu topo o seu plano.

— Sério? – os olhos dele brilhavam de expectativa.

— Sério, Cabeça-de-Alga. Além do mais, eu adoro a sua companhia. – sorri para ele.

— Bom saber. – ele disse rindo — Então, significa que podemos comer mais coisas e conversar sem nenhum silêncio constrangedor?

— Sim, significa.

Ele sorriu imensamente e chamou a garçonete, fazendo mais pedidos de brownies, cupcakes e tortas salgadas para nós.

Nós devemos ter ficado ali, sentados, comendo e conversando por mais umas duas horas, no entanto, pareceram que foram apenas poucos minutos, já que a conversa fluía perfeitamente entre nós e os risos eram quase incessantes. Eu estava me divertindo com Percy e estava amando cada minuto. Era tão interessante como ele me achava engraçada e ria das minhas piadas, eu realmente não estava acostumada a isso. Se bem que, ele sempre havia me achado engraçada, embora teimosa e mandona também.

Peguei-me analisando-o enquanto ele me contava sobre os natais da sua família. Ele era tão diferente de qualquer outro garoto que eu tinha conhecido, ele me trazia uma paz e uma sensação de segurança que eu nunca havia sentido com ninguém. Nem com Luke.

Será que seria tão ruim me permitir ter algo além de amizade com Percy? Talvez eu pudesse chegar a gostar dele.

— Oh, eu acho que é melhor a gente ir. – ele se interrompeu no meio da sua história e não entendi porque ele disse isso. Eu estava gostando tanto da companhia dele, não queria que acabasse.

Ele deve ter visto meu olhar desapontado, porque logo completou.

— É que aqui fecha às 17h:30m, e se não sairmos agora, eu acho que vão expulsar a gente.

Foi só quando ele disse isso que percebi que éramos os únicos clientes restantes e que os funcionários já começavam a recolher alguns objetos.

— Oh, então é melhor irmos.

Pedimos a conta e, embora eu quisesse dividir, Percy me convenceu a deixa-lo pagar. Prometendo que, se eu fazia tanta questão, poderíamos dividir alguma outra vez que saíssemos juntos. Esse pensamento me fez sorrir, significava que ele realmente planejava sair mais vezes comigo.

Estávamos deixando a cafeteria quando meu celular fez um barulho, sinalizando que havia alguém me ligando. Eu ficara tão absorta com Percy que até esquecera que tinha um telefone.

Peguei-o rapidamente da bolsa e me permiti ver quem era.

Luke era o nome que brilhava na tela do aparelho.

Revirei os olhos. Não era realmente surpreendente. Quero dizer, o cara vivia me ligando ou para pedir perdão ou tentando amenizar as coisas, isso quando não ligava bêbado. Eu deveria tê-lo bloqueado há muito tempo, mas eu nunca tinha coragem. Acho que ficava pensando em tudo o que vivemos e em como aquilo havia sido importante para mim.

Sim, havia sido importante, não podia apagar Luke ou nossa história da minha memória, mas eu realmente não o queria mais na minha vida a partir daquele momento. Não queria mais me prender a memórias de algo só porque eram as únicas as quais estava acostumada. Não, eu queria ter novas experiências, novos sentimentos, novos relacionamentos. Eu não queria mais Luke na minha vida. Não mesmo.

Na verdade, fazia um longo tempo que eu não o queria, há exatos oito meses, porque tudo o que eu sentia por ele acabou no momento em que soube que ele me traiu. Eu só não tinha tido coragem para excluí-lo de todas as formas possíveis da minha vida porque era só aquilo que eu conhecia, ele era uma constante na minha vida até aquele momento e era meio difícil esquecer certas coisas. Fora que eu estava desiludida e tinha chegado à conclusão de que o amor só servia para quebrar, queimar e acabar.

Mas isso foi antes, porque depois daquela tarde com Percy, eu percebi que aquilo era um começo, um começo de novo.

O telefone continuou a tocar enquanto eu olhava fixamente para sua tela.

— Quem é? – perguntou Percy, provavelmente curioso ao perceber que eu havia parado no lugar e encarava o aparelho.

— Ninguém importante. – disse enquanto bloqueava Luke (algo que eu deveria ter feito há muito tempo) e guardava o telefone — Realmente ninguém.

E eu sabia em meu coração que estava falando a verdade. Eu não queria mais saber de Luke, nem pensar nele. Aquela foi a primeira vez em que percebi que o passado era o passado.

— Mas você estava falando sobre os natais da sua família em New York. Volte a falar sobre isso, quero saber mais.

Percy sorriu ao ver meu entusiasmo.

— Sim, senhorita, seu desejo é uma ordem. – ele estendeu o braço para mim e, sem hesitar, eu o segurei enquanto sorria — Como eu estava dizendo, desde que me entendo por gente, todos os natais minha mãe e eu vemos “Esqueceram de mim” e “Um herói de brinquedo”. Claro, a tradição continua mesmo que agora eu tenha 20 anos e que minha mãe tenha casado de novo. Afinal, tradições são tradições.

Eu sorri enquanto caminhávamos de braços dados pela rua, indo para onde estava o meu carro.

— Isso é realmente muito legal, Percy.  E você tem razão, tradições são tradições. Aliás, sabe um filme de natal que eu adoro e sempre vejo quando é final do ano? “Milagre na Rua 34”. Eu adoro essa história. Na verdade, eu poderia ver esse filme em qualquer época do ano.

— Ah, então já sei quem devo procurar quando quiser ver filmes natalinos fora da época de natal. Você também está disponível para ver filmes antigos e infantis ou só natalinos mesmo? Porque eu nunca tenho companhia para esses tipos de filme. – ele se aproximou, seu rosto estava a alguns centímetros do meu enquanto sussurrava — Os meus amigos não gostam muito desse tipo de filme e me acham estranho por gostar, sabe?

Imitando o gesto dele, me aproximei mais e sussurrei.

— As minhas amigas também não gostam muito desse tipo de filme. Mas eu adoro.

Nós continuávamos de braços dados, andando pela rua, com os rostos bem próximos um do outro enquanto sussurrávamos. Era engraçado e ao mesmo tempo surpreendente, eu não imaginava que ficar tão perto de Percy iria fazer meu coração bater mais rápido.

— Oh! Então isso significa que posso contar com você quando quiser ver filmes natalinos, infantis ou antigos?

— Com toda certeza, pode contar comigo. – nós dois sorrimos e nos afastamos um pouco.

Enquanto chegávamos ao fim da rua, me peguei analisando Percy. A forma como seu cabelo preto e liso parecia uma bagunça organizada e causava um grande contraste com seus olhos tão verdes.  Como seu rosto possuía traços delicados e ao mesmo tempo marcantes e sua pele era levemente bronzeada mesmo com o clima de Massachusetts quase sempre sendo ameno ou nublado. Ele era realmente um rapaz muito lindo, ou melhor, um homem muito lindo.

— Chegamos. – disse ele assim que paramos ao lado do meu Honda Civic prateado.

— Obrigada. Espero que me acompanhar até aqui não tenha te deixado longe do seu carro.

— Não, ele está aqui perto. Não se preocupe.

Nós havíamos desentrelaçado nossos braços e agora estávamos de frente um para o outro. Confesso que ter seus olhos sobre mim tão atentamente me deixava meio sem saber o que dizer, ainda mais considerando que tínhamos que nos despedir. Por sorte, meu cérebro sabia trabalhar sobre pressão.

— A tarde de hoje foi incrível, Percy. Eu me diverti muito.

— Eu também me diverti, Annabeth. E espero que você aceite sair comigo de novo nesse sábado.

Ele olhou para baixo enquanto fazia a pergunta, suas mãos no bolso do jeans. Me permiti sorrir largamente.

— Alguém já está com saudade da minha companhia, é? – não resisti em provoca-lo.

— Sempre. – ao dizer isso ele me encarou e vi honestidade em seu olhar — E quer saber, nós podemos ir ao restaurante que você escolher. Eu pago.

Arregalei os olhos ao lembrar que eu havia pedido aquilo caso ganhasse a aposta de mais cedo.

— Percy, não precisa fazer isso, você ganhou a aposta.

— Não é pela aposta, é por você. Só diz que aceita, por favor. — ele fez uma carinha de cachorro sem dono que me deu dó. Eu já não diria não antes, que dirá agora.

— Ok, eu aceito. Mas você escolhe o restaurante. Tudo bem?

— Feito. – ele disse sorrindo – E só pra você saber, é um encontro.

— Okay, senhor Jackson. É um encontro. Obrigada por deixar claro.

— Disponha.

Assim que destravei o carro, ele abriu a minha porta do motorista.

— Obrigada. – eu disse sorrindo.

— Não tem de que.  Tchau, Annabeth.

— Tchau, Percy.  – foi o que eu disse antes de fechar a porta.

Eu estava dentro do carro quando ele acenou e se virou, provavelmente começando a ir em direção ao seu carro.

Foi só ali, sozinha, vendo-o andar, que percebi que não conseguia tirar os olhos verdes da minha mente, nem a forma como ele mexia no cabelo quando estava nervoso ou como formavam pequenas rugas ao redor dos seus olhos quando ele ria de verdade, ria de gargalhar. Ali eu percebi que adorava conversar com ele e que sempre me divertia em sua presença, percebi que ansiava pelo sábado e pelo próximo encontro, mas que na verdade, eu sempre ansiava por ficar com ele, eu só não tinha me dado conta. Ou não tinha me permitido dar conta.

Quantas vezes Thalia tinha dito que eu ficava vermelha mais do que era o aceitável quando estava com Percy? E quantas vezes as pessoas insinuaram que éramos um casal? Que eu gostava dele?

Eu sempre negava, talvez um mecanismo de defesa, talvez porque eu não queria me permitir gostar de alguém. O negócio é que eu gostava. Eu gostava de Percy, eu via agora de forma tão clara e nítida que não sabia como fora tão boba de ter escondido isso de mim mesma antes.

“Oh, Deus, eu gosto dele. Eu gosto dele!”, eu pensava enquanto o via andar ao longe. “O que eu faço agora? Quer dizer, eu gosto dele! Oh, meu Deus, o que eu fiz? Essa foi a pior despedida de todas, honestamente. Eu nem o abracei! Só entrei no carro.”

Percy estava quase saindo do meu campo de visão e, num impulso, saí do carro e corri atrás dele.

— Percy, espera! – eu gritava enquanto corria em sua direção – Percy, espera!

Por sorte, a rua não estava tão cheia, então ele logo me ouviu e se virou para mim, me olhando com curiosidade e surpresa enquanto eu me aproximava.

— O que houve, Annabeth? Você está bem? – ele perguntou após caminhar um pouco em minha direção e encurtar o espaço entre nós.

— Estou. É só que eu esqueci uma coisa. – minha respiração estava desregulada por causa da pequena corrida e eu tinha certeza que meu cabelo estava uma bagunça, mas eu realmente não conseguia me concentrar muito nesses detalhes quando aqueles olhos verdes estavam tão fixos nos meus.

— Esqueceu uma coisa? O quê? – a confusão estava estampada em seu rosto.

— Isso.

Num impulso, segurei seu rosto e o beijei.

No primeiro momento ele parecia surpreso demais para reagir. Mas logo suas mãos estavam em meu rosto e sua boca estava correspondendo o meu beijo.

Fora algo tão calmo e tão doce, e ao mesmo tempo tão forte, que meu coração pareceu falhar uma batida. Então, suas mãos foram parar em minha cintura, me puxando mais contra ele e aprofundando mais o beijo enquanto as minhas próprias mãos repousavam em seu pescoço. O mais impressionante é que o beijo continuou calmo e cheio de sentimento de uma forma que nunca tinha sentido antes.

Pouco tempo depois, nos afastamos apenas o suficiente para que pudéssemos nos olhar, nossas mãos ainda um no outro.

— Uou. – ele disse, seus olhos arregalados — O que foi isso?

— Estou cumprindo nossa aposta. – passei minhas mãos pelo cabelo em sua nuca.

— Hum...  Só por isso? – ele parecia meio desapontado.

— Não, tem mais uma coisa que eu me dei conta quando estava sozinha no meu carro. – lentamente, me aproximei do ouvido dele e sussurrei — Eu também gosto de você, Percy.

Ele me afastou o suficiente para olhar em meus olhos.

— De verdade?

— De verdade. – disse assentindo.

Sem me dar chances de falar mais alguma coisa, ele me puxou de volta contra si e me beijou de uma forma que pude sentir o quanto ele gostava de mim.

— Isso foi muito bom! – eu sussurrei enquanto roubava outro selinho dele — Foi ótimo, na verdade.

— Concordo.  – foi a vez dele me roubar um selinho.

— Agora eu tenho que ir. –disse enquanto me afastava um pouco.

— Mas já? – ele estava visivelmente triste, o que me fez sorrir.

— Sim, já. Eu vim até aqui me despedir direito do garoto que eu gosto.

— Ah, e eu adorei isso. – as mãos dele ainda estavam na minha cintura.

— Só que agora eu preciso ir. Te vejo sábado. – roubei outro selinho antes de me afastar definitivamente de Percy e voltar pelo caminho que eu vim.

Olhei uma vez para trás enquanto caminhava até meu carro e vi que ele estava atônito no lugar, meio confuso, meio sorrindo. Definitivamente feliz.

Voltei a olhar para frente e toquei os meus lábios, pensando no beijo que havíamos acabado de dar e em como meu coração parecia que ia saltar do peito.

É, era um novo começo. Um novo começo para alguém que nos últimos oito meses achou que tudo que o amor fazia era quebrar, queimar e acabar.

E quem diria que numa quarta-feira, num café, eu viria isso começar de novo.


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Notas finais do capítulo

Então, gostaram? Por favor, comentem, deixem a opinião de vocês porque eu amo muito.
Essa fic foi muito gostosinha de fazer, acho que gostei particularmente porque todas as minhas ones são dramáticas (ah, vocês sabem disso) e essa é bem leve e romântica, então, eu adorei muito fazer, embora não tenha a carga emocional que eu tanto amo usar em fanfics de um capítulo.
Talvez eu comece a postar algumas ones ou songfics novamente, vamos ver como as coisas acontecem, não prometo nada.
Quanto a “Momentos”, bem, eu quero pedir desculpas por ter sumido lá. Eu comecei a revisar a fanfic e parei na metade. Tenho planos de continuar, só não sei quando, porque eu realmente preciso terminar a revisão antes de voltar a escrever. Aliás, eu ainda preciso resolver furos no enredo. Eu tinha um final em mente e o descartei porque não me agrada mais, então, eu também tenho que pensar nisso.
Bem, eu acho que é isso. Espero que tenham gostado, que comentem e me deixem feliz porque estou com saudades daqui!
SAUDADES DE VOCÊS!
PS: Eu estou tão feliz porque eu mesma fiz a capa dessa songfic. Não ficou perfeita, mas eu gostei do resultado. Tô orgulhosa de mim mesma.
PS2: Eu sei que vocês sentiram saudades dos PS’s. lol