Destemor escrita por Honora


Capítulo 1
Temor


Notas iniciais do capítulo

Não sei de onde surgiu essa ideia, mas por que não?



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Edward sentiu seus pulmões pedirem por ar; lembrou-se da noite que trepara em uma árvore grande e de casca grossa, escondendo-se de sua avó, pois ela havia discutido com ele no jantar. Quando pegou no sono, foi lançado para o chão, sentindo as costas baterem no duro gramado, o ar era puxado com força, mas não parecia chegar aos seus pulmões.

Sentiu-se da mesma maneira naquela manhã de setembro.

Sentado em um banco do Ministério da Magia, respirar parecia a coisa mais difícil que já fizera em sua vida. Tinha conhecimento do que estava acontecendo, era mais um de seus ataques de pânico, justamente em seu primeiro dia de trabalho no Ministério.

A voz de Victoire ainda pairava em sua mente, “você é inteligente o suficiente para saber que tudo vai dar certo, pense como se fosse mais um primeiro dia em Hogwarts”, mas as palavras não pareciam surgir efeito diante de seu nervosismo e tremedeira.

Tinha receio de que fosse um fracasso; e naquela altura realmente estava sendo. Agradecera mentalmente por ter chego com uma hora de antecedência, pois precisaria de um bom tempo para se recompor.

Suas olheiras eram grandes e seu rosto mostrava que não havia tido uma noite de sono ideal, afinal, era difícil pegar no sono quando milhões de cenários se passavam em sua cabeça, todos acerca de aprovação de seus superiores. E quando havia finalmente cochilado à noite, o pesadelo de seus pais viera em sua cabeça, nublando-o com tristeza e nervosismo exacerbado.

Devia ter aceito a xícara de chá que sua avó havia preparado pela manhã, mas teve certeza que se tivesse a tomado estaria nesse momento despejando-a para fora.

"Talvez isso ajude", Teddy levantou-se com o susto e encarou-o com surpresa.

As vestes roxas chamavam atenção dos olhos curiosos e perdidos do departamento trouxa, mas não era a cor ou o rosto límpido do homem que atraía olhares, e sim seu cargo.

O Ministro da Magia, Kingsley, lhe estendia um pedaço de chocolate, do qual parecia incrivelmente saboroso. Teddy o aceitou, mesmo que não tivesse nenhum desejo de comer qualquer coisa, as mãos ainda tremiam e ele se ordenava mentalmente a pegar o chocolate sem aparentar fraqueza. Ainda sim, Kingsley sabia o quão mal estava, não era tão difícil perceber, já que estava pálido feito papel.

"Obrigado, Ministro", abaixou a cabeça e sentiu seus cabelos mudarem para um tom de castanho brilhoso e vivo, sentindo-se melhor na companhia do homem, ainda que houvesse embaraço em seus olhos.

"Já lhe disseram o quão parecido você é com seus pais?", questionou ele, com o rosto passivo.

"Um milhão de vezes", o sorriso no seu rosto demonstrava o quão orgulhoso ficava ao ser comparado com os heróis de guerra, acima de tudo seus pais.

"Sinta-se feliz um milhão de vezes, então", Kingsley assentiu para um senhor de meia idade que passava pelos corredores gélidos, enquanto Teddy se perguntava se seu pai e mãe estariam tão nervosos quanto ele naquele momento.

"Conheceu meus pais, não é, senhor?"

"Grandes pessoas, seus pais. Remus era com quem eu mais mantinha contato, assuntos da guerra, um homem inteligente e de coragem impressionante, sempre sabia o que dizer e a hora certa, conheci poucos homens como seu pai", começou ele, com olhos distantes e sorriso quase imperceptível. "Mas até mesmo um homem como Lupin possuía medo em seus olhos".

"Bem, eu duvido muito que ele sentiu medo de seu primeiro dia de trabalho..." murmurou Teddy, fitando o chocolate em suas mãos.

"Sabe qual foi seu primeiro emprego? Digo, primeiro emprego de verdade, em que havia respeito pelo seu trabalho e não nojo por sua condição?", Edward negou, ouvindo atentamente. "Professor contra as Artes das Trevas, em Hogwarts. Acha que seu pai não sentiu medo de encarar turmas de alunos tão novos quanto um dia ele já fora? Claro que sentiu... aliás, seu pai estava sempre com medo; medo de que descobrissem seu segredo e o privassem de coisas que qualquer ser humano deveria conhecer, medo de machucar Tonks, medo de si mesmo... E, apesar de toda essa onda de medo, seu pai nunca deixou de ser um homem surpreendente e repleto de adjetivos, um amigo imprescindível".

Teddy suspirou. Não era de seu feitio sentir medo, nem mesmo demonstrá-lo, por isso havia corrido para o banco mais afastado de olhos curiosos. Ainda sim, alguém foi capaz de encontra-lo, e fora justamente Kingsley, o homem que havia comparecido em sua festa de aniversário de dez anos e lhe dado tapas nas costas. O mesmo homem que agora lhe dizia coisas que pareciam ainda mais amigáveis e respeitosas do que qualquer outro admirador de seus pais já havia lhe dito.

"Ouço todas as histórias sobre meus pais, o quão inteligente meu pai era, o quão forte minha mãe foi... Não quero decepcioná-los, mesmo que não estejam aqui... E se eu não for inteligente como meu pai? E seu eu não for forte como minha mãe? E se eu não for admirável como eles um dia foram?"

"Então você não seria Edward Remus Lupin! Não seria o garoto que tirou notas ótimas nos NIEMs, não seria o rapaz que, mesmo sentindo um medo lhe tomando, estaria aqui na minha frente. Estar com medo de um cenário completamente novo não o torna fraco, você está aqui no Ministério, afinal. E se está aqui é porque está enfrentando seu medo, se conseguiu este trabalho é porque você é competente e inteligente o bastante... Não vejo como isso decepcionaria seus pais, Edward".

Teddy o olhou; não havia intimidade entre eles, mas isso não impedia Kingsley de lhe proferir tais palavras. Teddy se perguntou como ele sabia sobre suas notas, e se ele estava lhe ajudando porque fora amigo de seus pais. De qualquer forma, era grato, pois a tremedeira havia enfim finalizado e seus cabelos haviam voltado ao tom azul.

"De certa forma, o medo nos priva de situações de risco, mas também pode nos privar de novas fases da vida que temos de conhecer, por mais assustadoras que possam parecer", havia conforto em suas palavras, e Teddy não imaginava Kingsley dizendo isso para qualquer um por aí, por isso agradeceu-o com silencio, onde havia respeito e admiração.

"E, sabe, eu sei que se dará bem em seu novo trabalho, não porque apenas se parece com seus pais, mas sim porque possui parte deles em você, Edward Remus Lupin".

Avistou-o se levantar, a capa roxa voava enquanto ele caminhava para longe, com o rosto passivo e um sorriso mínimo em seus lábios, Teddy sabia que seus olhos provavelmente estavam calmos como o céu de Londres.

Kingsley claramente possuía admiração pela amizade que tivera com seus pais, assim como Teddy sentia respeito pelo bruxo poderoso e gentil que ele era.

Por fim, o chocolate derretera-se em sua boca, acalmando-o de uma vez por todas.


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